Biotecnologia a serviço da produção agropecuária.

Décio Luiz Gazzoni

Já comentamos nesta coluna que logo vamos precisar de um enunciado da Lei de Moore, especificamente para a biotecnologia agropecuária. A Lei de Moore reza que, a cada dezoito meses, dobra a capacidade de processamento de um computador. Na área de biotecnologia vegetal, vamos assistir uma evolução de maior dramaticidade, algo como multiplicar por cinco, a cada ano, os avanços biotecnológicos que se transformam em negócios palpáveis na área agrícola. Por exemplo, o Secretário de Agricultura dos EUA divulgou, com grande estardalhaço, uma conquista bombástica da biotecnologia americana, através do braço de pesquisa agropecuária do Departamento de Agricultura americano. Trata-se de uma variedade de milho que permite ao organismo dos animais (o Homem inclusive) efetuar um aproveitamento muito superior do fósforo orgânico, quando comparado às variedades atualmente cultivadas. Normalmente este elemento mineral está fortemente ligado na forma de sais orgânicos, que resistem ao processo de digestão, e desta forma não é aproveitado pelo organismo.

 

  Poluição
Parece que a única vantagem desta nova variedade é a possibilidade de melhorar a condição nutritiva do rebanho, certo? Errado!. Há outros aspectos envolvidos. Normalmente, nós não nos damos conta do enorme poder poluente do esterco e dos dejetos animais, mesmo quando tratados. Nas áreas de concentração das granjas produtoras, o problema já atinge níveis preocupantes. O fósforo é um dos elementos poluentes, que passam do esterco aos cursos de água, e já está causando sérios problemas em países com menor espaço físico para criações, especialmente de aves e suínos. Esta é uma das razões do questionamento que as sociedades européias estão levantando, com respeito à localização de granjas de suínos próximos à concentrações urbanas. Através da lixiviação dos componentes do esterco, pode ocorrer contaminação de lençóis subterrâneos, de organismos aquáticos e ocasionar mortandade de peixes, além de exigir pesados investimentos para tornar a água novamente potável, tanto para consumo humano quanto animal.
  Redução de custos
É óbvio! Se o animal passa a absorver uma parcela maior do fósforo presente no milho, diminui a necessidade de suplementação da ração com este elemento. Tanto o milho quanto a soja, e outros vegetais componentes da ração, apresentam teores altos de fósforo, porém com baixa disponibilidade para o organismo dos animais, justamente pela forma de ligação de seus sais, que atravessa quase incólume o trato digestivo. O desafio de obter a necessidade diária de fósforo através dos grãos da própria ração, significa uma redução de custos ponderável. Entretanto, as boas notícias para os produtores americanos não terminam por aí. A empresa privada Du Pont também anunciou a obtenção de uma variedade de milho com alto teor de lisina e metionina, amino-ácidos essenciais que se encontram presentes em baixos teores, nas variedades comuns. Com isto, reduz-se a necessidade de produção sintética destas moléculas. Segundo a Du Pont, os produtores de ração concentrada gastam, anualmente, US$120 milhões para adquirir estes dois amino-ácidos, para suplemento de rações, e que agora passariam a ser fornecidos diretamente pelo grão de milho. É bom estar atento, porque esta modificação poderá representar um diferencial de competitividade que eliminaria produtores e exportadores brasileiros de alguns nichos de mercado.

 

Um negócio da China
A Du Pont imagina obter lucros superiores a US$ 1 bilhão ao ano, ao longo dos próximos dez anos. Apenas no Brasil a empresa movimenta US$200 milhões, com sua linha agrícola, composta basicamente de agrotóxicos. As novas variedades de milho somente entrarão fortemente no mercado brasileiro no próximo milênio, e deverão representar um importante incremento nas vendas desta companhia. Para tanto a Du Pont vem investindo fortemente na ampliação e no fortalecimento de seu braço de biotecnologia onde, não apenas ela, mas a maioria dos analistas, enxerga o grande propulsor dos negócios no início do próximo milênio. Apenas em 1997, a empresa desembolsou US$3 bilhões em aquisições e associações, na área de genética e de produção de sementes. Com isto busca afiar suas armas para a disputa no campo de batalha do próximo século: a biotecnologia.
  Qualidade
A Du Pont investiu fortemente na melhoria das qualidades alimentares dos produtos agrícolas. Constituiu a Optimum Quality Grains, em associação com a a Pioneer Hi-Bred, maior empresa de sementes do mundo. Seu produto "Optimum corn", a variedade de milho melhorada, foi cultivada em mais de um milhão de hectares nos Estados Unidos, durante a safra de 1997. Esta variedade apresenta o dobro do teor de óleo do milho comum, além de altos teores de metionina e lisina. Segundo fontes da companhia, a futura "soja optimum" estaria sendo desenhada nos laboratórios para ter menor teor de gordura saturada, maior palatabilidade do óleo e maior estabilidade de fritura. O que significa? Significa que os consumidores terão maior fidelidade ao óleo de soja, por sabor melhorado e por apresentar menos risco à saúde. A dona de casa, ou os cozinheiros de restaurante, o preferirão por sua vida mais longa, permitindo maior número de frituras. Ainda vamos ver maravilhas saindo das provetas dos cientistas.

 A Lei de Crimes Ambientais

Décio Luiz Gazzoni

No dia 30 de março deste ano entrou em vigor a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), consolidando e reformando a legislação anterior. Nós, brasileiros, temos uma tendência a radicalizar, a migrar de um ao outro extremo de forma irrefletida. Até os anos 70 não havia qualquer respeito ao ambiente, julgado infinito e indegradável. Conservação, preservação, defesa do ambiente era coisa de louco, poeta ou sonhador. Depois partiu-se ao extremo da punição exagerada, com a Lei ambiental anterior. Lembro de um caso registrado na imprensa, em que um cobrador de ônibus do DF, viúvo (embora jovem) e sem parentes próximos, que saiu num domingo a tarde com sua espingardinha de pressão para caçar umas amargosas em Ceilândia (cidade satélite de Brasília). Preso em flagrante, foi removido para a Papuda, sem direito à fiança. Seu três filhos (2, 4 e 5 anos) ficaram jogados na rua, sem alimento e sem rumo dias a fio, até que uma entidade de assistência social descobriu o drama humano a que quatro seres humanos estavam sujeitos pelo "assassinato" de duas pombinhas amargosas.   A nova lei
Casos como estes se repetiram a ponto de evidenciar a desproporcionalidade entre crime e castigo, levando o governo a consolidar e reformar a legislação, agora tornada única, com penas uniformes, gradações adequadas, infrações definidas e exceções esclarecidas. Quantos agricultores não tiveram a mesma espada próxima ao pescoço, por desconhecimento ou desespero, tentando proteger suas lavouras de bandos de aves ou de outros animais silvestres. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Cremos que o equilíbrio entre produção agropecuária e proteção ao ambiente natural é a melhor forma de integrar dois temas aparentemente conflitantes. A nova lei afeta diretamente o trabalho na agricultura, razão pela qual vamos salientar os principais aspectos que mudam com a nova legislação:

Principais mudanças:

  1. Define a responsabilidade da Pessoa Jurídica, sem prejuízo de incriminar a pessoa física autora ou co-autora do crime ambiental;
  2. Liquidação forçada de pessoa jurídica criada ou utilizada para permitir, facilitar ou ocultar crime ambiental, sendo seu patrimônio transferido para o Patrimônio Penitenciário Nacional;
  3. Extingue-se a punição com a apresentação de laudo de reparação do dano ambiental;
  4. A partir da constatação do dano ambiental, podem ser aplicadas, imediatamente, penas alternativas ou multas;
  5. A maioria das punições restritivas de liberdade ficam limitadas a 4 anos, podendo ser substituídas por prestação de serviços à comunidade;
  6. A lei descriminaliza o abate de animais da fauna silvestre, se este ocorre para resguardo da integridade física, ou para saciar a fome do autor e de sua família;
  7. Experiências dolorosas ou cruéis, em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, são considerados crimes, quando exista alternativa ao procedimento.
  8. Maus tratos e abusos contra animais domésticos e domesticados, nativos ou exóticos passa a ser crime.
  9. Pichar, grafitar ou conspurcar edificação ou monumento urbano passa a ser crime;
  10. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões, pelo risco de incêndios em áreas urbanas ou rurais, é sujeito a multa e prisão;
  11. Destruição, dano ou maus tratos às plantas de ornamentação é crime, punido com até um ano de prisão;
  12. Desmatamento não autorizado, além de incidir em multa, agora também é crime punível com até 5 anos de prisão.
  13. Comprar, vender, transportar, armazenar madeira, lenha ou carvão, sem licença da autoridade competente, sujeita o infrator a até um ano de prisão, além de multa;
  14. A fixação de multas deixa de ser meramente administrativa, sujeita a normas internas e contestação judicial, e passa a ter força de Lei. A multa administrativa varia de R$50,00 a R$50.000.000,00.

Onde se informar
Por uma questão de princípios, devemos proteger o meio ambiente, quanto mais não seja para legarmos às gerações futuras uma herança compatível com suas necessidades de sobrevivência. A visão moderna da agropecuária se fundamenta na sustentabilidade do processo produtivo, tendo um de seus pilares na preservação do meio ambiente. E, pragmaticamente, quanto mais não seja, porque hoje não é mais possível praticar uma agricultura de exploração, não sustentável, pelos riscos de enxotamento do mercado globalizado. O IBAMA mantém um telefone gratuito (0800-618080), 24 horas por dia, para atender toda e qualquer consulta sobre meio ambiente. Para quem desejar acessá-lo via Internet, o e-mail é linhaverde@ibama.gov.br, e a homepage é www.ibama.gov. br.

Feliz Natal

Décio Luiz Gazzoni

Nada de falar de negócios hoje. Hoje é Natal e, pasmem os senhores, uma festa de origem rural. Para os cristãos, a 1998a comemoração do nascimento de Cristo. E a primeira coisa que Jesus Cristo viu foi uma manjedoura. Mas em "Brumas de Avalon", lembro de haver lido que os bárbaros do Norte da Europa já comemoravam a Saturnália (homenagem ao deus Saturno) no solstício de verão (21/12), agradecendo a boa colheita que havia se encerrado, muito antes de Cristo nascer. Logo, uma festa de agricultores, que por uma semana dançavam e comiam, enfeitavam as casas e trocavam presentes.   Por ser cristão, eu gostaria de homenagear um cristão neste Natal. Um cristão fervoroso, grande brasileiro, Eliseu Roberto de Andrade Alves, ex-presidente da Embrapa. Mais que um amigo, alguém que muito me ensinou na vida, e que muito fez pela agropecuária deste Brasil. Que sofre no dia a dia de produtor de leite, como mineiro dos bão! Então, aí vai o meu presente para vocês, vindo lá das Minas Gerais. Uma poesia pura, extraída do livro Artesão dos Sons (de José Edward): trata-se do depoimento de Zé Coco, um legítimo caipira do Norte de Minas, brasileiro da veia, mineiro de coração, que me emocionou na última edição do Globo Rural. Delicie-se. 

O Beethoven do sertão

Assim o chamou a televisão alemã. Veja porque, nas palavras literais de Zé do Coco, naquele linguajar bem das grotas sofridas do nosso sertão:
"Isso eveim é de nascença. Fui nascido lá no Riachão, município de Brasília de Minas, naquele sertão castigado de meu Deus. Foi nu mêis de janero, no dia primero. Fui acabano de nascê, chegou a folia e cantô lá fora."
"Pois quando eu já divia tê meus 8 ano compreto é o causo da viola, né?... Aí, papai afinou ela, em vencendô e tocou um guaino. Delá do meu canto, eu contei: 'É um, é dois, é treis, i é quatro...', onde ele ponhô uis dedo. Cum pouco ele ponhô ela lá, incostada na parede, panhou as ferramenta e foi guardá. Quando ele saiu, panhei a viola, pus ois dedo bem no lugá e bati o guaino do jeitim que ele fez. Esse véio saiu na janela todo inspantado e, oiano praqui e pracolá, falou:
        - 'Uai, mais aquela viola toca sozinha num é pussive... Quem tá lá num pode tê feito essa musga!
Aí, papai vortô:
        - 'Ô meu fio, quem foi que pegô nessa viola?'
        - 'Foi eu', falei.
        - 'Ocê, meu fio?
        - 'Foi.'
   
    
- 'Antonce, torna pegá otra vez e faiz o que cê fez...'
  E fui e, cum a cara mais lambida do mundo, panhei a viola e fiz o mesmo. Cum os zóio cheio d'água, aquela voiz cheia de trimura, ele falou:
- 'Oia aqui, filho, a viola é sua. De hoje indiante, num falta mais viola pro'cê, nunca! Pode tocá..."
"Comecei toca sem insino de ninguém, pruquê o véio dava o instrumento, mais num insinava não, que ele num tinha tempo. Antonce, eu se virava suzim. Ia iscutano aqueles violero que tinha lá e aprendeno, cum coisa até que eu já tinha aquilo no sintido."
"Agora, eu vou conta procês o causo de cumoé que a gente aprende a tocá lá na roça: pega uma cobra e clexa ela inlinhá, legueclá assim entre os dedo e despois sorta. Mais, rapaz, a gente fica cum os dedo tão manero, que só veno. E aprende memo!"
"Eu sou folião derna de minino. Comecei cum 12 ano de idade. Nunca faiei um ano, inté os dia de hoje. Nunca faiei e nem faio. Eu posso cabá cum tudo, mais de tocá rabeca na folia não paro nunca, nunca!"
"Que eu já fiz de tudo nesse mundo, Fui tudo misturado: artesão, carpintero, musgo... Mais o causo mais importante foi a Folia. Essa num é profissão, nem promessa também num é. Ela sempre inzistiu na minha vida proque eu sou de Santo Reis. O meu seguimento sempre foi o seguimento deles e é certo que eu num tirei eles da boca em hora ninhuma. Antes de tudo, eu sou José 'dos Reis' Barbosa dos Santos, se ocês qué sabê. Às suas órde!"

 Presente di Natá

Antonces, si vosmice aina tem precisão di cumprá um presente proque sisqueceu du cumpadre, não se avexe não, achi os disco du Zé do Coco (Brasil Puro, Zé do Coco do Riachão e Vôo das Garças). O antonces vivente, si o cumpadre entende di lê, compra o livro do Zé do Coco, aquele do José Edward. E se o compadre for mais sofisticado, ainda recomendo Marion Bradley e os quatro volumes de "Brumas de Avalon". Que pode ser no original, very british. E Feliz Natal.

 

Feliz Ano Novo

Décio Luiz Gazzoni

Ano Novo, vida nova. Novos objetivos, novas metas. Mas o dia primeiro de janeiro não é um bom dia para discutir negócios. Vamos aproveitar que, no final do ano, as emissoras de televisão convocam todos os magos, videntes, pitonisas e assemelhados para fazer as famosas previsões para o ano entrante (...durante o próximo ano o Brasil perderá um político de expressão...), para ver como seria 1999 se nós pudéssemos tornar realidade as seguintes notícias na imprensa:

Ampliado o volume de crédito
Brasília - O Ministério da Fazenda emitiu comunicado ampliando o limite de crédito rural para as atividades de custeio da produção agrícola. O novo patamar é de R$25 bilhões, um valor recorde no financiamento da produção. Segundo uma alta fonte do Ministério, o recurso já se encontra à disposição dos agricultores nas agências dos bancos autorizados.

Juros atingem recorde de baixa
Rio de Janeiro - O Copom aprovou na reunião de ontem nova redução das taxas de juros para empréstimos do Governo Federal. O novo patamar aprovado é de 5,25% ao ano, ainda acima dos valores praticados por países de Primeiro Mundo, como os EUA, a Alemanha, a França, a Inglaterra e o Japão. Entretanto, este é o valor mais baixo já praticado no Brasil, permitindo uma competição mais justa dos produtores brasileiros com os concorrentes estrangeiros.

Paridade do real com o dólar está equilibrada
Londres - A corretora Veritas, que publica mensalmente a paridade das moedas dos diversos países do mundo, em relação ao padrão dólar americano, registrou pelo terceiro mês consecutivo um equilíbrio da paridade do real com o dólar, agora na cotação de 1,48 para 1. De acordo com a corretora, a valorização cambial de 30% existente até o ano de 1998 foi eliminada, o que permitiu o alavancamento das exportações brasileiras, que registra o sexto mês consecutivo de superávits na balança comercial. Os produtos agropecuários lideram a expansão das exportações brasileiras, com negócios médios de US$10 milhões mensais.

Eliminado o último subsídio agrícola na Europa
Paris. O comitê agrícola da União Européia aprovou em sua reunião ordinária desta terça feira, a eliminação do último subsídio à agricultura, que ainda persistia na Comunidade. Com a eliminação, os produtores de leite da Europa terão que produzir a custos competitivos, e não contarão mais com o guarda chuva dos artificialismos para empurrar os derivados do leite para os países importadores. Espera-se também uma redução da super-estocagem destes produtos, tornando mais real o mercado a partir do próximo ano.

Brasil fecha novo mega-contrato de carne
Bruxelas – Um comunicado conjunto da Bloomsdale, principal distribuidora de alimentos da Europa e da Brasilcarnes, frigorífico exportador com bases em Mato Grosso, Goiás e Paraná, registrou o terceiro grande contrato de exportação de carne bovina proveniente do Brasil. O destino da carne será os mercados da França, Alemanha e Holanda, e o contrato está avaliado em US$32 milhões. A carne alcançou um preço recorde de US3,7 mil dólares por tonelada, incluindo o prêmio por qualidade recém estabelecido pela Comunidade Européia. Este negócio somente foi possível porque há cinco anos não há registro de surto de febre aftosa no Brasil.

Nova partida de suco de laranja para os EUA
Nova Iorque – Impulsionados pela retirada da sobretaxa americana sobre a importação do suco de laranja, o Brasil fechou o quarto contrato de exportação em apenas uma semana. Desta vez o suco importado pela Coke Co., de Atlanta-GA, destina-se exclusivamente ao engarrafamento para o lançamento do novo refrigerante à base de laranja, pioneiro no mercado americano. Pelo contrato firmado, o Brasil terá exclusividade no fornecimento do suco para a Coke Co. até o ano de 2020.

Desmontado o último acampamento de sem-terra
Jacutinga do Norte – Com o assentamento de 1.200 famílias na gleba Tucuruxi, o presidente da República comemorou o final do seu programa de reforma agrária, após haver assentado todos os produtores sem-terra do país. O novo assentamento conta com energia elétrica, telefone, acesso asfaltado, cooperativa agrícola, recursos de crédito, silo de armazenagem de produtos, agro-indústria de processamento e assistência técnica.

E como seriam as manchetes que não gostaríamos de ver tornarem-se realidade:

 Juros permanecem com tendência de alta
Brasília – O Ministro da Fazenda tornou a explicar as razões pelas quais não é possível reduzir a atual taxa de juros de 31%, apesar da queda do PIB verificada no ano anterior. Também não concorda com a solicitação de revisão da paridade cambial, que segundo fontes idôneas, continua com sobrevalorização de 20%.

Argentina obtém safra recorde
Buenos Aires – Pelo 15o ano consecutivo a Argentina obtém uma safra recorde de grãos, com a colheita de 85 milhões de toneladas. O Brasil produziu neste ano 73 milhões de toneladas, o mesmo volume produzido em 1986, quando a Argentina colheu 12 milhões. Nossos vizinhos passaram à segunda colocação na exportação mundial de milho, trigo e soja.

Mais uma praga chega ao Brasil
São Paulo – O vírus Descasus comagricultura foi identificado oficialmente pelo Instituto Biológico. Lideranças agrícolas suspeitam que este vírus já se encontrava presente nas lavouras brasileiras há muito tempo, porém os órgãos governamentais recusavam-se a admitir sua presença no país. Este vírus somente poderá ser erradicado com uma política séria e permanente para a agricultura do país, o que, infelizmente, não parece constar das prioridades governamentais.

Bem, Feliz Ano Novo!

 

Da fazenda para a farmácia

Décio Luiz Gazzoni

Para a maioria das pessoas, planta medicinal é aquela erva que está plantada no fundo do quintal, que rende um chazinho, uma compressa, no máximo uma pomada. Para os laboratórios multinacionais, planta medicinal é praticamente toda e qualquer planta, desde que se possa extrair dela o que se chama "substância biologicamente ativa". Ou seja, plantas que podem fornecer substâncias que possa ter ação tranquilizante, anti-térmica, anti-inflamatória, antibiótica, analgésica, etc.

 

Alguns exemplos
A lista de substâncias biologicamente ativas, extraídas de plantas, é muito extensa. Inclui a morfina (analgésico), codeína (anti-tussígeno), aspirina (analgésico), digoxina (tratamento de cardiopatias), pilocarpina (tratamento do glaucoma), vincristina e vinblastina (tratamento da leucemia), quinino (tratamento da malária), datura (anti-espasmódico), atropina (vasodilatador), nicotina (tranquilizante), sanguinarina (bactericida), anetol (carminativo), serpentina (hipertensão), escopolamlina (sedativo), solasodina (anti-inflamatória e anticoncepcional), etc. Na realidade, quase metade dos medicamentos atualmente vendidos tem sua origem em produtos naturais, em especial vegetais.
  Aproveitando as plantas para produzir medicamentos
Uma vez identificada uma substância com poder medicamentoso, pode-se produzí-la por três vias principais: a primeira é por fermentação, utilizando-se reatores em que microrganismos agem sobre um substrato, produzindo novas substâncias, entre elas a que se deseja; em segundo lugar, pela micropropagação, em que são utilizados clones de variedades especialmente selecionadas para a produção da substância, já livres de patógenos e outros contaminantes; ou por melhoramento genético, em especial pela engenharia genética, em que se alteram as características do vegetal, para a produção em maior quantidade da substância que se deseja.

Melhorando as plantas medicinais
Uma substância pode ser remédio, veneno ou não ter nenhum efeito: tudo depende da dose. Da mesma forma, uma planta pode ser aproveitável ou não, dependendo da concentração da substância que se deseja. Por exemplo, o taxol é um poderoso anticancerígeno, e é extraído da casca de Taxus brevifolia. Só que a sua baixa concentração (100mg/kg de casca seca), exige descascar três árvores, para que se possa produzir uma única grama da substância. Seria uma "carnificina vegetal", cara e ineficiente. Para os laboratórios, extrair diretamente das plantas significa maior pureza e menor custo. Para que seja econômico, é importante que a planta tenha uma alta concentração da substância. A engenharia genética está fazendo isto, ou seja, aumentando a concentração de determinadas substâncias nas plantas. Como exemplo de sucessos já atingidos temos o aumento de 6 vezes na concentração de escopolamina e hiosciamina (antiespasmódicos) em beladona.
  As oportunidades para o agricultor
Está aí uma parceria típica do futuro: uma integração entre o produtor e a indústria, na área de química fina, para a produção de medicamentos. Mas que será viabilizada pelos pesquisadores agrícolas que melhorarem as plantas, para permitir seu uso. Querem mais exemplos de plantas medicinais "engenheiradas" para produzir maior concentração de substâncias medicamentosas? Lá vai: Cientistas produziram variedades de Centranthis, Fedia e Valerianella com concentração até 25 vezes superior de valepotriatos (atuam como sedativos e tranquilizantes); também geraram variedades de Panax ginseng, com concentração 13 vezes maior de ginsenosídios (estimulante, anti-cancerígeno), ou de Calystegia sepium com 26 vezes mais escopolamina (antiespasmódica), ou concentrações maiores de podofilotoxina (citostático) em Linnun flavum. Se a questão é produzir adoçantes artificiais para diabéticos ou para dietas, já se consegue extraí-los de variedades "engenheiradas de Lippia dulcis a susbstância hernadulcina, mil vezes mais doce que o açúcar comum, sendo que a planta nativa não apresenta a substância nas raízes.
 

É a ciência fazendo a ponte entre a lavoura e a indústria, viabilizando os agronegócios.

 

Alimento ou medicamento?

Décio Luiz Gazzoni

Já discutimos neste espaço que brevemente o pecuarista vai ter a opção de produzir não apenas carne, porém poderá investir em um ramo do negócio de criação destinado a gerar "produtos médicos". Estes produtos tanto podem ser medicamentos como hormônios ou enzimas, quanto podem ser órgãos para transplante. Com isto seriam resolvidos problemas de custo de produção e de qualidade "industrial", no caso dos medicamentes; e da falta de órgãos para transplante. Já parecia um avanço de ficção científica. Agora, para os agricultores também cria-se a expectativa de que possam ter a mesma opção: produzir alimentos ou medicamentos!

 O fumo, quem diria!, pode virar remédio
O fumo mata. Mata quem fuma, quem vive no mesmo ambiente do fumante. É combatido sem trégua por organizações médicas e por associações civis que tentam reduzir as mortes por câncer pulmonar, câncer estomacal, câncer bucal, infarto do miocárdio, para citar somente as doenças mais votadas, causadas pelo fumo. Eu particularmente sou um anti-tabagista radical. O fumo mata também insetos, pois a nicotina, extraída do fumo, um inseticida poderoso, só foi retirado do mercado por sua alta toxicidade. Mas agora os profissionais de saúde podem ficar divididos em relação ao fumo: agrônomos biotecnologistas conseguiram modificar a estrutura genética do fumo, através de bio-engenharia, para que ele produza uma substância que pode inibir bactérias causadoras de cárie. Teremos dentistas defendendo o fumo. É, defendendo o fumo, mas não para fumar.
 
  O fumo pode produzir uma vacina contra a cárie
O dente é um tecido vivo (tecido ósseo) como qualquer outro, só que bem duro, pela deposição do cálcio nas células. Por ser vivo, o dente é atacado por outros organismos vivos. A principal bactéria causadora da cárie (Staphylococcus mutans) se alimenta de carboidratos, em especial açúcares dos alimentos, que ficam retidos como resíduos nos dentes. Ao alimentar-se dos açúcares, produz metabólitos, como ácidos poderosos, que atacam o tecido dentário, que é a causa da cárie. Daí a necessidade de evitar açúcares, e de escovar os dentes após as refeições. Mas, se além disto, fosse possível fazer uma vacina contra a cárie? Aí é que entra o fumo modificado geneticamente. Os cientistas alteraram sua composição genética, para que produzisse uma substância que pudesse interferir no processo de formação da cárie.
   As possibilidades odontológicas
De acordo com os estudos que estão em andamento, a substância produzida impede a fixação da bactéria causadora da cárie sobre a superfície dos dentes, agindo como uma espécie de repelente. Se a bactéria não estiver presente, a produção de ácido para atacar o tecido ósseo será menor. Se a substância for aprovada pelos órgãos de saúde, as possibilidades são infinitas. O seu dentista pode pincelar o produto sobre os dentes, digamos, a cada 4 ou 6 meses. Ou, ele pode ser introduzido nos cremes dentais, como aconteceu com o flúor. Um negócio de bilhões de dólares, considerando o volume de cáries que perturbam os cidadãos de todo o mundo.

 

 Vacina contra a diarréia
Cientistas do Instituto Boyce Thompson, ligado à Universidade de Cornell, tem sido parceiros da Embrapa Soja há muitos anos, no estudo de inseticidas biológicos. Agora, outro laboratório deste instituto conseguiu alterar a composição genética da batata, introduzindo pedaços de cromossomos da bactéria Escherichia coli, causadora de diarréia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, esta bactéria é a maior responsável pela mortalidade infantil ao redor do mundo, causando uma diarréia intensa, seguida de desidratação, que normalmente conduz ao óbito.
   Comendo batata e vacina
O problema maior no controle da diarréia é a dificuldade de condução de campanhas de vacinação contra E. coli em países pobres, desprovidos de meios de acesso adequado, estrutura de armazenamento refrigerado e atuação constante. A batata teria a vantagem de dispensar estruturas rígidas e especiais, pois seria a mesma batata servida como alimento, e que teria na sua composição a vacina. Os estudos realizados até o momento na Universidade de Baltimore mostraram a imunização dos pacientes, comprovando-se a presença do anticorpo (base da vacina) tanto no sangue quanto nas fezes das pessoas que comeram a batata-vacina.
   Cientistas e agricultores farão sua parte. E os governos?
Bem, o grande problema é sempre a primeira vez. Dominado o processo, abrem-se infinitas possibilidades de alterar alimentos como milho, trigo, arroz, soja, etc., de acordo com as suas características, para introduzir genes que produzam vitaminas, hormônios, enzimas e até vacinas. A ciência fará a sua parte, e rapidamente. Tão logo as novas sementes e mudas cheguem ao campo, os agricultores pegarão o negócio com as quatro mãos. E os governos? Porque não basta produzir batata-vacina, é preciso que aquela parte da população que precisa urgentemente de vacina, possa comprar a batata, para matar a fome e a Escherichia coli. Um pouco de prioridade aos programas sociais resolveria o problema da saúde, e criaria novos agronegócios.

Agronegócios Europeus: O caso da República Checa

Décio Luiz Gazzoni

Recentemente tivemos a oportunidade de visitar o Leste Europeu, que até a década passada viveu sob o império comunista. É interessante o registro de como um país ex-comunista tenta se erguer puxando os próprios cabelos, para efetuar a transição para um sistema capitalista. A República Checa é um país menor que o Paraná, com cerca de 80.000 km2, menos de 500 km de leste a oeste e de 300 km de norte a sul. Além disso, as montanhas ocupam a maior parte da área do país, que possui pouco mais de 10 milhões de habitantes. Na área rural vivem 30% da população do país. O PIB é de 36 bilhões de dólares, o que gera uma renda per cápita de US$ 3,6 mil, metade da brasileira. O PIB tem crescido a 2% a.a., e a inflação reduziu dos 50% anuais (regime comunista) para menos de 10%.

Ambiente
A maior parte das florestas da República Checa é perene, embora haja plantas decíduas como o carvalho, e atualmente ainda cobrem um terço do país. A fauna não é muito diversificada, pela baixa variabilidade de condições ambientais, e porque o meio ambiente foi duramente agredido em tempos recentes, o que quase dizimou as florestas nativas do país. Presentemente, ainda são utilizadas florestas como fonte de madeira para mobiliário e construção, e para geração de energia (lenha). O sub-solo checo também não é muito rico, o que torna o país dependente de importação de matéria prima e de energia. A principal fonte de energia nativa é a lignita (um tipo de carvão), embora também existam depósitos de carvão mineral em exploração. O país possui depósitos de urânio, mercúrio, antimônio, e zinco, localizados nas montanhas Ore. 
  Clima e solo
Os solos checos variam de acordo com a topografia. Do ponto de vista agrícola, existem cerca de 3 milhões de hectares de terra arável, cerca de 40% da área do país, parte dela atualmente em exploração. Deste total, estima-se que menos de 10% sejam constituídos de solos de alta fertilidade e elevado potencial produtivo. O clima do país é do tipo continental úmido, com invernos frios e verões agradáveis. A temperatura média em Praga varia de -13 a 10oC no inverno e 9 a 33o C no verão. Com forte concentração o verão, a precipitação no país é escassa, em média 400mm anuais. 
  Agricultura
Considerando-se as restrições de área e de clima, a República Checa apresenta uma performance surpreendente, se for considerado o agravante de que, até o final da década passada, sob o regime comunista, não existia a propriedade privada. Durante a administração estatal das fazendas, os produtores recebiam uma parte do produto produzido e possuíam participação nos lucros. Esta participação era virtual, porque raramente as explorações apresentavam lucro líquido ao final do período. Em 1991 foi exarada legislação que permite as posse privada de áreas agrícolas, porém o processo de desestatização tem sido lento, e a maior parte da área agrícola ainda se encontra em poder do Estado, ou de cooperativas com viés socialista. Devido à redução nos subsídios agrícolas, o número de trabalhadores empregados na agricultura declinou dramaticamente desde o final do comunismo. Neste processo de transição, o setor primário apresenta baixa participação no conjunto de exportações do país. Os principais cultivos da República Checa são a cevada, trigo, milho, centeio, beterraba e batata inglesa. Na pecuária, os rebanhos mais avantajados são os de frangos, porcos, gado de corte e ovelhas. 

 

Economia
A atual República Checa costumava posicionar-se entre as regiões mais desenvolvidas da Europa. Os comunistas assumiram o poder em 1948, o Estado passou a deter o monopólio de todas as atividades econômicas do país. Os laços econômicos e comerciais com o Oeste europeu foram cortados, permanecendo os vínculos apenas com o bloco comunista liderado pela União Soviética. Relativamente ao bloco comunista, a então Checo-Eslováquia apresentava um dos mais elevados padrões de vida, porém a degeneração dos principais indicadores sociais e econômicos levaram à falência do modelo de economia de planejamento central, o que levou ao fim do regime comunista no país. No início dos anos 90, o país moveu-se celeremente no sentido de tornar-se uma economia de mercado. Para acelerar e democratizar o processo de privatização, inclusive das fazendas coletivas em poder do Estado, foi criado um "voucher de privatização", uma espécie de cupom que permitiu à população adquirir ações de companhias privatizadas. O sucesso desta estratégia levou à transferência de mais de 80% das empresas em poder do Estado para a iniciativa privada, em menos de 4 anos.
  Comércio internacional
Com o novo modelo econômico, a República Checa abriu suas fronteiras para o comércio internacional com o restante do mundo. Com a população estabilizada e um crescimento econômico moderado, o desemprego se mantém baixo e estável, com tendência de melhora da renda per cápita. Os analistas locais estimam que o país continuará dependente de importação de fontes de energia, como é o caso do petróleo. Na área agrícola, o país representa um bom mercado para frutos tropicais e mesmo temperados, para carnes finas e para produtos para formulação de rações animais, como é o caso de soja, milho e torta de palma. No futuro próximo, o mercado de flores no país deverá crescer acima dos índices dos demais produtos agrícolas. Lentamente, a República Checa enterra seu passado comunista e se aproxima do mundo globalizado.

Usando a Natureza para controlar pragas.

Décio Luiz Gazzoni

Um dos principais negócios do agribusiness é o controle de pragas, sejam as que atacam as lavouras ou as que servem como vetores para doenças no Homem ou nos animais, movimentando bilhões de dólares anuais. Mas, ao tempo em que controlam as pragas, a maioria dos produtos químicos também apresenta o que se chama de efeitos colaterais, ou seja, efeitos sobre outros organismos – inclusive o Homem – e sobre o ambiente em geral. Durante muito tempo, estes efeitos sobre organismos não-visados foram desconsiderados ou minimizados. Mais recentemente, por pressão da sociedade, em especial dos cientistas e dos ecologistas, iniciou-se a busca de alternativas para o controle de pragas, com o mínimo de impacto não desejado. É quando se inicia o uso massal de controle biológico, quando aparecem as variedades transgênicas e outras formas modernas de controle.    Inseticidas naturais
A Universidade Federal de São Carlos e a Universidade Estadual Paulista se uniram em um projeto conjunto para pesquisar produtos naturais para controle da saúva, uma das pragas mais vorazes da agricultura. Diversos vegetais foram pesquisados, buscando identificar e extrair substâncias que atuem sobre as formigas. Os resultados mais promissores se encontram na mamona, batata doce, fava branca e em Virola sebifera, que é uma planta que as formigas rejeitam. No caso da mamona os resultados são espetaculares, pois foi extraído um alcalóide que apresenta um efeito formicida muito forte na saúva, mesmo quando é utilizado em pequenas doses. Quando se associa este alcalóide com a sesamina – substância fungicida encontrada no gergelim – o efeito é devastador, porque, além de matar a formiga, morre também o fungo que serve de alimento para o formigueiro. Com a morte do fungo, acaba também o formigueiro.
  Manejando as formigas
A visão moderna de controle de pragas é o que se denomina Manejo Integrado de Pragas. É uma visão integrada do problema, entendendo que cada espécie animal ou vegetal tem uma função no ambiente, e o objetivo nunca deve ser a eliminação da "praga" do ecossistema, para evitar desequilíbrios, por vezes impensados. No caso das formigas, eliminá-las significa eliminar predadores e parasitas que dependem delas para sua sobrevivência. Acabando com o controle biológico natural, quando as formigas voltarem, o farão com mais força. E, também, não se pode esquecer a importância das formigas na aeração e fertilização do solo. O uso de substâncias naturais, que podem controlar o número de formigas e a atividade do formigueiro, pelo controle do fungo, permite "manejar" as formigas, evitando que causem problemas às lavouras, sem eliminá-las definitivamente.
 

 

O problema da malária nas áreas rurais
De acordo com Organização Mundial da Saúde acontecem cerca de 400 milhões de novos casos de malária anuais no mundo, em especial na área tropical, onde está o Brasil, onde os habitantes das zonas rurais são os mais prejudicados. A morbidade é relativamente baixa, 0,5%, porém o que assusta são os números absolutos: 2 milhões de seres humanos mortos, anualmente, por malária. Esta doença é causada por organismos do gênero Plasmodium. Para contaminar o homem, é necessário a intermediação de um mosquito, que transporta o microrganismo. Porque a malária vem aumentando nas últimas décadas? Por diversos motivos, porém em grande parte pela resistências dos mosquitos do gênero Anopheles aos inseticidas. 
  Mosquitos transgênicos
A pesquisadora Denise Valle da FIOCRUZ acredita que mosquitos transgênicos podem representar uma alternativa poderosa para o controle da doença. A FIOCRUZ se associou ao Instituto de Biologia do Exército para estudar o assunto. Qual seria a lógica de usar mosquitos transgênicos? A idéia é aproveitar uma variação genética, identificada por pesquisadores italianos em Anopheles gambiae (a espécie mais comum na África), que permite que o microrganismo transmissor da doença fique preso no intestino do mosquito, sem transmiti-lo ao Homem. "A idéia é fazer com que o próprio mosquito produza os genes que encapsulam os parasitas ou os anticorpos bloqueadores da transmissão, tornando-se impermeável à malária", explica Denise. Para que os mosquitos transgênicos se reproduzam e transmitam as características desejadas às novas gerações, a cientista também está estudando o processo de embriogênese das espécies brasileiras. "A idéia de gerar mosquitos refratários à malária e de poder introduzi-los na natureza, com baixo custo e alto nível de eficácia, é extremamente atrativa", diz a pesquisadora. O sucesso desta pesquisa vai permitir a redução do uso de agrotóxicos altamente perigosos ao ambiente e ao Homem, e, principalmente, salvar da morte dezenas de milhares de brasileiros, em especial agricultores, os mais afetados pela malária.

Rei morto, rei posto

Décio Luiz Gazzoni

O fracasso da política econômica pós-Real pode significar o alvorecer de uma nova era para a agropecuária. A agricultura brasileira tem sido, historicamente, relegada a um segundo plano na formulação das políticas governamentais de desenvolvimento. No mais das vezes, tem servido de alavanca para que outros setores possam se desenvolver. E não tem sido diferente em épocas recentes, mesmo nas negociações internacionais, em que a agricultura tem sido "rifada", para permitir melhores oportunidades para outros setores. Relembremos os fatos deste passado recente para entender as razões que permitem traçar um cenário mais favorável para a agropecuária.

O Plano Real e o câmbio
O Plano Real foi original e altamente competente em "ordenar" preços da economia, de maneira que quase todos os preços passaram a variar com a mesma intensidade, sobre o mesmo período de tempo. Foi a fase da URV, em que, se todos os preços possuíam a mesma taxa de inflação, então a inflação relativa entre eles era nula. Isto permitiu, num determinado dia, zerar (ou quase) a velocidade de crescimento dos preços (a inflação). Neste dia mudou-se a moeda, para servir de emblema de um novo tempo. E fixou-se o câmbio na paridade de R$1,00 para US$1,00, mas embutindo uma determinada valorização do real. Quais os objetivos? Evitar especulação, retenção de estoques e corrida de preços, permitindo a importação de produtos cujos preços crescessem além do permitido pelo governo. Além deste pecado original, cometeu-se o pecado mortal de nova apreciação do real, que chegou valer US$1,17, o inferno astral dos produtores e exportadores. A recuperação cambial entre 95 e 98 gerou uma valorização do dólar de apenas 20%, para uma inflação do período superior a 60%. Em decorrência, o agricultor brasileiro obrigou-se a ser mais competitivo num ambiente adverso, o que vai ser muito útil no futuro próximo.
  O Plano Real e os juros
Com o mesmo objetivo de evitar especulação e formação de estoques, abrindo margem para recidivas inflacionárias, as taxas de juros foram escandalosamente altas durante todo o período. Juros altos também serviriam para atrair os famosos capitais itinerantes, à busca das melhores rentabilidades. Estes capitais representavam parte ponderável das reservas cambiais do Brasil, mas que daqui fugiram, como o diabo da cruz, quando a segurança do capital foi ameaçada. Juros altos foram extremamente punitivos para quem quer que produzisse no Brasil, em especial para os agricultores, forçados a competir com produtos subsidiados no exterior. Este remédio, como a taxa de câmbio defasada, também é um poderoso veneno: só serve para ser administrado em prazos curtos, se não mata o paciente. Vamos permitir o benefício da dúvida, e imaginar que câmbio defasado e altos juros foi apenas excesso de zelo da equipe econômica.
  O Plano Real e as tarifas de importação
Só câmbio defasado e altos juros não teriam sido suficientes para inibir a retenção de estoques. A equipe econômica entendeu necessário derrubar rapidamente as barreiras de importação, em especial as alíquotas do imposto de importação. Embora este fosse o leitmotiv da política comercial internacional, todos os demais países procuraram negociar seu ingresso nesse clube, exigindo contrapartidas e resguardos, para evitar o desmonte da produção nacional. O Brasil não, abriu rápida e indiscriminadamente, de maneira a não permitir qualquer dúvida sobre a intenção de segurar a inflação zerada a qualquer preço. Sequer tem se permitido utilizar as medidas compensatórias para punir as práticas comerciais desleais de outros países.

 

 A agropecuária e a tributação
A política tributária brasileira é caótica, marcada por um emaranhado de taxas e impostos, por vezes sobrepostos, que desincentivam a produção. Mas que incentivam a sonegação, seja pelas alíquotas altas, que a tornam um bom risco, seja pelo desespero de causa que obriga o empresário a escolher entre sonegar - ou ao menos ser inadimplente - ou ser varrido do mercado. A aposta é que a nova fase da economia exigirá uma reforma tributária séria e verdadeira, e não apenas um remendão, o que propiciará um aporte de competitividade ao nosso setor.
  A Âncora verde do Plano Real
Alguém lembra disto? Frango custando menos de US$1,00 ao quilo? Iogurte democrático? Cesta básica com taxas de crescimento negativas em relação à inflação? Os fins justificaram os meios, ou seja, precisava-se de um produto palpável para demonstrar a adequação da política econômica, e a agricultura foi escolhida para pagar o pato. De que forma? Contendo as cotações dos preços agrícolas, através de diversos mecanismos de compressão de preços, em especial as importações indiscriminadas, a taxa de câmbio desfavorável e os juros exorbitantes. Bom para o povo no curto prazo, ruim para o agricultor no mesmo prazo, e ruim para o povo no médio prazo. Dia chegaria em que a folia acabaria, não haveria mais dólares para sustentar importação de alimentos que podem ser produzidos internamente.
  O cenário favorável
A farra acabou! Não há mais como manter o artificialismo da antiga política econômica. A liberação da taxa de câmbio fará com que o dólar oscile feito pêndulo de relógio, até encontrar sua paridade verdadeira, que é estimada em torno de R$1,65, mais a inflação que se suceder. As demais moedas deverão acompanhar esta oscilação, embora outras fontes de variação nas paridades inter-moedas possam originar oscilações diferenciadas para libra, franco, iene ou marco. Com isto elimina-se um dos três grandes entraves atuais à expansão da agropecuária. Como se supõe que as taxas de juros não podem permanecer nas nuvens per saecula saeculorum, porque o governo quebra antes de o país quebrar, já que ele é o maior devedor, melhora a condição do produtor. E, finalmente, como o Brasil precisa reverter a condição deficitária da balança comercial, quem pode responder mais prontamente ao apelo é justamente a agropecuária, onde os prazos de maturação dos investimentos são menores, e existe um potencial reprimido que pode ser acionado rapidamente. Com o que, espera-se um tratamento mais condizente dos negociadores governamentais nas trocas internacionais. E, portanto, recuperar a condição de competitividade pós porteira dos nossos produtos. Vamos torcer para que este seja o cenário que se realize.

A França e o desemprego

Décio Luiz Gazzoni

Aparentemente, o dilema que vive o governo francês para reduzir a taxa de desemprego do país, não tem nada a ver com o Brasil, em especial com o nosso setor agropecuário. Poderia até ser assim, se não vivêssemos em mundo globalizado, em que injeção em filipino provoca choque anafilático em boliviano. Aliás, para emoldurar a questão, o problema do desemprego não é da França, nem é da Europa, é do mundo. Mas a Europa tem sido o foro de debates das políticas pró-emprego, porque os EUA podem se considerar a única economia de pleno emprego relativo no mundo atual, embora o Japão, que importava dekasseguis até dois anos atrás, hoje atinja 5% desemprego.    Um paraíso para os outros países, mas um desastre para um país que cultua o emprego. E, na Europa, índices de dois dígitos não são exceções, como é o caso dos 12% da França. Promessa de todo o candidato, o emprego é o grande eleitor da Europa, como demonstraram as últimas eleições, e o ponteiro do índice de popularidade dos governos. A grande interrogação tem sido o impacto de políticas macro-econômicas como a implantação do euro, a política agrícola comum ou as políticas contra a exclusão social sobre o número e a qualidade do emprego. E sobre a empregabilidade, este neologismo de final de milênio, que causa frisson em 10 entre 10 empregados do mundo.

 

Soluções alternativas
A Europa é o berço e o paraíso do welfare state. Menos na Inglaterra. Lá desmontou-se o círculo de proteção, liberalizou-se a relação capital-trabalho, e flexibilizou-se a legislação trabalhista. Por isso, o Reino Unido é uma ilha no mar de desemprego da Europa, aproximando seu desempenho do paradigma americano, pagando o trabalhador o custo da menor proteção, porque o Estado remete ao mercado a precedência enquanto organizador das relações entre capital e trabalho. A alternativa é a busca de um equilíbrio entre a redução dos custos do emprego e do welfare state, para criar novos empregos e oportunidades para os que ingressam no mercado, mantendo parte das conquistas trabalhistas e sociais. Especificamente no setor agropecuário, emprego significa subsídio, protecionismo forte, para manter o elevado nível de renda que elimina a capacidade de competição do produtor francês no mercado global. Que ainda tem contra si o pequeno módulo rural, média inferior a 10ha, incapaz de gerar escala de competitividade no mundo atual. É onde o desemprego encontra o agronegócio.
  Porque a França?
Latinos e apaixonados, os franceses conferem um tempero especial ao debate, radicalizando os extremos, alicerçado num desemprego crescente, que mina a confiança da sociedade, aumenta a exclusão social e atiça o debate sobre imigração. O custo do emprego (previdência social inclusa) atinge 70% da folha de pagamento das empresas. O programa de renda mínima eleva os pisos salariais, mesmo para as profissões não especializadas, desincentivando a contratação. Resultado: os capitais de investimento franceses saíram à busca do mundo, gerando empregos em outros países, como fórmula de sobrevivência no mercado. Agora, entra no palco a jornada de trabalho de 35 horas, como carro chefe da política de geração de empregos de Lionel Jospin.

O impacto nos agronegócios brasileiros
Obviamente, não há como antecipar o impacto, se não sabemos exatamente quais medidas serão implantadas e qual será seu impacto na França. Mas, pode-se efetuar uma série de prognósticos, baseado na leitura dos jornais franceses, sobre as medidas pró-emprego e suas consequências, em especial a redução da jornada.

a. A nova jornada criará novos empregos? Se criar, ativará a economia, aumentará a renda, incrementará a demanda agregada, diminuirá a pressão pela manutenção de medidas protecionistas no campo. Com isto aumentam as possibilidades de exportação do Brasil, e também torna mais justa a competição no mercado.

b. A nova jornada não provocará perda de qualidade do emprego? Se provocar, restringem-se as possibilidades de expansão de renda e de colocação de produtos brasileiros no mercado francês, e será uma barreira ao desmonte do protecionismo no campo.

c. Haverá perda de competitividade dos produtos made in France? Se houver, diminui o espaço para crescimento da renda, pode haver um retrocesso protecionista, e um fechamento de mercado para produtos agropecuários de fora da EU.

d. Haverá fuga de capitais? O pior dos mundos para os franceses (pode ser que para o setor agropecuário brasileiro também), pois reduzirá fortemente o crescimento da economia, paradoxalmente aumentará o desemprego, retraindo a demanda e aguçando as cabeças que defendem o fechamento de mercado e as medidas protecionistas.

O efeito champagne
O problema principal não está na França, mas na União Européia. Pela insistência com que os franceses buscam uma saída para o desemprego, sem enveredar pelo duro caminho do Reino Unido, acabam por tornar-se paradigma dos demais membros da EU, exportando suas soluções, e todas as suas conseqüências. Com o que, cada uma das análises acima, precisa ser expandida para o conjunto da Comunidade, com todo o efeito que possa ter sobre os agronegócios brasileiros.

 

O pós-liberalismo e os agronegócios

Décio Luiz Gazzoni

Não sei se alguém já conceituou o pós liberalismo. O conceito de néo liberalismo já aprendemos: é nhem nhem nhem. Já liberalismo deve ser a prevalência dos mercados, livres de controle social, e que possuiriam o dom de auto-regulamentação, confluindo permanentemente para um ponto de equilíbrio em que os preços seriam os mais justos, a economia funcionaria com as engrenagens perfeitamente lubrificadas, e teria como decorrência mais justiça distributivista, otimização dos recursos e progresso constante, com a felicidade geral das nações. Bem, na teoria a prática é outra, parodiam Lenin e Stalin de seus respectivos túmulos, fantasmas insepultos da antítese capitalista do liberalismo, que foram as economias de planejamento centralizado, ou, mais popularmente, os países comunistas.    Faça o que eu digo...
Em teoria tudo parecia realmente se ajustar. Os ventos dos anos 80 vinham carregados com um forte odor de liberalismo, a ponto de profetas anteverem um mundo monótono, pela dominância generalizada deste corte capitalista em todas as nações. As grandes mudanças da época realmente sinalizaram neste sentido, e, convenhamos, a maioria delas realmente estava na rota correta, e continua a estar. Passados alguns anos, já com experiências implantadas aqui e acolá, Norte e Sul, Leste e Oeste, é possível efetuar um primeiro balanço. E, a primeira coisa que observamos, é que as crises do capitalismo – as crises são da essência do capitalismo, dizem os teóricos do liberalismo – explodem com força nos países pobres. Culpa de erros e desvios estruturais destes países, que carregavam esqueletos no armário, impossíveis de serem escondidos quando a economia se abre, dizem eles. Metade da história está correta. A outra metade é que as nações ricas, onde nascem, crescem e pregam os teóricos do capitalismo, possuem uma infinidade de mecanismos (o tal saco de maldades) para protegerem-se das crises, preferentemente desviando-as para a periferia do mundo.

 

 

 ...portanto, abram as economias
Em parte por ser moda, em parte por imposição de países ricos e de organismos internacionais, e em parte por absoluta falta de alternativa, os países mais pobres do mundo embarcaram cegamente na nau do neo liberalismo. As crises se sucederam em cascata, países inteiros arrastados para o desastre, aprofundamento da pobreza e da injustiça social. Aumento do débito externo, perda de credibilidade e de espaço comercial, apesar de haverem rezado fervorosamente pela cartilha. O Brasil é apenas mais um exemplo na sucessão do joguinho de dominó, que deverá arrastar consigo as economias do Uruguai (perde seu mercado de produtos animais), Argentina (depende do Brasil para mais de um terço de suas exportações) e Paraguai (depende em quase tudo do Brasil). E que ninguém imagine que a Argentina não foi um discípulo dogmático da ideologia econômica dominante, a ponto de imaginar a substituição de sua moeda pelo dólar americano, com toda a perda de soberania em termos de política econômica que isto representa.
 
  Os protecionismos, sempre eles
Existem diversas razões para as grandes crises passarem ao largo dos países centrais. Sem dúvida o protecionismo comercial é uma das pilastras mais importantes. Ainda esta semana, os Estados Unidos impuseram uma sobretaxa ao aço brasileiro, enxergando aqui protecionismos que nunca conseguiu demonstrar, e como tal aumentou o protecionismo do outro lado. Que o digam os empresários que tentam vender açúcar, fumo, algodão, suco de laranja, frango e outros produtos para o grande vizinho do Norte, ou para a União Européia, onde encontram um mercado protegido e eivado de subsídios e outros artificialismos. Agora surge com clareza um desdobramento que pode ser a mãe, o elo de união entre todas as crises: a livre circulação de capitais sem bandeira, sanguessugas da era eletrônica, que entram nos países de manhã (com a benção de seus governantes, diga-se de passagem), para retirarem-se do motel à tarde, já que é manhã do outro lado do globo, e é preciso acumular mais lucros. Até mesmo os países ricos se envergonham desta atitude de sugar até o último centavo de dólar de economias miseráveis, com a ilusão de que estariam acumulando "reservas", quando na realidade estavam alugando um bordel de quarta categoria, que fecha as portas aos fregueses ao menor sinal de perigo. 

O pós liberalismo

Mentes sensatas, mais preocupadas com a injustiça ao redor do mundo e com o aumento do fosso entre os países ricos e pobres, já sinalizam a necessidade de correção de rumos. Alguns com uma quarentena obrigatória (a diária do motel deveria ser de ao menos um mês), ou de uma taxa punitiva para movimentações de curto prazo. Em nossa modesta opinião, é preciso ir mais fundo. Pós liberalismo significaria promover uma inversão de ótica: capital é um fator de produção e não um fim em si mesmo. É impossível, fisicamente (ou financeiramente) remunerar o capital ad aeternum, se não houver produção.   Então, assim como na Rodada Uruguai foram estabelecidas novas regras para o comércio internacional, que se instaure a Rodada do Milênio, estabelecendo regras que incentivem a produção, a geração de riquezas, a indução do progresso, desincentivando punitivamente a especulação financeira, a movimentação célere de capitais ao redor do mundo, que, por onde passam deixam apenas lamentação e ranger de dentes. Vamos aproveitar a conferência ministerial deste final de ano para lançar uma nova proposta, que torne o início do próximo milênio o ano da produção, encerrando o ciclo da especulação. É mais ou menos isto que chamo de pós liberalismo. Com as bênçãos do México, Tailândia, Filipinas, Indonésia, Coréia, Rússia, Brasil, etc... 

 

Os alimentos são seguros?

Décio Luiz Gazzoni

As conclusões de um dos mais exaustivos estudos jamais efetuados sobre resíduos de pesticidas químicos em alimentos são estarrecedoras: mesmo quando os resíduos se enquadram dentro dos limites legais, estão muito acima do que o Governo considera seguro para as crianças; e os níveis de resíduos são muito maiores nos produtos nacionais que nos estrangeiros. A Associação de Consumidores utilizou resultados de análises oficiais do Governo, em especial com frutas e hortaliças, concluindo também que, em alguns casos, mesmo a porção diária de consumo desses produtos pode ultrapassar os limites de resíduos tóxicos admissíveis para ingestão por crianças. O que significa que os pais devem redobrar os cuidados com os alimentos consumidos pelos filhos.

 A base do estudo
Resultados oficiais de mais de 27.000 amostras, relativas a 27 produtos alimentares, produzidos no país ou provenientes do exterior, frescos ou processados, permitiu estabelecer um índice de toxicidade dos alimentos disponíveis para o público. As amostras, com aproximadamente 200g de produto, foram preparadas como se fossem para consumo: as frutas foram descascadas e as hortaliças lavadas. O índice de toxicidade do estudo levou em consideração três fatores:

(i) a freqüência com que os resíduos foram detectados em um determinado alimento;
(ii) os níveis de resíduos presentes nas amostras contaminadas; e
(iii) a toxicidade relativa dos agrotóxicos encontrados. 

As principais conclusões
As conclusões são pesadas e desnudam a necessidade da modernização dos sistemas de garantia da segurança alimentar, e a necessidade de estabelecimento de padrões mais seguros. Os cientistas concluíram que:

(i) Os índices de toxicidade de sete alimentos (maçã, uva, feijão, pêssego, pêra, espinafre e abóbora) são centenas de vezes superiores ao conjunto dos 27 produtos analisados;
(ii) Os alimentos produzidos no país apresentam maior nível de contaminação que os produtos estrangeiros;
(iii) Também foram encontrados maior teor de resíduos dos pesticidas mais tóxicos nos produtos nacionais que nos estrangeiros;
(iv) Os produtos que sofreram processamento apresentaram tendência de gerarem menores índices de toxicidade que os alimentos frescos;
(v) O inseticida metil paration, altamente tóxico, foi o que apareceu com mais freqüência nas amostras analisadas, em especial no feijão e nas maçãs. Estima-se que 40% das crianças ingerem mais resíduos de metil paration do que o limite considerado seguro pelo Governo.
(vi) O agrotóxico mais prejudicial à saúde, o aldicarb, apareceu com muita freqüência nas amostras de batata.
(vii) Produtos carcinogênicos como DDT e Dieldrin, banidos do comércio há décadas, ainda aparecem nas amostras. Estima-se que 77% das amostras de abóbora possuem mais Dieldrin do que o admitido para o consumo de crianças. 

O perigo para as crianças
O estudo chama a atenção para a ingestão de alimentos contaminados por parte das crianças, porque seu organismo é muito mais sensível que o dos adultos. Em geral, a ingestão diária de alimentos por crianças, em percentual de seu peso corporal é maior; seu sistema nervoso está em formação; e o sistema de detoxificação, em especial o fígado, não está inteiramente formado. Além de causar câncer, muitos pesticidas desencadeiam problemas neurológicos e endocrinológicos, aos quais organismos em formação são mais sensíveis. Por isso, o estudo recomenda:

(i) evitar oferecer às crianças os sete alimentos mais contaminados;
(ii) descascar qualquer fruta, e lavar todos os alimentos frescos com detergente diluído, enxaguando antes de servir;
(iii) preferir produtos produzidos sem agrotóxicos. 

Pasmem os senhores!

Agora a grande surpresa: encontrei este relatório, liberado no dia 19 de fevereiro de 1999, numa das minhas madrugadas de navegação na Internet. Escrito por Edward Groth, Charles Brenbrook e Karen Lutz, renomados cientistas da área nos Estados Unidos, e que basearam seus estudos em análises do Departamento de Agricultura americano. Sim, senhoras e senhores: toda esta fuzarca aí em cima se refere aos Estados Unidos da América. Não que nós, míseros candidatos a emergentes, não tenhamos problemas, mas asseguro que não possuem esta dimensão.   Você, agricultor, criador, negociante, pai ou mãe de família, aproveite para refletir que, se estamos enviando alimentos para os EUA com menos resíduos do que ele produzem lá, e se oferecemos aos nossos consumidores, aqui no Paraná ou no Brasil, alimentos mais seguros, isto se deve à atuação firme de órgãos como o Ministério da Agricultura, e o Departamento de Fiscalização da nossa Secretaria da Agricultura do Paraná. Ah!, não esqueça de recomendar ao seu deputado a leitura deste artigo, pode ser importante quando ele for decidir a prioridade do orçamento dos governos do Paraná ou do Brasil.


A reversão da balança comercial

Décio Luiz Gazzoni

O saldo da balança comercial é o melhor termômetro das condições de produção e comercialização de um país. É o que define a competitividade do produto made in Brazil, mesmo enfrentando o protecionismo do Primeiro Mundo. Ocupar espaço depende de esforços, que podem ser da iniciativa privada (programas de produtividade, qualidade, marketing), políticas macro-econômicas (câmbio, juros, crédito), e programas governamentais (marketing institucional, sanidade agropecuária, apoio à exportação, redução do custo Brasil). Os agronegócios tem o maior saldo nas exportações, podendo beneficiar-se rapidamente de uma reversão das políticas governamentais.   Política equivocada
O pecado original do Plano Real foi a apreciação do Real. Para manter a cotação, promoveu-se o ingresso de dólares no país, arrestados por uma taxa de juros das mais altas do mundo. Parte das divisas que ingressaram não eram dólares "bons", fruto de investimentos produtivos, ou de transações internacionais, deficitárias nos últimos anos. O agricultor brasileiro foi duplamente penalizado pela adversidade das condições de produção, e pela defasagem cambial, encarecendo a exportação, e tornando o mercado local atrativo para os concorrentes. Bilhões de dólares migraram para o exterior por conta deste erro de
política econômica.
  Como foi 1998
Uma continuação dos equívocos anteriores, acumulando déficit de  US$6 bilhões. A crise do sudeste asiático foi um duro golpe na relação comercial com os "tigres". Historicamente competitivos, a crise representou mais ganhos que perdas para esses países. A redução de renda e a elevação das taxas de juros internas (não tanto quanto as nossas) reduziu as importações, fechando mercado para nossos produtos. A brutal desvalorização das moedas impulsionou o comércio exterior, aumentando a competitividade pela via do preço, em produtos que já dispunham de imagem e credibilidade. Nas relações com estes países perdemos algo como US$1,5 bilhões em 1998. Assim, com Tailândia e Indonésia, as exportações brasileiras foram 65% inferiores às do ano anterior. O déficit não foi maior porque as importações brasileiras decresceram 6%, fruto da freada na economia.

 

Impulso em 1999
Mesmo mantendo a ortodoxia, a equipe econômica está percebendo que sua estratégia de trazer dólares para o país, sem pedir a origem, e a qualquer preço, se esgotou. Teria sido útil nos primeiros seis meses, enquanto se monitorava o rumo que o Plano Real tomaria, garantindo a estabilidade da moeda pelo lastro das reservas internacionais. Para manter um crescimento sustentado, é necessário reformular os fundamentos da política econômica, em especial redirecionar o ingresso de dólares no país para empréstimos e investimentos de longo prazo, e revertendo o déficit da balança comercial. A liberalização do câmbio é a senha para uma explosão de progresso dos agronegócios brasileiros.
  A parte do governo
Além disso, o governo precisa completar sua reforma tributária, para desonerar as exportações (ninguém exporta imposto). Mas esta é apenas uma parcela do "Custo Brasil", que emperra os negócios internacionais. Os custos portuários estão sendo atacados, com o desmonte do anacrônico corporativismo no embarque e desembarque. Armazenagem e transporte necessitam ser melhorados, para preservar a competitividade dos produtos até o embarque. O governo acena com
o Programa de Estímulo às Exportações (PEE) e da Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação. A azeitona da empada seria o rebaixamento das taxas de juros a níveis decentes.
  A parcela privada
Este jogo é de equipe. O secretário Executivo do Ministério da Agricultura, Dr. Dr. Aílton Barcelos (uma das maiores inteligências da agropecuária brasileira) acena com a criação da Agência de Desenvolvimento dos Agronegócios. A iniciativa privada precisa associar-se à futura Agência, para abrir escritórios no exterior, captar informações, definir estratégias de abertura e conquista de mercados. É onde governo e privados vão unir-se e organizar-se para verificar onde estão as melhores chances para os nossos agronegócios. É preciso denunciar e combater os anacrônicos protecionismos à agropecuária cometidos pelos irmãos ricos do Norte. Mas também precisa investir profundamente em competitividade no que lhe cabe: melhor preço, maior qualidade. Que somente serão obtidas com o uso da melhor tecnologia e com um ambiente produtivo dotado da melhor condição sanitária.

Rumos do Mercosul

Décio Luiz Gazzoni

O Mercosul impactou profundamente os agronegócios brasileiros. Nada mais será o mesmo, nem o leite nem a carne, o arroz, o trigo, a soja ou o milho. É fundamental estar atento aos rumos que o bloco assume, antecipando movimentos para aproveitar as oportunidades. Durante 1998, percebemos com a frieza (e dureza) dos fatos o que significa globalização, como as trapalhadas sexuais de Mr. Clinton ou um negócio mal feito por um banco japonês, podem afetar o preço das commodities ou o emprego do peão da fazenda. Assim, antes do Mercosul é importante analisar o mundo, que traçará o cenário para os rumos do Mercosul.   Arrumando a casa
Diz-se que as crises são da lógica do capitalismo, novas fórmulas de acomodação do sistema. Mas, corações e mentes do mundo inteiro desejam a reversão das expectativas negativas que marcaram 1998. Já comentamos neste espaço a falta de um líder mundial expressivo, carismático, aquela personalidade que provoca a intervenção no rumo da História, recolocando a economia nos trilhos da expectativa mundial. Enquanto este líder não vem, devemos buscar uma saída para o imbroglio em que nos metemos. É importante a participação de todos os atores do cenário, para conferir legitimidade e responsabilidade, fugindo daquele ambiente que parece dominado pelos 5 mandamentos que Luiz Gonzaga Belluzo referiu recentemente: 1. Quem pode mais chora menos; 2. Faça o que digo, não o que faço; 3. Ou está comigo ou contra mim; 4. Escreveu, não leu, o pau comeu; 5. Bom cabrito não berra. Ou, em resumo, será necessário por um basta na imposição unilateral das regras comerciais do mundo globalizado por não mais que 15 atores principais do Primeiro Mundo. 

 

Retorno às origens
Corra da idéia que o Mercosul é uma enorme ameaça, que apenas permitiu que nosso "inimigo" - a Argentina - ocupasse os espaços do comércio de produtos agropecuários. A origem do Mercosul baseou-se no ganho de competitividade pela complementaridade das economias. O Mercosul é um laboratório de preparação para a exposição dos mercados do cone sul à globalização; e para que os países atuem em bloco, na busca de mercados. A dependência excessiva das economias regionais, polarizadas entre Brasil e Argentina, é um viés a corrigir. Já usei a figura de que os dois países não podem concentrar excessivamente suas importações e exportações, pois esta introversão desvia o foco da razão do Mercosul, e cria a figura de dois bêbados se apoiando: se um tropeça o outro desaba. 
  A ampliação do Mercosul
Enquanto a ALCA patina na intransigência do protecionismo americano, resta a ampliação do Mercosul. Além de Chile e Bolívia, na fase de noivado, temos Perú, Colômbia, Equador e Venezuela namorando o bloco, além de outros assanhados de olho na possibilidade. Uma das linhas de trabalho dos diplomatas será uma negociação conseqüente de preferências tarifárias com os países da Comunidade Andina, ou seja, aqueles países do Pacto Andino, que falharam em sua tentativa de maior ambição do ponto de vista comercial. Não menos importante será o prosseguimento das negociações para o acordo de livre comércio do Mercosul. Esta abertura programada e negociada não terá o mesmo impacto das primeiras etapas, porém, para não chorar o leite derramado (ou o leite importado!) é importante que as lideranças setoriais da agropecuária estejam atentas para esta agenda, pois significa a derrubada das últimas barreiras, e a vigência do império da competitividade intra-regional na comercialização de produtos agrícolas. 
  Acordo com a União Européia
O euro entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 1999, com a ambição de ser uma alternativa ao dólar como referência monetária internacional. Uma Europa forte é sempre fonte de modificações no cenário do comércio internacional. E não é de agora que a Europa lança olhares lânguidos para este pedaço do planeta. Também não é para menos: além do mercado potencial que se desenha para o futuro, desde a criação do Mercosul a Europa mais que duplicou suas vendas para os países do bloco. Não era esta a intenção dos ideólogos do Mercosul. Ao contrário, era justamente aumentar as vendas do bloco. Está prevista uma Cúpula América Latina-União Européia para este ano, onde teremos que ir com gana, energia e agressividade para a mesa, pedindo apenas e tão somente justiça comercial. O que significa exigir da Europa que cumpra o que assinou em Marraqueche em 1994, ou seja, o fim dos subsídios agrícolas, das sobretaxas, cotas e demais fantasmas do protecionismo. Não dá mais para tergiversar, ou o Mercosul passa a exigir igualdade nas relações comerciais, ou perde o sentido a existência do bloco.

É hora da onça beber água!

Décio Luiz Gazzoni

Não vamos nos iludir com o preço da saca de soja a R$15,00 ou R$16,00. Esse é um preço bom para o momento, em função das turbulências na paridade cambial. Por sinal, o preço da soja sequer incorporou integralmente a desvalorização do real. Além do que, a maioria dos compromissos dos agricultores estava desatrelado do dólar, o que não ocorreu com o preço do grão. É importante esfriar a cabeça, analisar a situação, e projetar o que vai acontecer na próxima safra. Para tanto, temos sempre que considerar que vivemos em um mundo globalizado, e é neste mercado que competimos.

A contextualização do mercado

Preço é função de oferta e demanda, diria o conselheiro Acácio. Tempere com um pouco de estoques e de seus condicionantes, como o custo do dinheiro para estocagem; com a perspectiva de colocação dos estoques; e com a concorrência dos sucedâneos, como é o caso da palma. E não esqueça de pensar em especulação, que sempre existe. Qual é a situação de hoje:   a. do lado da oferta, estamos colhendo a segunda grande safra consecutiva. Não apenas o Brasil, mas os EUA, a Argentina, o Paraguai e outros grandes produtores;
b. do lado da demanda, a crise mundial reduziu a taxa de crescimento do mercado, que não apresenta condições de absorver o violento aumento da oferta do grão;
c. quanto a estoques, nunca estiveram tão altos, mais do que dobrando a posição em relação há dois anos;
  d. para piorar, o cultivo de palma foi incentivada pelos altos preços da soja nos anos anteriores, e está desovando sua produção no mercado justamente agora.
Oferta em alta, demanda em baixa, estoques recordes, concorrentes afiados, está aí uma receita explosiva, com final conhecido: recorde de baixa no preço.

 

A definição do preço
Conforme estas condições foram se definindo com clareza, o mercado levou um verdadeiro tombo. Já estávamos sentindo seu impacto no início do plantio, com Chicago apresentando nítida tendência de queda. Fomos salvos pelo gongo da crise cambial, uma crise anunciada pela resistência do governo em enxergar o quanto a sobrevalorização cambial nos prejudicava. Mas esse salvo conduto vale apenas para esta safra, porque novas considerações se aplicam para a safra 99/2000. No momento Chicago opera ao redor de US$4,50/bu, e em queda, o que vem a dar algo em torno de US$8,50/saco no Paraná. Que é um dos preços mais baixos desde que começamos a plantar soja como gente grande. O que todo mundo deve estar pensando é que, com Chicago roçando os US$4,00/bu, a intenção de plantio da safra americana para maio próximo deve despencar, reduzindo a oferta, queimando estoques e invertendo a tendência baixista. Certo?
  Aí vem baixaria americana outra vez!
Errado. As previsões oficiais de plantio da safra americana saem dia 31 de março. Mas, os analistas que buscam antecipar as tendências, estão afirmando que a área plantada pode crescer até 3%, o que não é coisa pouca para os 30 milhões de hectares americanos. Mas onde está a lógica: oferta em alta, demanda em baixa, preço caindo, a oferta não deveria ser reduzida? O agricultor americano não deveria reduzir a área plantada? Deveria. Deveria, se o governo norte-americano não se dispusesse a subsidiar o produtor de soja, pagando o preço de garantia de US$5,25/bu, o que pode significar um subsídio de US$40,00/ton ou mais. Uma injeção superior a US$3 bilhões na sojicultura americana. Cadê o discurso da liberalização de mercado? Ficou no discurso, para países emergentes cumprirem! Quando o problema é com eles, esquecem tudo o que escreveram.
  É hora da onça beber água
O busílis da negociação para criação da OMC foi a liberalização do comércio internacional, em especial a eliminação dos subsídios à produção e comercialização de produtos agropecuários, e a proibição de novos subsídios. É hora de testar o sistema. É preciso ser pró-ativo, depois não adianta chorar a soja derramada. As entidades e todas as lideranças representativas do agronegócio precisam congregar-se e associar-se ao Ministério da Agricultura e ao Itamaraty, para apresentar queixa na OMC contra este novo protecionismo americano. Vamos ver se na briga de David contra Golias, a OMC será fiel aos acordos firmados, um fórum isento. Até porque esse intervencionismo americano no mercado vem no pior momento possível, quando o Brasil necessita desesperadamente sair do buraco, erguendo-se puxando os próprios cabelos, e usando os agronegócios como alavanca. A ação do governo americano poderá ser gasolina pura na fogueira da crise brasileira, neutralizando os esforços do governo e da sociedade para construir um novo futuro para o país.

Novas variedades transgênicas

Décio Luiz Gazzoni

Já comentamos que o surgimento de novas variedades transgênicas seguirá um modelo exponencial, semelhante à lei de Moore, que reza que os computadores dobram de capacidade a cada 18 meses. Parece que as novidades com variedades transgênicas dobra em menos de um ano. As restrições que os órgãos de defesa do consumidor de países europeus vinham colocando em relação à segurança de produtos alimentares provenientes de variedades transgênicas estão sendo superadas.   A tendência de momento é a aceitação por parte de produtores e consumidores de que a correta rotulagem, alertando o consumidor de que está adquirindo um produto proveniente de variedades transgênicas, é proteção suficiente. Já que os testes não indicam efeito deletério adicional em relação às variedades tradicionais, o consumidor pode decidir o nível de segurança que estabelece para si próprio e para sua família. Inclusive, evitando o consumo de derivados de materiais transgênicos, mesmo que, para um cientista, possa parecer excesso de zelo.

 

Variedades transgênicas no Brasil
A Monsanto foi pioneira ao requerer autorização para introdução de soja resistente ao Roundup. Como todo o breakthrough, a polêmica era esperada, e necessária para que todos os aspectos fossem considerados, especialmente a proteção do ambiente e da saúde do consumidor. Agora a Agrevo solicita autorização para testar uma variedade de arroz, resistente ao herbicida Liberty, que controla o arroz vermelho, mas afeta variedades normais de arroz. O arroz vermelho é uma praga muito séria, por vezes limitante da cultura, com prejuízos anuais estimados em US$270 milhões. Caso os testes de campo confirmem os resultados já obtidos, os agricultores terão à disposição uma nova forma de combater o arroz vermelho.

 

 

  Tanzânia
O Departamento de Assistência Técnica da Grã-Bretanha desenvolveu variedades transgênicas resistentes ao vírus amarelo do arroz, um problema sério em diversos países. O programa está baseado em Madagascar e na Tanzânia, países onde a cultura é muito afetada pelo vírus. Uma vez desenvolvida uma nova variedade, a resistência pode ser transferida para variedades adaptadas a qualquer país, onde a doença exista ou tenha potencial de ingresso. As linhas transgênicas estão sendo desenvolvidas nos laboratórios do Departamento, e testadas nos países onde existe o problema. Os comitês de bio-segurança destes países estão acompanhando os testes para aquilatar a segurança das introduções.

 

 

  Austrália
O cientista Peer Schenk, do Centro de Tecnologia para Plantas Tropicais, e cientistas da Universidade de Leuven anunciaram uma descoberta espetacular. Estudando um vírus que ataca a bananeira, foi descoberta uma série de "chaves" genéticas que serão essenciais para o desenvolvimento de resistência a doenças, insetos, frio, seca, salinidade, ou para elevar a produtividade. Ele chamou estas "chaves" (tecnicamente denominadas promotores) de Cv, My e Go, e o importante é que existe a possibilidade de serem transferidos para qualquer planta, conforme os testes que ele já fez com trigo e outros cereais, cana de açúcar e banana. O potencial de retorno financeiro desta tecnologia é fantástico. É só imaginar a possibilidade de plantar em áreas impróprias, secas, ou reduzir o volume de água de irrigação. Ou ainda cultivos de sequeiro resistentes a veranicos, ou a solos salinizados. Sem esquecer as possibilidade de resistência a doenças, e a redução de uso de produtos químicos.

Como funciona?

Se é uma chave, funciona como uma chave, diria o conselheiro Acácio. Os promotores controlam a ação de determinados genes, que tenham sido introduzidos via engenharia genética nas plantas, "ligando" ou "desligando" o gene. Se o gene confere resistência a um vírus, ele somente será ativado na presença do vírus na planta. Bem, qual é a vantagem? Porque o gene não fica sempre ligado? Compare a planta com você. Você sabe que existem médicos pneumologistas, existem antibióticos para combater a pneumonia, mas você não irá ao médico, nem tomará antibióticos se não tiver uma suspeita, ou um diagnóstico de pneumonia.   Imagine que a energia que a planta dispõe para crescer, florescer, produzir grãos, resistir à doenças seja igual a 100. Não há garantia alguma de que determinado vírus, ou uma seca, afetará o desenvolvimento da planta. Então, a princípio, ela pode dedicar o máximo de sua energia (o valor 100) para crescer, florescer, produzir grãos. Somente quando for ameaçada, ativará seus sistemas de defesa, reduzindo o gasto de energia a um mínimo. Assim, a planta consegue, ao mesmo tempo, ser resistente à ameaça externa e também mais produtiva. É desta forma que agrônomos e cientistas de outras áreas estão desenhando a agricultura do futuro: mais limpa, mais segura e mais competitiva.

 

Amazonas, a bola da vez?

Décio Luiz Gazzoni

A convite do Governo do Amazonas cá estamos para propor um sistema de Defesa Agropecuária que cumpra suas funções de proteger o consumidor, o produtor e os negócios agropecuários, que sirva como chancelador do ingresso da produção agropecuária no mercado. Mas, para que se possa usar a alavanca propulsora da sanidade agropecuária, é fundamental que exista uma produção a ser alavancada. E aí é que está o busílis do problema. Passado o ciclo da borracha, que deixou marcas de uma época de fausto na arquitetura manauara, o Amazonas adotou como estratégia de desenvolvimento a industrialização, centrada em tecnologia de ponta, baseada em eletro-eletrônicos, informática, moto-metalúrgica e similares. Indústria em plena selva, as isenções fiscais tornaram sua produção competitiva.   Um modelo que não se completou
A isenção deveria servir como incubadora, permitindo vida própria às indústrias, quando confrontada com a verdade competitiva do mercado. Por diversos motivos que não cabe comentar nesta coluna, a indústria não se viabilizou na ausência de incentivos, que tem atestado de óbito constitucional datado: 2013. Qualquer empreendedor sabe que, devido à maturação dos investimentos, a partir de 2003 reduz-se o aporte de novos capitais e projetos na Zona Franca de Manaus, pelo elevado risco de retorno com lucros, antes da data fatídica. E aí o Amazonas se defrontará com uma realidade iníqua, pois 98% de seu PIB está em Manaus, 95% provém da Zona Franca. No interior sobraram os índios e o extrativismo da agricultura ou da pesca.
  As considerações principais
Partir para a indústria sofisticada foi a solução encontrada por governantes que viram nas matas, na hidrologia e no clima amazônico uma enorme ameaça, barreira intransponível para a adoção de um modelo descentralizado, baseado em agronegócios. Realmente, não é fácil rasgar e manter estradas na mata, que o diga a Transamazônica. Como instalar rede de telefonia baseada em postes? Gerar energia hidrelética a partir de rios planos? Transportar insumos do Centro Sul? Enfim, produzir trigo, soja, milho na mata amazônica? Realmente, examinando de forma pessimista, sob a ótica da agricultura do Centro Sul, ou mimicando paradigmas do Hemisfério Norte o fracasso era iminente, como demonstram os projetos agropecuários do Jari, da Fordlândia e similares. Há que repensar o paradigma produtivo.

 

Infra-estrutura com outra base
Comecemos por examinar a infra-estrutura por outra ótica. Não é necessário dispor de uma grande malha rodoviária, nem cremos que seja útil do ponto de vista econômico. A BR-174, unindo Porto Velho a Boa Vista, e de lá, via Caribe para a Europa, EUA ou Ásia é mais que suficiente. A partir daí usa-se a base navegável dos rios da Bacia, muito mais baratos enquanto meio de transporte. Ao invés de estradas, portos. Caminhões não, barcaças e navios. Energia? Sim, a partir do gás natural presente na área. Comunicações? Nada de postes, telefonia celular e por satélite. Construir o futuro já. A produção de insumos poderá ser local, a partir das jazidas existentes. Viabilização do transporte? Minério barateando o frete e preenchendo a entressafra. Expandir a base portuária de Itacoatiara para ingressar nos mercados mundiais.
  Projetos adaptados à realidade local
Este foi o mote que transmitimos ao auditório que nos ouvia. Nada de copiar modelo de desenvolvimento, vamos nos valer das vantagens comparativas locais. Pode até existir uma produção de grãos local, para abastecimento interno, ou para transformação no próprio local de produção em proteína de frango, avestruz ou gado confinado. Pecuária pode ser extensiva, semi-extensiva, confinada, tudo é possível no Amazonas. Com a vantagem da criação de búfalos, adaptada ao ambiente, de alta produtividade e com carne aceita nos mercados exigentes. Pirarucú, tambaqui e tucunaré criados em gaiolas dentro dos rios, disputando para vencer o mercado do bacalhau, salmão e atum. Biodiversidade como base da indústria química, e de plantas ornamentais, um mercado rico, sofisticado, e que recém se abre para plantas exóticas. Frutas tropicais da mata úmida, pupunha, açaí e similares, mercado de bilhões de dólares por explorar. Dendê e outras palmáceas produzindo óleo e proteína, guaraná produzindo refrigerantes.
  Se todo mundo chora, venda lenços!
Esta ouvi do Ministro Turra, durante uma audiência. Transformar ameaça em oportunidade. Aí está a grande saída do Amazonas, buscar sua vocação e suas vantagens comparativas, trampolim para a competitividade. Transformar oportunidades em projetos, buscar investidores, capitais, empreendedores, e redesenhar a economia amazônica. Neste particular, dois investimentos são prioritários: tecnologia e sanidade agropecuárias, fundamentos modernos da competitividade nos mercados. Sanidade para proteger não só o Amazonas, mas o Brasil, pela extensão das fronteiras internacionais do estado. Fechado o raciocínio, temos aí o Amazonas como uma das últimas fronteiras de oportunidades, não apenas do Brasil, mas do mundo. É a bola da vez dos investidores do Brasil, e internacionais, abrindo uma oportunidade ímpar no alvorecer do milênio.

Sanidade agropecuária, a ponte para o futuro

Décio Luiz Gazzoni

Londrina viveu um de seus dias de glória na última segunda-feira. Na história dos agronegócios brasileiros, caberá lugar de destaque para o Paraná, pioneiro na instalação do Conselho Estadual de Defesa Agropecuária, e para Londrina, com o primeiro Conselho Municipal de Defesa Agropecuária. Também é do Paraná o primeiro Plano Diretor de Defesa Agropecuária, elaborado sob a égide dos novos tempos. Fruto de uma política deliberada de conferir competitividade aos agronegócios, a instalação dos Conselhos é uma estratégia para que o Brasil possa cumprir seu destino histórico de liderar os agronegócios mundiais.

A gestação de uma política
Na condição de consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento, tivemos o raro privilégio de atuar na reformulação das políticas, estruturas e organizações agropecuárias de diversos países, com o suporte financeiro do BID. Aproveitamos para aprofundar a análise e a reflexão do impacto da Organização Mundial do Comércio sobre as oportunidades para o Brasil. Este conhecimento se mostrou de extrema utilidade nos últimos quatro anos, quando participamos da elaboração da nova Política de Defesa Agropecuária. O cenário com o qual trabalhamos foi a progressiva liberalização do comércio internacional, livre do protecionismo, ancorado em um sólido sistema de conformidade, destinado a garantir a proteção ao consumidor e aos negócios agropecuários.
  A operacionalização da política
Ao longo desse período, buscou-se modernizar o Brasil, para criar os fundamentos para a implantação dos novos mecanismos. Investimentos profundos foram realizados nos organismos federais e estaduais de defesa agropecuária. As frotas de carros foram renovadas, a rede de informática e de informação implementada, os acordos internacionais foram renegociadas, as estruturas estaduais migraram no sentido de maior autonomia, flexibilidade e agilidade. O mote central é a busca da competitividade comercial, tanto no mercado local, quanto alhures, posto que cada vez mais fluídos ficam os conceitos de mercado externo e interno, substituídos pelo mercado globalizado, se aplicam aos produtos produzidos localmente as mesmas normas e exigências impostas à produção externa.
  Os conselhos de Defesa
Uma política tão ambiciosa e futurista não poderia ser operacionalizada exclusivamente pelos Governos. Desde o início, o conceito da parceria permeou a elaboração da política, com o corolário da descentralização e delegação. Ao Governo incumbe, no ponto focal futuro, o exercício das atividades indelegáveis, típicas de Governo, como o poder de polícia e a legislação. Aos parceiros compete o compartilhamento de responsabilidades na formulação de políticas, diretrizes, programas, normas, regulamentos, e a operacionalização dos processos não exclusivos. É onde cristaliza-se a idéia dos Conselhos de Defesa, ponto de encontro da comunidade organizada, foro privilegiado para discutir as políticas e as ações de Defesa Agropecuária. Cessa o poder de arbítrio unilateral do Governo, entra em cena o planejamento estratégico conjunto, as decisões voltadas para objetivos e metas claras, centradas na qualidade, na competitividade, na proteção do consumidor e do meio ambiente.

 

Alavanca dos negócios
A Defesa Agropecuária não existe de per se. Abordamos o tema na coluna da semana passada, quando, convidado pelo Governo do Amazonas, demonstramos que é necessário primeiro existirem os agronegócios, para que a Defesa ganhe sentido e razão de ser. Assim será aqui no Paraná, e aqui em Londrina. A Defesa perde o estigma de ser um mero agente fiscalizador de uma legislação obscura, e para ser uma alavanca poderosa, um carimbo no passaporte dos nossos produtos em direção a mercados ricos e exigentes. Mercados que exigem qualidade, conformidade, inocuidade, segurança dos produtos agropecuários, essencialmente alimentos. Passa a ser a garantia de que o mercado local não será invadido pelo "restolho" do mundo, porque teremos normas e padrões que resguardarão o cidadão brasileiro e o produtor agropecuário.
  Fim de uma etapa, início de uma jornada
Quando mentalizamos o modelo conceitual da nova política, estabelecemos como "auto-pagamento" que o Paraná, e a cidade de Londrina seriam pioneiros neste processo. Não somente porque aqui vivemos, mas porque bebe água limpa quem primeiro chega à fonte. O mercado globalizado é altamente competitivo. O sucesso nesse mercado pode estar justamente em quem primeiro ajustar-se aos padrões internacionais de conformidade. Com a comunidade paranaense, com a comunidade londrinense organizadas para perseguir a competitividade, antecipando-se não apenas a outros estados, mas à esmagadora maioria dos países do mundo, arrancamos na frente, e somos os primeiros a trafegar na ponte para o futuro.

 Política agrícola X política agrária

Décio Luiz Gazzoni

Está faltando um ordenamento na discussão sobre a política agrária no país. Dois fatos recentes nos chamam a atenção: a estadualização da reforma agrária, e a denúncia feita em artigo assinado pelo Sr. José Luiz Schuchovski de uma possível pressão indevida do superintendente do INCRA no Paraná sobre os deputados estaduais da bancada ruralista. Ex-ante à definições de diretrizes, prioridades, programas e ações, é importante entender como se dá o encaixe da política agrícola com a política agrária. Aparentemente sobrepostas, abstraimos este dogma para analisar o processo, à luz da abertura da economia e a globalização de mercados, e seu efeito sobre as políticas sociais.

Quem são os sem terra?
Conforme o MST, ex-agricultores, expulsos do campo pelo descaso com que a agricultura e o agricultor são tratados pelas políticas governamentais. Conforme outras fontes, uma mescla de ex-agricultores com habitantes do meio urbano, expulsos do mercado de trabalho, seja pela sua contração (desemprego estrutural), ou pela mudança de perfil (desemprego tecnológico), que reduz a "empregabilidade" do cidadão. Em ambos os casos, é importante analisar as causas que levaram estas pessoas aos acampamentos à beira da estrada, e aprofundar o estudo das suas reivindicações. Em um ou outro caso, emerge o aviltamento da condição humana, em que irmãos brasileiros, politicamente manipulados ou não, são submetidos à humilhação da sub-vida, esperando viver o dia de amanhã com um pedaço de terra. Será suficiente? As causas que os tornaram ex-agricultores ou ex-empregados desapareceram? Que razões objetivas há para crer que o problema destes cidadãos, marginalizados pelo sistema social dominante, será resolvido concedendo-se um quinhão de terra? Apenas a terra, ou as demais condições para produzir e sobreviver? É desta forma que devem ser aplicados os recursos destinados a desenvolver a agropecuária brasileira?
  O problema da escala
Economia aberta, sem protecionismo ou subsídio, requer alta competitividade para sobreviver em qualquer atividade. De forma reducionista, deve-se produzir focalizando o preço que o consumidor aceita pagar, com a qualidade que ele impuser. Essas condições exigem infra-estrutura para chegar ao mercado de forma competitiva, com o máximo de tecnologia e ambiente saneado, para produzir bem e com qualidade. Porém, do outro lado do oceano, os agricultores produzem em condições bem diferentes, recebendo polpudos subsídios de seus governos, permitindo abastecer seus países, e estabelecer preços. Porque, com o subsídio que recebem, podem manter baixos os preços do mercado internacional, obrigando os concorrentes a competir com esta regra do jogo. Aí é que entra o problema da escala. Via de regra a margem de lucro por unidade (tonelada de produto ou hectare produzido) é muito baixa. Para compor uma renda que lhe permite viver com dignidade, o agricultor deve produzir alta tonelagem, ou explorar uma área muito grande.

 

Compondo a renda
Se pensarmos em área de 1000 hectares para auferir uma renda razoável, descartamos uma reforma agrária abrangente, porque mesmo sendo Deus brasileiro, não haveria área suficiente. Pensando em valor agregado, reduz-se a área, mas a atividade é mais intensiva em tecnologia, insumos, maquinários e mão de obra, caso de frutas, legumes, hortaliças. Produtos que compensam no preço unitário a reduzida extensão de área. Mas que cobram um preço alto em conhecimento, tecnologia, capacidade gerencial e capital.

Sem terra, um problema agrícola ou social?

Eis o cerne da questão: queremos resolver um problema de produção agrícola? Ou um problema social, de falta de renda e emprego? Do diagnóstico correto sairá a melhor solução. Se a resposta é aumento de produção, precisamos de instrumentos de política agrícola que viabilizem a produção na pequena propriedade, com todas as restrições que o mercado internacional impõe à falta de escala, e com o elevado custo decorrente. Evitando que o pequeno produtor de hoje seja o sem-terra de amanhã. Se vamos solucionar um problema social, a produção não é o objetivo diretriz dos assentamentos, mas uma decorrência marginal.   Desloca-se o foco para os programas sociais do governo, mais baratos para a sociedade, pois é mais fácil subsidiar o agricultor na terra com uma agricultura familiar de subsistência, que forçá-lo a uma inserção no mercado da competição selvagem para o qual não está preparado, e que acabará por remetê-lo novamente para as tendas de beira de estrada. E não esqueçamos de discutir a legislação trabalhista como vetor da expulsão do homem do campo. Na condição de consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento, enfrentamos este dilema em outros países onde temos atuado, e nossa convicção particular é que a sociedade deve cotizar-se para amparar os irmãos menos privilegiados, despidos de emprego e renda, mantendo-os na terra à conta de programas sociais. A produção agrícola decorrente será um bônus adicional, e não o objetivo de sua fixação à terra.

 

Um americano na contramão

Décio Luiz Gazzoni

O todo poderoso Alan Greenspan é um daqueles homens que fazem tremer o mundo dos negócios. Quando ele fala, todos prendem a respiração. Quando ele para de falar, é uma corrida para tentar levar uma vantagem competitiva efetuando a melhor interpretação de suas palavras. Presidente do Federal Reserve Bank – o temido Fed (o Banco Central Americano), aos 70 anos Mr. Greenspan é um dos homens mais poderosos do mundo. Quando decide baixar ou subir 0,25% na taxa de juros do Fed, gera uma verdadeira reviravolta no mundo financeiro e nos negócios. Quando insiste que o índice Dow Jones, o termômetro da Bolsa de Nova Iorque está sobrevalorizado, calafrios percorrem os corretores, porque em seguida vem as ordens de venda das ações.

Uma palavra de bom senso
Os Estados Unidos, Meca do liberalismo econômico, paladino da livre iniciativa, um dos mentores da criação da Organização Mundial do Comércio, costumam impor regras ao mundo, sem muita preocupação em cumpri-las quando o é de sua responsabilidade fazê-lo. País protecionista por natureza, seus negociadores viram leões quando detectam casos reais ou evidências de subsídios ou outras formas de protecionismo em parceiros comerciais, sem olhar para a sujeira do próprio quintal. Alan Greenspan resolveu atacar este cinismo, falando na Convenção Americana de Embaixadores, em Dallas (Texas) na sexta feira passada. Tocou na ferida ao dizer que a adoção de barreiras ao livre comércio pode prejudicar o crescimento dos EUA. "Estou preocupado com o evidente enfraquecimento recente do apoio ao livre comércio neste país", disse textualmente. "Se congelarmos o progresso da produtividade, certamente desaceleraremos o crescimento e causaremos um dano considerável para os trabalhadores", ponderou.
  Que os americanos o ouçam!
Para o presidente do Fed, abrir processos antidumping e impor tarifas compensatórias, medidas freqüentemente rotuladas como defesa do comércio justo, tem efeito oposto ao desejado. "Elas são apenas disfarces para intimidar a concorrência". De acordo com a Agência Estado, o discurso foi interpretado como uma crítica à política comercial dos EUA, que, recentemente acusaram o Brasil e outros países de dumping no comércio de aço, atendendo a reclamos de usinas americanas. Pobre Brasil, nadando em problemas, sem recursos para atender serviços públicos básicos, e que se dá ao luxo de embutir sofisticados subsídios ao aço, tão sutis que a denúncia nunca foi comprovada! Mas a sobre-taxa não foi retirada. Ocorre que, os americanos são os maiores players do comércio internacional, estando sempre nos primeiros lugares em volume de recursos movimentados, em qualquer setor. Aliado ao preparo e ao profissionalismo de seus diplomatas e negociadores, sempre impõem ao mundo seus interesses, mesmo que seja do tipo "faça o que eu digo, não o que faço!"

 

O efeito sobre o Brasil
Nosso país, com aspirações de gente grande no mercado de agronegócios, é um dos mais prejudicados pelo protecionismo americano. Já comentamos nesta coluna que, para vender uma tonelada de suco de laranja aos EUA, precisamos "doar" 3 toneladas de soja em sobre-taxa. Feita para proteger os agricultores da Flórida, que não conseguiriam competir conosco sem esta proteção. Fechamos o ano de 1998 com um déficit de US$6,3 bilhões. Isto se deveu ao atraso cambial, às altas taxas de juros, à nossa falta de agressividade comercial, e ao protecionismo dos países ricos. Para mostrar a importância da correção do câmbio, este ano deveremos fechar com US$6 bilhões positivos, com um ponderável incremento para os produtos agropecuários.
  Revertendo o déficit
O governo brasileiro propõe a meta de exportamos US$100 bilhões em 2003, dos quais US$45bilhões de produtos agropecuários. O que depende de nós: conformidade às regras e padrões internacionais, certificado por um sistema de defesa agropecuária de primeiro nível; tecnologia para conferir produtividade e qualidade; zeramento do custo Brasil, com uma reforma tributária positiva, vias de escoamento e portos adequados; linhas de crédito à exportação; uma agência de agronegócios para tornar nossos exportadores mais agressivos. O que não depende de nós: o cumprimento das regras de livre comércio, em especial por parte dos EUA e da União Européia, muito particularmente da França, que resiste denodadamente a retirar os subsídios de seus agricultores. Enquanto nós falávamos nada acontecia, tomara que Mr. Alan Greenspan tenha, mais uma vez, falado e dito.

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