A
dinâmica da Agroenergia
Décio Luiz Gazzoni
Com exceção do uso combustível do etanol no Brasil, os biocombustíveis são uma novidade em escala global. Como toda a inovação, sua dinâmica é muito mais intensa que aquela dos negócios estabelecidos e devidamente amadurecidos. Logo, quem formular planos de negócios de médio e longo prazo para produzir etanol ou biodiesel deve atentar para os cenários alternativos e para as mudanças constantes que ocorrem na área. Como fatos novos, com poder de modificar completamente os cenários, temos:
|
1. A meta dos EUA de substituir 20% da gasolina usada nos EUA, até 2017, por fontes renováveis; 2. A seqüência de três relatórios do Painel de Mudanças Climáticas da ONU, alertando para o aumento de temperatura que se avizinha e para a necessidade de medidas urgentes e de longo alcance, para evitar conseqüências mais graves; 3. O estabelecimento das metas da União Européia para 2020, que prevê: a) redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa; b) aumento de 20% na eficiência de uso das fontes energéticas; c) aumento para 20% da participação de energias renováveis na matriz energética (10% com biocombustíveis); 4. A decisão do Governo da Índia de misturar 10% de biocombustíveis nos combustíveis fósseis; 5. O forte ataque de Fidel Castro ao uso energético de produtos agrícolas, eventualmente diminuindo a oferta de alimentos.
|
Há outros países com políticas públicas fortes, mas estes exemplos mostram como estão sendo traçadas metas ambiciosas para períodos de tempo curtos. E não é apenas o companheiro Fidel que está preocupado com a competição entre alimentos e energia. Em conseqüência, há que se proceder a um re-estudo integral da matéria prima disponível e dos processos de transformação. |
Mudanças
Não há vantagem comparativa natural que resista a uma mudança de paradigma tecnológico. Portanto, errará muito feio quem imaginar que, por dispor de área para expansão da agricultura, alta radiação solar e mão de obra barata, o Brasil será, inevitavelmente, o líder da produção mundial de biocombustíveis. Os países ricos estão investindo bilhões de dólares (ou euros) para encontrar outras saídas que não dependam de expansão de área ou de insolação. No caso da Europa, os países membros efetuaram um levantamento preliminar de toda a disponibilidade de biomassa, nas suas mais diferentes formas (lixo orgânico, sobrenadante de esgoto, serragem, resíduos agrícolas e agro-industriais, etc), traduzindo os volumes para potencial energético. O levantamento passa a ser atualizado, anualmente, e servirá de base para reduzir a demanda de cereais ou óleos para produção de biocombustíveis. |
Neste caso, novos processos de produção de etanol (etanol celulósico) e biodiesel (Fischer-Tropsch ou flash-pirólise) ou de outros biocombustíveis (gaseificação) ampliam as possibilidades de produção, reduzindo a dependência de cultivos como cana-de-açúcar ou oleaginosas. Em decorrência, é necessário revisar a participação do Brasil neste mercado, no longo prazo. Entretanto, no curto prazo (até 2020) o Brasil continuará imbatível na produção de etanol e é uma das esperanças mundiais de regularizar a oferta de óleos e gorduras. Um fato assaz importante é o desenvolvimento de processos de obtenção de bioprodutos a partir da biomassa, em associação com produtos energéticos, que deverá garantir a sustentabilidade do dueto bioenergia / biorefinarias, no futuro próximo. Esta é uma das principais apostas que os países do primeiro mundo estão fazendo, ou seja, embora o custo de produção de biocombustíveis possa ser elevado (não competitivo com combustíveis fósseis), do conjunto de outros produtos de alto valor agregado, que substituiriam os produtos derivados da petroquímica, seriam obtidas margens razoáveis que viabilizariam a produção de biocombustíveis. |
Assim, eu não tenho qualquer dúvida que, no médio e no longo prazos, a liderança na produção de biocombustíveis pertencerá a quem estiver mais avançado tecnologicamente. Hoje, o Brasil é imbatível na produção de etanol de cana-de-açúcar, entre outros motivos pelo domínio de tecnologia de ponta. Porém, quando for viabilizado comercialmente o etanol celulósico como ficaremos? Lembremo-nos sempre que, durante séculos a Suíça dominou o mercado mundial de relógios, enquanto a melhor tecnologia era o relógio analógico, aquele de dar corda. Aí vieram os japoneses com os relógios digitais e arrasaram a indústria suíça em menos de cinco anos.
|
Em conclusão, a partir dos investimentos em PD & I em energia renovável, é possível antecipar que os biocombustíveis de primeira geração terão seu pico na próxima década, sendo progressivamente substituídos por biocombustíveis de segunda geração. Novos combustíveis como butanol, dimetil éter e bio-óleo ganham espaço. O etanol terá seu ciclo de vida estendido por conta da tecnologia de etanol celulósico mediado por bactérias transgênicas. Nesta transição perdem importância as tecnologias de produção de matéria prima e ganham importância as tecnologias de processo. Quem dominar processos na fronteira do conhecimento dominará o mercado de Agroenergia. |
O planeta febril
Décio Luiz Gazzoni
Escrevo de Paris, onde participo da reunião do Painel de Energias Renováveis, da Academia Internacional de Ciências, da qual sou membro. E o que tenho a relatar para os leitores de Cultivar não são noticiais alvissareiras. Vejo a Humanidade entrando em uma das suas maiores crises. Tão séria quanto as pestes da Idade Média ou as eras glaciais, seguramente mais séria que as grandes Guerras do século passado. Falo das mudanças climáticas globais, com potencial de antecipar o final de uma era da Humanidade, ao menos tal qual a conhecemos.
Verão ou Inverno Enquanto no Brasil as chuvas no Sul, Sudeste e parte do Centro Oeste não davam trégua, no resto do mundo o clima também está desviado do normal. Nos EUA não havia inverno até o dia 17 de janeiro, quando uma onda de frio polar hiper intensa desabou sobre o continente, reduzindo a temperatura em até 30oC, em menos de 24h, congelando praias e pomares da Califórnia e produzindo estragos até o Maine, no outro extremo do país. Até então as cerejeiras de Washington e as árvores do Centrar Park estavam florescendo em janeiro ao invés de maio. Aqui em Paris estávamos a cálidos 12oC, ao contrário do tapete de neve que deveria se esperar para esta época do ano. De repente, no dia 18 de janeiro formou-se a tempestade que atingiu a Inglaterra, a França e a Alemanha, matando (até o momento) 67 pessoas. O que me recorda do verão de 2003, quando 20.000 europeus (10.000 franceses) morreram por uma onda de calor sem precedentes.
|
Extremos
climáticos Cada evento, isoladamente, pode ser explicado como um extremo climático natural, embora com baixa probabilidade. Porém, a seqüência de extremos, que se repetem continuamente, nos últimos 15 anos, mostra que o Planeta Terra está com febre. Não apenas febre porque a temperatura está subindo, mas febre porque ele está doente. Ligo a televisão na RAI Uno e vejo uma reportagem sobre o Piemonte, norte da Itália, e sobre os Abruzos, próxima de Roma, tradicionais centros de esportes de inverno, que pediram o estado de calamidade natural. O esqui nos Alpes italianos está definhando, e nos Apeninos também. Desde 1860, inicio do registro das temperaturas, não havia na Itália um janeiro tão quente como 2007. Temperaturas: Aosta 22 graus, Turim 19, Milão 18, Cortina d'Ampezzo, 10 graus. O esperado eram temperaturas próximas de 0oC, especialmente abaixo de zero. Dezembro também foi o menos frio de todos os dezembros desde 1860. Em Moscou, quando o esperado era -30oC, os termômetros estão marcando 6oC. |
Impacto nos
negócios Segundo a Agência Européia do Meio Ambiente, no séc XX, os Alpes perderam 30% de suas geleiras. Uma expedição na primeira semana de janeiro mostrou que a geleira da face norte do Adamello desapareceu e as de Lobbia e Pian di Neve estão desaparecendo. O pavor é que, em duas décadas, não haverá mais geleiras nos Alpes, inviabilizando os negócios baseados nos esportes e no turismo de inverno. Os negócios agrícolas também começam a ser afetados. Cultivos permanentes, como oliveiras e frutíferas, estão florescendo em pleno inverno. Como sempre acaba surgindo um frio (mesmo durante o inverno!), esta floração é perdida, reduzindo a expectativa de rendimento no final do verão. A piada corrente na Europa é que o aquecimento global vai resolver o problema do excesso de produção de vinho francês, tamanha será a queda na produção de uva. Aliás, não apenas de uvas, mas de maçã, pêra, pêssego, cerejas, etc., pois o aquecimento está afetando toda a região produtora do Mediterrâneo e proximidades. Aliás, onde as previsões indicam que a indústria turística deverá perder mais de 100 bilhões de euros anuais, pelas temperaturas insuportáveis esperadas para o verão, que deverá afugentar os turistas para o Norte da Europa, como a Suécia ou Noruega!!! |
Clima e
Energia
|
Mudanças Climáticas e os Agronegócios
Décio
Luiz Gazzoni
Estudiosos dos cenários que projetam o comportamento do clima nos próximos anos, apontam para aumento da temperatura média da Terra, variando entre 2 e 4oC, dependendo do autor. Porém todos os modelos concordam que haverá aumento de temperatura e que parte da escalada térmica já está “contratada”, pelas emissões de gases de efeito estufa lançadas na atmosfera, no último quarto de século. Meu amigo Eduardo Assad (Embrapa Informática Agropecuária) é um dos estudiosos do tema. Em suas preleções, ele chama a atenção que, no limite, a produtividade de grãos na face da Terra pode cair até 50%, em meados deste século. Ou seja, população e demanda de alimentos crescendo e oferta em baixa, acirrarão o espectro da fome endêmica. Sei que esta projeção não é tão linear assim, mas se considerarmos que o agronegócio representa 28% do PIB brasileiro, estamos falando em reduzir 11% do PIB do Brasil. Perdemos o bonde do crescimento nos últimos quatro anos e agora surge o espectro da redução do desenvolvimento. Como fica o abastecimento interno? E as exportações? Vai valer a máxima selvagem da Economia (quem tem dinheiro paga o preço, quem não tem morre de fome) ou virão medidas de fechamento de fronteiras e de controle de preços, para garantir o acesso da população aos alimentos? |
Inverter a roda Infelizmente, estas medidas são apenas paliativas, não há como reverter a roda da História e fazer desaparecer as centenas de milhões de toneladas de gases de efeito estufa, que jogamos na atmosfera no final do século passado. O Governo Britânico encomendou a um de seus mais brilhantes economistas, Sir Nicholas Stern, uma análise do impacto econômico das mudanças climáticas. Recomendo a leitura do relatório final (apesar de ser um calhamaço de mais de 700 páginas), denominado The Stern Report. As conclusões principais: (i) o aquecimento global implicará em perdas de centenas de bilhões de dólares anuais, especialmente na agricultura, turismo e transporte; (ii) para minimizar (apenas minimizar!) o impacto destas mudanças, todas as nações deveriam tomar medidas radicais de controle das emissões de gases de efeito estufa e investir, no mínimo, 1% do PIB em medidas paliativas. Com o seguinte alerta: As ações propostas só fazem sentido se iniciadas já, imediatamente. No próximo ano pode ser tarde demais! |
Produtividadel O Dr. Hilton Silveira Pinto, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas aplicadas à Agricultura da UNICAMP, faz um alerta apocalíptico: a queda na produtividade agrícola brasileira, no médio prazo, é inevitável. Os pesquisadores que trabalham com o Dr. Hilton estudam os efeitos das mudanças climáticas nos cinco principais grãos plantados no país (arroz, feijão, soja, milho e café), aplicando à safra as projeções de 2001 do Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU, que apontam aumentos na temperatura média da Terra entre 1,4° e 5,8°C, até 2100. Pelos estudos do grupo, o café seria o mais afetado, podendo ter sua produtividade reduzida entre 23 e 92%, dependendo da intensidade do aquecimento. A soja, principal grão produzido no Brasil, teria quedas de rendimento entre 10% a 64%. Transformando em moeda sonante, os prejuízos poderiam alcançar mais de 10 bilhões de dólares anuais, apenas na perda de exportação destes dois produtos. Achou muito? Pois o quadro pode piorar, vez que o IPCC já está reavaliando seu relatório anterior e admite aquecimentos variáveis entre 2 e 6°C. Não apenas a produtividade será afetada, porém o próprio zoneamento agrícola vai mudar. Por exemplo, atualmente, 66% da terra agricultável de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo têm um clima propício para a plantação de café. Com o aquecimento, a área cai para 50,1% (aumento de 1°C); para 27,7% (aumento de 3°C) e para 5,4% (aumento de 5,8°C). Para a soja, nos estados do Mato Grosso, Paraná e São Paulo, a aptidão é próxima a 100%. Mas os valores caem 92% (aumento de 1°C), 83% (aumento de 3°C) e 32% (aumento de 5,8°C). |
Investimentos Para evitar que o patrimônio do agricultor se esfarelasse, seria necessário investir centenas de milhões de dólares em pesquisa agronômica, para adaptar as culturas aos novos paradigmas climáticos. Aí temos três problemas: primeiro que as dotações orçamentárias para pesquisa agropecuária, como proporção do PIB agrícola, vem caindo sistematicamente nos últimos anos. Segundo, que a maturação do desenvolvimento tecnológico pode demorar uma a duas décadas, o que significa que já deveria ter iniciado na década passada, para enfrentar os problemas que virão no final desta década. Terceiro, que as mudanças no clima serão tão intensas, que mesmo com instituições e cientistas altamente eficientes, temo que não será possível atender integralmente as futuras demandas dos agricultores, ao menos com o nível de sucesso com que as mesmas instituições trabalharam no passado recente. |
A riqueza que vem do lixo
Décio Luiz Gazzoni
Durante séculos o álcool derivou de um processo exclusivamente biotecnológico, seja para elaboração de bebidas ou para fins industriais e energéticos. A obtenção de etanol combustível a partir da fermentação do caldo de cana-de-açúcar é o processo mais eficiente e sustentável disponível no mundo. Entretanto, o avanço da Ciência pode impor mudanças dramáticas num dos ramos mais florescentes do agronegócio brasileiro. Recentemente, assisti a uma apresentação do Dr. Mark Holtzapple da Texas A&M University, que está desenvolvendo um processo denominado MixAlco. A proposta é utilizar uma ampla gama de matérias primas (como dejetos de esgotos urbanos, lodo de tratamento de água, restos da agricultura e da agroindústria, esterco, etc) para extrair uma mistura de álcoois combustíveis, envolvendo uma seqüência de reações químicas e conversões biotecnológicas. Os produtos finais são álcoois, ácidos carboxílicos e cetonas, entre outros. Eu fiquei particularmente feliz em observar esta linha de pesquisa, porque coincide ipsis litteris com a proposta do grupo de trabalho que propôs a criação da Embrapa Agroenergia (do qual participei), de concentrar as pesquisas em processos de aproveitamento da matéria prima, visando à obtenção de carriers energéticos e bioprodutos – as biorefinarias. |
Planta piloto No estágio atual da pesquisa, são utilizadas seleções de microrganismos mais eficientes. Porém, no futuro próximo, técnicas de engenharia genética serão fundamentais para atingir-se o potencial teórico de transformação da biomassa em energia e bioprodutos. |
Bioprodutos A obtenção da fração alcoólica é mais complexa. Parte-se de sais orgânicos resultantes da reação de sais inorgânicos com ácidos carboxílicos e do Hidrogênio molecular obtido pela gaseificação dos resíduos de biomassa. Inicialmente são obtidos álcoois de peso molecular mais alto (hexanol, heptanol) que, por hidrogenólise, resultam em álcoois primários, como etanol, propanol e butanol. Porém a fração energética contém também álcoois secundários (como isopropanol, 2-butanol e 3-pentanol), obtidos por hidrogenação catalítica de cetonas. |
Perspectivas |
No limite da ficção
Décio Luiz Gazzoni
Primeiro você enfrenta uma fila enorme para conseguir a autorização de exame. Depois, uma fila maior para a coleta de sangue, com jejum, abstinência de carne e outras restrições. Aí, espera muitos dias, angustiado, pelo resultado e, se for o caso, pelo tratamento médico. Agora imagine se, ao invés de tudo isso, você tivesse apenas que passar por um umbral, igual àqueles de fiscalização de raio X de aeroporto e, numa fração de segundo, já recebesse a dosagem de colesterol ou de glicose no sangue? |
Análise em linha |
Ressonância Magnética Nuclear |
Análise E daí, pergunta o leitor? Ocorre que quanto menor a molécula, maior é a sua agitação, quando submetida ao magnetismo. Como a ciência sempre opera com base em diferenças, o que o pesquisador fez foi associar as substâncias que pretende analisar com o tamanho da sua molécula. Depois, calibrou o equipamento, para que os sinais magnéticos provenientes das diferenças na “dança” dos átomos pudessem ser precisamente associados a determinadas moléculas. Assim, o equipamento inicialmente diferencia o tamanho da molécula, a partir dos sinais recebidos do alimento em exame. Na seqüência ele associa esse tamanho de molécula com determinada substância, constante do seu banco de dados. E, pela intensidade do sinal, o equipamento fornece o teor dessa substância, com grande precisão. |
Sementes |
Certificação |
Células de Combustível
Microbianas
Décio Luiz Gazzoni
Abrindo ainda mais o leque de oportunidades para o agronegócio, a sociedade mundial toma o rumo das energias renováveis, movida pelas Mudanças Climáticas Globais, pelo esgotamento das reservas de petróleo e pelos conflitos pela posse das últimas reservas. As Mudanças Climáticas estão ultrapassando a ameaça de uma guerra atômica, na avaliação dos riscos de extinção da espécie humana sobre a face da Terra. Por este motivo, autoridades e a sociedade civil se movem em busca de tecnologias de baixo potencial de agressão ao ambiente, especialmente com baixa emissão de gases de efeito estufa. Assim, as células de combustível, em que produtos orgânicos são usados para gerar energia em forma contínua, através de reações químicas, ganham espaço na agenda do desenvolvimento tecnológico dos países centrais. Uma derivada deste conceito, as células de combustível microbianas, começam a despertar atenção, pela potencialidade de utilizar bactérias para produção de energia elétrica, usando biomassa como substrato. O conceito se baseia no fenômeno de que todo o ser vivo produz energia elétrica. Por que, então, não utilizar esta propriedade para gerar energia elétrica de forma limpa? Utilizando biomassa produzida pela agricultura, resíduos agrícolas ou lixo orgânico? |
A célula C12H22O11 + 13H2O à 12CO2 + 48H+ + 48e As células de combustível microbianas, que se baseiam nesta lógica, compõem-se de duas câmaras, uma biológica e outra química. Na câmara biológica, existe um substrato (biomassa), uma cultura de um microrganismo apropriado e um mediador elétrico (por exemplo, azul de metileno). Neste compartimento há ausência total de oxigênio livre, o que força o microrganismo a usar a via respiratória anaeróbica, consumindo apenas parcialmente a energia da biomassa. O mediador transporta os elétrons do interior do microrganismo até um eletrodo negativo (ânodo) mergulhado no meio de cultura, Após transferir o elétron ao ânodo, o mediador torna a ingressar na célula, buscando mais elétrons - um vai e vem que só acaba quando os microrganismos cessarem as reações químicas. Em teoria, numa célula de combustível, as reações nunca cessam, portanto este movimento é um moto contínuo. |
A Geração de energia O compartimento químico da célula contém uma solução de um agente oxidante e o eletrodo positivo (cátodo). O ânodo e o cátodo estão em extremidades opostas de uma carga, ou seja, de um equipamento (como um rádio ou uma lâmpada) que demanda energia elétrica para funcionar. O agente oxidante captura o elétron que ingressou no sistema pelo ânodo, atravessou a carga e chegou ao cátodo. Para completar o ciclo, existe uma membrana de troca iônica, que interliga as duas câmaras da célula, que permite a passagem seletiva de prótons da câmara biológica para a química. Na câmara química, prótons e elétrons se juntam ao oxigênio para formar água, completando o ciclo da decomposição da biomassa. |
Por este processo, a biomassa é transformada em água, gás carbônico e energia elétrica. O caminhamento dos elétrons e prótons se repete dezenas de vezes por segundo, sendo o número de ciclos medido em Hertz. Assim, um equipamento que opera em 60 Hertz significa que ocorreram 60 ciclos de passagem de elétrons a cada segundo de operação. |
A tecnologia O processo em si é essencialmente biotecnológico. Os elementos fundamentais são a biomassa e uma cultura de um microrganismo para metabolizar a biomassa. O segredo é o ambiente anaeróbico que obriga a seqüência de reações químicas a acontecerem em câmaras separadas, permitindo o fluxo de prótons e elétrons, que gera a energia elétrica. |
Esta não é uma tecnologia acabada, embora disponha um futuro muito promissor e compõe o conteúdo programático que propusemos para a futura Embrapa Agroenergia. O conceito é utilizar lixo, detritos, resíduos e dejetos para produzir energia, e os empregos, a renda e o desenvolvimento decorrentes. Entretanto, não é qualquer microrganismo que pode ser utilizado em células microbianas. É necessário identificar quais características são desejáveis, em quais organismos elas se encontram, efetuando o mapeamento cromossômico e identificando os genes associados, para construir um microrganismo ideal para células de combustível, através da biologia molecular. | Parece ficção científica, mas é o futuro chegando às portas das nações que investirem em novos processos biotecnológicos para produção de energia, ajudando a resolver os problemas climáticos, sociais e energéticos. Ao menos para aquelas nações onde não prevalece o obscurantismo científico de bloquear toda a inovação baseada em métodos biotecnológicos. |
Décio Luiz Gazzoni
Não vejo futuro sustentável para a agroenergia descolada da biotecnologia. Alguns países já procuram se antecipar, enquanto outros insistem em jogar os avanços da ciência para um amanhã cada vez mais distante. Infelizmente, o Brasil pertence a este grupo. Um contraponto ao lento desenvolvimento brasileiro são os Estados Unidos, que investem fortemente em biotecnologia, para viabilizar a produção de biocombustíveis. Vamos refletir sobre um exemplo norte-americano. |
Por diversos motivos, no momento, a cana-de-açúcar é a matéria-prima imbatível para a produção de etanol. A cana é uma planta subtropical e, devido à localização geográfica dos EUA, o seu cultivo está limitado a poucos estados do sul do país. Ocorre que, nem as autoridades locais, menos ainda os pesquisadores, se conformaram com esta "limitação". Um dos cientistas que não a aceitou foi o biologista molecular da Texas A&M University, Dr. Erik Mirkov. Ele resolveu enfrentar diferentes desafios para adaptar a cana às regiões onde as variedades atuais não podem ser cultivadas. Barreira número um: adaptar a planta ao clima, em especial às baixas temperaturas, pois a produtividade e o teor de açúcar decrescem exponencialmente com a diminuição da temperatura. Segunda barreira: adaptar a planta a locais secos, onde a precipitação natural está abaixo do requerido pela cana. |
Para resolver estes dois problemas o Dr. Mirkov introduziu na cana genes de outras plantas, que expressam as características desejadas, permitindo o seu cultivo em locais anteriormente inadequados. Em seu artigo, o cientista salienta que a nova tecnologia não apenas garante a redução da dependência de petróleo, como ajuda a criar novos empregos e novos mercados para os agricultores, ampliando a renda rural. Ironicamente, no Brasil, esta inovação seria fortemente combatida por organizações que, supostamente, defendem o pequeno agricultor e a agricultura familiar, fechando as portas para as oportunidades de emprego e renda. |
As inovações vão além da etapa agronômica. O Dr. Mirkov tem consciência do tamanho do mercado e do desafio que significa fornecer todo o etanol que o mundo demandará. Apenas com o caldo da cana-de-açúcar não será possível abastecer o mercado global. Por isso, ele investe na pesquisa de microrganismos transgênicos que possam transformar celulose em álcool. Esta tecnologia significa uma dupla revolução. Por um lado, permite transformar lixo e resíduos em um produto com grande valor comercial. Por outro, desloca o eixo de poder e de negócios, pois fatores como a grande disponibilidade de terra (caso do Brasil) perdem a importância relativa que possuem hoje. |
A rápida evolução científica de outros países ameaça a liderança brasileira de produção de álcool e de outros produtos da agroenergia, no cenário mundial. O resumo da ópera é que não há vantagem comparativa que resista a uma mudança tão marcante de paradigma tecnológico. Obter etanol de celulose pode redirecionar a produção do combustível para nações que, sem o auxílio da biotecnologia, estavam condenados a serem meros importadores do produto. E mais: o Dr. Mirkov também investe na criação de variedades de cana transgênica, no conceito de biofábricas. Elas serão capazes de produzir substâncias químicas de alto valor agregado, tais como proteínas, enzimas, antibióticos, vacinas e outros fármacos, a um custo muito menor que o processo industrial de síntese. |
Existem muitos outros benefícios possíveis para o conjunto da agroenergia pela aplicação da biotecnologia. É possível desenvolver plantas resistentes a pragas, dispensando agrotóxicos. Ou desenvolver microrganismos altamente eficientes na fixação do nitrogênio do ar, dispensando a adubação nitrogenada, que possui alto custo financeiro e energético. Ou até mesmo microrganismos que facilitem a absorção pela planta, de outros nutrientes do solo reduzindo o custo de produção e permitindo cultivar solos pouco férteis. | Não é difícil agregar valor à economia por meio dos processos da biotecnologia – e o Brasil tem enorme potencial nesta ciência -, basta apenas que a sociedade dê suporte adequado aos cientistas. A diferença entre países centrais e periféricos é que, nos centrais, cientistas como o Dr. Mirkov recebem volumosos recursos de pesquisa e, a cada nova tecnologia conquistada, têm honrarias públicas e melhorias salariais. Já nos periféricos, o cientista precisa batalhar incansavelmente por recursos e, quando os consegue, em benefício da própria sociedade, são vistos com desconfiança ao invés de reconhecimento. | Uma vez que a busca por fontes de energia alternativa e renovável ganha interesse social mundo afora; que o Brasil é um dos grandes fornecedores agrícolas do planeta; que o País dispõe de pólos tecnológicos competitivos e de alta performance, é preciso refletir sobre o tamanho da responsabilidade do obscurantismo cientifico para a manutenção do status quo que vivemos atualmente e pela perda de competitividade futura do agronegócio brasileiro. |
Décio Luiz Gazzoni
Há cinco |
Pois bem, este ano, auferiremos
US$2,5 bilhões |
Brasil x EUA
Existem três diferenças fundamentais entre produzir álcool de cana ou de milho, produzir nos EUA ou no Brasil. A primeira delas é financeira: produzir álcool de cana é economicamente competitivo, não há qualquer necessidade de suporte, incentivo ou subsídio governamental. Ao contrário, o governo pode se dar ao luxo de tributar fortemente o álcool de cana e, mesmo assim, ele é competitivo.
A segunda diferença diz respeito ao balanço energético do etanol. Produzido a partir de cana-de-açúcar, a relação entre a energia necessária para produzi-lo e aquela obtida pela sua combustão, varia entre 8 e 10:1. Quando produzido a partir do milho, as indicações variam entre um pequeno ganho ou a perda de 30%. |
A terceira diferença é que, integrada a uma usina de etanol de cana-de-açúcar, até o milho se viabiliza, utilizando a estrutura ociosa (dezembro – abril) da usina e a energia remanescente do bagaço de cana. Milho e cana integrados a um cluster que envolva também soja e girassol e as cadeias de carnes (bovina, suína e de avícola), destinado a produzir etanol / biodiesel para energia e proteína animal, é absolutamente imbatível nos próximos anos. Mas só no Brasil.
Porém a |
Energia da cana
Tudo isto será factível porque uma |
|
Porém existem outras possibilidades. O bagaço e a palhada podem ser hidrolizados ao invés de queimados, desdobrando os carboidratos de alto peso molecular para carboidratos fermentáveis para etanol. Pela relação de massas entre o caldo e o bagaço, seria possível quase dobrar a quantidade de álcool produzido por hectare. Além do ganho energético, é possível antever o ganho ambiental, sendo factível aumentar em 100% a quantidade de álcool produzida, sem expandir a área plantada. |
Finalmente, uma previsão para o leitor anotar no caderninho e me cobrar mais tarde. É muito mais fácil e barato (financeira e energeticamente) produzir carboidratos que óleos. Baseado neste fato biológico e econômico, minha previsão é que, em 20 anos, estaremos usando mais etanol que petrodiesel ou biodiesel, em motores de ciclo diesel. Pequenas adaptações nos motores tornarão o etanol muito mais competitivo e sustentável que usar os outros combustíveis para serviços pesados. Pense na revolução advinda deste câmbio tecnológico na hora de programar seus investimentos. |
Produção ou assistência social?
Décio
Luiz Gazzoni
FHC criou meia dúzia de programas de apoio social – tinha até uma bolsa gás. Lula juntou as diferentes bolsas e plasmou a bolsa família. A vantagem é a visibilidade, afinal são, em média, R$74,00 por família, o que rende uma popularidade que se transforma em votos decisivos. O eleitor não sabe que o dinheiro da bolsa família vem dele mesmo pois, com uma carga tributária média de 38%, de um salário mínimo o Governo se apodera de R$144,00. Com o dinheiro dos impostos, o Governo devolve R$74,00 para o mesmo assalariado e este fica feliz e agradecido. Iludido, vota pela manutenção do sistema perverso e nem percebe que o Governo depois lhe toma, em impostos, R$28,12 - da bolsa mesmo sobra R$45,88! |
Mais
comida, menor custo Já, de forma silenciosa, os agrônomos ajudaram a diminuir a pobreza e a fome no Brasil. Nos últimos 30 anos, a área cultivada cresceu 23%, a produção aumentou 179% e a produtividade empinou 130%! Produção farta, preço baixo. Conferindo ao custo da cesta básica em 1975 o índice 100, em 2007, este índice está em cerca de 20. Ou seja, a cesta básica custa 20% do que valia há 32 anos. Dito de outra forma, o mesmo dinheiro compra 5 vezes mais alimentos. Como uma cesta básica vale R$238,00, cada família está poupando R$952,00 por mês. |
Mamona No Brasil, produção convive com contradições. Em setembro de 2007, o Presidente Lula declarou ao Jornal Nacional que “...meu governo não barganha cargos e verbas, político que quiser aderir ao governo deve fazê-lo por convicção programática”. No mesmo dia o Diário Oficial publicou a assunção de apadrinhados políticos na Direção da Petrobrás, a fim de convencer os padrinhos a aprovarem a famigerada CPMF na Câmara dos Deputados. O Diretor que saiu, Ildo Sauer afirmou, em entrevista, que faltaria biodiesel para a mistura de 2% ao diesel pois, em um ano, o óleo vegetal saltou de US$400 para US$850 por tonelada, pelo descasamento entre demanda e oferta. Em resposta, o Ministro do MDA afirmou (terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1945125-EI6579,00.html): 1) “Fechamos agora a colheita 2006-2007, a primeira safra inteira do biodiesel, com a inclusão de 100 mil famílias de agricultores, especialmente no Nordeste.”; 2) “Para o biodiesel, estamos produzindo especialmente mamona.” 3)” Já temos combustível suficiente para garantir B2 e até B3”. |
Números |
Mais números A entrevista do Ministro Cassel despertou minha curiosidade. Em 1977 a área de grãos foi de 37 M ha e a produção de 47 M t. Em 1987, os números foram 42 M ha e 65 M t; em 1997, 37 M ha e 68 M t; e, em 2007, 46 M ha e 131 M t. A produtividade média de grãos foi de 1.258 kg/ha em 1977 e de 2.837 em 2007, ano em que a produtividade média de cultivos anuais foi de 3.575kg/ha. Ou, seja, em 30 anos a área cultivada (reconhecida pelo IBGE e pela CONAB) aumentou 9 M ha. |
O INCRA anuncia que, até 2007, assentou mais de 1,5 milhão de famílias em 63 milhões de ha. Já ouvi inúmeras vezes que a agricultura familiar responde por 50% da produção agrícola. Se este índice for extrapolado para os assentamentos, alguma coisa não bate. Ou o IBGE e a CONAB estão totalmente errados - ou estão mentindo; ou o INCRA não gerou assentamentos para 63 milhões de hectares. As contas? Imaginemos que todo o acréscimo de área cultivada dos últimos 30 anos veio de assentamentos (o que não é verdade). Ainda faltariam 54 M ha. Na área faltante, pela produtividade média do Brasil, deveriam ser produzidos mais 193 M t de produtos agrícolas. Cadê a produção? Não é um volume que possa ser escondido ou sonegado, representa 147% da produção brasileira. As hipóteses: a) Nunca foram assentados 63 M ha, sequer 10% disto; b) Os assentados recebem a terra e não produzem nada, dependendo de bolsa família e cesta básica. Alguém, por favor, me explica? |
População rural
|
Etanol celulósico
Décio Luiz Gazzoni
Existe uma grande faixa de interesse comum entre etanol combustível e biodiesel: (i) Etanol será matéria prima para produção de biodiesel; (ii) A demanda de biodiesel depende da aceitação social de energias renováveis. Quanto maior for a aceitação do etanol, maiores as chances de ampliar o mercado de biodiesel; (iii) O mais importante: quanto mais gasolina for substituída por etanol, menor será a pressão por refino de petróleo, podendo reduzir a produção de diesel, conseqüentemente aumentando a demanda potencial de biodiesel. A grande dúvida do momento é: conseguirá o mundo atender a demanda projetada de etanol, se a matéria prima continuar sendo cana-de-açúcar, cereais e beterraba? |
O impulso
americano |
Matéria prima A solução será o uso de celulose, cuja produção mundial anual é estimada em 1,5 quadrilhões de toneladas. Em teoria, obtém-se 500kg (633 L) de etanol para cada tonelada de celulose. Extrapolando ao máximo as previsões até 2020, para, digamos, 500 bilhões de litros, seriam necessárias 790 milhões de toneladas de celulose. Esta matéria prima, que representa 0,00005% da celulose produzida no mundo, pode ser obtida de restos vegetais, palhadas, serragem, restos de madeira, lixo urbano, gramíneas ou florestas energéticas. Entretanto, dispor da matéria prima é solucionar a parte mais fácil do problema. O busílis da questão é transformar celulose e hemi-celulose em etanol. |
Celulose A celulose é um polissacarídeo polimerizado de cadeia longa, composto de hexoses, com fórmula empírica (C6H1005)n, com um valor mínimo de n=200. Tem uma estrutura linear ou fibrosa, na qual se estabelecem múltiplas pontes de hidrogênio entre os grupos hidroxilas das distintas cadeias de glicose, tornando-as impenetráveis à água. A celulose é o componente estrutural primário das plantas e não é digerível pelos animais superiores. É comum nas paredes celulares de plantas, estando presente na maioria das fibras puras de algodão. Alguns animais, como os ruminantes, podem digerir celulose com a ajuda de microorganimos. A hemi-celulose é similar, apenas o monômero é uma pentose. |
Transformação O etanol é obtido da cana-de-açúcar pela fermentação da sacarose por microrganismos, como os do gênero Saccharomyces. Eles são altamente eficientes, porém somente conseguem decompor açucares de baixo peso molecular, ou monossacarídeos, como a glicose. No caso da celulose, o polímero é formado por mais de 200 moléculas de glicose. O desafio é quebrar as moléculas de celulose até os açúcares primários, utilizando outros microrganismos. Existem exigências industriais mínimas para que um microrganismo possa ser utilizado para produção de etanol celulósico, como: (i) rendimento de etanol superior a 90% do teórico; (ii) tolerância à concentração de etanol superior a 40g/L; (iii) produtividade de etanol superior a 1g/L/h; (iv) baixo custo de produção dos microrganismos; (v) resistencia às substancias inibidoras; e (vi) grande amplitude de adaptação à temperatura e acidez. Não existem microrganismos na Natureza que possuam, ao mesmo tempo, todas estas características, sendo necessário o seu desenvolvimento em laboratório. |
Biotecnologia Não há outra fórmula para tornar a produção de etanol celulósico competitiva e sustentável que não a utilização da engenharia genética para transferir todas as características necessárias para algumas bactérias. No momento, as pesquisas se concentram nas bactérias Escherichia coli, Kebsiella oxytoca e Zymomonas mobilis, que foram transformadas para atender a todos os requerimentos acima, além de eliminar alguns “defeitos” dos microrganismos, como a produção de diversos ácidos a partir da celulose, ao invés de gerar etanol. Esta tecnologia ainda é embrionária, existe um longo caminho a trilhar, porém, devido ao enorme potencial de negócios, plantas industriais de médio e grande porte já estão sendo instaladas na China, Esxpanha, Canadá, EUA e África do Sul, entre outros países. O desafio para o Brasil é não ficar para trás na corrida tecnológica, evitando perder o trem de um dos mais promissores segmentos do agronegócio do futuro, que significa renda, empregos e desenvolvimento para o país. |
Décio Luiz Gazzoni
Quer me parecer que desejar Feliz Ano Novo aos produtores agrícolas e outros players do agronegócio parece pouco. Melhor já adiantar um Feliz próximos 5 anos, uma vez que, do meu ponto de observação, parece-me que, como nunca antes na História da Humanidade o agronegócio viverá um ciclo de exuberância e de expansão como o que vamos vivenciar. Duas ressalvas: estou falando do conjunto do agronegócio, o que significa que, alguns segmentos em particular poderão não alcançar o desempenho máximo ou mesmo médio do mercado. E que, como é próprio do capitalismo, haverá oscilações no seio do ciclo, porém sempre com desempenho superior ao passado recente e tendência geral altista. | Este cenário se aplica a qualquer país produtor agrícola do mundo. Porém, pelas suas vantagens comparativas, o Brasil será um privilegiado neste cenário, pela sua pronta capacidade de resposta em qualquer segmento. É só olhar o exemplo recente, quando os Estados Unidos se retraíram no comércio internacional de milho, abrindo um espaço que nós preenchemos, mesmo sem tradição de comercialização externa deste produto. |
Impulsos O drive dos bons negócios será a demanda aquecida por alimentos, fibras, energia e produtos florestais. Em função da demanda acima do normal, os estoques devem operar no limite de baixa, elevando os preços das commodities agrícolas e sustentando-as em um patamar de preços reais superior ao que vinha sendo praticado. O valor em reais somente não será melhor porque o real está sobrevalorizado, por má condução da política econômica que não tem ouvido os alertas e reclamos dos produtores e exportadores. O que sustenta a demanda em alta são três fatores, na seguinte ordem de importância: o crescimento da população mundial, a demanda de biocombustíveis e o crescimento da renda per cápita nos países emergentes. |
Apesar de suas vantagens comparativas, o Brasil somente não aproveitará esta oportunidade com maior intensidade, por conta do Custo Brasil, que é uma verdadeira bigorna que os agentes do agronegócio precisam carregar morro acima, para completar seu ciclo de negócios. Do conjunto de componentes do Custo Brasil destaque-se o fardo pesado de juros, o câmbio adverso com a supervalorização do real, a excessiva concentração do transporte de safra pela via rodoviária, o péssimo estado de conservação das estradas, o entrave dos portos e a elevada incidência tributária. |
Em alta A demanda de alimentos tem uma relação linear com o crescimento da população. Mas o crescimento da renda impulsiona de forma exponencial tanto o consumo de alimentos quanto o de biocombustíveis. Além disto, renda mais alta, sofistica o consumo, elevando a demanda por alimentos mais nobres – e mais caros. Países com elevada concentração populacional, capitaneados por China e Índia, serão as locomotivas deste mercado. A Índia, por ser um pais muito pobre, com elevada taxa de crescimento da população e que, ao mesmo tempo, vem apresentando índices de crescimento econômico consistentemente acima de 7% ao ano. E a China, com a explosão populacional contida, porém navegando há mais de 2 décadas na crista de quase 10% de crescimento ao ano. São dezenas de milhões de novos consumidores que ingressam no mercado anualmente, saindo das estatísticas da fome crônica para o rol de novos consumidores, com poder de sustentar o mercado de alimentos. |
O Brasil já responde por 30% do comércio internacional de carne do mundo e vai continuar crescendo. Além da carne bovina – o file do mercado – e do frango, que tem sido o segmento de maior expansão recente, o mercado de carne suína deve sofrer um impulso acentuado, em especial pela maior demanda desta carne por parte da China, que é o maior consumidor mundial e está esgotando sua capacidade de produção doméstica. | Soja e milho também estarão em alta, assim como frutas e sucos. Os mercados de cana-de-açúcar (etanol ou açúcar) e de oleaginosas em geral também estarão aquecidos. Os óleos não baixarão do patamar de US$1000/t. A agricultura orgânica e os alimentos funcionais continuarão expandindo a taxas acima da média do mercado de produtos agrícolas. Existe apenas um risco para esta previsão: uma brutal recessão em escala planetária, que enxugue a liquidez do mercado, reduza a renda das famílias (em especial a previsão de renda futura) e torne os mercados mais fechados e protecionistas. Afora isto, é o momento de aproveitar o bom ciclo para investir em temas que serão fundamentais para a competitividade no mercado, como qualidade, produtividade e as agendas social e ambiental da agricultura. |
Há |
A |
Os |
Do |
A
Décio Luiz Gazzoni
|
Décio Luiz Gazzoni
Existem |
A |
O
|
|
Biocombustíveis e suas oportunidades
Décio Luiz Gazzoni
Com
a.
Até 2020 a
b.
Os EUA estão
dispostos a
c.
Está
d.
Tanto a China
quanto a
e.
Na contramão,
autoridades e formadores de opinião esbravejam, acenando com o apocalipse da
fome, pelo conflito
Pela dinâmica de
um negócio embrionário, as
Tecnologia, eis o segredo!
Lembrando sempre que a |
O |
|
O |
O Brasil
Do ponto de vista de recursos naturais, o Brasil é abençoado. Sabermos que uma tonelada de cana tem um potencial energético equivalente a 1,3 barril de petróleo. Multiplicado pelas 508 milhões de toneladas que o Brasil deve colher em 2008, ultrapassa-se a estimativa da Petrobrás de consumo interno de 650 milhões de barris de petróleo. A partir de agora, nunca mais o petróleo deverá fornecer mais energia no Brasil que a cana-de-açúcar. Tomemos o exemplo dos 9 bilhões de barris de petróleo, que é a capacidade máxima estimada do mega-poço de Tupi, a maior reserva de petróleo da Petrobras. Imaginando que ele seria responsável pelo abastecimento de 50% da energia de petróleo consumida no Brasil, nos próximos 20 anos, poderemos obter a mesma energia com a colheita de 2,5-3 milhões de hectares de cana. Com a vantagem que a cana é renovável, não acabará tão cedo. | Já que mexi com a Petrobrás, vou bulir com Itaipu. Uma tonelada de cana produz 1.978 kWh. Um hectare de cana produz 158,3 MWh de energia. Tomando por base o recorde de produção de energia de Itaipu (93.28GWh), conclui-se que a usina de Itaipu – a maior do mundo e um orgulho nacional - equivale a 47,2 milhões de toneladas de cana (568,9 mil hectares). E que a produção brasileira de cana, em 2008, será equivalente, em energia, a 10 Itaipus! Êta pais abençoado por Deus – bem, ao menos em recursos naturais! |
O Brasil dispõe de
inúmeras |
O futuro |
Repetindo e
concluindo: sem |
Os limites
do biodiesel
Décio Luiz Gazzoni
Eu decreto: Na década de 20 o uso relativo de biodiesel produzido a partir de óleos vegetais vai decrescer paulatinamente. Quer dizer que vamos voltar a consumir óleo diesel adoidadamente? Que vamos acelerar a exaustão das reservas de petróleo e emporcalhar a atmosfera ainda mais? Calma lá, gente. Eu não disse nada disto. Ao contrário, acho que os combustíveis fósseis, especialmente o petróleo perderão market share a partir da década de 20. O problema é do biodiesel produzido de óleos vegetais (ou gorduras animais), mas não só dele. Será também do etanol produzido de cereais, seja milho, trigo ou cevada pois, em ambos os casos a matéria prima (oleaginosas ou cereais) ficará progressivamente muito cara, impedindo a expansão do negócio em todo o seu potencial. |
E por que isto vai acontecer? No caso do etanol de cereais pela competição direta com alimentos e pela ineficiência econômica e energética de produzir etanol a partir destas matérias primas, que só se sustentam pelos subsídios e pela falta de conhecimento da opinião pública. Para o biodiesel, a análise é parecida. Em parte temos uma competição direta com alimentos (soja, canola, girassol). Esta questão poderia ser contornada produzindo óleo de espécies não édulas, como pinhão manso ou macaúba, porém a disputa por solo cultivado continuaria. De outro lado, temos uma densidade energética muito baixa, pois estas matérias primas podem produzir entre 600 e 1500 kg de óleo por hectare, ou seja, entre 6 e 15 Mcal/ha, competindo com etanol que pode chegar a 120 Mcal/ha. O problema poderia ser parcialmente contornado com o uso de palmáceas tropicais, cujo paradigma é o dendê. Esta planta produz, hoje, 5 t/ha de óleo, com potencial para o dobro deste valor, quando pode atingir mais de 100 Mcal/ha. Neste caso, a densidade energética é alta o suficiente para justificar o seu uso. |
Cotações dos óleos vegetais na Bolsa de Chicago, em dólares por tonelada. |
Entretanto, ainda resta a questão de onde plantar. O sudeste asiático (Malásia, Tailândia e Indonésia) está investindo fortemente na expansão do plantio de dendê. Porém, o seu limite físico de expansão será atingido até a década de 20. Sobrará a grande fronteira da Amazônia brasileira, onde cerca de 30 milhões de hectares já desmatados poderiam ser utilizados (mesmo que parcialmente) para o plantio de dendê, em sistemas agro-florestais. Aí vai depender do apetite empresarial, de o Governo brasileiro sair de sua inação e de as ONGs preferirem que as áreas desmatadas sejam replantadas, para evitar que mais área de floresta seja desmatada, a manter o modelo de agricultura itinerante atual. |
Mas só plantar não vai resolver, porque o preço do óleo vegetal, que é a matéria prima do biodiesel anda pela hora da morte. E a culpa é só parcialmente do biodiesel. A maior “culpada” é a inclusão social, promovida pelo grande aumento de renda per cápita de populações miseráveis, como no Sudeste Asiático e na África, que, com o espetacular crescimento econômico do mundo e a baixa inflação, estão podendo comprar mais alimentos – inclusive mais óleos e gorduras. Veja a evolução do preço dos óleos na figura. |
Mas, se o mundo exige cada vez mais energia, se a tendência mundial de substituição de fontes fósseis por renováveis é um fato inexorável, o que vem depois do biodiesel? Vislumbro duas quebras de paradigma tecnológico. A primeira delas tem a ver com o dueto matéria prima e processos de transformação. Já a partir da próxima década, porém com maior intensidade na década de 20, a indústria vai mudar para matérias primas genéricas, tipo biomassa residual, cascas, grãos, lascas ou serragem de madeira, ou mesmo toras de madeira imprestáveis para outros usos, associada com processos de pirólise ou gaseificação, para produzir bio-óleo ou gás de síntese. O bio óleo já é um sucedâneo do diesel. Com o gás de síntese, os químicos vão sintetizar novos biocombustíveis, adaptados para operar em motores de ciclo diesel, em regime de trabalho pesado. |
A outra quebra de paradigma diz respeito a mudanças nos motores, de maneira a permitir o uso de bioetanol, substituindo parcialmente o petrodiesel. Nem são mudanças muito profundas, trata-se de inovações tecnológicas que rompem com a forma como se havia tentado usar etanol em motores diesel até hoje, e que nunca “pegaram” por ineficiência ou alto custo. A Embrapa detém uma patente nesta área que, tenho certeza, vai revolucionar o setor em escala mundial, criando algo parecido com um motor flex fuel a diesel. Só não será flex fuel completo, porque sempre será necessária determinada proporção de diesel ou biodiesel (talvez até uns 40%). Mas, os testes preliminares mostraram economicidade e desempenho elevados, por vezes superando a operação com diesel puro. É o futuro chegando, quando ultrapassarmos os limites do biodiesel. |
Responsible soy
Décio Luiz Gazzoni
A Associação Internacional de Soja Responsável (Round Table on Responsable Soy Association- RTRS) tem como objetivo construir um processo global e participativo para promover a produção de soja de forma economicamente viável, ambientalmente sustentável e socialmente equitativa. Dela participam instituições de setores e países relacionados com a cadeia de produção e comercialização da soja, assim como produtores, exportadores, agroindústria, instituições financeiras, além de diversas ONG's sociais e ambientais.
Objetivos O Fórum sobre Soja Responsável busca: a) alcançar o consenso entre os atores chave vinculados à cadeia produtiva da soja; b) atuar como um Fórum para desenvolver e promover critérios para a uma produção de soja economicamente viável, socialmente equitativa e ambientalmente sustentável; c) promover e replicar projetos piloto de soja sustentável; d) atuar como um Fórum internacionalmente reconhecido para a fiscalização e seguimento da produção de soja em termos de sustentabilidade. |
Traçando o futuro Baseando-se nas tendências atuais, acredita-se que a indústria da soja atravessará a próxima década em elevado ritmo de crescimento. Não obstante, é crítico que esta expansão seja realizada num quadro sustentável. Para assegurar este processo, o desenvolvimento de uma definição mundial sobre a produção sustentável da soja será chave. É importante também a implementação de melhores práticas de manejo segundo esta definição, tomando em conta os aspectos ecológicos, sociais e econômicos. Pensando nisto, a Associação organiza eventos periódicos para discutir temas ligados à sustentabilidade e estabelecer princípios que a garantam, em todos os elos da cadeia. Hoje realiza-se, em Buenos Aires, o 3º. Congresso da Associação e eu tive a honra de ser convidado para apresentar uma palestra sobre a sustentabilidade da expansão futura da soja brasileira. Pretendo demonstrar que o futuro, em larga medida, será uma projeção do presente, com um forte compromisso do desenvolvimento tecnológico baseado na sustentabilidade da cultura. Minha missão é mostrar ao mundo que tecnologias como Plantio Direto, Manejo de Pragas, Fixação Simbiótica de Nitrogênio não encerram um ciclo, porém representam um compromisso com o futuro, onde buscaremos sustentabilidade ainda maior com cultivares resistentes a pragas, tolerantes à seca ou com maior capacidade de absorção de nutrientes do solo. No que depender dos pesquisadores brasileiros, a expansão da soja brasileira será sustentável. |
Mais agroenergia
Décio Luiz Gazzoni
Enquanto beócios dos quatro cantos do mundo enxergam chifre em cabeça de cavalo, digo, falta de alimentos porque produzimos energia, continuamos elaborando o Plano Diretor de Energia Renovável para a América Latina e Caribe. Desta vez estamos reunidos na Guatemala, onde existe um belo projeto de organização de comunidades para produção de energia renovável, e muito próximo da Costa Rica, que tem, provavelmente, a matriz energética mais limpa do mundo. É espantosa a potencialidade do mundo de extrair energia de fontes renováveis. Cada região tem suas vocações, mas a América Latina é particularmente privilegiada por uma série de fatores naturais. |
Os diferenciais |
Agroenergia |
Décio Luiz Gazzoni
Admiro muitas coisas na Argentina e nos argentinos, além do tango, do bife de chorizo e do vinho (dos melhores do mundo!). Admiro especialmente a capacidade de protestar e exigir seus direitos, razão pela qual a Plaza de Mayo é um ponto de referencia mundial em protestos contra o Governo. Isto acontece porque volta e meia o Governo argentino apronta algumas bandalheiras enciclopédicas. Uma das últimas foi a ampliação da taxação da exportação de soja e derivados. A idiotice começa com o fato de taxar exportações, quando a grande grita no mundo é o reverso – acabar com os subsídios à exportação. E continua com as altíssimas taxas, que vão reduzir a produção argentina e jogar os preços da soja ainda mais para cima. |
Tamanho da mordida Pode parecer incrível, mas para o sojicultor argentino faz pouca diferença a tonelada de soja subir de US$400 para US$600, porque ele vai receber apenas US$55 a mais. Ocorre que a retenção (imposto de exportação) depende do valor de mercado da soja. Começa com 23,5% com a soja a US$200/t e vai a 47,8% com a soja a US$600/t. A justificativa da Presidente Cristina Kirchner é evitar que o estímulo do preço da soja diminua as áreas de trigo e milho. Isto é duvidoso, porque trigo e milho também estão com as cotações nas nuvens. Para mim, certo mesmo é o desespero para tapar o crescente rombo do caixa do Governo, atualmente dependente das compras de títulos pelo companheiro Chávez – única pessoa do mundo que ainda compra títulos argentinos em grande escala. |
Reação Além do que a gente vê na TV (protestos, tentativa de negociação), o que eu apurei coletando informações para elaborar o Plano Diretor de Defesa Agropecuária do Uruguai, é que os capitais dos sojicultores estão fugindo da Argentina. O primeiro porto seguro é o Uruguai, que planta hoje 300.000 ha de soja, mas que pode ultrapassar um milhão no curto prazo, se continuar a burrice do Governo Argentino. O mercado de arrendamento de pastagens para plantio de soja, nesta semana, fechou negócios a US$500/ha, por três anos, com pagamento antecipado e garantia de entrega de solo mais fértil que o recebido. A elevada taxação da soja argentina pode acabar mal para eles e bem para os uruguaios. Aliás, para quem se lembra, os arrozeiros gaúchos estão fazendo a mesma coisa, há algum tempo. Largaram as terras no Rio Grande do Sul para plantar logo aí, do outro lado do rio, por conta da alta tributação no Brasil. E exportam para cá o mesmo arroz que antes produziam aqui. Brincar com o mercado dá nisso. |
Décio Luiz Gazzoni
As interações entre Mudanças Climáticas, produção de biocombustíveis e de alimentos desperta interesse mundial. Autoridades como os Presidentes do Banco Mundial, do FMI, da França, da ONU, o Primeiro Ministro da Inglaterra, o Diretor Geral da FAO e presidentes de enormes conglomerados privados como a Unilever e a Nestlé, para não falar de ONGs, estão debatendo abertamente o tema, em diferentes foros, com enorme repercussão da mídia. Estas autoridades afirmam que o mundo terá que escolher entre produzir alimentos ou energia. Do outro lado está o companheiro Lula, o grande paladino da agroenergia em escala planetária, que berra aos quatro ventos que esta discussão não passa de sofisma, que é possível conciliar as duas demandas.
Debate Agora o cidadão londrinense terá a oportunidade de integrar-se ao debate, pois a UEL promove um evento para discutir o tema na próxima terça feira, dia 20 de maio, na Casa de Cultura da UEL, com início às 20h. Tive a honra de ser convidado para apresentar palestra sobre o tema e, na seqüência, ouviremos dois debatedores que dominam o tema, porém com outro ponto de observação. É a oportunidade de formar a sua própria opinião, sem depender do prato feito que já vem embalado pelos inconfessáveis interesses políticos e comerciais. |
Clima Os eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais intensos e com freqüência cada vez maior, não sendo necessário voltar no tempo para citar exemplos. Nos últimos 15 dias um ciclone varreu Porto Alegre e arredores, deixando milhares de desabrigados e a região sem eletricidade por um dia; nos EUA, ciclones varreram diversos estados, matando 20 pessoas e incendiando a Florida; em Myanmar suspeita-se de centenas de milhares de mortos e milhões de desabrigados, depois do ciclone. São as mudanças climáticas a exigir atitude imediata, como substituir petróleo por álcool. |
Energia x alimentos Mas aí vem os profetas do apocalipse e dizem que você terá que escolher: prefere morrer de fome ou varrido por ciclone? Porque a agricultura não suportaria atender as duas demandas. E que, no fundo, bicombustíveis não seriam assim tão amigáveis para o ambiente. O assunto é complexo e multifacetado, envolvendo interesses contraditórios. Neste particular, estou com o companheiro Lula e não abro: pode ser que, nos países ricos, sem possibilidades de expandir a produção, isto seja verdade. Mas, aqui em Pindorama, a história pode ser bem diferente. Você é meu convidado para debater este tema na próxima terça feira. |
Como eu já havia dito...
Décio Luiz
Gazzoni
Os leitores que me perdoem voltar ao tema. Desde 2004 me dedico a prospectar os impactos da agricultura de energia sobre a oferta, demanda e preços da agricultura mundial. Pertencer ao Painel Científico Internacional de Energia Renovável sem dúvida abriu-me muitas portas e me permite um ponto de observação isento e distanciado. Não há como contar toda a história neste pequeno espaço, portanto, quem tiver interesse, entre em http://dlgazzoni.sites.uol.com.br/jl.pdf para ler a história completa. As declarações contra a agroenergia (o presidente do FMI, do BIRD, da Nestlé, o Primeiro Ministro da Inglaterra etc.) fazem parte de um jogo de interesses. Nos bastidores esconde-se a defesa do status quo petroleiro, dos subsídios agrícolas da Europa, da especulação com commodities. E os representantes da Bolívia, Argentina, Cuba e Equador nada mais fizeram que reverberar o discurso do companheiro Chávez, de quem dependem financeiramente. Chávez ataca os biocombustíveis porque o dinheiro para fazer seu jogo geopolítico vem dos petrodólares e porque jamais vai perder uma oportunidade de bater nos EUA e, particularmente, em Bush.
Lula Então só o Lula é santo? Não, ele também joga o jogo de interesses, só que do outro lado do campo. Ele foi – felizmente – emprenhado pela visão futurista de seu ex-ministro Roberto Rodrigues, de que a Agroenergia será o maior negócio do agronegócio mundial. E quem ganha neste jogo são os países que podem expandir sua agricultura, ou seja, América Latina e África. Lula está puxando a brasa para o seu assado, que é o assado da maioria dos países pobres ou remediados. Por enquanto, ele é voz isolada. A Argentina poderia jogar no mesmo time, mas depende de Chávez para comprar seus títulos públicos. A Bolívia, igualmente. Países africanos também se beneficiarão, mas nenhum deles tem a expressão e o espaço de mídia que o Brasil e Lula têm. Por enquanto, Lula é o Davi agrícola contra o time dos Golias petroleiros, protecionistas e especuladores. |
Preços
agrícolas Com exceção do etanol de milho dos EUA e de trigo da UE, e do biodiesel de canola da UE, os biocombustíveis não têm quase nada a ver com aumento de preços de produtos agrícolas no mundo. Procure os culpados (!) na inclusão social na Ásia e na África, nos subsídios agrícolas do Primeiro Mundo, na especulação financeira que está deslocando a liquidez para commodities (não só agrícolas) e no aumento de custo dos insumos agrícolas, que são causas estruturais, e no clima adverso que frustrou algumas safras de cereais no ano passado. |
Mudanças Climáticas, Agroenergia e
Décio Luiz Gazzoni
I.
Se
|
Argumentos de
Estamos falando de |
Existem diversas |
|
a.
o
b.
ao
c.
d.
uma das
e.
a
f.
as
g.
o krill,
h.
Os |
|
Sustentabilidade, a
É
II.
Agroenergia
Uma
das |
|
|
|
No |
O |
A |
O
III.
De |
Interessante |
|
Os
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
Neste
O |
Também, será |
E |
O preço dos alimentos
Decio Luiz Gazzoni
De repente o mundo caiu. Autoridades de todos os escalões descobriram que havia fome no mundo e apontaram o dedo acusador: a culpa é dos biocombustíveis! Quanta idiotice e hipocrisia. É lamentável ver pessoas em cargos importantes serem levianas na análise, no diagnóstico e nas soluções. É lastimável observar sua memória curta e suas rápidas mudanças de posição,ao sabor das conveniências e das oportunidades. |
Ninguém rebateu, até o momento, um dos meus argumentos preferidos - e já o utilizei ao redor do mundo, em inúmeros foros. O mundo planta mais de 1,25 bilhão de hectares. Há outros 600 milhões de hectares por plantar. Biocombustíveis, somando Brasil, EUA, Europa e Sudeste Asiático, ocupam 12 milhões de hectares. Algum estudante, que não matou aula de matemática, explicaria como 0,64% da área agrícola mundial com culturas energéticas pode aumentar o preço dos alimentos em 100%? Matar aula dá nisso! As pessoas não aprendem a fazer contas ou a usar o raciocínio lógico e expõem-se ao ridículo. |
Os biocombustíveis são os que menos têm culpa em cartório pela inflação dos alimentos. Relaciono, em ordem da maior para a menor importância as causas que considero principais:
1. Inserção social. Nunca antes na História da Humanidade houve crescimento econômico tão elevado, acompanhado de baixa inflação, que produziu tão alto incremento na renda per cápita mundial. Com mais dinheiro na guaiaca, a turba famélica foi ao mercado. O aumento da demanda é explicado pelo aumento da população (1,2% a. a.), pelo aumento de renda per cápita (4% a. a.) e pelo aumento da demanda de carnes, pois, em média, para produzir 1kg de carne são necessários 7kg de cereais.
2. Protecionismo e subsídios agrícolas. Há mais de 50 anos os países ricos despejam montanhas de dinheiro para subsidiar sua produção agrícola ineficiente. Os subsídios chegaram a US$1 bilhão/dia! Com isto geraram excessos de produção e passaram a subsidiar a sua exportação agrícola e impor pesadas barreiras à importação. Como tal, inibiu-se a expansão agrícola nos países pobres, o que, agora, faz um a falta tremenda para equilibrar o mercado. Purgar este pecado mortal pode demorar duas décadas de forte apoio à agricultura dos países emergentes.
3. Aumento dos custos. O custo de produção de soja no Brasil aumentou 133% entre 2000 e 2008. O que tem a ver custo de produção com cotação de mercado de um produto agrícola? Embora a cotação não reflita, diretamente, o custo de produção, o mercado sabe que se o custo de produção se aproximar, perigosamente, da cotação de mercado, o produtor será desestimulado a produzir pela relação desfavorável entre risco e rentabilidade e pelo custo de oportunidade de outras aplicações. Portanto, fica criado um piso para reduzir os preços agrícolas.
4. Aumento dos fretes. O valor dos fretes quadriplicou nos últimos 2 anos e está subindo por quatro fatores: o custo terrorismo, após o ataque terrorista de 11 de setembro, nos EUA; o aumento do comércio globalizado, em especial dos produtos agrícolas; a desvalorização do dólar; e o aumento da cotação do petróleo. Os fretes marítimos afetam os preços agrícolas de duas formas: aumentando o preço dos insumos importados e aumentando o custo de transporte entre o país exportador e o importador.
5. Especulação financeira. Com a crise do sub-prime nos EUA, está sobrando dinheiro no mercado. A liquidez excessiva encontrou um refúgio momentâneo nas commodities, tanto as agrícolas (milho, trigo, arroz, soja, óleos, farelos, etc.), quanto as não agrícolas (petróleo, minério, aço, carvão, etc.), provocando a disparada de seus preços. Em particular, a alta do petróleo reforça o aumento do custo de produção.
6. Clima. Em 2007, foram observados problemas intensos de seca na China, no Leste Europeu (especialmente na Ucrânia), na União Européia, no Canadá e na Austrália. Este é o principal motivo da explosão do preço do trigo no mercado internacional. O mercado globalizado atua em interfaces transversais, onde um produto influencia outros, em função do grau de substituibilidade e da competição por área de cultivo. Logo, o aumento do preço do trigo arrasta junto o preço da soja e do milho.
7. Desvalorização do dólar. Sendo o dólar a referencia internacional para os preços agrícolas, estes apresentam maior cotação nominal nesta moeda. O fato ocorre porque as Bolsas de Chicago (CBOT) e Nova Iorque (NYSE) concentram o maior volume de negócios do mercado internacional de produtos agrícolas. Porém, em outras moedas, a cotação pode ser menor que as verificadas em anos anteriores, com paridade cambial mais favorável ao dólar. Logo, há uma percepção de inflação pelos preços em dólares, que na realidade não existe em outras moedas.
Neste contexto, os biocombustíveis exercem um papel terciário e marginal no aumento de preços de commodities agrícolas. Este pequeno impacto se deve, exclusivamente, ao etanol de milho americano, o biodiesel de canola e o etanol de trigo na Europa. Só não enxergam desta maneira os beócios e os que agem de má fé. Ponto final.