Agricultura futurística

Décio Luiz Gazzoni

Pesquisadores do USDA introduziram no milho um gene que codifica para uma proteína (avidina), encontrada na clara do ovo de galinha, o que tornou o grão resistente a insetos que atacam grãos armazenados. A avidina é um poderoso inibidor de crescimento dos insetos, pois se liga à vitamina B8, o que impede o desenvolvimento dos insetos. Os cientistas suspeitam que a avidina tenha a função de proteção do embrião das aves contra patógenos. Essa tecnologia poderá ser a solução para o controle de pragas de grãos armazenados, em virtude do banimento do brometo de metila, a partir de 2005, por ser um potente poluidor atmosférico.

  Avidina
O efeito inibidor de crescimento da avidina ocorre com a presença de 20 ppm no grão. Na concentração de 100 ppm, a avidina se torna um poderoso bio-inseticida. O milho transgênico, contendo avidina, já está sendo produzido nos EUA. Além de ser resistente a pragas, possui um valor adicional, pois a avidina é usada na medicina e seu custo, quando extraída de ovos, supera os US$3.000,00/grama. Esse valor será reduzido a uma fração, extraindo-se a avidina do milho. Embora a avidina seja um componente usual das dietas humanas há muitos séculos, estudos foram realizados para garantir a segurança de ingestão do milho transgênico. Para evitar que o gene de resistência seja expresso no pólen, os cientistas utilizaram um promotor que impede sua expressão no pólen.

Trigo
As cultivares de trigo resistentes à ferrugem, possuem apenas um gene responsável por essa característica, o que facilita a adaptação do fungo à planta. Cansados de ver as suas cultivares banidas do mercado, rapidamente, pela quebra de resistência à ferrugem, os pesquisadores do USDA criaram uma pirâmide com genes de ancestrais do trigo.

Um deles (Aegilops tauschii) é conhecido como ‘goatgrass’, um parente selvagem do trigo,encontrado no Afeganistão e na Síria; o outro parente, Triticum timopheevii, é encontrado no Irã, Iraque e na Turquia. As pirâmides de genes foram montadas em plantas modelos e, posteriormente, introduzidas no trigo. Os pesquisadores estão testando as novas plantas para verificar se as cultivares poderão ser utilizadas pelos agricultores durante um longo período de tempo.

Soja
O nematóide do cisto da soja foi introduzido há cerca de uma década no Brasil e se constitui, atualmente, em uma das mais importantes pragas da cultura. Pesquisadores americanos descobriram um parente da soja (Glycine tomentella) na Austrália, com elevada resistência à raça 3 do nematóide do cisto da soja. Os genes responsáveis pela resistência foram introduzidos em cultivares comerciais de soja e estão sendo avaliados na Universidade de Illinois.
 

 

Perspectivas
Os avanços tecnológicos já em uso por agricultores, assim como os avanços científicos que ainda se encontram na fase de estudos laboratoriais, permitem antever um novo ciclo na agricultura mundial, a partir do final dessa década. Enquanto prosseguirá o esforço para aumentar o potencial produtivo das plantas cultivadas, da cornucópia dos pesquisadores sairão soluções sólidas para contornar as restrições mais importantes para a expressão da produtividade, decorrentes de estresses bióticos ou abióticos.
  Salto tecnológico
As características que serão introduzidas nas novas cultivares permitirão a convivência com estresses que têm sido as "sete pragas do Egito" da agricultura. Isto não é propriamente um fato novo, pois avanços científicos da pesquisa agrícola ocorrem diuturnamente. A inovação está no fato de que, desta feita, os maiores beneficiados serão os agricultores que vivem em áreas marginais, que terão à disposição cultivares resistentes à seca, acidez ou salinidade dos solos. Talvez esse avanço tecnológico seja a maior ação de inserção social em áreas de pobreza endêmica, o que merece uma profunda reflexão sobre a facilitação do acesso desses produtores às novas tecnologias.


Lei de Biossegurança
Décio Luiz Gazzoni

  Após anos de relutância, finalmente foi aprovada na Câmara Federal (3/3/05), a Lei de Biossegurança, por expressiva margem de votos (352 a 60). A folgada margem de aprovação, que traz uma surpresa à primeira vista, reflete o amadurecimento do debate no seio da sociedade brasileira. Neste particular, temos que considerar que o atual governo se mostrou menos relutante e menos patrulhado que os anteriores, embora benefeciado pela extensão do debate e pelo amadurecimento do tema.

Polêmica 1
A primeira polêmica envolveu o uso de organismos transgênicos (animais ou vegetais) na agropecuária, em especial para a produção de alimentos. Este tema polarizou corações e mentes ao longo de uma década, e sua discussão foi totalmente enviesada eis que focada em um único produto – a soja RR, resistente a um herbicida. In casu, o consumidor não vislumbrou qualquer beneficio. Este, se for o caso, estará restrito ao produtor, pois seria beneficiado pela simplificação do controle de ervas e pelo menor custo. As entidades de pesquisa, inclusive a EMBRAPA, nunca puderam estabelecer parâmetros definitivos sobre o assunto, pelas dificuldades legais de pesquisa com o tema.
  Polêmica 2
O uso da biotecnologia na medicina não foi tão contestado quanto na agricultura, no Brasil ou no exterior. Entretanto, o uso de células tronco de embriões humanos tornou-se uma exceção, pela mobilização de grupos religiosos contrários. A discussão ficou inconclusa, pois remetia a profundas reflexões filosóficas como o sentido da vida, quando a vida começa, ou se é ético a pesquisa usando seres humanos. Do outro lado, cidadãos com doenças degenerativas e seus familiares uniram-se aos cientistas para influenciar as autoridades para sua liberação. No balanço geral das legislações exaradas em diversos países, os defensores da pesquisa com células tronco estão levando a melhor.

 

Variedade transgênica
O avanço da ciência no século XXI ocorre com velocidade tal que, por vezes, o cidadão que não esteja envolvido diretamente no tema tem dificuldade de acompanhar o debate das questões com a profundidade necessária. Variedades transgênicas são aquelas que contém um ou mais genes transferidos de outra espécie, a través de técnicas de biotecnologia. Assim, é possível criar variedades mais produtivas, resistentes a pragas, mais nutritivas, que contenham princípios medicamentosos ou vacinas ou insumos industriais.
  Células tronco
Essas células atuam como curingas. Isto significa que elas podem ser transformadas em células especializadas, como células sanguíneas, nervosas, musculares ou ósseas. Quando uma pessoa é afetada por uma doença degenerativa, por um acidente ou por qualquer distúrbio que destrói ou danifica um órgão, ele pode ser regenerado através da cultura de células tronco, que são induzidas a se especializarem no tecido que se deseja. A liberação da pesquisa com células tronco terá, no século XXI, o mesmo impacto das vacinas e dos antibióticos no século passado. Isto porque a maior causa de mortalidade até meados do século XX eram as doenças infecto-contagiosas. Solucionado este problema, a esperança de vida da espécie humana quase dobrou e a maior causa de mortalidade passou a ser as doenças degenerativas, cuja esperança repousa nas células tronco.

 

Nova era
A aprovação da Lei de Biossegurança terá profundo impacto na agricultura e na medicina, com desdobramentos econômicos, sociais e ambientais. Entretanto, há um aspecto que não foi devidamente ressaltado durante a discussão, que é a justiça social. Caso a pesquisa com células tronco não houvesse sido aprovada no Brasil, cidadãos ricos submeter-se-iam a tratamentos médicos nos países ricos, onde a legislação o permite. Os brasileiros pobres continuariam sofrendo com as doenças ou seqüelas de acidentes, sem perspectivas. Agora, depende apenas das autoridades brasileiras socializar o benefício científico do uso de células tronco na medicina.

 


A escolha de Sofia
Décio Luiz Gazzoni

Se o dileto leitor ainda não assistiu ao filme que inspira a coluna, sugiro que pare aqui, retire o filme na locadora e o assista com atenção. O estado de espírito induzido pelo filme o tornará mais receptível às considerações que se seguem.  

 

Recursos naturais
Por centenas de milhões de anos, a Natureza equilibrou os elementos que compõem o Planeta Terra. Até surgir o Homus predator – uma involução do Homo sapiens -, cuja principal característica é entender que os recursos naturais são infinitos e existem apenas para servi-lo. Esta não é a lógica das leis naturais, regidas pela lei máxima: a toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade e sentido contrário. Por vezes, a intensidade da reação é maior que a da ação.
  Energia
À exceção da energia nuclear, todas as demais fontes derivam da radiação solar. O ímpeto do H. predator se manifesta com intensidade na área energética. Criamos uma sociedade dependente de combustíveis fósseis (80% da energia consumida no Planeta). O petróleo, por ser o mais conveniente, é o insumo energético e da petroquímica mais predado. Nos últimos 100 anos, consumimos mais de 1 trilhão de barris de petróleo, quase metade de todo o estoque petrolífero que havia no sub-solo, antes de começar sua exploração. O trilhão restante será consumido em meio século, dada nossa crescente voracidade petrolífera. Os cientistas estão concordando que o pico de produção de petróleo ocorrerá nesta década, declinando após, inexoravelmente, até sua extinção.
  Demanda e oferta
O caos está contratado para 2050. Poderemos adiá-lo 20 ou 30 anos, se iniciarmos – ainda ontem! – uma guinada de usos e costumes. Esgotado o petróleo, até 2100 poderemos sobreviver com as outras duas fontes de energia fóssil: gás natural e carvão. Dos males, o gás é o menor e o carvão o pior. E aí vem a escolha de Sofia: reduzir o consumo de petróleo, e aumentar o de carvão, acirrará ainda mais o efeito estufa, cujas conseqüências serão flutuações extremas de temperatura, degelo, subida do nível dos oceanos, secas, inundações e furacões, com redução da produção agrícola e queda da qualidade de vida. Inclusive demandando mais energia para sobreviver a frios e calores extremos!

O rei sol
Podemos empurrar o desfecho trágico – talvez até evitando a escolha de Sofia! – se tomarmos atitudes ponderadas, embora radicais, de imediato. Uma delas é criar uma cultura extremada de poupança de energia, envolvendo do consumidor ao fabricante de automóveis ou equipamentos eletrônicos, passando pela reciclagem de materiais, que tem o duplo condão de poupar o petróleo da energia e o da indústria química. A outra é nos voltarmos para o Sol. A ciência necessita romper a barreira, até agora intransponível, de captar a energia solar de forma eficiente e armazená-la a custos socialmente compatíveis. Isto somente poderá ser feito com pesadíssimos investimentos nas equipes científicas, com foco claro na postergação do caos energético.
  Biomassa
Enquanto o aproveitamento direto da energia solar continuar arrestado no futuro, necessitamos investir na biomassa. Precisamos substituir, urgentemente, gasolina por álcool, diesel por biodiesel, carvão mineral por vegetal. Porém, com a tecnologia atual, não é possível substituirmos sequer metade da energia fóssil que consumimos na Terra. Acontece que as plantas capturam apenas 1% da radiação solar que as atinge. Uma atitude digna de H. sapiens: ao invés de desperdiçar trilhões de dólares em guerras e armamentos, deveríamos investi-los nos cientistas, com a meta de duplicar a eficiência da fotossíntese nos próximos 15 anos. Quem sabe a biotecnologia e a nanotecnologia dão um empurrão? Se a nossa geração continuar agindo como H. predator, a dos nossos filhos e netos enfrentará a escolha de Sofia: bicicletas e, carroças para o transporte, folhas de palmeira ao invés de ar condicionado, sinais de fumaça substituindo a Internet.Ou então, usar mais carvão, aumentando ainda mais o efeito estufa, ganhando meros 20 anos até a volta das carroças.

 


A Revolução Industrial do século XXI
Décio Luiz Gazzoni

  Responda rapidinho: no futuro próximo, o maior valor de mercado provirá da biotecnologia agrícola, médica ou industrial? Acertou quem falou industrial, que movimentará US$100 bilhões por ano, até o final da década, contra US$18 bi da agrícola e US$38 bi da biotecnologia médica. Outra pergunta: você usaria roupa feita de milho? Não diga desta água não bebo, talvez você o faça, pois até Gisele Bündchen está desfilando roupas produzidas com milho, usando processos biotecnológicos.

 

Novos negócios
A biotecnologia industrial promoverá uma revolução semelhante à automação e à eletrônica digital e o charme do momento são os bioplásticos (ou plásticos orgânicos). O Brasil começa a pegar a onda onde surfam, fagueiras, portentos industriais que desenvolvem bioplásticos derivados de plantas ou bactérias, com o uso de processos biotecnológicos. As utilidades são variáveis, como talheres, embalagens de fast food ou para alimentos frescos. Já roupas, acessórios ou cobertores é o negócio de Eddie Bauer, Versace e Giorgio Armani, que utilizam uma fibra desenvolvida pela Cargill Dow, a partir do grão de milho.
  Bioplásticos
Do milho extrai-se o bioplástico (derivado da dextrose) e a fibra têxtil, duas inovações revolucionárias, que reposicionarão a indústria e modificarão o balanço entre os cultivos agrícolas. Por exemplo, serão as novas fibras têxteis um sucedâneo integral do linho, do algodão e do cânhamo? Se forem, essas culturas sofrerão um baque enorme, no futuro próximo, posta a maior competitividade do milho, inclusive pelo leque de aplicações, o que projeta mercado aberto e dinâmico e preços mais estáveis e previsíveis. Essa é a aposta da Cargill Dow, que investiu quase 1 bilhão de dólares nos polímeros polilácticos (PLA) e na fibra têxtil, ambos derivados de milho. Copos, pratos, sacos, caixas, filmes transparentes, roupas, cobertores, travesseiros e colchões são alguns produtos já disponíveis, porém novas aplicações do milho não param de surgir.

 

Inovação
A ironia deste salto tecnológico é que o potencial do PLA foi identificado em 1920, pelo inventor do náilon, o americano Wallace Carothers, que trabalhava na DuPont. Carothers. Ele tentou obter PLA de petróleo, sem sucesso. Já no novo século, o PLA foi viabilizado industrialmente, com o uso de técnicas biotecnológicas, usando bactérias que o extraem da dextrose do milho. Esse bioplástico não é tão versátil quanto derivados do petróleo como o polipropileno. Entretanto possui uma característica que se valoriza a cada dia no mercado: é biodegradável, sendo facilmente decomposto passado o tempo estimado para o uso proposto. Os produtos da degradação do bioplástico podem ser utilizados como adubos orgânicos.
  Brasil
Entrou em operação uma indústria com capacidade de 4.000 t/ano, localizada em Serrana (SP). Utiliza derivados da cana para produzir PHB, um polímero biodegradável, sintetizado e acumulado como substância de reserva por bactérias, com propriedades semelhantes àquelas dos polímeros encontrados no mercado. Além de biodegradável, o PHB é biocompatível, com alta regularidade de cadeia polimérica e alto peso molecular o que permite inúmeras aplicações industriais, como embalagens flexíveis ou rígidas (frascos soprados, tampas plásticas e chapas para termoformagem), componentes cirúrgicos, dentre outros.
  Mercado
O PHB é sintetizado por processo biotecnológico, sendo competitivo comercialmente, pela solução integrada do processo. A partir da cana-de-açúcar por síntese, extração e purificação do polímero com solventes naturais, obtém-se um produto com custo final muito baixo. Cada 3 quilos de açúcar produzem cerca de 1 quilo de plástico. Em comparação com o PLA, o plástico da cana é mais estável e resiste às altas temperaturas. O mercado mundial de plásticos é de 200 milhoes de t/ano. A produção de bioplásticos atual mal supera 1% da demanda, devendo crescer a taxas altíssimas nos próximos anos, abrindo um novo mercado para os produtos agrícolas. É a era da biomassaquímica chegando!

 

Menos remédios e mais alimentos funcionais
Décio Luiz Gazzoni

O leitor já deve ter reparado uma advertência nas embalagens de alimentos: contém glúten. E talvez se tenha perguntado: e daí, que diferença faz? Acontece que o glúten é uma proteína insolúvel, encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia, importante no processo de panificação. Ao reagir com um álcool, forma proteínas menores. Se um portador da doença celíaca ingere glúten, os sintomas da doença podem surgir. A quem se interessa por citogenética, essa predisposição está relacionada a um antígeno de histocompatibilidade da região "d" do cromossomo seis.

 

Doença celíaca
A principal função do intestino delgado é absorver nutrientes, fluidos e eletrólitos, que depende de uma área de absorção adequada
. Para tanto, o epitélio do intestino delgado é pregueado. Em indivíduos suscetíveis à doença celíaca, o glúten desencadeia uma reação inflamatória, que "achata" o epitélio, reduzindo a absorção. A extensão do comprometimento determina se o indivíduo desenvolverá os sintomas, que incluem fraqueza, diarréia, perda de peso, fadiga e anemia. Pode ocorrer osteoporose, tetania e desordens neurológicas. Bolhas, vermelhidão ou estrias avermelhadas podem ser observadas no corpo.

Alternativas
A Embrapa está desenvolvendo cultivares de quinoa e amaranto, que são grãos desprovidos de glúten e com alto teor de proteína. Seus derivados são facilmente digeríveis, o que ajuda na recuperação de crianças convalescentes e no preparo de refeições para idosos
. E, obviamente, na formulação de dietas para celíacos. Fontes protéicas vegetais, como a quinoa e o amaranto implicam em menos riscos — como o entupimento de veias e problemas cardíacos — do que a carne. Produtos destinados a pacientes celíacos já estão à disposição de consumidores de países ricos e, a partir das pesquisas da Embrapa, logo os brasileiros também terão acesso a esses produtos.

Da quinoa para o vinho
Desde tempos imemoriais os cientistas buscam entender porque envelhecemos e pesquisam fórmulas para retardar o processo. Sabe-se que organismos expostos a uma dieta pobre em calorias reduzem a incidência de doenças ligadas ao envelhecimento, como a osteoporose, o câncer e os ataques cardíacos. Eu, que já tinha muitos motivos para apreciar bons vinhos, acrescentei mais um à minha coleção, após ler um artigo na revista "Nature".

Li que cientistas descobriram que o resveratrol, um polifenol abundante na uva e no vinho, pode retardar o envelhecimento. Por enquanto, os cientistas demonstraram que essa substância aumentou a duração da vida de leveduras. Estudos em andamento, usando vermes e mosca de frutas, mostram resultados encorajadores. Mas por que o bom Deus não estenderia essa benesse ao Homo sapiens, especialmente se ele for tão sapiente que aprecie bons vinhos?

A fonte da juventude
Nos anos 90, cientistas demonstraram que alelos simples controlam a velocidade do envelhecimento, tornando possível manipular tais genes. Os cientistas induziram estresses leves nas cobaias, para verificar o efeito do resveratrol. Concluíram que a substância pode prevenir mutações celulares, que fazem parte do processo de envelhecimento. São essas mutações que respondem, em grande parte, pelos acidentes cardiovasculares e pelos tumores malignos.

Aparentemente, o resveratrol regula a produção de proteínas essenciais para o organismo. Em algumas situações, sinaliza para que as células assumam uma postura de defesa contra estresses, para proteger a sua integridade. A dúvida dos cientistas é como isso ocorre. Uma das hipóteses aventadas é que as proteínas reguladas pelo resveratrol teriam importante função no reparo do DNA, o qual se degrada com o envelhecimento das células e pela ação de radicais livres.

Do vinho para a picanha
Ômega 3 é um tipo de ácido graxo farto em peixes como o salmão, o arenque e o bacalhau. Em baixas quantidades também pode ser encontrado nos óleos de soja e canola e nas castanhas. Embora tenha funções muito importantes, ele não é produzido pelo organismo humano, devendo ser obtido por meio dos alimentos. Alimentos ricos em ômega 3 reduzem os níveis de colesterol e triglicéridos no sangue e regulam a pressão arterial, mitigando os riscos de acidentes vasculares e cardíacos.

Já as carnes vermelhas não possuem gordura do tipo ômega 3, razão pela qual o churrasquinho nosso de cada fim de semana é o terror dos cardiologistas. Além da carne de gado, também a carne de frango ou porco, os ovos e o leite não contêm ômega 3, sendo suas gorduras do tipo ômega 6. Conquanto tenha diversas funções no organismo, o ômega 6 é considerado o responsável pelo "pecado da carne", ou seja, pelos problemas causados às artérias e ao coração, em especial pelos elevados teores de LDL-colesterol e triglicéridos que apresentam riscos ao sistema circulatório.

Salvo pela minhoca!
O gene fat-1, responsável pela produção do ômega 3, foi extraído do DNA de um nematóide chamado Caenorhabditis elegans. Como minhocas não constam do nosso hábito alimentar, os cientistas transferiram a capacidade de produzir ômega 3 do nematóide para o rato. Absolutamente, longe deste gaúcho sugerir a substituição da picanha por ratos assados, mas a possibilidade de produzir a boa gordura em um mamífero é auspiciosa, sendo um indicativo de possível sucesso com outros animais ou plantas.

Com o uso da biotecnologia, vislumbra-se um espetacular nicho comercial na produção de gado bovino, tanto de corte quanto de leite, de frangos (de corte ou postura) e na criação de suínos especializados em produzir ômega 3. O mesmo pode ocorrer em outras fontes de lipídios, como os óleos vegetais. Do sucesso da pesquisa científica pode decorrer uma brutal redução nos riscos de acidentes cardíacos, decorrentes da baixa ingestão de ômega 3. E, como bônus, você poderá saborear tanto a picanha quanto a costela com aquela gostosa manta de gordura – que faz qualquer gaúcho lamber o bigode! – livre do sentimento de culpa que hoje nos acomete. Ah, não esqueça do vinho!

Da picanha às cerejas
A cerejeira pertence à família das rosáceas, a mesma do pêssego, da pêra e da maçã. Ela é originária da região do Cáucaso asiático, mas é cultivada no Ocidente desde os tempos de Cristo. Seu uso vai de tortas e outros doces, licores, ao consumo in natura. Como é muito exigente em frio, as regiões aptas para seu cultivo no Brasil são poucas e a área é limitada.

Os alfarrábios da vovó indicavam a cerejeira (frutos e folhas) como diurético e para a prevenção ou eliminação de cálculos dos rins e das vias urinárias. Recentemente, o estudo de um cientista norte-americano demonstrou que substâncias existentes nas cerejas aliviam os sintomas das inflamações artríticas.

Anti-inflamatório
Verificado o alívio dos sintomas de artrites, foi estudado o efeito do consumo de cerejas sobre a gota, uma forma hereditária de artrite, resultante de um distúrbio metabólico, caracterizado pelo excesso de ácido úrico no sangue e depósitos de seus sais nas juntas dos pés e das mãos. Os voluntários (sadios ou acometidos pela gota) consumiram 45 cerejas frescas no desjejum – no dia do estudo - sem comer quaisquer frutas ou outros vegetais assemelhados nas 48 horas anteriores.

Os médicos mediram a concentração dos sais do ácido úrico no plasma sangüíneo e na urina dos voluntários, por até cinco horas após a ingestão das cerejas. Os resultados foram altamente auspiciosos, pois, enquanto a presença de uratos no plasma diminuiu, a sua excreção pela urina aumentou. Na seqüência foi analisada a presença de indicadores de que o sistema imunológico estivesse agindo sobre o processo inflamatório. Os indicadores foram a proteína C-reativa, o óxido nítrico e o fator de necrose tumoral alfa.

Os resultados
As análises indicaram a redução dos teores de óxido nítrico e da proteína C-reativa, porém não houve alterações na concentração sangüínea do fator de necrose tumoral alfa.

Depois das descobertas iniciais, em 2003, outros estudos ampliaram o espectro de marcadores que estão sendo analisados e acompanhados, bem como o número de voluntários, com uma amplitude maior das faixas de idade e dos graus de intensidade de gota. Estudos como esses resgatam a sabedoria popular, mitigam o sofrimento de pacientes, substituem por alimentos naturais o amargo e caro remédio químico. E, ao final, abrem uma oportunidade de emprego e renda no campo, em especial para a agricultura familiar, na produção de alimentos funcionais.



Biotecnologia e biomassa
Décio Luiz Gazzoni

 

O clamor social por sistemas produtivos sustentáveis, com menor risco ambiental e à saúde humana, tem como uma das respostas a associação entre processos biotecnológicos e o aproveitamento de biomassa. Uma das características das inovações do século XXI será o encurtamento do tempo entre a descoberta científica básica e a incorporação de uma nova utilidade pela sociedade. No século XIX, uma inovação tecnológica com quebra de paradigma, demorava 50-60 anos para ser aceita pela sociedade, 30 anos em meados do século XX, devendo reduzir-se, progressivamente, dos 10 anos atuais para a disponibilização de inovações no mesmo ano de sua descoberta.    Projeção
Em 2005, menos de 2% dos veículos do mundo são movidos a biocombustíveis e menos de 10% das matérias primas da indústria química provêem da biomassa. Uma estimativa conservadora do Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA antecipa que, em 2020, 10% dos combustíveis líquidos e 25% dos produtos de química orgânica serão provenientes de biomassa. Será a revolução do bio-processamento, produzindo enzimas, aminoácidos, antibióticos, vitaminas ou álcoois. O que confere maior eficiência aos processos fermentativos (uma aplicação biotecnológica) é a melhoria dos microrganismos intervenientes, via de regra por processos de transgênese. Atualmente, o valor da produção mundial de fermentados(US$5 bilhões) cresce 8% ao ano, devendo saltar para 15% ao ano nesta década, superando 25% até 2020.

Óleos
Os produtos industriais que utilizam óleos transformaram-se em um mercado vigoroso, baseados em catalisadores e engenharia química. Através de processos biotecnológicos, os limites deste mercado serão largamente expandidos. É possível alterar a composição da fração lípidica das plantas, produzindo óleos de maior interesse, saturando ou dessaturando ligações, modificando a proporção de isômeros, entre outros. É possível interferir nos processos metabólicos das plantas, ativando ou desativando genes, introduzindo novos genes que codificam para enzimas ou outras substâncias que tornem o processo mais eficiente, do ponto de vista energético. As mesmas oportunidades estão abertas no processamento industrial.
  Múltiplas finalidades
É possível visualizar uma dualidade nos processos industriais, que podem atuar em sinergia, transformando biomassa em utilidades sociais com valor econômico. Por exemplo, as atuais plantas para extração de óleos vegetais possuem a infra-estrutura necessária para a obtenção de carboidratos que, por bio-processamento, podem ser transformados em açúcares. Na mesma linha, podem ser obtidos ácidos graxos específicos, biofármacos ou polímeros. Esta visão de futuro se torna realidade com a melhoria dos métodos de bioprocessamento, com a obtenção de plantas transgênicas para expressar determinadas substâncias químicas - nos teores e nos tecidos desejados - e com biocatalisadores que permitem redesenhar os fluxos dos processos industriais. As vantagens visualizadas no bio-processamento são a pureza, a simplicidade, a segurança e o menor custo.

  

Novos polímeros
Os exemplos migram dos laboratórios para as linhas industriais. existem materiais plásticos, obtidos por bio-processamento de óleos, com novos atributos, incluindo a biodegradabilidade, e com menores custos de produção. Plantas industriais de ácido poliláctico (PLA) produzem polímeros de biomassa, competindo com produtos tradicionais (derivados de petróleo), como o Nylon, o PET, o poliéster e o polietileno.

 

 

  O futuro chegando
Os paradigmas inovadores (uso da biomassa, biotecnologia) também permeiam a conservação de energia. Nas modernas fábricas de PLA, cerca de 30% da energia industrial é obtido da radiação solar, o que reduz o custo e atende requisitos ambientais. Embora em um estágio embrionário, quando comparado com as sólidas bases tecnológicas da indústria petroquímica, o bio-processamento baseado no dueto biomassa e biotecnologia, representa o futuro. Percebe-se que o futuro está chegando pela combinação entre os avanços obtidos pela Ciência e as demandas crescentes da sociedade por produtos mais seguros, com menores impactos ambientais e lastreados em sistemas sustentáveis.

O ciclo de baixa
Décio Luiz Gazzoni

Quem conhece a agropecuária sabe que ela é cíclica. Em especial, por causa do clima e das pragas, entremeiam-se anos bons e anos ruins. Quando outros fatores intervêm, como governos e mercado, os ciclos são acentuados e extremados. A agropecuária brasileira vive, talvez, o seu momento de baixa mais forte. A culpa é de todos: clima, pragas, governo e mercado.

Real valorizado
O agricultor comprou com dólar a R$3,50 e vende a R$2,75 - logo os custos aumentam e o faturamento diminui. Eu já fui apanhado num contrapé de vender com dólar a R$1,00 e comprar a R$1,95 e sei o "quanto dói uma saudade!" O país todo sofre com a queda de rentabilidade do agronegócio, que respondeu por 40,4% das exportações brasileiras em 2004. O levantamento rotineiro de preços do MAPA aponta os seguintes aumentos de custo de produção: algodão (19%), arroz (14%), milho (15%), soja (17%) e trigo (10%). Em todos os casos a explicação é a mesma: valorização do real. O ministro Roberto Rodrigues reconhece que o setor vive o pior mundo possível e propôs à área econômica do governo a alocação de R$ 200 milhões para a criação de um seguro de renda, além do pleito de R$1 bilhão para apoio à comercialização da safra.
  Exportação
Ninguém duvida que a maior parte do crescimento (embora tímido) da economia brasileira, em 2004, deveu-se às exportações, em especial, do agronegócio. O Governador Blairo Maggi, maior plantador de soja do mundo, acusa o golpe: "É a política econômica que prejudica o setor agrícola. O câmbio neste momento é o que sufoca o setor primário". O próprio governo já trabalha com o cenário de queda no saldo comercial do agronegócio, em 2005. Embora alguns produtos ainda apresentem preço competitivo (café, suco de laranja, açúcar e álcool), a valorização excessiva do real vai estimular as importações. O preço da soja está se salvando pela frustração da safra brasileira, e aí um fator anula o outro.

Clima
Parece que este ano a ferrugem responde apenas pelo aumento do custo com fungicidas, não serão registradas grandes perdas pelo ataque do fungo – um grande mérito da Embrapa e seus parceiros. Mas as regiões Sul e parte do Sudeste e Centro Oeste enfrentam uma seca rigorosa, responsável maior pela quebra de safra (em números absolutos) já observada no país. A Conab prevê uma quebra de 12,4 milhões de toneladas. Mesmo assim, a produção será superior à safra passada, porque o agricultor vinha de um ciclo de alta que o induziu a ampliar o plantio. Apenas no caso da soja, a estimativa é de R$ 5,399 bilhões de perdas (frustração de 8,281 milhões de toneladas), o que reduz a estimativa de safra para 53,119 milhões de toneladas. No auge do ciclo de alta, as previsões apontavam a produção brasileira igual à americana, já para a próxima safra.
  Infra-estrutura e tributos
Se não bastasse o clima ruim e o mercado adverso, na calada da noite de 31/12/04 o Governo resolveu meter a mão mais fundo no bolso do agricultor – como meteu em todos os prestadores de serviço do Brasil (MP 232). Veja que, nos países ricos, além do subsídio que o agricultor recebe, ele só vai pagar os impostos ao final do ano fiscal. Aí é que o agricultor vai saber se teve lucro ou perda, se deve ou não pagar impostos. Aqui, na terra do Fred Flintstone tributário, paga-se imposto sobre o lucro, até quando se tem perda – e o imposto é antecipado. Já o apagão logístico, devido às péssimas condições de transporte e armazenagem da safra, foi postergado mais uma vez, porque a safra frustrou.

Galinha dos ovos de ouro

Dia desses um amigo meu ilustrou, metaforicamente, o tratamento dispensado pelo governo ao agronegócio – o sustentador do emprego e da renda dos brasileiros. Disse ele que, até pouco tempo, quando a galinha fazia a postura, o governo levava metade dos ovos de ouro. Dos pintinhos nascidos, também levava mais metade. O diabo é que agora ele quer meter a mão na galinha! É bom pensar nisso e moderar a voracidade tributária antes que o arrependimento só venha com o aumento da violência (no campo e na cidade) e com a falta - ainda maior - de recursos para educação ou saúde.


Sou pesquisador (não desisto nunca)
Décio Luiz Gazzoni

Os demais brasileiros que me desculpem, mas o bordão criado pela mídia governamental, após uma pesquisa detectar baixa estima do brasileiro, se aplica bem aos pesquisadores científicos. O pesquisador não pode desistir de seus objetivos, é parte de sua vida. Só que, quando os atinge, seu único pagamento é a alegria da conquista. Os benefícios? Ou eles são distribuídos para toda a sociedade ou são privatizados para um ou mais empreendedores.

Deu no Estadão
A crer no Estadão (OESP de 29/3/05, pg B2), o governo realmente confia que pesquisador não desiste nunca. Reproduzo a íntegra da nota Discrepância, publicada na coluna Direto da Fonte: "O secretário da Agricultura de São Paulo, Duarte Nogueira Jr., inaugurou ontem, em Ribeirão Preto, um centro de pesquisa de cana (vinculado ao tradicional IAC). Para trabalhar ali, contratou nove cientistas, todos com mais de dez anos de experiência e doutorado. Salário líquido: R$1.200. Ao saber disso, um usineiro olhou para outro, surpreso. Afinal, eles pagam para seus cortadores de cana, algo entre R$800 e R$1.300." Boris Casoy diria: "Isto é uma vergonha!" Durante a solenidade, alguns cientistas comentavam que o último aumento que receberam do governo do Estado foi em 21/9/99. -Antes de Cristo! emendou um deles.
  Investimento
Nada contra cortadores de cana, que conquistam o pão e o leite da família com o suor do rosto e o sangue das mãos. Mas justiça social se faz por cima e não por baixo – pague-se aos dois R$10.000. Pesquisadores e cortadores não reclamarão! Alguém sabe quanto custa apenas o diferencial de estudo de um doutor, com 10 anos de experiência? Entre o custo pago pela família, pelo próprio e pelo Estado, varia de R$300.000, se cursou a pós graduação no Brasil, a mais de R$1.000.000, se foi um privilegiado que estudou no exterior. A amortização (R$300.000 divididos por R$1.200 mensais) se dará em 250 meses e o retorno do investimento será de apenas 14 anos de salário (R$201.600). Ou seja, 70% em 35 anos (2% ao ano). Alguém aí investiria este valor para obter 2% a.a. – em 35 anos - se os juros do BC estão em 19% a.a.? Os doutores que investiram na sua formação acima de R$500.000, terão retorno negativo!
  Quem ganhou?
O Brasil é o maior produtor mundial de álcool e açúcar. E o mais competitivo: países ricos só competem conosco à custa de pesados subsídios. Viabilizamos o maior programa de energia renovável do mundo – o álcool automotivo. Nesta safra serão 15 bilhões de litros de álcool. Em 10 anos, produziremos 30 bilhões. Este ano, exportaremos US$500 milhões. Em 10 anos, talvez cinco vezes mais – dependerá do preço de mercado. O negócio cana de açúcar cresceu e expandiu, fez a riqueza de muitas regiões, gerou centenas de milhares de empregos ao longo da cadeia negocial, movimenta bilhões de reais por ano. Gerou renda, protegeu o ambiente, rendeu tributos para o Governo, divisas para o país, angariou espaço estratégico na geografia do agronegócio.

Tecnologia
Diversos fatores contribuíram para o sucesso da cana, mas a tecnologia fez a diferença. A tecnologia agrícola aumentou a produtividade e o teor de açúcar. Expandiu a produção e viabilizou novas áreas. As tecnologias de processo expandiram a produtividade, a qualidade e a competitividade; a co-geração de energia descortinou oportunidades ímpares de rentabilidade. Nos bastidores dessas conquistas, sempre havia um pesquisador.

 

  A recompensa
Além da sensação de missão cumprida, pouco mais receberam os pesquisadores, aqueles que não desistem nunca. A maioria deles, ligados a instituições públicas. Por falar nisso, quantos leitores repararam que, no auge da discussão sobre o aumento severino de 75% na remuneração dos deputados, alguém chamou a atenção de que o Governo Federal enviou ao Congresso Nacional proposta de reajuste de 0,1% (zero vírgula um por cento!) nos salários dos servidores públicos? Afinal, qual era a vergonha maior: o aumento severino dos deputados ou a proposta inadjetivável para o funcionalismo?

 

Biocombustíveis no Nordeste
Décio Luiz Gazzoni

  Antes mesmo do lançamento do Programa Brasileiro de Biodiesel, alguns empresários privados perceberam o filão negocial embutido no negócio de biocombustíveis e se lançaram à luta. O Programa Brasileiro aponta para algumas metas energéticas, como a adição de biodiesel ao petrodiesel, metas ambientais (redução de emissões) e de emprego e renda no campo. Entretanto, o tema da exportação de biocombustíveis é remetido para ser resolvido pelo mercado.  

Pioneirismo
Os empresários privados estão fomentando o estabelecimento de grandes áreas de produção de matéria prima e construindo plantas de processamento de biodiesel no Nordeste, em especial no Piauí, Maranhão e Ceará. Os planos já estavam elaborados quando surgiu a oportunidade de um contrato de longo prazo para fornecimento de biodiesel com a Inglaterra. O fato obrigou a Brasil Ecodiesel a ampliar o projeto de produção e plantio de mamona destinada à produção de biodiesel no Nordeste. De acordo com o novo projeto, a produção vai saltar de 180 mil para 240 mil litros diários, para atender à demanda nacional e de contratos externos. A área plantada de mamona, cujo projeto inicial previa 65 mil hectares nos três estados, vai saltar para 280 mil hectares, o que significa triplicar a área da oleaginosa no Brasil. Os investimentos globais em refinaria e plantio devem somar cerca de R$ 50 milhões.
  Maranhão
O Maranhão é, atualmente, o estado mais pobre da Federação. Entretanto, o rojeto de produção de biodiesel no Maranhão será maior que os demais, pelas condições favoráveis do porto do Itaqui (São Luís), de grande calado. Apenas a usina a ser implantada nas proximidades do porto, vai produzir 120 mil litros de biodiesel por dia. A área de mamona a ser plantada no estado também vai ser ampliada, saltando de 15 mil hectares para a 100 mil hectares.

Obras
Os investimentos do projeto iniciaram em 2004, com o plantio de dois mil hectares de mamona. O processo de implantação da refinaria no Maranhão também já está em andamento, aguardando parecer governamental para definição da área a ser utilizada pela fábrica. O início da construção está previsto para o primeiro trimestre de 2005, devendo iniciar a produção comercial no segundo semestre. Nesta primeira fase, com custo estimado de R$ 8 milhões, serão produzidas 60 mil toneladas/dia. Com a expansão, prevista para segundo semestre de 2006, o custo total ficará em R$ 16 milhões.
  Piauí e Ceará
O plantio inicial foi de 5.000 hectares de mamona, de um total previsto de 100 mil hectares no Piauí e 80 mil hectares no Ceará. Também está prevista a construção de refinarias nos dois estados, para evitar o trânsito de matéria prima, que encarece o produto final. Com a expansão da demanda, também será diversificada a matéria prima e um dos primeiros candidatos é o babaçu, abundante na região. Outras oleaginosas podem ser incluídas, como o girassol e o dendê irrigado, que serão pesquisados pela Embrapa.
  Alcance social
Embora privado, o projeto de produção de biodiesel tem um cunho social de largo alcance. No Maranhão, o plantio de mamona vai ser incentivado também em áreas de assentamentos a serem indicadas pelo governo estadual. A proposta da Brasil Ecodiesel é promover a inclusão da agricultura familiar, que passa a receber pelo trabalho desenvolvido. Cada refinaria vai gerar 60 empregos diretos (com produção de 60 mil litros/dia). Já o plantio de mamona vai envolver cinco mil famílias. Além dos parceiros - pequenos agricultores no interior do Estado - a empresa produtora do biodiesel vai trabalhar com plantios próprios em fazendas no Maranhão, Piauí e Ceará. A implementação deste projeto é um teste crucial para um programa que acena com enormes vantagens econômicas, ambientais, sociais, energéticas, negociais e estratégicas, com peso suficiente para alterar a dinâmica do agronegócio mundial.

 

Mudanças climáticas
Décio Luiz Gazzoni

 

 

Você imagina por qual razão a Holanda é o país que mais batalha pela redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), no âmbito do Protocolo de Kyoto ou em iniciativas voluntárias? Se, ao invés de Holanda, falarmos em Países Baixos, a razão ficou mais evidente? Pois é isto mesmo, a Holanda corre o risco de desaparecer sob as águas do oceano, levando consigo milênios de lutas de gerações para mantê-la à tona. Espero que, antes do desastre, levem as obras de van Gogh para um lugar bem alto!

 

 

Science
Os cientistas vêm alertando, com preocupante insistência, sobre os desastres associados às mudanças climáticas, por sua vez decorrentes da emissão desenfreada de GEE, em especial pelo uso de combustíveis fósseis, como os derivados de petróleo. Em março passado, cientistas americanos publicaram na Revista Science o resultado de dois modelos matemáticos, que chegam a uma terrível conclusão: mesmo que a Humanidade pare de emporcalhar a atmosfera , muitos desastres estão contratados, porque os efeitos das mudanças climáticas retro-alimentam o processo. Os cientistas afirmam que, se estabilizarmos as emissões agora, a temperatura do planeta sobe 0,5º.C e os oceanos elevam seu nível em 10cm, ao longo do século.
  É pouco?
Este foi o aumento da temperatura média do planeta no século 20. Isso significou que, nas bordas da Antártida, a temperatura aumentou 3º.C. Por isto os oceanos elevam seu nível e os extremos climáticos (secas, inundações, nevascas, ondas de calor ou frio, furacões, etc) se tornam cada vez mais freqüentes. Porém se continuarmos a aumentar as emissões, em 2.100 a temperatura subirá 6º.C e os oceanos aumentarão seu nível em 25 cm, segundo a Science. Além de afogar a Holanda e diversas ilhas e lugares planos da costa (como o Recife), a qualidade de vida no planeta decairá, o consumo de energia explodirá e a agricultura sofrerá muito.
  Embrapa
Tomo o depoimento de meu amigo Dr. Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa, responsável pela rede de pesquisa em Zoneamento Agroclimático no Brasil. Além de referendar o fato de que, prosseguindo na senda de poluição atmosférica, a temperatura subirá até 1º.C nos próximos 15 anos, o Dr. Assad demonstra com seus próprios modelos matemáticos o que vai ocorrer com a agricultura. Ele verificou que todas as culturas analisadas sofrerão um impacto, com redução da área de aptidão para plantio no Brasil.

 

Área reduzida
Palavras do Dr. Assad: “O Brasil tem uma área potencial de 300 milhões de hectares aptos para a soja, 480 milhões para o arroz de sequeiro, 350 milhões para o feijão e 520 milhões para o milho.” O que aconteceria se a temperatura subisse apenas 1º.C? “A área apta cai 10% para a soja, 15% para o arroz e 12% para o feijão”, responde Assad. Parece pouco? Então continuemos a poluir!
  Mais reduzida ainda
Imagine, agora, aquele cenário em que a temperatura sobe 6º.C. Neste caso, a área apta para a soja diminuirá 60%, a de arroz 40%, a de feijão 60% e a de milho 25%. Isto apenas no que tange à aptidão. Não esqueça das novas pragas que se viabilizam com esta temperatura, com os ataques mais intensos e mais prolongados das pragas atuais, que se reproduzem mais rapidamente em temperatura mais alta. Não esqueça que a evaporação da água será violenta e as plantas sofrerão muito mais. Qualquer seca, com temperatura mais alta, é sempre mais devastadora.
  Quae sera tamen
A sociedade mundial está concordando com os cientistas quanto às causas das mudanças climáticas que estão em curso. Causas estas que repousam, principalmente, na queima de combustíveis de petróleo, do carvão ou do gás natural. Também está claro que não sairemos desta ilesos, algum preço será pago. Portanto, nos resta lamentar que o uso de combustíveis limpos, como o álcool ou o biodiesel, tenham chegado tão tarde. E esperando que lideranças de visão se empenhem em fomentar o uso de energias renováveis, para diminuir o castigo das mudanças climáticas.


Competitividade e investimento em tecnologia

Décio Luiz Gazzoni

Esta semana, a Embrapa completou 32 anos de profícua existência. Para comemorar a efeméride, ao invés de texto laudatório, proponho uma reflexão. A inserção do Brasil no mercado globalizado pressupõe a manutenção de alta competitividade do seu agronegócio. Uma das pilastras da competitividade é o estado da arte tecnológico, o que impõe a existência de sistemas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e de Transferência de Tecnologia (TT) condizentes com as metas que o país se propõe a atingir, na disputa pelos mercados.  

Os números
Os sistemas de PD&I e de TT existentes no Brasil demonstraram sua capacidade de alavancar e sustentar a competitividade do agronegócio brasileiro. O setor responde por 34% do PIB nacional, por 37% da oferta de empregos e pela totalidade do saldo na balança comercial, devendo angariar divisas líquidas superiores a US$30 bilhões, no corrente ano, apesar de S. Pedro, dos juros, dos impostos e da valorização do real.

 

 

 

 

  Esgotamento
Diversos problemas de ordem estrutural e macro-econômica, vinculados às políticas de estabilização da moeda e de inserção do Brasil no mercado financeiro internacional, conduziram à compressão da capacidade de investimento do Estado. Além da dívida financeira – cuja quitação é prioritária para o governo e que atinge 60% do PIB - existem outras dívidas (social, de justiça, de infra-estrutura, educacional, de PD&I), de difícil resgate no horizonte visível, mantida a presente política governamental. A pressão tributária (real de 51% e praticada de 40-48%) ao tempo em que torniqueteia o desenvolvimento nacional, encontra-se em um patamar muito elevado, impedindo novos avanços tributários sobre o sistema produtivo.
 

Descompasso
A Embrapa, maior organização de PD&I do agronegócio, serve como exemplo do descompasso entre o investimento em PD&I e o crescimento das demandas, que aumentam com a pujança do agronegócio e o crescimento da população. Em 1977, três anos após sua criação, a Embrapa atingiu o pico orçamentário em relação ao PIB do agronegócio (0,46%). Após algumas oscilações, o orçamento de 1985 alcançou a segunda melhor relação histórica (0,40%). Este índice despencou para 0,13% em 2004, talvez o menor dos 32 anos da Embrapa.

 

Orçamento x consumidores
Em relação à população brasileira, o melhor orçamento da Embrapa foi o de 1982, quando o investimento per capita equivaleu a R$8,02 (valores atualizados). Atualmente, esse investimento é de R$4,28, semelhante ao de 1977. Pontualizando para a soja, o produto mais importante do agronegócio nacional, o orçamento da Embrapa Soja de 1990 equivaleu a 0,4% do valor da produção da soja brasileira. Em 2004, este valor foi de 0,05% - oito vezes inferior ao índice observado há 14 anos.

 

 

  Tecnologia e competitividade
Não apenas o agronegócio cresceu, aumentando proporcionalmente as demandas. Ocorre que elas tornaram-se mais sofisticadas, o consumidor ficou mais exigente, o Brasil passou a ser um player respeitado no mercado internacional, firmamos acordos bilaterais, multilaterais ou internacionais, que nos obrigam a dispor de um sistema de PD&I com nível de excelência equivalente aos melhores do mundo. Caso contrário, como garantir a nossa competitividade? Como contra-arrestar os subsídios agrícolas? Como contrapor-se às barreiras sanitárias, como ocorreu recentemente com os focos de aftosa, a calúnia da BSE ou o affair da soja na China?
 

Novo modelo
Para resolver a inequação resultante da falência do Estado como provedor de PD&I e TT e as demandas crescentes - e cada vez mais sofisticadas do sistema produtivo – proponho que se discuta um novo modelo em que, solidária, complementar e suplementarmente ao Estado, os atores do agronegócio invistam no que, talvez, seja seu insumo mais importante: tecnologia adequada. Em tempos de metáfora, poderíamos dizer que isto será a salvação da lavoura.

 


Um prêmio Nobel para o Brasil?
Décio Luiz Gazzoni

  É lugar comum dizer que Roberto Rodrigues é o ministro mais eficiente deste Governo. E já se ouve, com insistência, que ele está se consagrando como o melhor Ministro da Agricultura que o Brasil já teve. Não há como conversar com o Ministro Roberto Rodrigues, ou assistir a uma palestra dele, sem sair enriquecido. Não foi diferente no dia 25 de abril, quando dirigiu suas palavras para a diretoria e chefias de unidades da Embrapa. Dois temas sobressaíram em sua preleção: agroenergia e financiamento da pesquisa, apresentados com segurança e elegância.

 

Agroenergia
A palavra não consta do Aurélio, mas ela é um sinônimo de bioenergia, a energia que sai dos campos para gerar eletricidade, movimentar carros, caminhões, trens ou navios, gerar vapor nas caldeiras ou para aquecimento doméstico e industrial. A agroenergia inclui o etanol da cana de açúcar, os biocombustíveis derivados de óleos vegetais, a biomassa florestal (lenha, briquetes ou carvão) e os resíduos agrícolas ou de processamento da agroindústria.

 

 

  Nobel
O Ministro Roberto Rodrigues relatou sua reunião com a Direção do Banco Mundial, onde negociava recursos para a pasta da Agricultura. Um dos diretores comentou que ele era a primeira autoridade de um país que buscava financiamento do BIRD para o setor de agroenergia. Roberto não perdeu o mote e argumentou que a agricultura tinha recebido apenas um Prêmio Nobel. E que o segundo estava a caminho, porque as pesquisas para a geração de energia de biomassa ainda renderiam um Prêmio Nobel para o Brasil!

 

 

 

Potencial
O ministro discorreu com muita autoridade sobre a Agricultura de Energia. A sua visão de futuro é extremamente importante para balizar as ações de hoje, que repercutirão no futuro do País. Estima-se que, até meados deste século, o montante de recursos que será movimentado pelo complexo de biomassa agrícola, para fins energéticos, será superior a 50% do valor do PIB do agronegócio. As bases tecnológicas que darão sustentação à realização deste potencial necessitam ser lançadas agora, para garantir a nossa competitividade setorial. Portanto, é importante que as pessoas que ocupam cargos de decisão tenham a clareza que uma deliberação mal tomada hoje terá o condão de retardar a chegada do futuro.

Álcool
Com fina ironia, o Ministro relatou os esforços feitos pelos EUA para a extração de etanol de milho. Destarte os avanços de tecnologia agronômica e de processo, extrair álcool de cereais é economicamente insustentável, se comparado à cana de açúcar. Lastreados em vergonhosos subsídios, os produtores americanos podem até chegar perto da produção brasileira de 15 bilhões de litros. Porém, a expansão da área de milho ocorrerá à custa da redução da área de soja, algodão ou trigo, provocando desequilíbrios estruturais. E, com a ratificação da decisão da OMC a respeito da ilegalidade dos subsídios europeus ao açúcar, descortina-se uma nova e fulgurante oportunidade para o álcool brasileiro.

  Biodiesel
O negócio álcool será o maior da agricultura de energia brasileira pelos próximos anos. Porém, no médio e longo prazos, os biocombustíveis derivados de óleo vegetal deverão ocupar esse espaço, por sua maior densidade energética e pela maior demanda de combustíveis para serviços pesados. E o Brasil é o país que possui a maior extensão territorial de área agricultável, em regiões tropicais, onde a agricultura de energia é particularmente vocacionada.

 

 

  Pesquisa
Se o Premio Nobel da visão de futuro do Ministro Roberto Rodrigues fosse concedido hoje, seu receptor seria a Embrapa Soja, que lidera a pesquisa com bioenergia na Embrapa. Entretanto, em sua alocução, o Ministro deixou claro que pretende mais da Embrapa. Deseja que a organização lidere um grande consórcio de esforços de C&T para pesquisa em biocombustíveis, podendo derivar para uma nova unidade da Embrapa, que seria constituída com a missão específica de posicionar o Brasil na liderança da pesquisa em agroenergia no mundo. As gerações futuras, antecipadamente, agradecem ao Ministro por pavimentar o caminho do desenvolvimento futuro do país.

 



 

Cana-de-açúcar, uma usina viva
 

Há quatro anos, durante uma palestra em Piracicaba, aventurei-me a prever que, até meados dessa década, a produção brasileira de álcool ultrapassaria 15 bilhões de litros, dobrando este volume antes de 2015, sendo a maior parcela destinado à exportação. Naquela oportunidade também asseverei que, em 2005, estaríamos exportando mais de US$500 milhões em álcool, quase o quádruplo do valor do início do século. Corri o risco de fazer esta afirmativa perante uma platéia de especialistas na cadeia da cana-de-açúcar, baseado no que pude observar em países europeus, ansiosos por reverterem a roda do tempo que os levou ao monopólio da energia fóssil.

Os números
Com alegria verifico que, em 2004, auferimos US$515 milhões com a exportação de 2,2 bilhões de litros de álcool. E, na presente safra, a previsão é de produzirmos...15 bilhões de litros! Entusiasmado pelo acerto, ouso mais: até 2020, a cana-de-açúcar representará, para a agricultura brasileira, o que a soja é hoje. Porém, por pouco tempo, pois, felizmente para o Brasil, o negócio biodiesel crescerá de tal maneira na primeira metade deste século, que as oleaginosas para produção de energia acabarão por superar o valor de mercado da cana-de-açúcar.
    Multiuso
Mas a cana não é só açúcar e álcool. Se o futuro será promissor para alcoolquímica e a sucroquímica, o presente é representado pela energia extraída da cana. Energia para seres vivos (açúcar), para veículos leves (álcool) e para indústrias e residências (energia elétrica). Com a chegada dos veículos multi-combustíveis, o álcool combustível ganhou novo impulso e credibilidade, passando apenas a depender da oferta, das políticas tributária e energética, que definirão a relação de preço álcool/gasolina.

 

A bio-usina
Uma tonelada de cana contém 1,7 Gcal, equivalendo a 1,2 barris de petróleo. A produção de 350 milhões de toneladas de cana (2004) equivaleu a mais de 50% do consumo de combustíveis de petróleo do Brasil (nacional e importado)! Cada hectare de cana, além de produzir 7.300 litros de álcool (490 Mcal) gera 512 Mcal a partir da palhada, 598 Mcal extraídas do bagaço e 62 Mcal do biogás obtido do vinhoto. O poder calorífico da palha, com 30% de umidade, é de 2,2 Mcal/t, enquanto o bagaço, com 50% de umidade, gera 1,8 Mcal/t. Entre outros usos, o bagaço e a palhada podem ser queimados, para produzir eletricidade. Estudo do MCT (http://www.mct.gov.br/clima/ comunic_old/coperal5.htm) determinou que, para cada caloria empregada na produção e processamento de cana, é possível gerar de 9 a 11 calorias.
  Eletricidade de cana
O processo é simples, consistindo da queima do resíduo para geração de vapor, que movimenta uma turbina geradora de eletricidade. Mesmo instalações ineficientes produzem 20-30KWh/ton de cana. Com a modernização de turbinas e aumento de pressão, este valor pode chegar a 80 KWh. Acrescentando-se a queima da palhada, pode-se duplicar a energia elétrica co-gerada. Uma vez obtida a energia elétrica, esta tanto pode ser utilizada nos processos internos de processamento da cana, quanto colocada na rede interligada.
  Potencial
Um levantamento efetuado em 2003 indicou que a produção de energia elétrica, para consumo próprio, nas usinas de cana-de-açúcar era de 1.485MW, o excedente era de 619MW, encontravam-se em construção instalações para mais 75MW e em processo de outorga outros 350MW. Para atender a meta de crescimento econômico (4% a 5% ao ano) até 2008, a base instalada no país (hoje 85 GW) deveria crescer para 106,6 GW, desnudando um déficit de 21 GW a ser solvido em 4 anos. Nas condições atuais, o setor sucroalcooleiro pode contribuir com 11% da energia adicional, pela co-geração de energia através da queima do bagaço de cana, e mais ainda se for considerada a queima da palhada. Com todo este potencial energético, nada mais justo que considerar a cana uma legítima bio-usina.

 



 

MST

Décio Luiz Gazzoni

Duda Mendonça é um gênio do marketing político, destarte sua paixão pelas rinhas galináceas. Cunhou o bordão "Lulinha Paz e Amor" para isolar o candidato José Inácio Lula da Silva da "briga de foice no escuro" por uma vaga no segundo turno. Apesar de não interferir no resultado da eleição (o eleitorado já havia decidido votar contra o Governo), o slogan néo-hippie induziu na população o que seria o modus operandi do Governo. Por exemplo, quando criticou a invasão do Iraque, Lula foi só Paz e Amor, em contraposição ao Bush Guerra e Ódio.

 

 

 

 

 

Hippie?
MST não combina com Paz e Amor. Após cada eleição, o MST retoma sua senda de invasões. Julgando deter a prerrogativa de nomear gerentes do INCRA, invade as sedes do órgão onde não impôs o seu gerente. Cada vez mais o MST mostra sua verdadeira face: um movimento político e não um movimento social. Legítimo enquanto movimento, eis que a Constituição garante a livre associação, essa legitimidade se esborroa ao não assumir sua identidade jurídica, e ao apelar para a violência e a afronta ao estamento legal, mormente o dispositivo constitucional que garante a propriedade (art 170, II).

 

Ação
A terceira Lei de Newton postula "A toda ação corresponde uma reação, de mesma intensidade e direção e sentido contrário". O corolário dessa lei se aplica às interações políticas e sociais, porém nada garante a intensidade das reações e contra-reações. Se alguém imaginava proprietários rurais contemplando o seqüestro de seu patrimônio, de forma passiva, que faça analogia com outros expropriados: como reagiria o dono de apartamento invadido?; o presidente de banco assaltado? o dono de supermercado saqueado?; o proprietário de automóvel roubado?; o governo frente à sonegação?; a criança de quem se tira o pirulito?

 

    Reação
Os produtores rurais buscam fórmulas para garantir a integridade patrimonial (reação), muitas delas tão condenáveis quanto a invasão (ação). Milícias são formadas, proprietários acampam na beira da estrada, em vigília em frente a acampamentos do MST; lideranças reúnem-se em para organizar as formas de luta. Assediado pela mídia, o Ministro Chefe da Casa Civil (José Dirceu) faz coro com o Presidente do PT (José Genoíno) afirmando que as invasões devem ser evitadas a todo o custo e, caso aconteçam, as determinações judiciais devem ser cumpridas de imediato. Palavras que o vento levou.

Contramão
É lastimável assistirmos a recidiva do MST quando o PIB agrícola atinge seu pico histórico, quando o Brasil se encaminha para ser o maior exportador de soja do mundo e, na seqüência, o seu maior produtor. Quando o setor primário ancora o desenvolvimento, sustenta nossa balança comercial no azul e garante a geração e distribuição de renda, criando novos empregos. A Nação brasileira deveria unir-se em torno de sua vantagem competitiva, ao invés de dispersar energia e recursos - que são insumos da produção - para apaziguar o ambiente produtivo.

 

 

 

 

 

 

Emprego e renda
O maior problema do Brasil não é a fome ou a violência. A matriz dos problemas sociais está na falta de emprego e renda e na sua injusta distribuição. Teríamos menos sem-terra legítimos, se pequenos agricultores não houvessem sido expulsos de sua terra. Parcela da solução está na reforma agrária. Que deve assegurar competitividade e rentabilidade, permitindo ao cidadão viver com dignidade do fruto de seu trabalho e de sua terra. Nas condições atuais, isso significa portentosos investimentos em infra-estrutura (transporte, armazenagem, centrais de abastecimento, portos, energia) e apoio ao produtor (pesquisa, assistência técnica, educação, cooperativismo). Como essa solução é cara e demanda muito tempo, a sociedade precisa respaldar o agricultor legitimamente vocacionado, até que adquira competitividade para andar com as próprias pernas. Essa deveria ser a discussão estratégica do momento e não como evitar invasões ou expulsar invasores de terra.



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