MST X MST
Décio Luiz
Gazzoni
(310ut97)
O Movimento dos Sem Terra finalmente
encontrou um adversário à sua altura: o próprio Movimento dos Sem Terra. Como?
Porque o "sucesso" lhe subiu a cabeça, e passou a colocar a colher no angu
alheio, ou seja, auxiliar na criação e tentar transferir apoio ao Movimento dos
Sem Teto. Vamos tentar explicar.
Pesquisas de institutos independentes de
opinião pública tem indicado um forte suporte da opinião pública urbana a uma
Reforma Agrária no Brasil. Na nossa opinião, este suporte efetivamente existe e
se deve principalmente porque:
1. As próprias lideranças ruralistas tem se
posicionado favoravelmente a que haja uma reforma agrária. A discordância
tem se dado em como fazer a Reforma Agrária. Foi isto que os institutos de
pesquisa captaram. |
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2. Para o público urbano, fazer reforma
agrária é desapropriar terra de não mais que 1000 latifundiários, que no
imaginário possuem um milhão de hectares cada um, que não são devidamente
utilizados, e que não lhe farão falta. |
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3. A ninguém agrada ver o sofrimento alheio, e
as imagens de acampamentos de sem terra, onde se vive desconfortavelmente à
beira da estrada, foram devidamente explorados pela imprensa, o que levou a
maioria silenciosa a apoiar uma forma de solução do problema, representada
pela Reforma Agrária. |
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4. A propaganda da Reforma Agrária fala
claramente que, após efetuada, aumenta a disponibilidade de alimentos,
diminuindo seu preço, e a fome no Brasil. Quem não deseja que isto aconteça? |
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5. E, finalmente, porém creio que o mais
importante, a desapropriação era do patrimônio alheio. Nem de perto a
Reforma Agrária afetava o habitante do meio urbano, seus parentes, amigos,
conhecidos, etc. Era um problema dos outros. |
E foi aí que o Movimento dos Sem Terra cometeu
seu grande erro. Baseado no levantamento da opinião pública que apoiava a
Reforma Agrária, o MST passou a correr riscos cada vez maiores, anunciando
ações cada vez mais ousadas, aumentando o número de invasões anunciadas.
Governos estaduais, temerosos de confrontos e de "afrontar" a opinião
pública, relutavam em cumprir ordens judiciais de reintegração de posse.
Numa ação inteligente, a estratégia do MST foi ocupar ao máximo os espaços
de mídia, para manter um discurso agressivo na mesma linha que tinha lhe
garantido o suporte público. Foi com este mesmo suporte que se realizou a
Marcha a Brasília, e baseado no mesmo fato a CONTAG transformou o gabinete
do Ministro do Planejamento em curral. Começou a romper a linha do suporte
incondicional, e provocar o questionamento. Afinal, podemos desafiar tão
abertamente autoridades constituídas, pode-se ultrajar a dignidade dos
cargos mais elevados da Nação? A maioria silenciosa é cumpridora da lei,
gosta de paz e ordem! |
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E foi nesta linha de fronteira que o MST
começou a declarar publicamente seu suporte ao Movimento dos Sem Teto, o que
começou a aumentar o questionamento da maioria silenciosa, classe média ou
remediada urbana. De repente, o coitado do migrante nordestino, que após
quinze anos de trabalho sofrido em São Paulo, adquiriu sua casinha, passou a
fantasiar que o
seu patrimônio também estava sob perigo. O dono do pequeno comércio
ganhou o direito de imaginar que se formariam diversos outros movimentos: os
sem terreno urbano, os sem roupa, os sem saúde, os sem alimento, e se a
coisa virasse baderna poderiam vir os sem bebida, sem conta bancária e sem
uma série de outras coisas. |
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Não cabe aqui questionar se o temor pertence
ou não ao terreno do imaginário. A maioria silenciosa sempre se moveu
estimulada por informações parciais, pelo desinteresse e pela busca de uma
solução rápida do problema, que aplacasse a consciência nacional. E passou a
temer pelo seu patrimônio. De repente aquele bordão de "reforma agrária é
boa com a terra dos outros" passou a fazer sentido. Ou seja, reforma agrária
sim, reforma do patrimônio urbano não. Vieram as primeiras invasões
realmente organizadas de conjuntos habitacionais e de terrenos urbanos. Não
que elas não existissem anteriormente. A diferença é que passaram a ser
organizadas, apoiadas publicamente pelo MST e usando o bem postado sistema
de propaganda cuidadosamente elaborado pelo Movimento ao longo dos anos. |
A gota d’água veio com a participação de um dirigente do MST no Fórum
Nacional no Rio de Janeiro, em que teria incitado os sem teto a deixarem de
ser sem teto e aos sem alimento a satisfazerem suas necessidades junto aos
supermercados. Tudo isto sem pagar a conta! |
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Ninguém é favorável à indignidade humana, ninguém quer ver um legítimo
trabalhador rural, vocacionado para as lides do campo, sem terra; ninguém
quer ver um irmão brasileiro sem teto ou sem comida. Como ninguém quer ver
alguém exposto às péssimas condições de saúde ou de falta de segurança.
Porém, ninguém quer ser ameaçado nos seus direitos, no seu espaço e no seu
patrimônio. Mesmo que esta ameaça seja fantasiosa. Assim, quando o
presidente da República resolve dizer que basta de baderna, com certeza vai
ter o apoio da mesma maioria silenciosa. E foi aí que errou o MST, e pode
ser também o fim do suporte incondicional, porque a maioria silenciosa
urbana pode se identificar com produtores rurais, imaginando que a mesma
ameaça paira sobre quem adquiriu legitimamente seu patrimônio, com
honestidade e com décadas de suor do seu rosto. |

Patenteando a vida
Décio Luiz
Gazzoni
(7nov97)
Durante as duas últimas décadas observou-se o
embate de argumentos em torno da proteção intelectual da produção de novas
variedades de plantas, as chamadas Leis de Proteção de Cultivares ou Lei de
Proteção aos Direitos do Melhorista. Poderosos argumentos foram levantados
de ambos os lados da contenda, porém o advento da globalização de mercados
levou de roldão qualquer argumentação, e hoje a tese é aceita quase
universalmente. |
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No entanto, os argumentos de ordem ética e
moral são novamente levantados, e com maior intensidade, quando volta ao
centro do debate uma questão científica similar: o patenteamento dos genes.
As duas questões diferem em algumas nuances, o que torna o debate ainda mais
acirrado. |
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Genes estão para os seres vivos como os bytes
estão para um programa de computador, pois tratam-se de um código que
executa uma determinada função. Os genes estão associados com a produção de
proteínas, via de regra enzimas que executam uma função específica nos
organismos vivos. Um gene tanto pode ser o responsável por uma doença no
Homem, quanto pela resistência a bactérias num animal ou numa planta. A
partir desta informação básica, que para um desavisado pode parecer ciência
pura, giram cifras de bilhões de dólares, em especial nas áreas farmacêutica
e agropecuária. E a luta ocorre porque as empresas buscam industrializar
produtos que, em algum momento do processo envolvem genes, e exigem que
estes genes sejam uma patente sua. |
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O argumento central de parte de quem defende o
patenteamento é econômico e linear: sem um patenteamento, não há garantia de
retorno do investimento de centenas de milhões de dólares em pesquisa e
desenvolvimento. Sem esta garantia de retorno, desativam-se indústrias,
empregos deixam de ser criados, riqueza deixa de ser gerada, soluções para
doenças e pragas não sairão das pranchetas. Em suma, bloqueia-se o progresso
da Humanidade. |
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Os argumentos contrários iniciam por uma
questão ética: não se pode patentear a vida. Mais, não se pode patentear o
que já existe. E prossegue por um argumento moral: não pode uma corporação
arvorar-se em Criador do Universo, apropriando-se de sua obra num primeiro
instante, modificando-a com o argumento de melhorá-la, no segundo instante. |
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Mais um round desta batalha ocorre na Europa,
quando a questão é submetida ao Parlamento Europeu para uma decisão, que,
uma vez aprovada, resultará na necessidade de harmonização da legislação dos
quinze países componentes da União Européia. E os deputados do Parlamento
terão que decidir pressionados por lobbies da atividade industrial de maior
crescimento na Europa, que é a da biotecnologia. |
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Mas também terão uma forte pressão de outros
grupos organizados, como parcela da comunidade acadêmica e grupos de
ambientalistas. E também de organizações de consumidores e de
supermercadistas, que não estão convencidos da inocuidade dos produtos
derivados da biotecnologia. Um exemplo prático que ocorre neste momento é o
deságio aplicado à soja norte-americana, suspeita de ser
proveniente de sementes transformados por engenharia genética,
para não serem afetadas por determinado herbicida. |
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Este é um aspecto pragmático da questão que
interessa muito de perto ao setor produtivo e de agronegócios do Brasil, ou
seja, até que ponto nossos negócios serão afetados se colocados sob
suspeição de serem provenientes de sementes transformadas
biotecnologicamente. Será conveniente aguardar que a batalha de argumentos
se aproxime do desenlace, que os consumidores não mais mostrem desconfiança
em relação aos possíveis efeitos colaterais de vegetais transformados, para
que incorporemos ao nosso sistema produtivo este novo avanço. Caso contrário
estaremos conquistando uma vitória de Pirro, ao sermos beneficiados na fase
de produção por uma tecnologia diferenciada, e penalizados na fase de
comercialização justamente pelo uso da mesma tecnologia. |
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É possível uma globalização humanizada?
Décio Luiz
Gazzoni
Parece que encontramos na globalização a mãe
de todos os males. Aos poucos os brasileiros vão conhecendo os efeitos da
globalização dos mercados. Existe o bônus, representado pelo acesso a
automóveis importados, a inexistência de diferencial de tempo entre os
lançamentos da indústria de informática nos países centrais e no Brasil. O
fosso tecnológico diminuiu, as informações correm céleres e a notícia nos
chega em tempo real. Os jovens de todas as partes do mundo ouvem as mesmas
bandas de rock, vestem as mesmas T-shirts, tem os mesmos ídolos. A Internet
se encarregou de aproximar as pessoas e quebrar barreiras antes impensadas,
a integração dos sistemas de comunicação permitirá, brevemente, o acesso a
um telefone celular mundial. |
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O preço da globalização.
Mas existe a face cruel, o ônus. A entronização da
competitividade como passaporte para a globalização, está exigindo um
redimensionamento das atividades econômicas. Ninguém pode antever onde
desembocará o processo, quais serão as etapas a cumprir, por ser dinâmico.
Cada avanço aponta novos caminhos, novas alternativas, novas necessidades e
novos desafios. Sempre buscando aquele centavo a mais de competitividade,
que nunca é atingido, porque a concorrência selvagem se encarrega de romper
barreiras a cada dia. É nesta busca desenfreada de competitividade que
encontramos os mortos e feridos de uma batalha que é tão inevitável quanto a
morte, posto que ninguém, unilateralmente, conferiu tamanha importância à
competitividade, a ponto de possuir poderes para questioná-la. Foi uma
eleição do mercado, que estabeleceu regras para o novo ambiente, cujas
alternativas são adaptar a elas, ou ficar à margem deste mercado. |
Quais são as conseqüências funestas?
A Europa enfrenta os mais altos índices de desemprego
de toda a História. De acordo com a OIT, existe mais de 1 bilhão de
desempregados no mundo. Economias sólidas como a da Alemanha sofrem abalos
pela falta de oportunidades de trabalho e renda. Os mesmos questionamentos
levaram à derrubada do parlamento francês e sua substituição por outra linha
política - que promete exatamente o que a derrotada havia prometido há
quatro anos: pleno emprego. Na busca de recomposição econômica, os
orçamentos ficaram pequenos para tantas demandas, obrigando a uma proposta
de revisão do wellfare state, de enorme conteúdo de impopularidade.
No bojo da proposta dos países da Europa, destacam-se as reformas
previdenciárias, as alterações no sistema de atendimento médico e a
eliminação dos subsídios agrícolas. |
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Os efeitos no Brasil.
A imprensa noticia que o Banco do Brasil teria
eliminado 40% de seu quadro de pessoal, a Votorantin despedido 20.000
empregados. Outros bancos sucumbiram na caminhada, incapazes de adaptar-se a
um novo ambiente, onde prima a competitividade natural e não a fraude ou o
escamoteamento inflacionário. Industriais e produtores queixam-se da feroz
competição dos produtos importados, porém sabedores que não há mais espaço
para protecionismos em um mundo globalizado. |
Globalização X MST
Na área agrícola, percebe-se dois dos sub-produtos mais
desumanos de um mercado globalizado: por um lado produtores tradicionais não
conseguem se adaptar à competição selvagem, às demandas de elevada
tecnologia, à necessidade de capital e de ampliação da extensão de terra, e
são obrigados a abandonar a atividade. De outro o inchamento do Movimento
dos Sem Terra. Não que todos os componentes ou militantes do MST sejam fruto
do desemprego causado pelo enorme avanço tecnológico e pela inserção do
Brasil na globalização de mercados. Muitos eram legítimos produtores rurais,
apanhados na armadilha de juros elevados, da falta de seguro agrícola ou
outra catástrofe. Porém, sem sombra de dúvida, na história pessoal de cada
família acampada vamos encontrar em seu núcleo ou na tangência os temas de
abertura de mercados, substituição tecnológica ou falta de escala, os quais
tem em comum o desafio da competitividade para sua sobrevivência na
atividade. Muitos militantes do MST tiveram origem no meio rural, porém, na
busca de oportunidades melhores no meio urbano, encontraram as portas do
mercado fechadas e trancadas. Hoje tentam o triste retorno às origens.
Outros simplesmente buscam no campo sua última chance de inserção no mercado
de trabalho. |
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Os efeitos na agropecuária
Os agricultores europeus estão literalmente apavorados
e desesperançados, assim como seus colegas japoneses. Falta à agropecuária
destes países escala para auferir competitividade. A média da
propriedade européia gira em torno de 5ha, insuficientes para gerar renda
para uma pessoa, quanto mais para uma família. A cada ano que passa, cresce
a média de idade do agricultor europeu ou japonês, pois a juventude rural
busca suas oportunidades no meio urbano, e o pai de família é hoje um
agricultor de tempo parcial, que possui outra fonte de renda urbana. Eles
olham com inveja para o Brasil, onde vêem a grande vantagem comparativa da
extensão territorial que nos permite conseguir propriedades com escala para
produzir. Escala que foi atingida nos EUA porque, apesar do PIB agrícola
americano representar quase a totalidade do PIB brasileiro, apenas 3% da
população economicamente ativa daquele país se dedica exclusivamente à
agricultura. |
A perigosa equação
O êxodo rural não faz mais sentido, porque a
necessidade de competitividade no meio urbano leva à evolução tecnológica,
antagônica à plena ocupação da mão de obra. O desempregado inverte o fluxo,
tentando oportunidades de trabalho no meio rural. A falta de escala leva à
bancarrota pequenos agricultores, a complexidade dos mercados passa a exigir
cada vez mais mão de obra especializada e preparada para, não apenas
produzir com baixos custos, alta produtividade e elevada qualidade, mas
também para comercializar seus produtos de maneira a auferir renda
suficiente para continuar na atividade. Na busca de uma solução, cobra-se do
governo medidas protecionistas que ele não pode mais tomar, porque assinou
acordos internacionais que o impedem de conceder subsídios à qualquer
atividade produtiva. |
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Quo vadis?
Não será fácil encontrar a saída para esta equação
perversa, que obriga o ser humano a entrar numa roda viva de competição cada
vez mais selvagem, que vai deixando mortos, feridos e desempregados ao longo
da caminhada, e onde a sociedade não dispõe de meios à altura para
contrabalançar seus malefícios. Esperemos que, no avanço do processo de
globalização, o frio mercado comece a respeitar os condicionantes sociais do
crescimento econômico. |

Commodities agrícolas: um balanço da produção e estoques
Décio Luiz
Gazzoni
Com a safra de grãos americana chegando ao fim,
é possível fazer um balanço da situação atual e arriscar alguns prognósticos
sobre as perspectivas da safra de verão brasileira. Como regra geral, os últimos
números divulgados pelo USDA tiveram o poder de derrubar as cotações. As
dificuldades de colheita do trigo argentino e de plantio da safra de verão no
Rio Grande do Sul, a possibilidade de parte dos salários de brasileiros serem
deslocados de bens de maior valor para alimentos, por influência da alta de
juros, contrabalançaram as cotações internas e influenciaram o mercado
internacional.
Produção estável, estoque crescente.
O total de grãos considerados nobres no comércio
internacional deve atingir 1.867 milhões de toneladas, valor igual ao do ano
anterior. Os estoques devem crescer entre 1 e 2%, na estimativa dos analistas do
USDA. No entanto, seria interessante reavaliar esta posição quando a poeira da
atual crise financeira internacional assentar, pois haverá movimentos de
importadores e exportadores, alterações espaciais de estoque, mudança de posição
em função da elevação de juros em diversos países. O El Niño tem sua máxima
atividade prevista para a passagem de ano, o que pode alterar as previsões
efetuadas para o Hemisfério Sul.
Açúcar
- Nosso principal problema ainda é o famigerado sistema de cotas, mas os
subsídios europeus também continuam deturpando este mercado. A produção
americana deve chegar a 7 milhões de toneladas (4 milhões de açúcar de
beterraba), superior à última estimativa, o que deve esfriar os preços no
próximo período.
Trigo
- A produção mundial de trigo foi estimada para maior, rompendo o patamar de 600
milhões de toneladas. Como o consumo não cresceu na mesma proporção, eleva-se o
estoque mundial para 128 milhões de toneladas, estimando-se o estoque final
entre 17 e 18 milhões de toneladas, traçando um quadro de estabilidade ou de
leve queda de preços.
Milho
- Os EUA continuam produzindo altas safras de milho, estimando-se uma colheita
de 237 milhões de toneladas, porém a nível mundial deverá haver uma redução de
3,5% na produção. Apesar da seca na China, a colheita deverá ser superior a 100
milhões de toneladas. No entanto, o mercado já havia se ajustado a estes valores
e à redução superior a 20% no estoque de passagem. Os EUA deverão colocar quase
50 milhões de toneladas no mercado internacional, enquanto a China colocará
quase 5% de sua produção neste mercado.
Soja -
Continua sendo a vedete das commodities. Os EUA colhem uma safra recorde (74,5
milhões de ton), com embarques somando 26,6 milhões de ton, quase a previsão da
produção brasileira (29 milhões de ton) ou o dobro da produção da Argentina.
Apesar do aumento sensacional na produção mundial, estimado em 14% e atingindo
150 milhões de toneladas, a demanda super-aquecida deverá derrubar os estoques
mundiais em mais de 30%, mantendo acesas as cotações do produto. Devido ao
aumento no processamento, os estoques de óleo e farelo permanecerão estáveis.
Bola preta para quem fez previsões pessimistas para a soja brasileira, em 1994.
Aliás, neste 3 anos, de acordo com os agricultores, tem sido a soja a salvação
da lavoura!
Arroz
- Tanto a produção quanto os estoques mundias de arroz
permanecem estáveis, com variações estimadas entre 1 e 2%. Com o mercado
monótono e previsível, os preços devem permanecer estáveis.
Algodão
- A produção mundial de algodão está estimada em 90 milhões de fardos, muito
próximo do valor de 89 milhões da safra anterior. O consumo também permanece
estável, fazendo com que os estoques se estabilizem no mesmo valor de 2,30
milhões de fardos. Preços ajustados, perspectiva de estabilidade.
-- B O X --
Importação de carne.
Em 1998, quem quiser exportar carne bovina (ou
derivados) para a Europa, terá que se sujeitar às novas regras. Entre outras,
será exigido um rótulo, identificando o país de origem do animal, o país onde
foi feita a engorda e também as características fisiológicas do animal. O Dr.
Ênio Marques, Secretário da SDA/MA reuniu-se com representantes da Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. A idéia é evitar problemas para
a colocação da carne brasileira. Estuda-se um sistema de etiquetas, que
identifique o nome do frigorífico exportador, o país de origem, data de abate,
sexo e idade das reses.
Fazendeiro de emas?
É, o mercado já havia criado o fazendeiro de
jacaré. Agora chegou a vez da avestruz e da ema. Carne de primeira, lembra o
filé mignon, com demanda crescente no mercado internacional, vale US$20,00 ao
quilo nos EUA. No Brasil, artigo de luxo, vale até R$60,00, quando é encontrada!
Uma peça de couro pode valer US$600,00, a pluma chega a US$100,00 ao quilo. É
uma boa aposta para o próximo milênio.
Leilão da Lagoa da Serra
Retirada do patrimônio do Bamerindus e em poder
do Banco Central desde abril, a empresa de inseminação artificial com 25 anos de
atuação no mercado, vai a leilão no próximo mês. Com faturamento previsto para o
ano em US$11 milhões, fruto da venda de 1 milhão de doses de sêmen, deverá estar
disponível para quem tiver um cheque estimado em R$5 milhões.
Beleza no campo
Primeiro foi o MST que colocou suas musas no
ar. Agora o é o "MCT" (Mulheres com Terra) que contra-ataca. A principal
entrevista da revista A Granja de Novembro é com Carmem Hauschildt, com Fazenda
em Catanduvas e Laranjeiras do Sul. Loira e bonita, a artista plástica de 47
anos assumiu a administração das fazendas quando seu marido, engenheiro
agrônomo, faleceu vítima de um ataque de enxame de abelhas. Para conferir.

A necessidade de uma agência de Comércio Exterior
Décio Luiz
Gazzoni
Neste momento da História recente, em que um
processo de globalização impõe a presença constante e crescente dos exportadores
brasileiros no exterior, abrindo mercado para os produtos agropecuários
nacionais, é fundamental buscar mecanismos de ampliação de nosso comércio
exterior. Entre nossos concorrentes, os Estados Unidos e outros países do
Primeiro Mundo, sempre se caracterizaram por proteger fortemente o seu
agribusiness, através de subsídios admitidos ou implícitos, artificializando
o comércio internacional de produtos agrícolas. Este protecionismo obrigou
países como o Brasil a um esforço hercúleo para manter a competitividade. Com o
advento da Organização Mundial do Comércio (OMC), os subsídios diretos ou
indiretos estão fadados a desaparecer - ou a OMC é quem desaparecerá. Isto
porque toda a consistência ideológica desse organismo se ampara na liberalização
do comércio internacional. Entendemos que, em um ambiente despojado de
subsídios, o Brasil passaria a ter uma forte vantagem competitiva original, onde
residiria a princípio sua maior oportunidade.
Para onde irá o dinheiro dos subsídios
agrícolas?
A retirada, mesmo gradual, de subsídios agrícolas não
será tão simples. Os agricultores franceses deverão parar a Europa, como tem
feito os motoristas de caminhão daquele país. O movimento que ora se engendra, e
que os próximos anos se encarregarão de comprovar, sinaliza que os países
protecionistas estão indicando, em seus planos pluri-anuais, que os recursos do
Tesouro, hoje destinados aos subsídios, se encaminharão para três outros
segmentos: fito e zoo sanidade, tecnologia agropecuária e promoção comercial.
Desta maneira, ao invés de artificializar sua competitividade, utilizarão
mecanismos que são aceitos pela OMC e pelos países que a compõem para atingir o
mesmo fim.
A promoção comercial americana
Os EUA sempre apoiaram os negócios ultra-fronteiras de
diversas formas, inclusive com pesados subsídios. Um de seus méritos foi a
antevisão de que um dia o ambiente seria alterado, e criaram uma agência ligada
ao Departamento de Agricultura (USDA) denominada Foreign Agricultural Service (FAS).
Esta agência promove as exportações americanas suportando esforços cooperativos
de desenvolvimento de mercados com a iniciativa privada; negocia a ampliação de
acesso a mercados já abertos; trabalha, conjuntamente com parceiros privados,
para denunciar e eliminar práticas desleais de comércio de outros países
(deveria fazer primeiro a lição de casa!); apoia ações globais de
desenvolvimento do comércio de produtos agrícolas; e mantém uma valiosa base de
dados e de análise do mercado de commodities.
Uma política de sucesso
A imprensa noticiou que os EUA atingiram, o recorde de
US$58 bilhões de dólares em exportações de produtos agropecuários, no ano
fiscal que se encerra, comparativamente a US$54.1 e US$43.5 bilhões nos dois
períodos anteriores. Um crescimento superior a 30% em dois anos. Orgulhosamente,
o secretário de Agricultura infla o peito para afirmar que os EUA hoje exportam
mais trigo que aço, mais carne que alumínio e mais frutas e hortaliças que
navios, barcos e caminhões, conjuntamente. E lançou à sua agência de comércio
exterior o desafio de exportar 50% mais até o ano 2000. Para o
atingimento desta meta, recursos foram alocados para suportar os trabalhos do
FAS. Sentado sobre este recorde, os americanos devem lançar um olhar de desdém
para o grande irmão do sul, onde a sociedade brasileira imagina que elevado
estágio de desenvolvimento não rima com apoio à agricultura!
E o apoio aos produtores brasileiros?
Não dispomos de qualquer tipo de subsídio à agricultura
ou aos agronegócios há mais de uma década, as tarifas de importação de
commodities agrícolas são as mais baixas de nossa economia. Neste aspecto
chegamos ao Primeiro Mundo, antes do próprio Primeiro Mundo!. Mas, apesar do
trabalho da Embrapa - hoje uma das mais respeitadas instituições de pesquisa
agropecuária do mundo - o desafio tecnológico ainda exige mais atenção e aporte
de condições por parte da sociedade. Na área de defesa agropecuária, um
agressivo programa de reformas e modernização começa a tomar corpo, objetivando,
no curto prazo, conferir competitividade aos produtos brasileiros pela via da
agregação da qualidade. Em ambos os casos, a parceria com a iniciativa privada
tem sido a mola propulsora para um novo tempo.
E o apoio ao comércio exterior?
Ações isoladas e tímidas, insuficientes e
descoordenadas. Chegamos ao extremos de assinar acordos de comércio
internacional em que os "comerciantes", ou seja, a iniciativa privada, não teve
assento nas negociações. Não teve de parte da delegação brasileira, porque
nossos concorrentes, de forma inteligente, usaram e abusaram da assessoria e da
participação dos produtores e industriais. Que atue agressivamente,
pro-ativamente, abrindo e consolidando mercados, municiando informações,
estatísticas, tendências. Que antecipe as oportunidades para os produtores
brasileiros. Mas que não cometa o erro histórico de ser apenas uma agência de
governo. Neste final de milênio, a sociedade está entendendo que os melhores
resultados provém do trabalho em equipe, e como tal uma agência desta ordem
necessita ser permeada pela participação da iniciativa privada desde sua
concepção, passando pela formulação de suas diretrizes e políticas, de seu
planejamento estratégico, de suas metas e objetivos, de sua atuação, e, sem
dúvida alguma, de seu financiamento.

O balanço do ano.
Décio Luiz
Gazzoni
Numa economia globalizada, tudo o que acontece
de importante em um país, passa a ter reflexos em outros países. O exemplo mais
didático ocorreu com o terremoto que percorreu todas as Bolsas de Valores do
Mundo, no final do mês de outubro e início de novembro. Para quem lida com os
negócios agrícolas, é muito importante estar atento ao que acontece nos
principais atores do mercado internacional, para antecipar as oportunidades e
desviar-se das ameaças. É importante ter em conta que 1997 está sendo um ano
particularmente abençoado. Dos 197 estados soberanos (dos quais 140 signatários
da Organização Mundial do Comércio), nenhum estará em guerra aberta com outro,
embora cerca de 30 conflitos internos, étnicos, tribais ou religiosos estejam em
curso, sem ameaçar a estabilidade mundial.
Com este pano de fundo, a economia mundial deve
crescer este ano cerca de 4%. Será uma das maiores incorporações de bens em
todos os tempos, coexistindo com uma das menores taxas de crescimento
populacional, resultando em aumento líquido da renda per cápita mundial. O que
significa mais renda para aquisição de produtos agrícolas. Parte desta saúde
financeira pode ser creditada ao atual ciclo de negócios dos EUA -motor da
economia mundial - porém é inegável a influência da Organização Mundial do
Comércio, na ampliação das oportunidades de negócios entre os países.
A política e os agronegócios
Neste contexto é essencial estar atento às principais
eleições dos próximos 12 meses. Após quase 20 anos de domínio conservador, os
trabalhistas assumiram o governo do Reino Unido. As razões da vitória
trabalhista repousaram no desgaste de um período prolongado de governo e a
necessidade de tentar outras alternativas. Porém, o pano de fundo da campanha
eleitoral foi a União Européia, e os impactos financeiros e comerciais que
trará. A Inglaterra foi o país que melhor se preparou para uma competição
globalizada, enxugando a estrutura governamental, efetuando as reformas
necessárias, e vitalizando o setor privado para a competição. Porém, todo o
ajuste tem o custo da impopularidade, e Margaret Tatcher e John Major pagaram o
preço eleitoral de sua política de inserção da Inglaterra na modernidade.
O impacto nos parceiros comerciais
Atravessando o canal, o presidente Jacques Chirac
dissolveu o Parlamento e convocou eleições, aproveitando sua posição ainda boa
junto ao eleitorado, tentando garantir uma base parlamentar que lhe permitisse
efetuar (com atraso) as reformas que a Inglaterra já efetuou. Precisava mesmo,
vez que a França é hoje, entre os países líderes da economia mundial, um dos
mais atrasados nos ajustes que lhe confiram competitividade no novo ambiente.
Chirac cometeu um êrro histórico, que lhe custou a maioria no Parlamento e a
forçada convivência com um primeiro ministro que é seu adversário político. E
Helmuth Kohl prepara-se para mais um ciclo de governo na Alemanha, que ainda se
ressente do custo da absorção da Alemanha Oriental, falida econômica e
tecnologicamente. Na vizinha Argentina, o presidente Menen apostou nos ótimos
índices econômicos de seu governo e perdeu. Contra todas as expectativas, a
derrota governista nas eleições parlamentares provoca uma parada respiratória
para repensar o futuro das relações multilaterais daquele país.
A eleição brasileira
Assim como nós estamos de olho nas mudanças políticas
em outros países, o mesmo se passa no exterior em relação a nós. Obviamente que,
dependendo do programa de governo que os eleitores venham a aprovar nas urnas,
altera-se o cenário comercial para os produtos agrícolas brasileiros. No
entanto, o peso específico do Brasil ainda é pequeno neste contexto. Mais
importante que a conjuntura imediata, é a disposição dos governos do Primeiro
Mundo, de cumprir na prática o compromisso que assumiram em 1994 de, no médio
prazo, eliminar os subsídios à produção agrícola. Da decisão destes governos,
depende em grande parte o futuro dos agronegócios brasileiros.
BOX
Confraria do vinho
Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho
tem agora uma Confraria do Vinho. Vai reunir conhecedores e apreciadores, para
prestigiar a qualidade e a sofisticação do vinho nacional. Mais uma excelente
iniciativa do Dr. Ormuz Freitas Rivaldo, ex-presidente da Embrapa.
Leilão da Lagoa da Serra
Retirada do patrimônio do Bamerindus e em poder
do Banco Central desde abril, a empresa de inseminação artificial com 25 anos de
atuação no mercado, vai a leilão no próximo mês. Com faturamento previsto para o
ano em US$11 milhões, fruto da venda de 1 milhão de doses de sêmen, deverá estar
disponível para quem tiver um cheque estimado em R$5 milhões.
Beleza no campo
Primeiro foi o MST que colocou suas musas no
ar. Agora o é o "MCT" (Mulheres com Terra) que contra-ataca. A principal
entrevista da revista A Granja de Novembro é com Carmem Hauschildt, com fazendas
em Catanduvas e Laranjeiras do Sul. Loira e bonita, a artista plástica de 47
anos assumiu a administração das fazendas quando seu marido, engenheiro
agrônomo, faleceu vítima de um ataque de enxame de abelhas. Para conferir.
Estoque de grãos em baixa
Com exceção do milho (5 milhões de toneladas),
arroz, feijão, trigo e soja, ficarão zerados no primeiro trimestre do ano. O
Brasil deverá ter os mais baixos estoques de grãos dos últimos anos no início da
colheita da atual safra, em fevereiro. As importações brasileiras de arroz serão
de 1,2 milhão de toneladas, e o feijão também será importado. Os estoques
públicos de milho também deverão ser totalmente utilizados para complementar às
necessidades de consumo no ano que vem, já que a primeira estimativa de safra da
Conab previu uma redução de mais de 10% na produção do grão.
Irrigação com bambu
A irrigação é sempre um investimento pesado,
especialmente por conta de tubulações e bombas, mas a Unesp desenvolveu um
sistema em que as tubulações são substituídas por bambu. Isto reduz o
investimento e facilita a manutenção: o material de reposição é colhido na
própria fazenda! Os bambus fazem realmente o papel dos canos e tanto as conexões
como os aspersores e a motobomba são os mesmos da irrigação convencional. A
diferença é o tempo de duração do "encanamento", que é menor no caso do bambu.

O ajuste de preços no mercado globalizado
Décio Luiz
Gazzoni
Queremos demonstrar que o produtor ou a
organização de produtores que almeje preço competitivo deverá buscar um
elevado status tecnológico e sanitário, complementado com capacitação em
administração rural, para que as culturas e os rebanhos possam expressar sua
máxima potencialidade genética, em decorrência atinjam a máxima eficiência
econômica. Implementar medidas positivas para incrementar o comércio
internacional. Este é o artigo primeiro da Convenção de criação da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Medidas positivas devem ser
mensuráveis, por isso as barreiras fiscais e para-arancelárias estão sendo
gradativamente reduzidas ou desativadas. Assim, vislumbra-se um incremento
jamais experimentado anteriormente nas trocas comerciais. Prenuncia-se para
os próximos anos uma ampliação das oportunidades comerciais, mas a
competição pelos nichos de mercado mais disputados, ou seja, o dos países
mais ricos, de maior renda e maior capacidade de consumo, deve tornar-se
cada vez mais intensa. |
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A base da competitividade
Neste contexto, é importante circunscrever os
principais fatores que conferirão competitividade a determinados países ou
regiões, ao tempo em que confinarão à marginalidade do mercado aqueles que
não se enquadrarem. Alguns destes requisitos são tão antigos quanto o
próprio mercado, apenas assumindo novas feições ou proporções no novo
ambiente, enquanto outros passam a assumir maior importância nos cenários
que são traçados. |
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Preço adequado
O preço sempre representou um diferencial competitivo
nas relações comerciais. Na perspectiva de globalização de mercados, que
extingue os conceitos de mercado interno e externo, Em um ambiente
competitivo, projetando-se o infinito, a tendência é de permanente ajuste de
preços em direção ao piso. O limite de deságio ou redução progressiva de
preços é o custo de produção e a combinação produtividade/custo da unidade.
Imaginando-se o futuro próximo como um ambiente de livre e alta competição,
cria-se a dualidade entre apropriação de renda (expansão do lucro) buscada
pelos atores do mercado, e a transferência de benefícios aos consumidores
(redução de preços). A dinâmica do mercado será a responsável pelo
equilíbrio entre estas tendências. O preço reduz-se até atingir o piso
representado pelo custo de produção de uma parcela expressiva de produtores.
A estes restam duas opções: ou reduzem seus custos ou são alijados do
mercado. O novo ponto de equilíbrio é representado pelo patamar de custos
ajustado, reiniciando-se o processo. |
Reduzir o custo de produção
Cabe então analisar os dois aspectos envolvidos: Em
relação ao custo de produção, a formação de preços é um processo complexo,
condicionado por externalidades nem sempre ligadas diretamente ao produto ou
à sua cadeia produtiva. Porém, os custos fixos e variáveis de produção podem
ser administrados, dentro de determinados limites, pelo produtor ou por
organizações de produtores. É fundamental o gerenciamento dos fatores de
produção, em especial dos insumos técnicos, da mão de obra e dos recursos
financeiros, como forma de racionalização de custos. Lançamos o alerta de
que, atualmente, o insumo mais raro no ambiente agropecuário é o preparo
gerencial dos produtores ou seus administradores. Paralelamente, a adequação
tecnológica e o elevado status sanitário das culturas e dos rebanhos é
condição fundamental para conferir competitividade. |
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Aumentar a produtividade
De outra parte, a relação produtividade/custo unitário
é uma das pilastras de preços competitivos. Deve-se atentar que, para cada
cultura ou animal existe um determinado potencial genético de produtividade,
que apenas se expressa em sua totalidade, se não existirem condicionalidades
para a sua expressão. Entre estas restrições estão o clima, o solo (aspecto
químico, físico e biológico) e a condição sanitária. Onde estão as
oportunidades? Na expansão da potencialidade genética e na redução das
restrições à sua expressão. O elevado patamar tecnológico (e sanitário)
será o responsável pela geração da condição de competitividade. Porém,
apenas o uso adequado de tecnologia, sob rigoroso controle técnico,
permitirá que as tecnologias apresentem a sua máxima eficiência econômica na
exploração agropecuária. |

Qualidade e competitividade nos agronegócios
Décio Luiz
Gazzoni
Época houve em que a decisão de compra era
condicionada, quase exclusivamente, pelo critério do menor preço. A
especificação técnica, e outros atributos de qualidade, é uma inserção
relativamente recente nas decisões de consumo individuais ou corporativas. Sob a
égide da globalização de mercados, a qualidade atinge seu patamar máximo como
condicionante das decisões de negócios. Passa a ser o passaporte para a abertura
dos mercados mais exigentes, e para a manutenção dos nichos de mercados mais
disputados. Característica marcante nos mercados do Primeiro Mundo, em que o
atributo qualidade já antecede o quesito preço na análise decisória dos
compradores, seus reflexos positivos se fazem notar alhures, inclusive no
mercado local do Brasil.
Melhorando a qualidade
O Brasil figura entre os países que maior esforço vem
despendendo na perseguição de um padrão internacional de qualidade, vinculado às
séries ISO 9000. Esta atitude vai permitir, no futuro próximo, um nivelamento
com os demais países que já dispõem de um conceito de qualidade solidificado no
mercado. Além da qualidade de apresentação, do design do produto, da embalagem e
demais acessórios, os produtos agropecuários necessitam preencher outros
quesitos como:
Qualidade visual.
É a primeira sensação transmitida ao consumidor, através da cor, da forma, da
textura externa e da ausência de defeitos agronômicos, representados por
deformações provenientes de técnicas de cultivo ou criação inadequados, ou
seqüelas que denunciem status zoo ou fitossanitário impróprio. Neste caso,
embora sem a presença do agente causal, o produto pode apresentar manchas,
cicatrizes, redução de tamanho ou outra alteração de forma, resultado da ação de
pragas agrícolas ou pecuárias, que depreciam o produto. É bom lembrar que a
primeira impressão é a que permanece;
Qualidade fisiológica
Trata-se das sensações organolépticas de sabor ou perfume, ou da reação ao tato.
Considera-se nesta categoria a sensação física provocada pela mastigação, o
equilíbrio entre os componentes do sabor - incluso o after taste, que é a
sensação que permanece na boca após a deglutição. A elevada qualidade
fisiológica é responsabilidade primária dos institutos de pesquisa, que criam as
novas cultivares e raças, adequadas à demanda dos consumidores. Compete ao
produtor e ao processador a observância das condições para que o potencial
genético seja expressado em toda a sua amplitude. Entre os constritores da
expressão encontram-se a inadequação sanitária, que pode alterar profundamente
os componentes de perfume, sabor, textura e forma, depreciando a qualidade do
produto.
Qualidade sanitária.
Os mercados mundiais tornaram-se muito exigentes em relação à qualidade
sanitária dos produtos destinados à alimentação humana. Contaminantes biológicos
e químicos, resultado de um baixo nível sanitário das culturas e criações,
passam a ser limitantes à penetração nos mercados com níveis de informação e de
exigência mais elevados. O mercado hoje entende que um elevado nível sanitário é
um patrimônio nacional, um fator que agrega valor aos produtos no mercado
internacional. Refugam-se as partidas que venham acompanhadas de contaminantes
(pragas) que possam representar uma nova ameaça à sanidade do país importador. O
mesmo tratamento é dispensado a uma praga que, embora presente no país
importador, possa causar danos à qualidade do produto em análise.
Competitividade e qualidade
Tendo presente que esta é resultante de um elevado
patamar tecnológico e sanitário da nossa agropecuária. Aos produtos de qualidade
inferior estarão reservados os mercados marginais, instáveis, de baixo valor. E
não é este o mercado que interessa ao produtor brasileiro.

É Natal também para os negócios
Décio Luiz
Gazzoni
E a primeira lembrança que vem é a do peru, aquele que morre na véspera. A
força dos negócios acaba por interferir até nas tradições: para dizer a
verdade, quem mesmo que come peru no Natal? São aqueles irmãos em Cristo que
gostam de preservar as tradições, e que tem uma predileção especial pela
ave. Mas, cada vez mais o Natal vai perdendo aquela marca de tradição, em
nome das necessidades da vida moderna. Sim, a ceia continua presente, graças
a Deus. Se não for blasfêmia (perdão, Padre Giuseppe!), graças ao homem do
campo também. Que tem carregado nas costas este país ao longo dos últimos
anos, e que também garante a ceia mesmo nos lares menos abastados. Não dá
para comprar peru? Vai frango, aquele do menos de um real por quilo. O
paladar é mais apurado? Chester, madam, chester que dá um prato
saboroso, melhor que o peru! |
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É o agricultor, garantindo o pão nosso de cada dia
Neste momento especial, em que os corações se abrem, em
que se faz um balanço do ano que passou, em que temos que agradecer as
graças recebidas, é importante não esquecer a tal de âncora verde. E
agradecer aos homens (e mulheres) que suportaram o peso da âncora. Âncora
verde, o que é isso, uma âncora cheia de limo de um barco abandonado? Não, é
o agricultor brasileiro ajudando a garantir o sucesso do plano de
estabilização econômica – o Plano Real - através da oferta de produtos a
baixo custo. O tal do frango a menos de um real. Mas não só o frango, como
outras carnes, o leite, os legumes, as verduras e os grãos. Em parte pela
redução de custos e ampliação de produtividade, mas em grande parte forçado
por um escancarramento da economia brasileira, mais especialmente dos
produtos agropecuários. Pressionado pela concorrência externa, que aqui
colocou produtos a baixo custo – muitas vezes fruto de pesados subsídios na
origem, o agricultor não teve outra saída que não ser eficiente. Basta
lembrar o leite europeu, que nos foi empurrado goela abaixo por US$900,00 a
tonelada, quando o mercado internacional indicava US$2.000,00 ou mais. |
A pressão da concorrência
O agricultor brasileiro chegou ao Primeiro Mundo antes
dos agricultores do Primeiro Mundo. O tal do discurso da liberalização dos
mercados, do fim dos subsídios e dos artificialismos, ainda não se
transformou em realidade nos Estados Unidos ou na Europa. Hoje, o Brasil é o
país de maior peso na produção agropecuária mundial que não dispõe de
qualquer subsídio à agropecuária, implícito ou explícito. Também aqui se
praticam as menores tarifas alfandegárias na importação de produtos
derivados de animais ou vegetais, ou mesmo de produtos in natura.
Negociou mal a abertura da economia, sem prever um período de transição e
adaptação. O nosso agricultor reclama, e reclama forte do Mercosul. Sob sua
ótica, as queixas são corretas: o Brasil não negociou a abertura dos portos,
a redução das taxas alfandegárias. Não teve o vislumbre, por exemplo, da
Argentina, que procurou garantir um período de adaptação ao novo ambiente. |
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Um legítimo negócio privado
O Papai Noel do campo está sendo severo. Muito suor,
muito trabalho para garantir a renda agrícola, em valores inferiores ao que
foi obtido em épocas passadas. Novamente, fruto da necessidade de adaptação
à competição. Parece que o agricultor brasileiro terá que aprender, a duras
penas, que não lhe resta outro caminho que não o da alta eficiência, da
produtividade, da qualidade, enfim da competitividade. E que, quanto menos
governo, tanto melhor. A agricultura caminha para ser um negócio
legitimamente privado. Onde houver necessidade de governo, que o seja em
forma de parceria, de responsabilidades compartilhadas. Desta forma, será
possível garantir o Feliz Natal, e também o Próspero Ano Novo não apenas
desta geração, mas das próximas gerações de agropecuaristas. |

Competitividade num mercado globalizado
Décio Luiz
Gazzoni
Além do preço e da qualidade dos produtos
agropecuários, que já discutimos, outros fatores contribuem para conferir
competitividade na ferrenha disputa por um mercado globalizado. Entre eles
deve-se considerar:
Proteção ambiental - Os movimentos
ecológicos migraram do exotismo do discurso para a inserção na sociedade
globalizada. Hoje é inquestionável a necessidade de um sistema de produção
sustentável, para garantir a sobrevivência do negócio agrícola por diversas
gerações. Observa-se um aumento no número de consumidores que exige que a
produção agrícola seja efetuada com respeito à Natureza, indo ao limite do
boicote aos produtos de países que não respeitem esta regra. Em
contrapartida, dispõem-se a pagar um prêmio por produtos que estejam acordes
com a filosofia conservacionista. Os grandes bancos internacionais somente
liberam recursos para investimento na agropecuária mediante laudo favorável
do impacto ambiental do projeto. A proteção ambiental rima par i pasu
com um elevado status tecnológico e sanitário, voltados para uma produção
agrícola sustentável. |
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Diversificação - O mercado mundial se
encontra em uma fase claramente mutante, e nós queremos crer que esta será
uma das características que marcarão o mercado nos anos próximos. Significa
afirmar que os atores deste mercado devem estar permanentemente atentos à
abertura de novas oportunidades comerciais, em função do surgimento de novas
demandas, ou a alteração de alguma característica de um mercado tradicional,
criando segmentação de consumidores que exigem características específicas
de determinado produto. Duas exigências do momento ilustram essa condição:
consumidores que se dispõem a pagar um prêmio por produtos agropecuários
produzidos na ausência de agrotóxicos ou adubos químicos; e os chamados
produtos "religiosos", em que os regulamentos da religião exigem que a
produção, abate ou processo de transformação siga determinadas regras. Deste
modo, diversificar significa não apenas buscar outras alternativas
agropecuárias, como também novos sistemas de produção e transformação para
atender a mercados específicos. É necessário Ter presente que, para o
produtor inserir-se num mercado diversificado, há necessidade de utilização
de alta tecnologia e a manutenção de um elevado padrão sanitário. |
Garantia de entrega - Os negócios
internacionais buscam sua rentabilidade em detalhes que passam
imperceptíveis aos não iniciados. A redução dos prazos entre a aquisição do
produto e sua colocação à disposição do consumidor final significam reduções
de custo de armazenagem e de carregamento de estoques, e são medidas em dias
ou até horas. Para tanto, o cumprimento do prazo avençado é fundamental.
Porém, não é apenas no curto prazo que reside sua importância: os grandes
importadores buscam fixar contratos de largo prazo, que podem inclusive ser
repassados a terceiros, para garantir seu mercado tanto na ponta da compra
quanto da venda. Se o vendedor não cumprir seu prazo ou seu volume, a cadeia
de comércio fica prejudicada. Portanto, um vendedor que cumpra o prazo de
entrega fixado sempre terá melhor inserção no mercado. O que permite o
cumprimento destes prazos é a estabilidade da produção, fruto de uma alta
condição tecnológica e de um elevado estado sanitário. Cumpridas estas
condições, apenas fatores imponderáveis, como condições climáticas muito
adversas afetarão sua previsão de produção. |
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Parcerias estratégicas
- Preço, qualidade e demais componentes da competitividade são importantes,
porém os grandes negócios são movidos por condições adequadas de
financiamento, que permitam completar a cadeia de negócios e reutilizar os
recursos para iniciar um novo ciclo. Este é inclusive um ponto de
controvérsia entre os membros da OMC, pois diversos países concedem
financiamentos com recursos públicos, com prazos e taxas que implicam na
obtenção artificial de competitividade para quem não completou o ciclo de
produção com esta característica. |
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Publicidade
- Pouco adiantaria um país ou um estado ser competitivo, se não investir
adequadamente na criação da imagem deste produto junto ao seu público
consumidor. Não se trata apenas da publicidade do produto, mas de um
trabalho permanente de abertura e consolidação de mercados, um legítimo
processo permanente, de longo prazo. As questões de tecnologia e sanidade
também permeiam a publicidade, pois a imagem que se pretende transferir
necessita corresponder aos anseios do consumidor, para que se cumpram as
metas de longo prazo. Não basta criar uma imagem, ou um impulso se consumo,
é necessário conferir sustentabilidade, em especial através da qualidade,
para fixar a imagem do produto. |

A ALCA e os agronegócios: ameaça e oportunidade.
Décio Luiz
Gazzoni
Os produtores e componentes do "agribusiness" brasileiro tem muito a ganhar,
mas também muito a perder com a instauração da ALCA (Área de Livre Comércio
das Américas). Rememorando, há cerca de três anos, os presidentes dos países
das Américas (à exceção de Cuba) reuniram-se em Miami para firmar as bases
da ALCA. Em números, significa uma área correspondente a um terço do planeta
e um sexto da sua população; representa mais de um terço do PIB mundial e
mais de um quinto das trocas comerciais. Sem dúvida é tentador participar de
um bloco com estas características. Aí está a grande oportunidade, ou seja,
um amplo mercado para a colocação de produtos made in Brasil, em
condições favorecidas em relação aos alienígenas ao bloco. |
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Onde está a ameaça para o Brasil?
A ALCA é um enorme desafio: cerca de 90% deste mercado
é representado pelo atual NAFTA (EUA, Canadá e México), e dentro deste
bloco, sem dúvida alguma a posição americana é hegemônica sob todos os
aspectos de análise. Possui uma economia estruturada, hipercompetitiva,
agressiva e capilarizada em todo o mundo. Os americanos possuem a capacidade
de vislumbrar oportunidades de negócio nos locais e momentos mais díspares,
porque se prepararam para tanto. E, lá os setores público e privado agem em
estreita articulação na captação destas oportunidades, constituindo-se em
legítimos parceiros comerciais. |
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Analisando sob uma forma global, desde o ponto de vista brasileiro,
necessitamos conferir competitividade aos nossos produtos para competirmos
par i pasu com o grande irmão do Norte. Necessitamos atualização
tecnológica, agregação de qualidade, organização das empresas, alta
capacidade administrativa e negocial, qualificação de mão de obra, presença
no mercado internacional, melhoria intrínseca e de design de nossos
produtos, entre outras melhorias no setor privado. Precisamos também de
adequação do parceiro governo, na busca de melhor adequação tributária,
reforma do setor público, política de comércio exterior, manutenção da
estabilidade econômica, planejamento de longo prazo; e de ações conjuntas
como na área de infra-estrutura (energia, transporte, portos, aeroportos,
estocagem), inovação científica e tecnológica, e formação e treinamento de
mão de obra. |
A oportunidade para os agronegócios
Visualizando a questão sob este ângulo dos agronegócios,
a situação é um pouco mais confortável, posto que a agropecuária avançou
alguns pontos na direção da globalização, que ainda precisam ser trilhados
pelos demais setores da economia brasileira, como a eliminação de subsídios
e a baixa carga fiscal na importação de produtos agropecuários. O que
significa que, por este aspecto, os agronegócios estariam mais favorecidos
que os demais setores. Ainda neste momento, a grande inovação em termos de
parceria governo-iniciativa privada ocorre na área de sanidade agropecuária,
quando Brasília formula uma política que acena claramente na direção de o
governo tornar-se uma linha auxiliar na colocação de agro-produtos no
exterior, chamando a iniciativa privada para participar da formulação, da
gestão e da execução das políticas de sanidade; e na área de tecnologia
agropecuária, onde a diretriz prioritária acena no sentido do atendimento da
demanda captada junto ao setor primário, em substituição à oferta de
tecnologia, ao tempo em que governo e iniciativa privada se associam na
geração e difusão de tecnologia. Neste aspecto, os ideólogos da Reforma da
Política da Defesa Agropecuária estão com o foco claramente voltado para
2005, data prevista para a entrada em vigor dos acordos da ALCA. No mesmo
sentido, propugna-se que os empresários privados tenham assento paritário
nas comissões de negociação dos acordos internacionais na área de
agronegócios. |
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A ameaça para os agronegócios
Porém a ameaça também está presente junto aos
agronegócios. Ao tempo em que os EUA são o maior mercado consumidor
(oportunidade para nós), é também o maior produtor agrícola do mundo (ameaça
para nós). Particularmente, cremos firmemente que o Brasil pode ser
altamente competitivo e levar vantagem no comércio bilateral de agronegócios.
Porém, antes de aprofundar qualquer negociação multilateral em relação aos
aspectos tributários, legais, aduaneiros, etc., todos os demais países devem
exigir dos EUA o cumprimento prévio de dois compromissos já assumidos no
âmbito da OMC: a eliminação dos subsídios e o fim das sobretaxas e das cotas
importação. Será necessário também eliminar o conceito de "nação mais
favorecida" e revogar a lei Helms Burton, que interfere perniciosamente no
comércio internacional. |
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Precisa uma "prova de amor" dos americanos
Extirpados estes artificialismos, será estabelecida a
legítima verdade competitiva, e se tornarão claras as necessidades de
negociação dos demais aspectos. Sem o pagamento adicional de US$454,00 por
tonelada de suco de laranja, sem a cota que restringe a 10% do mercado
americano nossa exportação de açúcar, sem as taxações do álcool, fumo e
outros produtos agropecuários, podemos começar a negociar firmemente a
integração regional, uma ótima oportunidade para todos. Mas que somente será
ótima se os EUA derem uma clara "prova de amor" à integração, adotando
liminarmente as medidas acima. Caso contrário, sempre ficará no ar a idéia
de que a ALCA apenas esconde o desejo norte-americano de ampliar seu mercado
exportador, sem oferecer a contrapartida de abertura de seu mercado interno.
Esta é a razão pela qual o Brasil, o Mercosul, e os demais países devem
insistir na eliminação dos protecionismos americanos, como condição sine
qua non para avançar nas demais negociações. |

A OMC e os hormônios de crescimento animal.
Décio Luiz
Gazzoni
Aproxima-se do desenlace uma das disputas comercias mais renhidas da área de
agronegócios, envolvendo mais de US$100 milhões ao ano: a proibição de
importação de carne na Europa, proveniente de países que utilizam hormônios
de crescimento em seus rebanhos. Desde o início desta década, a União
Européia não permitia a importação de animais e de carne dos Estados Unidos,
se criados com hormônios de crescimento. Tendo em vista que todos os países
que reviram seu uso, concluíram pela inocuidade à saúde humana de seis
hormônios comerciais, os EUA objetaram esta restrição. O Codex
Alimentarius, organismo que estabelece padrões de segurança para
alimentos, concluiu pela segurança de uso de cinco destes produtos. Três
destes hormônios estão naturalmente presentes em todas as carnes – e em
todas as pessoas. As pesquisas demonstraram que as doses aplicadas no gado
geravam níveis hormonais nos seus organismos dentro dos limites normais. Os
estudos mostraram também curiosidades como a equivalência de doses hormonais
entre 80kg de carne, obtidas de um animal que recebeu hormônio, e um único
ovo de galinha sem que à ave tivesse sido administrado o hormônio. |
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O processo de decisão da OMC
No âmbito da Organização Mundial do Comércio, o Acordo
de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) busca definir o que são
medidas objetivando a proteção da saúde humana, e quais se caracterizariam
como meras barreiras comerciais. As dúvidas são dirimidas por um painel de
especialistas, com diretrizes claras para o seu julgamento. As medidas
tomadas devem ter respaldo científico, deve existir uma análise do risco que
a ausência da medida representa para a vida ou a saúde humana, não deve
caracterizar restrições comerciais superiores às necessárias para
administrar o risco envolvido, e devem se pautar em parâmetros científicos
internacionais. |
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A solução do contencioso
O mesmo acordo encoraja a criação de painéis de solução
de contenciosos, buscando auxílio de especialistas escolhidos pelo painel,
em comum acordo com os contendores. Ao final, o painel sumaria sua opinião,
baseada nas evidências científicas fornecidas. Durante o processo de solução
da controvérsia, a União Européia argüiu que sua restrição ao uso de
hormônios de crescimento se baseava em necessidade de proteção à saúde
humana, ao passo que os EUA argumentaram tratar-se de mera barreira
comercial destinada a proteger os produtores dos países da Comunidade, que
não suportariam a competição da carne americana, ao tempo em que procuravam
demonstrar que sua carne era tão segura à saúde humana quanto a produzida na
Europa. |
O poder da OMC
Anteriormente à criação da OMC, não havia a
obrigatoriedade de os países (ou blocos de países), com divergências
comerciais, aceitarem o arbítrio de um painel de especialistas. Atingido o
impasse, os EUA impuseram aos países da UE uma sobretaxa em alguns produtos
por eles exportados, como medida compensatória, baseados na legislação
interna americana. Com o advento da OMC, e a instalação do painel, os EUA
retiraram as sobretaxas, enquanto aguardavam uma decisão, à qual associou-se
também o Canadá, com uma querela similar em relação à UE. Em meados de 1997,
os governos interessados receberam um informe confidencial, com o relatório
do painel de especialistas, que indicava não haver qualquer evidência
científica de que a carne de animais que receberam hormônios de crescimento
possa trazer riscos adicionais à saúde humana. |
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O ganho americano
A decisão foi comemorada pela representante americana
junto à OMC, Charlene Barkshefsky, que viu no episódio, além da abertura do
mercado europeu à carne americana, a clara possibilidade de complexos
assuntos comerciais, envolvendo elevadas cifras monetárias, serem
adequadamente resolvidas pelos mecanismos criados com a OMC. Já o Secretário
de Agricultura americano vibrou com as possibilidades comerciais da medida e
exigiu dos países europeus o imediato banimento das restrições. Como parece
que a Europa insistirá em manter a barreira supostamente sanitária, caberá
aos EUA demonstrarem o quanto perdem, anualmente, com este protecionismo, e
apresentar a conta à União Européia. |
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O limiar de um novo tempo
Assim, parece que uma nova perspectiva se abre no
disputado terreno do comércio internacional de carnes. Embora os EUA sejam
os primeiros interessados, sem dúvida alguma o Brasil também será afetado
por esta decisão. Num momento em que os principais estados produtores do
país se encontram na reta final para receber seu certificado de zona livre
de febre aftosa, carimbando o passaporte para a retomada das exportações aos
países mais ricos do mundo, reabre-se a questão da proibição da utilização
de hormônios de crescimento em nosso país. É importante que o assunto passe
a ser debatido com racionalidade, de olhos postos no tripé da fundamentação
científica, do interesse da saúde do consumidor e das oportunidades
comerciais para o Brasil. |
Será o fim do protecionismo?
Claro também fica a inutilidade de apelar-se para
artificialismos a fim de neutralizar vantagens competitivas legítimas, ou
direcionar o comércio internacional contra o fluxo dos ditames da OMC. Se esta
organização enfrentou o desafio de arbitrar um conflito entre as duas mais
importantes mega-potencias comerciais do mundo, está referendando sua capacidade
e sua determinação de fazer valer as convenções assinadas, que orientam
claramente para a liberação do comércio entre os países.

A quem interessam os clones?
Décio Luiz
Gazzoni
Afinal, a quem interessa a produção de
clones? Temos algum benefício social ou econômico? O artigo científico publicado
no primeiro semestre deste ano, e fartamente explorado pela imprensa, na
realidade não é um achado tirado da cartola de algum cientista louco. Antes
disto, é o resultado da contínua colocação de degraus de conhecimento, na grande
escalada tecnológica que o mundo vivencia. Sem qualquer demérito para o
experimento dos pesquisadores do Reino Unido, as contribuições para o seu
sucesso foram provenientes de diversas partes do Mundo, inclusive do Brasil.
Os clones brasileiros
Exato, aqui mesmo no Brasil, um experimento em tudo
similar ao sucesso obtido com a ovelha Dolly estava em andamento no Centro
Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, abortado por
problemas burocráticos, e, portanto, extra-ciência. Não fora a dificuldade
de liberação de recursos do Governo Federal e poderia estar o Brasil na
manchete da imprensa mundial, no centro da controvérsia sobre os clones.
Recuperado do problema burocrático, o Cenargen envereda novamente pela
trilha do domínio da técnica de clonagem animal, cujo bezerro deverá ser
parido este ano. A Embrapa utiliza uma técnica com uma variante em relação
aos pesquisadores britânicos, valendo-se de células embrionários ao invés de
retirá-las da glândula mamária. Mas, pergunta o leigo – e pergunta o
empresário rural – quais os benefícios decorrentes desta pesquisa? |
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Para que servem os clones?
Liminarmente, é importante referir que a polêmica
clonagem de seres humanos parece estar superada no momento, pois 191 nações
soberanas (das 194 existentes no Mundo) referendaram o manifesto da
Organização Mundial da Saúde que condena qualquer iniciativa neste sentido,
e estão adaptando suas legislações para impedir o desenvolvimento destes
experimentos. No campo da preservação, facilita-se a multiplicação de
espécimes de raças ou espécies em extinção, como é o caso do boi crioulo
lageano e da ovelha crioula, dos pagos do Sul; do cavalo selvagem do Norte
do Brasil, ou de seu primo pantaneiro; o porco piau e outros animais
domésticos. Porém, entre os animais selvagens, a técnica também se afigura
como uma tábua de salvação para espécies como o lobo guará, a gralha azul, a
siriema e outros, conforme citam entusiasticamente os pesquisadores do
Cenargen. |
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Ganhando dinheiro com clones
No campo econômico, a melhoria tecnológica será a
grande beneficiada, pela constante elevação da produtividade e da qualidade
dos rebanhos, em especial no tocante à ganho de peso, precocidade, produção
de leite, couro e de peles. Na área ambiental, a melhoria de microrganismos
para a degradação biológica de resíduos agrícolas ou industriais. Os
cacauais da Bahia estão sendo salvos da "vassoura de bruxa" por enxertia com
gemas de clones resistentes. |
No limiar entre o campo econômico e a área
de saúde situam-se os "implantes" de genes que codificam para alguma substância,
como hormônios ou enzimas, que podem ser utilizados no tratamento de doenças
congênitas ou adquiridas durante a vida. Descortina-se assim um novo campo de
expansão tecnológica, que vai permitir um salto de patamar tecnológico, que, ao
mesmo tempo também é um grande desafio, porque, em alguns anos, estabelecerá um
novo conjunto de parâmetros para a manutenção da competitividade em um mercado
globalizado, gerando a necessidade de permanente atualização de nosso produtor
aos avanços da ciência.

ALCA X MERCOSUL
Décio Luiz
Gazzoni
Precisamos resistir à tentação de cair neste
falso dilema, como tenta nos vender o governo americano. A princípio não existe
o conflito entre as duas organizações, desde que se entenda com clareza os
objetivos de cada participante. Vamos a eles.
Fernando Collor, você lembra dele?
Uma das poucas heranças de boa memória do governo
Collor é o entendimento de que o mundo passava por uma mudança importante, e
que as raízes da globalização de mercados estavam sendo lançadas no início
desta década. O balanço ainda é confuso, posto que se questiona a forma e a
velocidade das mudanças implantadas, assim como o despreparo das equipes de
negociação brasileira e as concessões sem exigência de contrapartidas.
Faltou também à diplomacia brasileira vislumbrar a necessidade de
incorporação da iniciativa privada às diferentes etapas de negociação. No
entanto, a compreensão de que o mundo se organizava por blocos comerciais, e
a necessidade de ser pró-ativo no processo, buscando um posicionamento
favorável do ponto de vista geopolítico, representam o saldo positivo e
inquestionável desta herança. |
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Mercosul x Alca
Salvo desencontros eventuais, as negociações no âmbito
do Mercosul tem sido justas e oferecido oportunidades eqüitativas à todas as
partes. Porque a gritaria norte-americana contra os avanços do Mercosul e a
estagnação nas negociações da ALCA? Porque os Estados Unidos tem mantido,
tradicionalmente, uma postura agressiva na defesa unilateral de seus
interesses, sem preocupar-se com o destino de seus parceiros. Qualquer
semelhança com a Lei de Gerson não é mera coincidência. Este fato fica
patente com a declaração de Jeffrey Lang, Sub-secretário de comércio
americano de que "os pactos comerciais hoje existentes nas Américas não são
suficientes, e devem ser vistos apenas como um alicerce para a ALCA".
Absolutamente correto... pela ótica americana! Apesar de não incluir os EUA,
este país foi um dos maiores beneficiados pelo acordo do Mercosul,
aumentando suas exportações para este bloco em 178% nos últimos 6 anos.
Apenas em 1996, o aumento das exportações dos EUA para o restante da América
cresceu 14,5%, contra pouco mais de 6% do crescimento global dos negócios
dos EUA com o resto do mundo. |
|
A postura americana
Ainda assim os americanos não estão contentes? Claro
que não, pois Lang classifica "a América Latina como o mercado mais dinâmico
do Mundo, para as exportações americanas", ou traduzindo em bom português,
uma excelente oportunidade de venda de produtos americanos, desde que
isto não signifique uma contrapartida equânime de exposição do mercado
norte-americano aos produtores dos demais países. O exemplo utilizado pela
mesma autoridade foi de que os EUA serão prejudicados pela Tarifa Externa
Comum (TEC) que prevê nivelamento nas taxas arancelárias entre os países do
Bloco. Por exemplo, a Argentina terá que aumentar as taxas de importação de
produtos de informática, para nivelá-las às taxas brasileiras. Este fato é
suficiente para provocar uma explosão de ira no grande irmão do Norte, pois
pode representar uma redução da venda de produtos de informática para o
Mercosul |
O protecionismo americano
No entanto, os EUA são useiros e vezeiros em práticas
comerciais protecionistas, impondo pesados prejuízos aos parceiros
comerciais, para proteger sua produção interna, quando esta não é
naturalmente competitiva. No caso dos produtos agropecuários esta posição
tem sido evidente ao longo do tempo. Por esta razão, precisamos louvar o
pragmatismo da diplomacia brasileira de manter extrema cautela nas
negociações para a formação da ALCA, ao tempo em que imprime uma velocidade
adequada ao Mercosul. Particularmente, entendemos que a ALCA será
inevitável, e deverá ser uma realidade em 2005. No entanto, esta
inevitabilidade não deve conduzir a concessões abusivas aos
norte-americanos, que sempre buscam extrair o máximo de vantagem unilateral
em uma negociação. |
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Os EUA precisam um choque de liberalismo!
Continuamos a referendar a posição já expressa em
outras oportunidades: Posto que o Brasil e os demais países do Mercosul não
se utilizam destas práticas comerciais (até porque os EUA jamais aceitariam
uma imposição unilateral desta ordem!), poderemos nos sentar e prosseguir
com as negociações para a formação da ALCA. Que poderá até absorver o
Mercosul, mas apenas quando ficar muito evidente para os atuais componentes
desse bloco que os EUA aceitaram uma negociação justa e benéfica para todas
as partes. |

Agronegócios legais e ilegais
Décio Luiz
Gazzoni
Os produtores rurais brasileiros tem seus
problemas, motivo de constantes e justas reivindicações para garantir condições
de produção. Durante o período de janeiro a março deste ano, na condição de
consultor internacional do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
estivemos elaborando o projeto de reforma e modernização do Ministério da
Agricultura da Colombia. Esta rara oportunidade nos obrigou a conhecer de perto
o setor agropecuário do vizinho país. A maioria das queixas dos produtores
colombianos são em tudo semelhantes aos dos produtores brasileiros, no que tange
às condições de financiamento da safra e da comercialização. No entanto, há
alguns problemas, que - felizmente para o produtor brasileiro – são
desconhecidos, como a concorrência com agronegócios ilegais, ou seja, o
narcotráfico.
O custo da violência
Os colombianos não tem que se preocupar com MST e
assemelhados, estes comportados e inofensivos movimentos brasileiros!
Lá, a reforma agrária segue seu curso normal, até porque a oferta de terra
chega a ser maior que a demanda! Os problemas locais para produzir são
grandes, e não se resumem apenas à falta de escala para garantir a
competitividade. A preocupação é de outra ordem: narcotráfico, quadrilhas de
para-militares e a guerrilha. Os agricultores são chantageados (tem que
pagar a "vacuna" – vacina, mal traduzindo, ou pedágio, em termos concretos),
para não serem incomodados (embora haja denúncias que a moda está pegando
por aqui também!). Proprietários são seqüestrados, administradores são
ameaçados. Em região de produção de coca, nada de agropecuária legal.
Milhares de unidades produtivas estão abandonadas. Verdadeiros focos de
aftosa, ou de ferrugens e brocas. Cultivos deixados ao léu, cabeças de gado
abandonadas no pasto. Alguns produtores optaram por uma nova tecnologia:
compraram câmeras de vídeo e os empregados que permanecem na fazenda filmam
a propriedade uma vez por semana, seguindo as determinações do proprietário.
A fita lhe é remetida, e baseado no que vê toma as decisões, que comunica
por rádio à fazenda. Pessoalmente, quase nunca comparece à sua propriedade! |
|
Convivendo com maconha, coca, papoula...
Cresce no seio da sociedade colombiana, e, pasmem os
senhores!, no conservador setor agropecuário, a luta pela legalização das
drogas, para que diminuam os impactos da concorrência desleal dos
plantadores de drogas. Enquanto o mercado de flores, frutas e grãos possui
regras claras e estabelecidas, o mercado de drogas segue um padrão próprio
de elasticidade-preço, tornando sempre atraente o risco do plantio, e
criando problemas para os produtores tradicionais. O drama do produtor e de
toda a sociedade colombiana é o da dualidade. Para maior realismo, mantemos
o espanhol castiço nesta análise do impacto das drogas sobre a sociedade
produtiva, e a dualidade das duas faces de todas as questões envolvidas: |
"...dualidad en las realidades: la supervivencia de muchos cultivadores sin
oportunidades y la adicción de miles de personas; también dos libertades: la
de la sociedad libre de drogas y la de quien sólo defiende el consumo como
desarrollo de su personalidad; duplicidad en los ámbitos: nacional e
internacional; dos mercados: oferta y demanda; doble el problema: economías
ficticias por negocios rentables, versus corrupción y violencia; y como si
fuera poco, una moral partida en dos, la práctica legalizadora y la
dogmática prohibicionista. El problema de las drogas es serio desde toda
perspectiva y más para Colombia, que sufre día a día el costo de erradicar ,
sustituir, incautar, juzgar e intentar sancionar y rehabilitar a los
culpables, con disputa por alocación de los parcos recursos públicos. Frente
a este dilema socioeconómico, médico y ético, gobierno, sociedad y comunidad
internacional tendrán que dejar a un lado la simple retórica y encontrar
soluciones concretas y efectivas, pues ¿como se podrá garantizar la
producción agropecuaria en Colombia, frente a una competencia desleal como
la que produce el narcotráfico?" |
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Um agricultor sufocado pela violência
A Colombia possui uma diversidade biológica invejável,
condições agro-edafo-climáticas, que junto com a raça e o talento de seu
povo, propiciam um potencial apreciável para a produção agropecuária. No
entanto, esta se encontra sufocada pela violência. Um dos problemas sérios
que lá enfrentamos foi a impossibilidade de conduzir campanhas de
erradicação de pragas agrícolas, por diversas razões, mas a principal delas
é emblemática: não há como colocar barreiras sanitárias no país, vez que
sequer a própria polícia nacional consegue manter suas barreiras, frente a
ação violenta e agressiva da guerrilha e dos para-militares, além dos
narcotraficantes. O custo Brasil nos parece alto (e efetivamente o é!). Mas
o custo Colombia é alto e irracional. O povo paga pelos desentendimentos
políticos internos, que levaram à marginalidade uma parte dos dissidentes
(guerrilha); pela demanda de drogas por parte dos países desenvolvidos
(narcotráfico); e, paradoxalmente, pelo desmonte de parte do narcotráfico
(cartel de Medellin), que deixou todo um exército de para-militares sem
liderança, transformados em bandoleiros, criminosos comuns (!) que encarecem
e desestimulam a produção. É bom estar de volta ao Brasil, com nossos
velhos, bons e conhecidos problemas! |

A re-orientação da política francesa e os agronegócios brasileiros
Décio Luiz
Gazzoni
A vinculação entre diretrizes políticas e
negócios comerciais está cada vez mais estreita. Examine-se os casos das
eleições parlamentares inglesa e francesa. Embora o eleitorado tenha votado com
muita similaridade ideológica, as conseqüências serão completamente diversas. No
Reino Unido, a vitória da ‘esquerda’ e a ascensão de Tony Blair ao cargo de
primeiro ministro não alterou a condução da política de integração à União
Européia e o cumprimento dos compromissos firmados com a Organização Mundial do
Comércio. A concessão de independência ao Banco da Inglaterra (o Banco Central
inglês) indica a busca de uma solução para a moeda única européia, base da
integração comercial e de serviços. Para o inglês comum, e em especial para os
homens de negócios britânicos, não foram percebidas alterações na política
governamental.
A herança do "tatcherismo"
O importante no caso da Inglaterra é que o "trabalho
sujo" já havia sido feito pelos conservadores, efetuando as reformas de
base, adequando as políticas fiscais, tributárias e previdenciárias,
privatizando empresas governamentais, retomando um ciclo de crescimento da
economia sem precedentes na década, e sem similar na União Européia, com um
dos mais baixos índices de desemprego. Então, porque John Major perdeu a
eleição, mesmo com todos os indicadores sócio econômicos a seu favor? Pelo
desgaste do prolongado período de poder e pelas seqüelas deixadas pelas
reformas. |
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O desafio para a França
A França vive situação antípoda. Historicamente
batalhando pela liderança política da UE com a Alemanha, não tem apresentado
agressividade de iniciativas. e a vitória da ‘esquerda’ francesa acaba por
reforçar o marco alemão como a grande moeda forte da Europa e a Alemanha
como o país líder da transição para a integração. Jacques Chirac antecipou a
convocação das eleições parlamentares, pensando em reforçar sua base no
congresso a fim de enfrentar as reformas necessárias à integração comercial
e econômica na Europa e no Mundo. Cometeu um enorme erro de avaliação, pois
a vitória das ‘esquerdas’ coloca um grande ponto de interrogação sobre a
capacidade da França de integrar-se ao mundo moderno. |
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A busca do "pleno emprego"
O discurso de Lionel Jospin, líder francês, foi a
antítese das propostas de Chirac, para atingir o mesmo objetivo. Atribuiu o
elevado índice de desemprego da França ao processo de globalização; prometeu
a manutenção do "welfare state" e defendeu o fim do processo de
privatizações, acenando com a estatização de alguns setores. Ambos tinham um
único ponto em comum: prometiam reduzir o desemprego. É nestes pontos que os
agronegócios brasileiros podem ser fortemente afetados, como exposto: |
1. Globalização.
A entrada na contramão do processo de globalização, com a França adotando
postura de retração comercial e aumento do protecionismo, fecha algumas portas
importantes aos produtos brasileiros, sejam produtos primários ou transformados.
Pode ocorrer a tentação de retomada do processo de substituição de importações,
sem levar em consideração seu custo econômico, reduzindo algumas oportunidades
essenciais para o Brasil.
2. Welfare state.
Os orçamentos dos países europeus não suportam mais a manutenção dos subsídios
aos três grandes sistemas: saúde, previdência e agricultura; por um lado porque
as despesas vem crescendo exponencialmente, e por outro porque a pressão
tributária atingiu o limite, e compromete a competitividade da economia e a
popularidade dos políticos. Ultrapassá-la levaria às seguintes conseqüências:
a. O risco da sonegação passa a ser
compensador, diminuindo a arrecadação total - efeito inverso ao pretendido;
b. A sociedade não suporta novas taxas e
aumento de alíquotas
c. Recursos destinados a novos investimentos,
expansão da economia e novos empreendimentos passam a ser direcionados para o
custeio de atividades sem repercussão econômica direta.
A redução da atividade econômica reduz também o
intercâmbio comercial e as oportunidades de negócios para o Brasil. A França é
uma porta importante de entrada de produtos brasileiros na Europa, e a redução
de suas compras obrigará o Brasil a ampliar sua participação em outros mercados,
para a manutenção da escala de comércio continental.
3. Subsídios agrícolas.
O ponto mais perigoso é o não cumprimento do compromisso de retirada gradual dos
subsídios à agricultura. O discurso eleitoral apontou explicitamente este
caminho, para garantir o voto das comunidades do interior, viciadas em
subsídios. A França é o país europeu que mais fortemente subsidia sua
agropecuária, gerando uma falsa competitividade de seus produtos. O
descumprimento deste ponto fundamental do acordo comercial conduzirá, num
primeiro instante, à denúncia da França e a sanções por parte da OMC. No
entanto, a médio prazo, a necessidade de concessões por razões políticas, podem
tornar letra morta o acordo duramente negociado durante sete anos na Rodada
Uruguai do GATT, que previa uma agricultura mundial livre de subsídios no início
do próximo milênio, abrindo oportunidades fantásticas para os países em
desenvolvimento, distribuindo melhor a renda mundial, reduzindo as disparidades
entre as Nações e promovendo mais justiça social.
Resta a esperança de que, lá como cá, Jospin
tenha um programa para ganhar o governo e outro para tocar o governo!

Controle de pragas: novas tendências
Décio Luiz
Gazzoni
Estamos retornando de Nashville (EUA), onde participamos da Reunião Anual da
Sociedade Americana de Entomologia, a confraria dos cientistas que se
dedicam a estudar os insetos e suas implicações na agropecuária, mas também
na saúde pública, no meio urbano, os insetos úteis como as abelhas e o bicho
da seda, entre outros ramos. Como tudo naquele país, a Sociedade é enorme:
são cerca de 10.000 cientistas associados, dos quais um quarto participou da
reunião anual. Para estar à altura da sociedade, o Hotel Opryland, onde
realizou-se a convenção possui 3200 apartamentos (o maior hotel do Paraná
dispõe de 400 apartamentos). Só de jardins internos (cobertos, em regime de
estufa) são quase 4 hectares, o que representa uma boa renda para quem
fornece todas as plantas e flores ao hotel, trocadas diariamente. |
|
Biotecnologia
Está aí a palavra chave, que vem se consolidando de uns
anos para cá. No caso do controle de insetos, as tendências para o próximo
milênio passam necessariamente pelas provetas onde impera a biologia celular
e a engenharia genética. A manipulação do código da vida, que está
permitindo romper barreiras na criação de animais e na produção agrícola,
também está trazendo sua contribuição para eliminar as restrições à
expressão do potencial genético das culturas. |
|
Vírus, bactérias e fungos
Uma parcela razoável dos investimentos governamentais e
privados dirige-se para a descoberta, a identificação, a seleção e o "engenheiramento"
de microorganismos que possam ser utilizados para o controle de pragas
agrícolas. É a forma de controle biológico que vai predominar no próximo
milênio, e provavelmente na ordem do título: vírus, bactérias e fungos. Os
fungos ainda sofrem algumas restrições de ordem ambiental, como sua
dependência de uma faixa específica de temperatura e umidade. No entanto, os
três grupos apresentam características comuns muito importantes: são
específicos para uma ou poucas espécies de insetos, são fáceis de produzir
em escala comercial, são fáceis de estocar e aplicar, e seu preço final tem
sido compatível com as exigências de uma agricultura competitiva. O uso de
predadores e parasitóides tem sido alvo de questionamento dos cientistas,
que estão avaliando o seu impacto ecológico, em especial pela sua menor
especificidade. |
Variedades resistentes
Esta área está ganhando enorme impulso, movida por
portentosos investimentos privados. Já se pode encontrar milho ou algodão
resistentes a diversos insetos, em especial pela introdução do gene que
codifica para a toxina da bactéria Bacillus thuringiensis. Porém, os
cientistas estão buscando entender os mecanismos de resistência, e
manipulando o código genético das plantas, transferindo genes entre espécies
vegetais, para resistência a determinados insetos. As novas variedades e os
microorganismos devem conter a demanda por inseticidas químicos no próximo
milênio. |
|
Inseticidas químicos
Saem de cena aqueles venenos velhos conhecidos, que
matavam tudo, de insetos a bois ou homens. A ordem agora é segurança e
especificidade. As novas moléculas somente são comercializadas se
demonstrada sua segurança aos demais seres vivos. Além de atender aqueles
mesmos requisitos de se tratou acima para os micro-organismos. |

O preço do descaso com a fitossanidade
Décio Luiz
Gazzoni
Existem diversos exemplos de pesados ônus
econômicos, sociais e ambientais devidos à desatenção com a questão
fitossanitária. Negócios foram inviabilizados ou tiveram sua rentabilidade
comprometida, empregos esfumaçaram-se e o ambiente foi agredido por falta de um
tratamento adequado da questão sanitária. De todos os exemplos marcantes, vamos
ficar com um dos mais recentes: a crise da cacauicultura da Bahia.
A decadência do cacau
O cacau foi introduzido no estado da Bahia há 250 anos,
tendo sido a base da economia baiana nos últimos 150 anos. Em especial no
período entre o final do século XIX e os anos 60, o cacau foi a grande fonte
de riqueza e progresso do estado, muito especialmente do sul da Bahia,
conforme imortalizado em prosa e verso, através de Jorge Amado e dos
cancioneiros da Bahia. Os recursos tributários, e também a poupança privada,
obtidos com as exportações do cacau – cujo preço alcançou US$4.500,00/tonelada
– construíram cidades e forjaram sua infra-estrutura, como estradas,
escolas, postos de saúde, hospitais, presídios e a estrutura de lazer e de
turismo da região. O sistema de produção de cacau sempre foi um exemplo de
conservação da Natureza, pela forma de integração da lavoura com a vegetação
local, pelo sistema de conservação de solos, e pela não utilização de
agrotóxicos. A região destacava-se da pobreza nordestina como um enclave de
conforto e bem-estar, com progresso sustentado, com emprego quase pleno, e
um forte intercâmbio cultural com a Europa. |
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A chegada da vassoura de bruxa
A chegada do fungo Crinipellis perniciosa,
causador da vassoura de bruxa, apanhou a todos de surpresa. O sistema
quarentenário não estava à altura do desafio, não havia um sistema de
vigilância para detecção precoce da ocorrência de novos episódios
sanitários, não havia um sistema de emergência quarentenária para ação
pró-ativa, tão logo fosse detectado o problema. Devassadas estas barreiras,
o aparato tecnológico mostrou-se incapaz de responder de imediato com um
sistema de produção alternativo, que permitisse a convivência com o novo
problema, sem afetar a qualidade e a produtividade do cacau. |
Perdendo 1 bilhão de dólares!
Esta seqüência de erros foi decorrente de
desinvestimentos ocorridos tanto na área de pesquisa tecnológica, quanto de
defesa agropecuária, ao longo da década anterior. A deterioração das
condições para que as ações de defesa agropecuária tivessem a elevada
efetividade requerida pela proteção do negócio agrícola, assim como a falta
de investimentos e de diretrizes claras para a prevenção do problema, levou
a um prejuízo equivalente a US$1 bilhão. Este valor representa a perda de
637.000 toneladas de cacau que deixaram de ser colhidas após a introdução da
vassoura de bruxa. Dos 600.000 hectares plantados com cacau, 150.000 estão
perdidos e 450.000 estão contaminados, levando ao desespero 12.000
produtores que devem aos bancos US$250.000,00. Não foram apenas os
produtores que perderam: 250.000 pessoas que trabalhavam na lavoura
cacaueira perderam o seu ganha-pão, e hoje perambulam pela região sul da
Bahia à busca de alguma oportunidade de sobrevivência para si e para sua
família. |
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De exportador a importador
Uma região outrora progressista e de futuro previsível
vive uma clara crise, com a decadência da cultura do cacau, chegando ao
extremo de importar o produto. Tardiamente, busca-se o investimento em
formas de controle e de convivência com o fungo causador da vassoura de
bruxa, buscando a retomada do ciclo de progresso, a partir de um novo
sistema de produção. Entretanto, caso as lideranças responsáveis houvessem
atentado há duas décadas, para a necessidade de investimentos crescentes e
constantes em tecnologia e sanidade agropecuária, com recursos inferiores a
1% dos prejuízos havidos até o momento, todo o impacto social, econômico e
ecológico que se esparrama pelo sul da Bahia, teria sido evitado. |

Reprodução Animal: o Futuro Chegou?
Décio Luiz
Gazzoni
Em verdade, em verdade, ainda não chegou e
talvez nunca chegue, no sentido de que os avanços científicos e tecnológicos
rompem novas barreiras a cada ano, e de sã consciência ninguém pode afirmar que
atingimos um patamar de difícil superação. Hoje não há mais condição econômica
de prosseguir na atividade a menos que se mantenha um estágio mínimo de
atualização tecnológica, pois a base da competitividade tem uma de suas
pilastras na modernização tecnológica.
Os avanços da pecuária
Os avanços genéticos sempre estiveram de
braços dados com a pecuária leiteira e de corte. Aliás, a genética aplicada,
o melhoramento genético tiveram na exploração da bovinocultura um de seus
mais importantes laboratórios a céu aberto. A diversidade genética do Bos
taurus muito contribuiu para tanto, porém o entendimento de que a
biodiversidade tinha um componente econômico importante foi a alavanca que
permitiu colocar a ciência a serviço da produção de carne e de leite.
Inicialmente, foram os trabalhos empíricos de adaptação do gado a
micro-climas específicos, que levou à proliferação de raças na Europa,
particularmente na Inglaterra. |
|
Depois, houve o desafio de aclimatar a espécie
a ambientes bem diferentes, em especial quando a pecuária avançou pelo Novo
Mundo, incorporando áreas tropicais e subtropicais à produção. Neste
aspecto, as raças zebuínas prestaram uma colaboração ímpar, permitindo a
expansão dos rebanhos para áreas que não eram propícias às exigências das
raças européias. No entanto a pecuária sempre buscou a sofisticação,
utilizando o ferramental genético disponível, ou rompendo as fronteiras da
ciência. Primeiro foram os cruzamentos industriais, buscando explorar ao
máximo as potencialidades de cada raça, corrigindo defeitos adaptativos ou
adequando a oferta às exigências qualitativas do mercado, sempre tendo em
vista o aumento da rentabilidade econômica. |
A inseminação artificial
A inseminação artificial foi o passo lógico na
seqüência de busca de melhoria qualitativa e de aumento da rentabilidade,
permitindo a expansão quase ilimitada dos rebanhos com base nas
características dos melhores reprodutores, abrindo um portfólio de
oportunidades aos criadores que desejassem melhorar continuamente seus
rebanhos. Serviu também para eliminar barreiras geográficas, ao permitir o
transporte do sêmen entre localidades distantes. Foram-se os tempos
românticos em que o pião levava a vaquinha ao sítio do compadre para ser
coberta pelo touro que havia sido escolhido por critérios empíricos, ou
pior, por ser a única opção disponível. |
|
O futuro chegando
A necessidade de melhoria não tem limites. Seguiu-se a
técnica de divisão de embriões, que permitia aproveitar duplamente as
características do pai e da mãe, ampliando também as possibilidades de uso
de matrizes superiores, na melhoria da qualidade dos rebanhos. Foi a
ante-sala da clonagem, tema da moda até pouco tempo, por haver suscitado
discussões éticas profundas e temores de distorção de seu uso, ao
vislumbrar-se a possibilidade de utilização da técnica na reprodução humana.
Entretanto, do ponto de vista da reprodução animal, abre perspectivas
incríveis, ao permitir multiplicar assexuadamente, em número teoricamente
ilimitado, matrizes e reprodutores de elevado ganho de peso ou produção de
leite. Esta técnica, associada a modelos matemáticos de alta precisão, que
permitam associar e interagir as diversas características do animal e do
ambiente, e do mapeamento cromosômico, que reportam ao cientista exatamente
qual a localização e qual a função de cada gene, abrem perspectivas que
pertenciam ao imaginário da ficção científica até pouco tempo. |
Clonagem de animais
Mas comentamos que a polêmica da clonagem está
superada. Superada porque os cientistas romperam uma nova fronteira, que
também contém possibilidades ilimitadas. Trata-se da clonagem associada ao
"implante" de genes de outras espécies: ovelhas foram clonadas contendo
genes de embriões humanos. Aparentemente uma fantasia de cientistas
remunerados para brincar com equipamentos sofisticados e de alto custo. Na
prática uma gama entusiasmante de novas possibilidades para a biotecnologia,
em especial para a farmácia e a medicina. Além de carne e leite, além de
ovos, os animais domésticos podem passar a produzir substâncias específicas,
encontradas em outras espécies, em especial no Homem, com custo muito
reduzido em relação à produção industrial, com melhor controle de qualidade
e com menores riscos à Humanidade e ao ambiente. Pode significar a produção
em larga escala de insulina, de hormônios de crescimento, de hormônios
reprodutivos, ou de outras substâncias essenciais para o desenvolvimento
normal do ser humano, e que, por problemas congênitos, encontram-se ausentes
ou em baixas doses em determinados organismos. Será mais uma missão nobre de
animais domésticos em prol do conforto da Humanidade, e, sem dúvida, um
filão de oportunidades para os pecuaristas, que agora também podem ser
criadores de hormônios! |
|
Ciência e competitividade
Não é apenas no melhoramento genético que a ciência vem
contribuindo, mas também na saúde animal e na conversibilidade e qualidade
dos alimentos. No entanto, conforme aumentam as perspectivas de melhoria
genética, diminuem as constrições à expressão do potencial máximo dos
rebanhos, melhorando sua qualidade e sua produtividade, permitindo colocar
um animal para o abate precocemente e a um menor custo. Como tal, aumenta a
oferta e a disponibilidade da carne e do leite junto aos consumidores. Pela
inexorável lei do mercado, este fenômeno significa redução de preços,
parcialmente compensada pelo aumento do consumo per capita decorrente do
aumento da renda urbana, e da própria queda de preços dos produtos. Porém,
este aumento não será suficiente para contrabalançar a tendência histórica
de longo prazo, em que os avanços tecnológicos beneficiam num primeiro
instante o produtor, mas no instante seguinte também o consumidor. Eis
porque afirmávamos acima Os criadores que não atentarem para a modernização
tecnológica e para a necessidade do mais elevado estado sanitário de suas
criações são sérios candidatos a serem ex-pecuaristas no curto prazo. |

O que nos espera em 1998
Décio Luiz
Gazzoni
Comecemos pela conclusão: este ano será
monótono e, provavelmente frustrante, a observar pelo ângulo dos cenários mais
otimistas. O Brasil continuará deitado em berço esplêndido, sem conseguir
transformar em realidade seu potencial de celeiro do mundo. Como contraste,
podemos verificar que, exclusivamente a produção de soja americana se aproxima
do volume global de grãos produzidos no Brasil.
Quanto vamos crescer?
Míseros e vergonhosos 2,5% sobre a safra de grãos
anterior. Apenas 2 milhões de toneladas a mais! Se considerarmos apenas a perda
na colheita com a mesma cultura de soja acima, chegaremos a conclusão que um
melhor cuidado na colheita, armazenagem e transporte pode produzir este mesmo
efeito. Muito pouco para um setor que responde por mais de 30 milhões de
empregos e tem um PIB superior a US$300 bilhões. O acréscimo na produção será de
aproximadamente 300 milhões de dólares, ou 0,1%.
Onde vamos crescer?
Aí está o segundo problema: a cultura da soja cresce 5
milhões de toneladas, para o recorde de 31 milhões, alavancada pelos altos
preços do mercado internacional (onde andam os arautos do fim do ciclo da soja,
que o previram em 1994? A soja tem sido a salvação do campo nos últimos 4
anos!). Porque o problema: porque os fatores exógenos tem mais importância que
as motivações internas, o que significa que uma alteração da demanda,
consequentemente do preço, pode rebaixar o patamar de produção da oleaginosa, e
comprometer o crescimento futuro da agricultura. O algodão apresentou uma
intenção de plantio superior a 90% em relação à última safra, porém sobre um
patamar de produção muito baixo, o que relativiza seu crescimento. O setor
sucro-alcooleiro esboça uma reação, assim como o mercado cafeeiro.
Onde estacionamos?
Em quase tudo. O milho vem encontrando preços
desestimuladores, arroz e feijão crescem vegetativamente, cerca de 3% cada.
Produtos pecuários e derivados continuam em crise, à espera de que o fundo do
poço tenha sido atingido, sonhando com uma recuperação do setor de leite e
derivados, e também a retomada da exportação de carne, a partir da melhoria do
ambiente sanitário.
O balanço comercial
O setor deve manter um elevado superávit nas contas
externas, contrabalançando o pesado déficit de outros setores da economia,
situando-se entre 10 e 12 bilhões de dólares, a partir de exportações que devem
se aproximar dos US$30 bilhões, dependendo das cotações externas das principais
commodities. Este sim é um número que nos permite uma euforia moderada, pois o
superavit comercial setorial cresceu quase 150% nesta década. Mas poderia ser
muito maior!
O mercado interno
Não são esperadas grandes emoções no mercado local,
pois o governo está com o olho posto nas variações de preço da cesta básica,
sempre pronta a tirar do saco de maldades uma forma de contrabalançar eventuais
aumentos de preço, em especial recorrendo a importações tópicas. As flutuações
de preço devem ser meramente sazonais e a variação da cesta básica deve ficar
abaixo do índice da inflação geral da economia.
A produtividade
A oferta de tecnologias adequadas e sua adoção pelo
produtor rural foram os grandes responsáveis por manter o mercado abastecido, e
assegurar o superávit comercial. A produtividade geral da agricultura cresceu
mais de 25% na última década, pontuando o arroz com 70% e o algodão com 50%,
seguindo-se feijão com 43% e milho com 34%. Também apresentaram crescimento
positivo a soja com 23% e o trigo com 10%. Em algumas culturas estamos os
aproximando dos tetos produtivos da média dos países mais adiantados, com custos
competitivos.
Onde estamos falhando?
Basicamente na falta de agressividade comercial na
abertura e consolidação de mercados nos produtos tradicionais, como grãos ou
café, onde mais somos comprados do que vendemos. Na falta de condição sanitária
para colocação de alguns produtos nos mercados mais exigentes, como é o caso da
carne e de algumas frutas temperadas. Não exploramos a potencialidade das
vantagens competitivas que temos em frutas tropicais, ainda um mercado marginal
frente aos números que formam o mercado internacional e face à potencialidade
brasileira. Hortaliças representam um mercado rico e disputado, do qual o Brasil
não participa. As flores também se constituem em um mercado rico, que paga bem e
pontualmente, do qual o Brasil é um número do final do quadro de estatísticas.
Falta uma visão arrojada das oportunidades de mercado, um trabalho sério e
ininterrupto nas áreas de tecnologia e sanidade, e o foco na parceria
governo/iniciativa privada, buscando consolidar o país como um grande produtor
agropecuário.

Música, Candomblé, Praia e...Negócios. Axé, Bahia!
Décio Luiz
Gazzoni
Para os brasileiros em geral a década de
oitenta foi a década perdida, a de noventa a da tentativa de adaptar-se a um
novo ambiente. Seja o ambiente interno, da estabilização da moeda, seja o
externo, da globalização de mercados. E uma máxima extremamente importante no
mundo dos negócios é: quando muda o paradigma, tudo volta à estaca zero. Não
interessa quão bom você era no paradigma anterior, importa o quanto se ajusta ao
novo paradigma. Querem um exemplo baiano: o Banco Econômico era um dos maiores
conglomerados financeiros do Brasil, quando as finanças nacionais eram
desorganizadas e a inflação de três (ou mais) dígitos. Não sobreviveu a um ano
de moeda estável, porque a maior parcela de seu "income" não era operacional,
provinha das oportunidades escondidas nos desvios do caos econômico (sem
trocadilho!).
A estabilidade política
Não cabe aqui analisar a conduta de Antonio Carlos
Magalhães, ser pró ou contra ACM. O fato é que a Bahia goza de um tipo especial
de estabilidade política, derivada da forte presença de ACM no cenário político
estadual. A oposição é tímida, esfacelada e não consegue articular-se para ações
organizadas. Nesta condição, quem dita as prioridades e diretrizes do estado é o
senador baiano, que também se encarrega de garantir o cumprimento das grandes
metas, e, sem dúvida alguma, inflar sempre mais sua onipresença. E lá senador ou
deputado de qualquer partido jamais ousaria pensar em bloquear um recurso
federal ou internacional destinado a investimento na Bahia.
A atração de investimentos
O governador Paulo Souto é um homem discreto, mas um
técnico renomado e tem se revelado um negociante de mão cheia. Uma das
diretrizes do grupo político dominante na Bahia é a modernização e o progresso
econômico do Estado. Coube ao governador pilotar a nau que conduz a este porto.
Neste front, já visitou quinze países da Europa e da Ásia, atraindo
investimentos para o estado. Até pouco tempo o estado era sustentado
exclusivamente pela renda agrícola. Veio a fase da transformação, da
agroindústria e logo após do polo petroquímico. Agora a Bahia resolveu investir
na indústria automobilística.
As novas indústrias
Ásia Motors, Dealin, Skoda, Hyundai, Malagutti e Poggio
são alguns dos santos recém chegados ao terreiro baiano. Um grupo de respeito,
mas o governo do estado também trouxe Azaléia, Kildare, Ramarim, Picadilly e
Bibi, somente mencionando alguns pesos-pesados da indústria calçadista. E o
turismo, o lazer, uma das vocações da Bahia? Na sua próxima viagem à Boa Terra,
não deixe de visitar o Wet’n Wild, um dos parques temáticos, junto com o
Paradise Park. São dezenas de milhões de dólares de novos investimentos.
Um arco de investimentos
Os negócios não param por aí. O atual governo atraiu
grandes e médias indústrias para se estabelecerem na Bahia, como a Tramontina, a
Schincariol, a Kaiser, a Ceval, a Latapack-Ball. Em Canaçari estabeleceu-se a
multinacional Bayer, enquanto outra multinacional, a Dow Chemical expande-se a
nível internacional, adivinhem por onde? Pela Bahia! Porque? Eis que de 94
plantas, instaladas em 30 países, a da Bahia está colocada em primeiro lugar no
ranking da Dow Chemical, quando computada a relação custo/unidade de produção.
Axé Bahia!

É a Bahia subindo no ranking da Federação.
Décio Luiz
Gazzoni
A meta das lideranças políticas baianas é muito
clara: abrir o terceiro milênio como o quarto estado no ranking econômico
brasileiro, passando a perna no Paraná e no Rio Grande do Sul. Para tanto, o
esforço na atração de investimentos tem sido ímpar, num momento em que todos os
estados disputam os capitais produtivos disponíveis.
A contrapartida de infra-estrutura
Há uma guerra fiscal em curso, entre os estados
brasileiros, para atrair novos investimentos. Mas esta é apenas uma das iscas
que atrai um empresário. O restante da lição de casa é composto por comunicação,
transporte, portos e aeroportos, estocagem e armazenagem, energia. Com recursos
próprios, em especial provenientes da privatização de estatais, ou de outras
fontes, a Bahia tem procurado antecipar-se ao reclamos dos empresários,
oferecendo as condições apropriadas para que os investimentos que aportam no
estado tenham condições de competitividade.
Agricultura em alta
A Bahia não esquece uma de suas vocações, a
agropecuária. O reflorestamento é forte no litoral do estado , tanto no Norte
quanto no Sul, trazendo junto as fábricas de papel e celulose. Os cerrados do
Oeste prometem ser um celeiro tão produtivo quanto a fronteira de Mato Grosso, e
é lá que se expande a soja e o milho, o algodão e o feijão. Em pleno sertão,
200mm de chuvas que podem acontecer ou não, brota um dos mais importantes pólos
de fruticultura do país, no perímetro irrigado do médio São Francisco,
rivalizando com o pólo de Valença, onde também se cultiva a seringueira. Somente
a Maison Bernard está investindo mais de R$100 milhões para plantar uva e
extrair aguardente, em pleno sertão. Peixe no semi-árido é negócio importante
para Paulo Afonso. A cacauicultura, que parecia bananeira que já deu cacho,
renasce das cinzas e promete retomar o ciclo de prosperidade interrompido pela
vassoura de bruxa. Sem esquecer o café, novidade nos cerrados irrigados do Oeste
baiano, onde alcança as maiores produtividades do país.
E pecuária também
São diversos pólos de pecuária, desde o litoral, em
Itabuna, estendendo-se pela faixa central do estado, de Itapetinga no Sul até
Feira de Santana, próximo a Salvador. Junto à pecuária instala-se a
agroindústria, representada pelos frigoríficos. As bacias leiteiras também se
multiplicam, com o leite e derivados arrancando o seu espaço. Cavalos de raça e
a popularíssima cabra completam o cenário da pecuária.
A Defesa Agropecuária
O Governo baiano entendeu a importância da defesa
agropecuária como parte da infra-estrutura que conferirá competitividade aos
agronegócios baianos. Este colunista foi convidado pelo governo do estado para
projetar um sistema de defesa agropecuária consentâneo com os desafios da
competitividade do próximo milênio. Um agressivo projeto modernizador começará a
ser implantado no decorrer deste ano, tendo como foco a saúde das culturas e dos
rebanhos. Será suportado por recursos ordinários do governo do estado,
transferências do governo federal e aportes da iniciativa privada. Recursos de
financiamento internacional serão utilizados para antecipar o cronograma de
investimentos, objetivando dotar o estado de um sistema de defesa agropecuária,
que confira livre trânsito aos produtos baianos no mercado internacional.
Oportunidade
Agricultores e pecuaristas de diversos estados, em
especial do Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, além de alguns paulistas
tem se aproveitado das facilidades oferecidas e capturado boas oportunidades de
negócios na Bahia. Para facilitar o contato com empresários da agropecuária, o
Secretário da Agricultura do Estado, Dr. Pedro Barbosa, determinou que sua
assessoria esteja sempre de prontidão, por fax ou telefone, para responder a
todas as consultas de interessados em investir na Bahia.

Consumidores mais exigentes
Décio Luiz
Gazzoni
Produzir num mercado globalizado está ficando
cada vez mais complexo e mais sofisticado. A menos que o produtor queira se
restringir a um mercado local e limitado, não basta apenas produzir: é preciso
ser competitivo, em especial é preciso saber interpretar os anseios dos
consumidores com respeito à qualidade. Não basta ser eficiente e eficaz, os
dogmas das décadas anteriores: é preciso ser efetivo. O atendimento das demandas
dos consumidores tem que chegar às raias da sofisticação: o consumidor tem que
estar atendido, e muito satisfeito. Estes entes virtuais – os consumidores –
estão constituindo associações, e com a força da união e da organização, passam
a ter voz e vez no outro ente virtual – o mercado globalizado.
A preocupação dos consumidores
A federação das federações de
consumidores é a Consumers International, com sede em Londres, na
Inglaterra, a qual já tem mais de 200 associações filiadas, e que tem
orientado as diferentes associações de consumidores para a defesa de seus
interesses. Entre outras recomendações, está a de exigir um banco de dados
global, para monitorar o comercio internacional de alimentos. O objetivo
deste banco seria o de impedir que um produto rejeitado como inadequado em
algum país seja desviado para outro. |
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O medo da privatização
Universalmente, tem sido conveniado que os sistemas de
inspeções de vegetais, animais e seus derivados seja uma atribuição original
dos governos. Todos os países do mundo dispõem de um sistema de defesa e
inspeção sanitária para a agropecuária, cujas ações são conduzidas pelos
respectivos governos, e que são responsabilizados por terceiras partes em
casos de desconformidades. Ou seja, uma partida de produtos agropecuários
quando exportada, tem a chancela e a responsabilidade do governo do país de
origem. Bem, eram todos os países, até que a Austrália decidiu inovar e
propor a privatização do serviço de inspeção. A idéia não foi bem aceita
pelos principais países do mundo, por conta dos convênios internacionais que
exigem a intervenção governamental. |
A ação da organização
O organismo internacional responsável pela inocuidade
dos alimentos é o Codex Alimentarius. Foi justamente a este organismo que a
Consumers International recorreu, temerosa de que inspeção privada possa ser
menos rigorosa – e portanto apresentar mais riscos à saúde – que a conduzida
pelos governos. Neste foro se dará uma das batalhas, onde argumentos serão
desfiados para verificar se os denominados atributos inegociáveis
(características dos alimentos que possam apresentar riscos à saúde dos
consumidores) podem ser objeto de execução privada. A argumentação dos
consumidores é a redução da confiança, pela necessidade constante de serem
condenadas partidas de alimentos que não seguem as regras de segurança e
inocuidade. Com o valor da mercadoria envolvido, diminui a confiança da
sociedade de que estas partidas seriam realmente destruídas, e não enviadas
a outros países, para reduzir o prejuízo. E, neste caso, alguém tem dúvida
que as partidas rejeitadas viriam para o Terceiro Mundo? |
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As resistências
Se por um lado a Austrália tenta reduzir custos
governamentais ao delegar a execução da inspeção, por outro os países da
União Européia e os Estados Unidos, entre outros, acham muito difícil e
muito caro produzir e manter um banco de dados, que possa acompanhar o
movimento de alimentos ao redor do mundo. Independente do desfecho desta
batalha, o importante é a sinalização que está dada, de que cada vez mais os
consumidores estão exigindo qualidade nos alimentos. E, sempre importante
lembrar, qualidade também significa inocuidade biológica e química, ou seja,
ausência de riscos para a saúde humana. |

Um governo que, quanto mais cede, mais tem que ceder!
Décio Luiz
Gazzoni
Este governo assentou 187.000 famílias em três anos. Segundo os órgãos
oficiais, um recorde na história recente do país. Só em São Paulo, foram
criados 48 assentamentos, atendendo 2.200 famílias, com 56.000ha, no
tristemente famoso Pontal do Paranapanema. Ainda existem 16 acampamentos no
Pontal, mas a soma de todos eles não alcança as 3.000 famílias que podem ser
assentadas no curto prazo na região. Por mais que se arregimente, não há
sem-terra suficiente para novos assentamentos, o que levou o líder José
Rainha a anunciar sua mudança para o Nordeste, para organizar os
companheiros de lá. E o seu pedaço de terra, recém conquistado? "Fica para
os irmãos", diz o líder, com a maior cara de pau. Sem problema, o governo
arruma outro, talvez lá no Nordeste. |
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Radicalização
Então está tudo bem? Não, a radicalização está
começando a incomodar a sociedade. A estratégia de invasão de terras como
forma de ocupar a mídia tem objetivos mais amplos que Reforma Agrária:
também serve para a ala favorável ao MST ocupar espaço no PT, em
contraposição às alas que não estão de acordo com os métodos do movimento.
Desta forma, seria possível colocar na nominata do PT maior número de
líderes de Sem-Terra, concorrendo nas próximas eleições. Na CONTAG, sai o
tucano Francisco Urbano para a entrada do petista Manoel José dos Santos,
que já assume verbalizando que "O MST faz menos, mas chama mais a atenção. A
partir de agora vamos fazer mais invasões!". Porque o discurso? Porque no
anonimato, a CONTAG vinha sendo muito mais efetiva que o MST, conseguindo
assentar pacificamente muito mais famílias. Obviamente que discursos e ações
deste tipo levam a reações. A reação do governo: "Enquanto durar o clima de
violência, saem de cena o INCRA e o Ministério da Política Fundiária, entram
a Polícia Federal e o Exército". Reação dos proprietários: formar milícias
armadas para defender o seu patrimônio. |
Com terra, mas com vontade de invadir
Esta estratégia de ocupar espaço na mídia, usando a
reforma agrária como bandeira, mas sem se preocupar com resolver este
problema, fica clara na denúncia do ministro Raul Jungmann, um insuspeito
militante comunista: Dois militantes do MST assassinados recentemente no Sul
do Pará, um ato deplorável por qualquer análise, possuíam não apenas terra
da reforma agrária, mas também crédito governamental. Quase 50 líderes do
MST já receberam o seu quinhão de terra, mas continuam invadindo novas
áreas. Entre eles líderes de grande visibilidade, que deveriam tomar o
cuidado para não serem flagrados no ato falho, como Gilmar Mauro e José
Rainha Jr. Seria para conseguir mais um pedaço de terra? Se fosse verdade,
seria uma pilantragem sem tamanho, e uma traição ao lema da justiça social,
na redistribuição das terras do país. Se não for verdade, alguém engole que
era apenas solidariedade? Cada entrevista na imprensa, cada menção em
jornal, representa um determinado número de votos na eleição de novembro.
Seria este o verdadeiro motivo? |
|
A culpa do governo
O currículo de assentamentos do atual governo federal é
impecável. Triste é ver que, quanto mais pressionado mais cede. Quanto mais
cede, mais tem que ceder. Mais estimula a violação da lei. Para evitar
pressões indevidas, um decreto (junho de 1997) estabeleceu que áreas
invadidas não poderiam ser desapropriadas. O MST pagou para ver. E ganhou!
Cerca de 800 famílias invadiram uma propriedade de 600 hectares no interior
de São Paulo (Promissão) e levaram a terra. Não apenas a terra. Depois das
conflagrações armadas no sul do Pará, o governo anunciou que estavam
suspensas as conversações, como forma de pressionar o MST a sentar-se à mesa
sem violência. A determinação durou 24 horas, pois no dia seguinte dez
deputados da bancada do PT foram ao Ministério, reverteram a determinação e
saíram com os bolsos cheios de reivindicações atendidas. Em especial,
ampliou-se o limite de crédito para os assentados, e a dotação global do
Procera, o fundo de suporte ao crédito aos assentados. Não é questão de
discutir se as reivindicações eram justas ou não, se deveriam ter sido
concedidas ou não. O problema é de fundo Se acha que não vai agüentar o
tranco, que não tem como bancar o jogo de pressões, que não anuncie aos
quatro ventos que vai fazer exatamente o oposto do que fará daí a 24 horas.
Porque o cidadão comum verá uma notícia pelos jornais, e a antítese dela
pelo noticiário mais ágil das TVs, logo em seguida! E, sem autoridade, acaba
estimulando não apenas o MST, mas qualquer outro grupo organizado, que
queira violar a lei, pelo instrumento da pressão, com balbúrdia ao vivo e em
cores, pelas redes de TVs. |

O Conselho Estadual de Defesa Agropecuária.
Décio Luiz
Gazzoni
No dia do trabalho, vamos falar de gente que
trabalha, até de graça! Através do Decreto 3433 de 07/08/1997, foi criado o
Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária – CONESA, composto por 27 importantes
personalidades do setor agropecuário do Paraná, e presidido pelo Secretário da
Agricultura. Investido de caráter consultivo, tem por finalidade apoiar o
Sistema de Defesa Agropecuária do Estado, e coordenar as ações destinadas a
melhorar e a preservar o padrão elevado de sanidade da agricultura e da pecuária
do Estado do Paraná. O Sistema Estadual de Defesa Agropecuária é composto pelas
entidades públicas e privadas que atuem ou tenham interface com a área de Defesa
Agropecuária, no âmbito do Estado do Paraná, liderado pelo Departamento de
Fiscalização da Secretaria da Agricultura. Os conselheiros não tem direito a
qualquer remuneração.
Os objetivos do CONESA
Constituído para integrar as forças vivas da
agropecuária paranaense no esforço de melhorar a qualidade sanitária das
criações e rebanhos do Paraná, o CONESA visa:
a. discutir e propor as normas de Defesa
Agropecuária no âmbito do Estado, respeitadas a Legislação Federal e Estadual, e
os acordos internacionais firmados pelo Brasil;
b. propor o planejamento estratégico da Defesa Agropecuária e sua constante
revisão e atualização, objetivando a busca permanente da competitividade da
agropecuária paranaense;
c. analisar e opinar sobre o plano anual de trabalho do Sistema Estadual de
Defesa Agropecuária e seu respectivo orçamento;
d. discutir e emitir parecer sobre a criação dos Conselhos Inter-municipais e/ou
municipais;
e. implantar, coordenar, supervisionar, avaliar e integrar as ações dos
Conselhos Inter-municipais e/ou municipais;
f. recomendar a realização de pesquisas e estudos sobre sanidade, qualidade e
aspectos econômicos e sociais da produção agropecuária, articulando a definição
do órgão executor e do seu financiamento;
g. supervisionar a execução das atividades e efetuar a avaliação e o controle
das ações programadas;
h. prestar contas das suas atividades de Defesa Agropecuária à sociedade em
geral e aos seus representantes em particular.
As metas a serem perseguidas
Com foco na competitividade dos agronegócios
paranaenses no mercado globalizado, os integrantes do CONESA envidam esforços
para:
a. propor um novo modelo de racionalização da
ação e gestão do Estado sobre as cadeias agroprodutivas e seus agentes
econômicos, sob o ponto de vista da Defesa Agropecuária, e em estreita parceria
com os agentes privados;
b. acompanhar e avaliar em tempo real, as inovações, adequações,
evoluções e demais mudanças que ocorrem continuamente em seu ambiente interno e
externo, tanto a nível nacional quanto internacional;
c. acompanhar a execução das políticas públicas dos agronegócios e da segurança
alimentar;
d. maximizar o uso dos recursos e das potencialidades dos órgãos públicos e
privados do Estado do Paraná, para as atividades de Defesa Agropecuária;
e. propor a eliminação dos obstáculos públicos e privados que compõem o "custo
Brasil" e o "custo Paraná";
f. identificar e orientar a conquista dos "nichos de oportunidade" do mercado
interno ou externo;
g. acompanhar as tendências mundiais em relação às cadeias agroprodutivas, aos
agro-alimentos e às oportunidades para a Defesa Agropecuária;
h. propor a organização de um processo decisório ágil, baseado em sistemas de
informações gerenciais automatizado.
Um novo tempo
A busca de um foro adequado para tratar as questões
relativas à defesa agropecuária é parte do esforço que as lideranças da
agropecuária e o governo do Paraná encetam para inserir o estado no ambiente de
alta competitividade do mercado globalizado. A visão de futuro e o foco na
competitividade dos produtos paranaenses permitirá um novo ciclo de negócios
para os nossos produtores.

Agrediu o ambiente, perdeu a terra!
Décio Luiz
Gazzoni
O movimento ecológico, ou preservacionista,
ou conservacionista, como queiram viveu diferentes etapas. Passou pela
pré-história da fase romântica, forneceu pedestal para lideranças teatrais e
escandalosas, atravessou uma fase de mau humor e denuncismo, serviu de escada
para políticos ocuparem cargos. Mas, nunca deixou de ganhar novos espaços,
tornando-se objetivo, ao tempo em que consolidava as conquistas anteriores.
Hoje, o movimento ecológico internacional vive claramente uma fase de
pragmatismo, ou seja, procura ampliar seu espaço dentro das próprias regras
sociais estabelecidas, adaptando no que for necessário para atingir seus
objetivos.
Até o capital é influenciado
Esta foi uma das conquistas mais marcantes: a
subordinação dos projetos de financiamento das agências internacionais a uma
análise de impacto ambiental das ações de implementação do projeto. Foi a
chegada no templo sagrado do capitalismo, o condicionamento do fluxo de
recursos ao compromisso de proteção ambiental. Às vezes o relatório
demonstra a inocuidade do projeto, em outras oportunidades o relatório
indica efeitos diretos ou colaterais que podem prejudicar o meio ambiente.
Nestes casos, há necessidade de alterar o projeto, ou incluir no
financiamento recursos específicos para evitar ou reduzir o impacto
prognosticado. E, em casos mais radicais, os projetos são cancelados, pela
impossibilidade de evitar danos ponderáveis ao ambiente. |
|
Tecnologia sustentável
A teoria da agricultura sustentável tem um de seus
pilares justamente na necessidade de preservação do capital natureza, seja
água, solo, ar, fauna ou flora. O tempo da agricultura itinerante,
migratória ou de exploração, da busca de produção sem um balanço de
custo/benefício favorável sob o ponto de vista ecológico, está
definitivamente superado. A tecnologia nos sistemas de produção já passa a
incorporar a preocupação com a conservação dos recursos naturais, não pela
simples conservação, mas para conferir sustentabilidade espacial e temporal
ao negócio agrícola. É a fase da auto-sustentabilidade. |
O castigo
O governo brasileiro anuncia que a incidência em crimes
ambientais passa a ser justificativa para desapropriação da terra. Na
prática, o proprietário que desmatar área de preservação, ou que contaminar
com agrotóxico um curso de água que atravessa sua fazenda, poderá ter sua
fazenda desapropriada, mesmo que ela tenha sido considerada produtiva!
Para mostrar que está falando sério, o governo vai mais longe: a indenização
de propriedade desapropriada por crimes ambientais será desvantajosa, com
avaliação mais rigorosa, pagamento com TDA de mais longo prazo, e com taxas
nominais de juros inferiores. |
|
O prêmio
O governo busca evitar o recurso a estas medidas,
consideradas como extremas. Como estímulo à conservação, as áreas de
preservação permanente, como matas ciliares e as encostas inclinadas,
passarão a ser consideradas como áreas produtivas, na avaliação da
propriedade, o que não é pouca coisa. Pode ser a diferença entre manter a
propriedade ou vê-la desapropriada. |
|
Assentamentos
O INCRA já havia constatado diversos crimes ambientais
nos assentamentos de reforma agrária, em especial desmatamentos indevidos. O
Instituto estuda punição para estes casos, que poderia considerar até a
perda do direito ao título conferido. Para evitar devastação, será conferida
prioridade para assentamentos em áreas abertas. No caso de áreas florestais,
o assentamento será efetuado mediante projeto de exploração agro-florestal
sustentado. Na linha da prevenção, o governo pensa em instituir programas de
conscientização dos assentados, na área de educação ambiental, para eliminar
ou reduzir o problema. Seria interessante que o INCRA também atentasse para
o descaso com a questão sanitária nos assentamentos, conforme diversas
denúncias publicadas pela imprensa, e que podem colocaar em risco
importantes e custosos programas governamentais de melhoria da condição
sanitária. |
|
BOX
Quem ganha é o produtor
Por onde tem passado, Edson Mazzei
Ponti tem deixado a marca de sua têmpera: inteligente, batalhador, criativo,
revolucionário, empreendedor, persistente, entusiasmado. Estas são as qualidades
do líder que por três anos assume o Sindicato Rural de Londrina. Uma liderança
adequada para conduzir o setor no momento em que o mundo inteiro é virado de
cabeça para baixo, em função da nova ordem internacional. O produtor de Londrina
e região só tem a ganhar com Edson na cabeça do Sindicato.

Eliminando restrições fitossanitárias na exportação de frutas
Décio Luiz
Gazzoni
Com a crescente liberalização do comércio
internacional de produtos agropecuários, resultante dos acordos assinados no
âmbito da Organização Mundial do Comércio, uma das poucas barreiras técnicas,
não tarifária, aceita pelos países membros da OMC, é a restrição sanitária. Ou
seja, os países importadores tem o direito de exigir o cumprimento de
determinados requisitos e a observância de padrões mínimos de sanidade
agropecuária. Foi mais além o acordo, ao estabelecer que falece ao país
importador determinar a técnica para atingir-se estes padrões, cingindo-se à
observância dos resultados.
Um mercado de bilhões de dólares
O comércio internacional do conjunto de
horti-fruti-granjeiros e de flores responde pela maior parcela, em termos do
valor das transações, do mercado internacional de produtos agropecuários.
Superior, inclusive, ao valor das commodities mais conhecidas, como soja,
milho, trigo e arroz, normalmente as vedetes do mercado, pelo elevado volume
físico das transações envolvidas. Isoladamente, o comércio internacional de
frutas movimenta, anualmente, cifras superiores a US$500 bilhões. Os maiores
acionistas deste mercado são os países europeus (destaque para a Espanha,
com quase U$5 bilhões em exportações) e os Estados Unidos (US$4.5 bilhões).
Nossos vizinhos chilenos aproximam-se da marca de US$2 bilhões, enquanto o
Brasil, maior produtor mundial de frutas (35 milhões de toneladas), mal
consegue superar a cifra de US$500 milhões em exportações! |
|
O diferencial da qualidade
Tanto a Espanha, quanto o Chile, apesar da necessidade
de superar poderosos obstáculos de solo e clima, conseguiram impor-se no
mercado mundial seguindo a receita de garantia de qualidade, elevado status
sanitário e agressividade no programa de exportações, fatores que o Brasil
necessita agregar à sua diversidade de condições edafo-climáticas para,
rapidamente, alçar-se a expoente no mercado internacional. Continuamos
convictos de que o Brasil seria um líder inconteste na exportação de frutas
tropicais, e um temido competidor no mercado de frutas temperadas. No
entanto é necessário aprofundar a análise da questão fitossanitária. |
Eliminando restrições sanitárias
Existem diversas restrições sanitárias ao comércio
internacional de frutos. Uma das principais exigências é a comprovação da
ausência de larvas de mosca das frutas, pelo perigo que esta praga
representa para os pomares do país importador. As diferentes espécies de
moscas tem larga amplitude de adaptação a condições de clima e de
hospedeiros, garantindo o seu estabelecimento e sobrevivência nas mais
variadas condições. Para a eliminação das larvas porventura existentes nas
frutas, diversos métodos podem ser utilizados. Por exemplo, no caso das
mangas produzidas no Brasil ou no Perú, tem sido utilizado o choque térmico
através da permanência em água a 50o C, pelo período de uma hora.
Bem aplicada, esta tecnologia elimina 100% das larvas, mas também se
encarrega de reduzir a qualidade organoléptica do fruto. Passamos então a
competir em desvantagem com os produtores de Homestead, no Sul da Flórida ou
do México, que, por serem áreas livres de mosca de frutas, conseguem colocar
o produto no cobiçado mercado norte americano sem o tratamento térmico, em
melhores condições de palatabilidade. |
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A radioatividade
A alternativa será o uso da radioatividade, mais
especificamente dos raios gama, sobejamente estudados e demonstrada a sua
inocuidade à saúde humana, a ponto de ser largamente utilizado na área
médica como esterilizante. O seu custo de operação, considerando um
irradiador de porte comercial, com depreciação em cinco anos, aproxima-se de
U$1,00 por tonelada de frutos, o que é perfeitamente absorvível, e que
eqüivale ao custo do tratamento térmico. Sua vantagem principal vai residir
no fato de que não deixa resíduos ou seqüelas no produto tratado, mantendo
inalterados o seu aroma e sabor. Talvez, no momento, nossos exportadores
julguem não ter escala para absorver o investimento inicial de
aproximadamente US$4 milhões na aquisição de um irradiador, porém esta é uma
oportunidade que se abre, e que vai contribuir para a melhor aceitação dos
produtos brasileiros no exterior. E a irradiação não necessita restringir-se
a frutíferas, podendo ser aplicada a uma gama mais ampla de produtos
agropecuários. |
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Inseticidas banidos
Neste momento é importante ressaltar que o tão almejado
mercado consumidor norte-americano vai aplicar uma nova restrição daqui a
aproximadamente 1000 dias, com o banimento de diversos produtos químicos
atualmente utilizados em tratamentos de fumigação, em especial o brometo de
metila e a fosfina, de larga utilização em nosso país no tratamento de
partidas para a exportação, ou suspeitas de contaminação por pragas
indesejadas. Na esteira da restrição para os países do NAFTA, pode-se
esperar o estudo de medidas semelhantes no âmbito da União Européia, que,
juntas, representam três quartos do comércio internacional de produtos
agropecuários. Não podemos nos dar ao luxo de aguardar a entrada em vigor da
restrição norte-americana para correr, desesperadamente, em busca de
alternativas, porque o hiato de tempo que transcorrerá poderá ser fatal para
as nossas pretensões de amealhar uma parcela maior do mercado do primeiro
mundo, vez que os concorrentes, provavelmente, estarão atentos para esta
mudança. Está feito o alerta e está descortinada uma oportunidade ímpar para
empresários de visão que desejem acompanhar as tendências modernas na área
de fitossanidade, relacionada ao comércio internacional. |

Agribusiness e emprego.
Décio Luiz
Gazzoni
O desemprego, medido pela
metodologia adotada no Brasil, está em franca ascensão, batendo em taxas
superiores aos 7%, o que fez soar um estridente alarma no núcleo de poder,
magnificado pela proximidade do período eleitoral. O governo busca se mexer,
tentando encontrar uma saída para o que vem sendo considerado a praga do próximo
milênio, por dez entre dez governantes do mundo. Existe uma saída mágica para
este dilema?
Competitividade e crescimento
Não há saída mágica. Trabalho é um fator de produção, emprego é o
preenchimento desta necessidade. Produção só é possível se houver
crescimento. O crescimento significa oferta, a qual somente será sustentável
se houver competitividade para colocar a produção no respectivo mercado.
Isto vale para qualquer setor produtivo. Na agropecuária não há como fugir
desta equação. A diferença é que, em média, um emprego produzido neste
setor, custa entre 10 e 30% de outros setores da economia, a maturação é
mais rápida e o tempo de resposta mais curto. Não é mágica, incentivar a
agropecuária pode ser o ponto de partida para um programa permanente e
sustentável de administração da taxa de desemprego dentro de limites
socialmente aceitáveis. |
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Produção agropecuária
Temos insistido que na base da competitividade
agropecuária se encontram a sanidade e a tecnologia, como componentes
estruturais de longo prazo. Mas, os aspectos conjunturais podem ser limitantes
para a expressão do potencial produtivo de um país ou de uma região, que no caso
do Brasil patina no mesmo patamar de produção durante toda esta década. Não é
mais possível o recurso a estímulos conhecidos, como os subsídios diretos ou
indiretos à produção, e o protecionismo explícito à produção interna no mercado
local. Estes instrumentos foram remetidos para a lata do lixo da História, pela
Convenção de Marraqueche, que criou a OMC. |
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O que é possível fazer
Não há como ampliar a participação dos
produtos brasileiros, sem o recurso à alteração de instrumentos de política
monetária, como vem sendo reivindicados há muito tempo. A fase de estabilização
da moeda, entendido como um processo finito para atingir uma meta, está se
estendendo além do suportável pela economia. Já deveríamos haver ingressado na
fase de moeda estável. Nesta condição, poderia ser revista a política cambial, a
âncora da moeda, que apreciou o real no início do plano, mas que não readequou
seu valor para evitar restrições à competitividade. Inicialmente, uma moeda
apreciada, obriga a um esforço de adequação do processo de produção e
comercialização, com ganhos de produtividade, para manter a competitividade
setorial. Porém, ao atingir o teto de melhoria dos processos, a defasagem
cambial pode significar um gargalo no processo de comercialização. A ponta
visível do iceberg está no crônico déficit da balança comercial, que o
país não consegue reverter. E a taxa de juros tem um forte componente na
valorização do real. |
A lição de casa do governo
Para que os agronegócios possam florescer, o governo precisa domar seu
déficit público, que impõe pesados ônus à economia. Entre eles, uma taxa de
juros asfixiante, que impede o crescimento do setor produtivo. Na linha de
políticas de médio e longo prazo, é importante que o governo defina uma
política agrícola coerente com os novos tempos, uma política industrial
consentânea, e uma política de comércio exterior que aproveite as
oportunidades e encare de frente os desafios de um mercado globalizado.
Impossível? Então é só olhar como a Argentina triplicou sua produção
agrícola nas duas últimas décadas, que inclui a famosa década perdida, e com
as mesmas adversidades econômicas, sociais, ecológicas e políticas
enfrentadas pelo Brasil. |
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Resultado: emprego
O resultado final destas ações será a retomada do crescimento agropecuário,
e da agroindústria a ele vinculada. Apesar das necessidades de escala e de
adequação dos fatores produtivos para a obtenção de um nível de
competitividade que lhe permita abrir e consolidar mercados, o setor
primário ainda é um dos que mais absorvem mão de obra, e, importante
repetir, via de regra requerem um período de maturação mais curto que outros
setores da economia. Vamos aguardar um efeito tango. |

Custo Brasil: o que é isto?
Décio Luiz
Gazzoni
Custo Brasil é tudo aquilo que se paga para produzir (ou por produzir), e
que não aumenta a produção ou a produtividade. Enquanto permanecíamos
como economia trancafiada, com pouco intercâmbio com o exterior, a grita
pelos gravames à produção e os entraves à produtividade provinham de poucos
empresários que transacionavam no mercado internacional: quando colocado no
mercado interno, o consumidor pagava o preço da ineficiência, não havia o
risco da concorrência com o exterior. Esta grito pouco ecoava junto à
população, enquanto o governo simplesmente desconhecia o problema. Reduzir o
custo Brasil significa ganhar competitividade, ampliar oportunidades de
empregos, de investimentos, de negócios. Significa poder exportar mais, para
mercados mais exigentes. Significa reduzir a necessidade de importação. E,
sobretudo, representa progresso, crescimento, emprêgos. |
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O peso da ineficiência
Permanecer à margem do comércio internacional, com protecionismos e
artificialismos, significou uma anestesia, o mundo real era enxergado de
forma enviesada. Fomos acumulando ineficiências e distorções, que
representam um peso excessivo quando se pretende expor a economia brasileira
ao mercado internacional. No bojo de cada distorção pode-se vislumbrar a
ineficiência governamental ou a burrice corporativa, emperrando o avanço dos
negócios. Uma parte do custo Brasil deriva das distorções tributárias, com
excessivo número de impostos, taxas, contribuições e similares, com
alíquotas desequilibradas, que atuam na contra-mão do processo de
inteligência tributária. Onera-se em demasia os setores produtivos, a cesta
básica, os alimentos, e em especial a exportação de produtos. A legislação
trabalhista ficou anacrônica em relação ao mercado de trabalho e em
comparação com os concorrentes internacionais, agravando o problema do
desemprego. Nosso sistema de educação não foi preparado para a severa
competição, deixando empregados e executivos em desvantagem na comparação
com os concorrentes. |
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Infra-estrutura deficiente
Nosso sistema de transportes, baseado em vias rodoviárias, é caro e
ineficiente. Os custos portuários são altissimos, pela defasagem tecnológica
e por interferência de um sistema sindical que impõe custos sem
contra-prestação de serviços. O sistema de telecomunicações está
ultrapassado, e o sistema energético à beira de um black-out. No conjunto, a
combinação perversa de legislação anacrônica, infra-estrutura deficiente e
ação corporativa, impõe custos que destroem a margem de competitivade da
economia brasileira. |
As mudanças necessárias
Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso apontou as reformas fiscal,
tributária, administrativa e previdenciária como essenciais para o futuro do
país, estava atacando parcela do custo Brasil. Ao acionar um programa de
privatizações, estava liberando as amarras de outra parcela de gravame sobre
o setor produtivo. Ainda há muito por andar, pois as reformas não saíram do
papel, e, aparentemente, serão aprovadas com grande desfiguração, fruto da
interferência de lobies interessados na manutenção do status quo, dos
interesses pessoais, e sem visão de futuro. A privatização das rodovias é
uma das iniciativas - embora tímida - que melhorará nossas rotas de
transporte, embora a solução definitiva passe pelas vias hidrográficas e a
malha ferroviária eficiente e ampliada. A privatização dos portos permitirá
a modernização do processo de carga e descarga, e eliminará os perniciosos
intermediários de mão de obra, que oneram o produto sem agregar-lhe valor. |
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Investimentos urgentes: a ação
do governo
Os diversos níveis de governo tem se mostrado
ávidos em tributar e ávaros em investir. A folha de pagamento tem sugado entre
70% (para os mais eficientes ) a mais de 100% da arrecadação tributária dos
governos estaduais e municipais, deixando pouca ou nenhuma margem de recursos
para investimentos. Apenas o processo de privatização permitirá a atualização da
infra-estrutura necessária, em especial nos setores de transporte, de energia,
de telecomunicações. Os governos, de sua parte, necessitam cumprir o mínimo que
se espera, ou seja, educação e saúde adequadas, segurança física e patrimonial e
um sistema previdenciário básico decente.
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Investimentos na Agropecuária
Os negócios agrícolas necessitam de algumas
condições especiais. Em primeiro lugar, é necessário manter um sistema
tecnológico em patamar igual ou superior ao existente nos países concorrentes;
em segundo lugar, necessitamos de um sistema de defesa agropecuária que garanta
a competitividade dos nossos produtos; em terceiro lugar, é necessário
equacionar o financiamento da produção nos mesmos níveis dos concorrentes;
precisamos de um sistema de comercialização que auxilie na colocação dos nossos
produtos no mercado; é necessário ser agressivo na colocação dos produtos, e
duro na mesa de negociações das regras internacionais; firme e decidido na
aplicação das regras, em especial medidas compensatórias por deslealdades no
comércio internacional; e, finalmente, necessita-se de uma Lei Agrícola moderna,
completa, adequada e duradoura, que garanta a tranqüilidade dos investimentos
para a produção agropecuária. |

Um sistema rançoso, que emperra o progresso
Décio Luiz
Gazzoni
Coincidiu estarmos em Brasília na quarta-feira negra (20 de maio). Com
direito a cadeira cativa, no 8o. andar do Ministério da
Agricultura, de frente para a Praça dos Três Poderes. Portanto, ninguém
contou, nós vimos. Vimos cerca de 15.000 brasileiros reunindo-se em frente
ao Congresso. E que, em determinado momento, alguns deles, uma minoria de
não mais que 1%, ativistas claramente preparados, com pedras, paus e bombas
(que não estão disponíveis no gramado da Esplanada), tentou invadir o
Congresso, enfrentando a Polícia. Os conflitos que se seguiram foram notícia
na TV e nos jornais. Permitimo-nos proceder à nossa análise: Buscava-se um
palanque, armar um grande circo, para o comício do candidato presidencial
Luiz Inácio "Lula" da Silva, atraindo a mídia de todo o país, e do exterior
também, para tentar reverberar seu discurso de oposição. E, queira Deus que
estejamos totalmente enganados, mas transpareceu a idéia de que também se
buscava um "cadáver". Literalmente - um brasileiro sacrificado mesmo - ou
imagens contundentes, de conflitos, dor e sofrimento, que possam ser
explorados politicamente. Sequer o fato de a polícia ser comandada por um
político do mesmo partido, o Governador Christovam Buarque, interferiu na
decisão dos baderneiros. |
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Um sistema político
atrasado
O objetivo maior de todos os brasileiros, neste momento, deveria ser a
busca do desenvolvimento, do progresso, de melhores condições de vida.
Entretanto, nós, brasileiros, temos muito, mas muito mesmo a evoluir na nossa
organização e na nossa operação política. O governo erra? Erra, e muito. Erra ao
não cumprir sua obrigação constitucional e moral com os sistemas de saúde,
segurança, educação, transporte de massa, que deveriam ser dignos da população.
Erra ao não sentir o cheiro da fumaça de Rondonia, ou a sede do Nordeste. Erra -
e muito - ao negociar sem assepsia com uma banda podre do Congresso Nacional,
para aprovar as reformas constitucionais e tentar colocar o Brasil ombreado com
as necessidades do mundo moderno. Mas erra, e muito, a oposição, que não tem
propostas para resolver os problemas. Ao contrário: o taxista que nos levou do
Ministério da Agricultura para a Embrapa havia transportado manifestantes para
um restaurante caro da cidade - e os passageiros pediram recibo! Ora, sem
terra, sem teto, sem emprego, sem comida, não pede recibo. Até porque não tem
como pagar. A Folha de São Paulo fez uma ampla reportagem, mostrando como as
entidades que organizaram a manifestação, contrataram estudantes para viajar a
Brasília (Não sei o que vou fazer lá, respondeu um deles à reportagem.
Acho que é turismo!), pagando suas diárias no caminho. Ora, sou
sindicalizado, o sindicato recolhe uma parte da contribuição para a CUT, e nunca
fui consultado ou autorizei a CUT a usar meu dinheiro para arrebanhar pessoas
sem-juízo, a fim de montar um circo à base de baderna, para dar ressonância ao
comício de um candidato político. Muito menos ao discurso e à ação de ‘quanto
pior, melhor’.
|
Precisamos de sistemas modernos e inteligentes
No entanto, outra central sindical resolveu encarar o problema brasileiro
de frente, e está promovendo a reciclagem de seus associados, para que os
excluídos do mercado de trabalho, por motivos diversos, e em especial pelo
avanço tecnológico, possam ser recolocados em outras funções. No caso da
agropecuária, porque os sindicatos não investem no SENAR, para retreinar e
reciclar a mão de obra? Seja ela urbana ou rural, já que a maior parcela dos
acampados do MST parece ser recrutada entre os desempregados na periferia
urbana. Porque não prepará-los para a faina da agropecuária, onde as
máquinas podem haver expulsado uma parcela dos trabalhadores rurais, porém o
potencial da agropecuária pode reabrir um conjunto enorme de oportunidades
de trabalho, em atividades que são demandadoras de mão de obra, em especial
na pequena agroindústria? E até para operar as máquinas que expulsaram
trabalhadores. |
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Um sistema retrógrado e burro
Precisando gerar empregos, o dirigente do MST, João Pedro Stédile vai a
Genebra, e verbaliza que o capital internacional deve se afastar do Brasil
enquanto é tempo, porque quando Lula assumir o governo, serão alteradas
todas as regras para movimentação de capitais. E aproveitou para dizer que,
com Lula no poder, as invasões de terras serão ainda mais intensas. Este
discurso soou como música. Música para outros países que necessitam de
capitais, de empreendedores, para capitanear o progresso e a geração de
empregos. Se o Brasil os expulsa, benvindos serão em outras plagas. Ou será
que a proposta oposicionista não é tão burra quanto parece? Bem, neste caso
há que tornar transparente qual é a proposta alternativa, que até o momento
não foi divulgada. O fato é que, quando mais precisamos de união de esforços
- mesmo com divergências no atacado - em torno de um objetivo comum de criar
mais negócios, mais oportunidades e mais empregos, de ampliar o espaço
ocupado pelos agronegócios, sempre existe um ranço do passado cravando uma
âncora no lodaçal. Seu agronegócio é tão somente pescar nas águas turvas. |

Flores: uma oportunidade de ouro.
Décio Luiz
Gazzoni
Já comentamos nesta coluna,
que o maior volume de dinheiro nos agronegócios mundiais circula no comércio de
frutas, hortaliças e flores. Muito maior que as commodities tradicionais como
trigo, soja ou arroz. E o mercado vem se mostrando francamente favorável para os
floricultores nos últimos tempos. Ocorre que, nos países mais desenvolvidos, o
aumento da renda per cápita, faz com que se destine uma parcela cada vez maior
do income para o chamado consumo acessório ou luxuriante. E o charme das flores
tem conquistado um número crescente de consumidores, o que causou um incremento
espetacular no mercado, nos últimos anos.
Novas espécies
A feira internacional de flores que se
realizou no início do ano, em Bogotá (Colombia), trouxe diversas novidades. Em
especial, mostrou duas tendências claras: primeiro, o aumento da pesquisa
prospectiva na biodiversidade tropical, onde cada vez mais são descobertas novas
plantas ornamentais exóticas. Em especial, as bromélias estão se transformando
em um novo filé do mercado, pela diversidade de espécies, e pela aceitação cada
vez maior pelos consumidores. Em segundo lugar, verifica-se um incremento da
tradicional ciência do melhoramento genético vegetal, agora com o substancial
auxílio da biotecnologia, o que tem aumentado a oferta de novas formas e cores
de plantas. |
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Onde está a oferta
Diversos países do mundo produzem flores, a
maioria para seu próprio consumo. No entanto para alguns países, flores
constituem-se em uma pauta importante de exportações. A Holanda continua com o
cetro de grande fornecedor mundial, em especial para a Europa e Estados Unidos,
junto com outros países europeus. E a Colombia, fruto de um esforço conjunto do
governo e da iniciativa privada, vem abrindo mercados com agressividade,
constituindo-se atualmente no segundo maior exportador mundial, logo abaixo da
Holanda. Aliás, entre os países que importam da Colômbia, encontra-se nada mais,
nada menos que .... a própria Holanda! |
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Os números do mercado
O tamanho do mercado brasileiro (1997) foi de US$1,1 bilhão. Incipiente,
para a potencialidade do país. Para efeito de comparação, apenas a região de
Rio Negro, no alto dos Andes, próximo a Medellin, fatura US$500 milhões. No
caso da Colômbia, são 420 micro-empresas, cultivando apenas 5.000 ha,
oferecendo 80.000 empregos diretos e indiretos, que fizeram abocanhar 11% do
mercado mundial – o primeiro produtor mundial de crisântemos - sendo 70% das
exportações para os EUA. A floricultura ocupa o terceiro posto no ranking de
exportações colombianas, abaixo de café e banana. No caso colombiano há um
agravante, porque a segunda região produtora de flores do país, a de Rio
Negro, está incrustada num altiplano, onde os narcotraficantes resolveram
estabelecer as suas chácaras de lazer, o que elevou o preço do hectare para
lunáticos US$100.000,00! Sim, cem mil dólares ao hectare! Claro que este é
um preço nominal, porque negócios não acontecem já que não existe oferta
(quem tem não vende). |
A rentabilidade
O custo de produção não é baixo, o capital fixo investido também é alto,
por conta das instalações como estufas e salas de preparação. O controle
sanitário é crucial, tanto por conta do aspecto de apresentação, que pode
depreciar o produto, quanto pelas restrições impostas pelo países
importadores. No entanto o negócio é compensador, pode-se chegar a 35% de
rendimento líquido anual sobre o capital investido. No caso de crisântemos,
cada ramo vale US$1,00 no mercado internacional. Um único hectare da flor
pode produzir mais de 40.000 ramos comercializáveis/ano. |
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A demanda
As estimativas são altamente positivas. O
mercado internacional deve crescer no mínimo 20%. Prevê-se um consumo per capita
de US$6,00 no Brasil, contra US$25 na vizinha Argentina, atingindo mais de
US$150 nos nórdicos noruegueses, próximos dos valores dos românticos italianos e
franceses. É um mercado em expansão, com colocação garantida, onde o Brasil tem
possibilidades claras de quadruplicar ou quintuplicar sua oferta nos próximos
anos, sem afetar as cotações do mercado. O cavalo está passando encilhado. |

Bases de Dados da Pesquisa Agropecuária
Décio Luiz
Gazzoni
A Embrapa está saindo novamente
na frente, encurtando o caminho para o futuro, ao colocar à disposição dos
agricultores e suas organizações todo o seu acervo documental com 231.810
referências (que aumenta a cada dia), abrangendo tanto a literatura adquirida
quanto as teses e a produção científica dos pesquisadores da Embrapa, o Catálogo
Coletivo de Periódicos com informações sobre 7.440 títulos e suas respectivas
coleções, bem como um cadastro com endereços, serviços prestados e áreas de
atuação de 120 instituições do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA,
dentre elas as 76 Unidades da Embrapa, distribuídas no território nacional,
englobando Centros Nacionais de Pesquisa, Unidades Centrais, Gerências do
Serviço de Produção de Sementes Básicas e Serviço de Produção de Informação.
O que o agropecuarista encontra
na Base de Dados
Praticamente tudo o que existe
de tecnologia agropecuária disponível no Brasil e no Mundo, para pronta
consulta. Este trabalho de folego somente foi possível ser colocado à disposição
do público a partir do software AINFO, tecnologia de informação
desenvolvida pela Embrapa Informática, que permite o gerenciamento, de forma
integrada de base de dados documentais e processos bibliográficos. Se você opera
no mundo dos agronegócios, não deixe de visitar a base da Embrapa: além de toda
a literatura de que se falou acima, quem entrar na base também vai encontrar à
sua disposição informação sobre:
AGROTEC - Região dos Tabuleiros Costeiros
Banco Ativo de Germoplasmas de Arroz e Feijão
Banco Ativo de Germoplasma de Feijão Caupi e Cultivares Recomendados
Base de Dados sobre o Algodão
Bovinos da Raça Canchim
Catálogo de Software Agropecuário
Coleção de Microorganismos Fixadores de Nitrogênio
Composição de Alimentos
Composição Química e Valores Energéticos de Alimentos para Suínos e Aves
Cultivares de Soja Recomendadas para o Brasil
Cultivares Recomendadas de Trigo
Custo de Produção e Análise de Rentabilidade de Frutas
Dados Agroclimatológicos da Estação Agroclimática de Pelotas - RS
Dados Meteorológicos da Estação Agroclimática do Centro Nacional de Pesquisa de
Hortaliças
Dados Meteorológicos da Região Oeste do Brasil
Dados sobre Caprinos e Ovinos Tropicais
Esquema Conceitual do SIGSOLOS
Informações à Respeito das Culturas de Cupuaçu, Dendê, Guaraná, Seringueira e
Mandioca
Monitoramento Orbital de Queimadas
Pesquisa em Andamento da Embrapa Acre
Pesquisa em Andamento da Embrapa Rondônia
Pesquisas Florestais em Andamento no Brasil
Produção e Comercialização Vitivinícola
Sementes de Fruteiras Tropicais da Amazônia
Tecnologias, Serviços e Produtos do Centro Nacional de Pesquisa da Agroindústria
Nacional
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Instrumentação Agropecuária
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Bovino de Corte
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Bovinos de Leite
Tecnologias, Serviços e Produtos do Pantanal
Tecnologias e/ou Resultados de Pesquisa do Centro de Pesquisa de Pecuária dos
Campos Sul Brasileiros
Tipificação dos Pequenos Produtores do Nordeste Brasileiro
Zoneamento Agroclimático de Milho
Embrapa lança arroz de sequeiro
Variedades do tipo agulhinha estão chamando a
atenção dos produtores do Centro-Oeste. Depois da Caiapó, a Embrapa lança
Primavera e Maravilha, duas variedades de terras altas, que apresentam alta
produtividade, mesmo na ausência de irrigação. Somando-se às variedades lançadas
para plantio em várzea, a Embrapa cumpre sua parcela na busca da
auto-suficiência de arroz por parte do Brasil.

Globalizando os cérebros
Décio Luiz
Gazzoni
O conceito de globalização ainda não está
claro. Talvez seja necessário esgotar-se a geração que primeiro conviveu com
ela, para que fique claro o que significou para a História Universal um
movimento que ainda apresenta dificuldade de compreensão.
A importância da informação
O processo de globalização teve diversas causas,
remotas e recentes. A queda dos regimes comunistas, o final da Guerra Fria,
a necessidade de re-orientar a indústria da guerra foram algumas das pontas
mais visíveis. O impulso e o suporte foi dado por um sistema de informação
que se moderniza a cada minuto, e que não cansa de nos surpreender. Quando
pensávamos que o telex aposentaria o telégrafo, chegou o fax e aposentou o
telex. Aí vem um computador com scanner e fax, e uma plaquinha ligada num
telefone, e o fax está superado. Chega o telefone celular como a última das
modernidades, e já surge o telefone por satélite, que promete aposentar todo
sistema telefônico conhecido. Sem falar na Internet, o paradigma da
globalização, que radicaliza a democratização das informações. A colhedeira
já vem com GPS que permite calcular com a exatidão do depois da vírgula a
produtividade de cada metro quadrado. |
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A importância dos cérebros
Mas informação não é uma utilidade de per
se. Assim como o pneu de nada vale sem o carro, a informação somente é uma
utilidade quando processada convenientemente por um cérebro humano. E este
cérebro precisa estar preparado para identificar e selecionar a informação
importante, efetuar o tratamento devido e saber utilizá-la em proveito de seu
negócio. Até aí nada de novo, sempre agiu-se desta forma, mesmo que
empiricamente. A diferença é que hoje, as informações surgem aos borbotões, e a
capacidade e agilidade na sua identificação, seleção e no seu processamento
farão toda a diferença na condução dos negócios. |
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O diferencial do executivo da globalização
Nestes tempos de competição selvagem, a regra
passa a ser
crescer ou morrer. Crescer significa agredir novos mercados constantemente.
Busca-se nos gerentes velhas e novas virtudes como a clareza na visão do
negócio, entusiasmo com sua função, realismo e ação, agilidade, capacidade de
assumir riscos e muita perseverança. Não se comenta falar inglês ou dominar
informática, porque isto não é diferencial, é requisito básico. Não dominou o
computador, terá reduzido seu acesso à informação. Não fala inglês, como vai
negociar com os parceiros ou clientes do outro lado do mundo? |
O cérebro globalizado
O diferencial está justamente na capacidade de
adaptar-se rapidamente a novas situações. A era do especialista puro se
esgotou. Não é mais possível "enrolar" ou tentar tirar leite da pedra. O
mercado está saturado de "hard worker", ou carregador de pedra. O bom
executivo possui a característica de reciclar-se rapidamente, e adaptar-se
sem traumas a situações antípodas. Os mercados são mutantes, nunca se sabe
de onde virão as oportunidades. Hoje é a Colômbia ou o México, amanhã a
Arábia Saudita, Taiwan ou Tanzânia. Pronta resposta frente aos desafios, eis
a chave. Por exemplo, quem esperava no início de 1998 que o mercado de carne
de frango em Hong Kong iria se abrir, após a epidemia da gripe das aves? Na
esteira da globalização de mercados, da queda das barreiras técnicas, da
redução das tarifas alfandegárias, o comércio internacional vai ser
incrementado a taxas nunca vistas anteriormente. Nem todos estarão
capacitados a competir num ambiente tão feroz. |
|
Governo, iniciativa privada,
tanto faz
Quem dispuser de recursos humanos com "cérebro
globalizado" vai estar mais perto de abocanhar as melhores oportunidades. No
caso, tanto faz se estamos falando de governo, de núcleos estratégicos,
geradores de políticas, diretrizes, normas, ou de institutos de tecnologia, da
Academia. O profissional que fez sucesso no passado, não tem garantia nenhuma de
mantê-lo no futuro. A máxima é: Quando muda o ambiente, tudo volta à estaca
zero. É o momento de valorizar as características que permitem ampliar o espaço
de visão e a capacidade de antecipar o futuro, percebendo precocemente
tendências, e adequar o quadro das empresas ou do governo, para sobreviver no
ambiente de alta competitividade que já vivenciamos, e que dominará o próximo
milênio.
|

Senhor Governador, juntai-se a nós!
Décio Luiz
Gazzoni
Durante uma década as
principais nações do mundo discutiram as novas regras de comércio internacional,
que redundou na assinatura do acordo de Marraqueche, o qual criou a Organização
Mundial do Comércio. Muitas coisas mudaram a partir da criação da OMC, pelo
compromisso dos países signatários em tomar atitudes positivas para incrementar
o comércio internacional de produtos. O compromisso firmado por 200 países
inclui a redução das tarifas de importação. Significa também a eliminação de
barreiras burocráticas, cotas de importação, licenças prévias e importação,
barreiras técnicas - que se limitavam a representar travas ao comércio, fórmulas
que os governos encontravam para reduzir o volume de importações, eliminação de
subsídios à produção, permissão para efetuar inspeções prévias ao embarque dos
produtos.
A exigência que restou
No entanto, em um aspecto pontual, todos os
países concordaram que não poderia ser efetuada qualquer concessão: a
conformidade aos padrões de sanidade agropecuária. Mal comparando, poder-se-ia
dizer que a
sanidade agropecuária é a barreira que restou no comércio internacional. Mal
comparando, porque não se pode utilizar a sanidade indiscriminadamente como
barreira. Não se pode mais, arbitrária e unilateralmente impor condições
sanitárias para importação. Toda e qualquer regra deve, objetivamente, servir
para proteger o consumidor ou o espaço de produção agropecuária, devendo ser
fundamentada cientificamente, e resistir à argumentação também científica dos
parceiros comerciais que se sentirem prejudicados pela nova regra. É o que se
denomina soberania condicionada: os países associados da OMC admitem exarar sua
legislação sanitária ao abrigo dos padrões internacionais. Por esta razão, os
sistemas de sanidade agropecuária passam a demandar melhores condições
operacionais e técnicas para desempenhar suas funções. |
|
O Paraná precisa se adequar
Não há mais como "proteger" o mercado interno.
Hoje existe um grande mercado mundial, e a questão não se resume a exportar ou
não exportar, mas a ter competitividade para disputar o próprio mercado
interno. A maior das regras sob o império da OMC é a seguinte: ou você se
adequa e cresce, ou você desaparece. Você, no caso, pode ser um estado ou um
país inteiro. Adequar significa dispor de um sistema de defesa agropecuária
moderno, que atenda integralmente os compromissos assumidos pelo Brasil (o
Paraná incluso neste Brasil), e que tenha condições de cumprir o que a sociedade
exige: proteger a saúde do cidadão e o estado sanitário da agropecuária
paranaense. Não atender a estas condições significa ser alijado da parte nobre
do comércio de produtos agropecuários, aquela que é exigente na conformidade dos
produtos, mas que compra sempre, paga bem e em dia. Para desempenhar esta tarefa
que se afigura hercúlea, não é mais possível imaginar que um Departamento do
serviço público do Paraná possa executá-la sozinha. É fundamental o
desenvolvimento de parcerias entre os diferentes segmentos dos serviços públicos
e a iniciativa privada. Neste aspecto, o Brasil vem efetuando um esforço ágil de
ajuste, liderado pelo Ministério da Agricultura, que está sendo reformado por
completo para atender as condições impostas pelo novo ambiente. A iniciativa
privada, primeira beneficiária deste processo, está se aliando desde o primeiro
instante neste esforço. Para auxiliar os estados a cumprirem sua parte, o
Ministério da Agricultura está repassando recursos a fundo perdido para as
Secretarias de Agricultura se adequarem às novas exigências. |
Um exemplo concreto
A União Européia e outros países de Primeiro
Mundo somente aceitam importar carne de países comprovadamente livres de febre
aftosa. Estar livre desta doença significa ter abertas as portas do mercado mais
rico do planeta, grande consumidor de carne, fiel a seus mercados, que paga o
preço teto do mercado internacional, e que dispõe de recursos para pronto
pagamento. O Paraná, através da Secretaria da Agricultura e da iniciativa
privada vem se esmerando na erradicação desta doença dos rebanhos do estado, o
que resultou em
37 meses sem um único foco de aftosa no estado. O órgão internacional
certificador exige apenas 24 meses sem focos, mas impõe que seja demonstrada
capacidade operacional de manter esta situação no longo prazo. É por isso que os
representantes do agronegócio paranaense, que representam 36% do PIB do estado
pedem: |
|
Senhor Governador, juntai-se a nós!
Falta pouco, muito pouco, para o Paraná ser
declarado oficialmente área livre de aftosa. Uma auditoria do Ministério da
Agricultura, já repetida pelo segundo ano insiste que o Paraná não dispõe de
técnicos suficientes no campo para garantir a perenidade da área livre de
aftosa. Repousa na mesa do Governador Jaime Lerner o decreto que nomeia 140
novos técnicos para a defesa agropecuária do Paraná, que resolverá este e
inúmeros outros problemas sanitários do Estado, e que impedirá o ingresso de
novas pragas no território do estado. É muito pouco o que falta, comparado ao
investimento financeiro que o Governo Federal vem fazendo no Estado, ao esforço
que a iniciativa privada se propõe a fazer (inclusive com aporte financeiro),
para que possamos produzir mais, vender mais e a melhores preços, gerar mais
renda e mais emprego no campo. Ah! sim, senhor Governador: os salários dos novos
técnicos serão pagos com muita folga pelo retorno tributário que significará a
expansão dos negócios no campo. Temos absoluta convicção que o dirigente maior
não faltará ao Paraná neste momento. |

A Biotecnologia chega
às dietas
Décio Luiz
Gazzoni
A doença nacional americana,
e em outros países ricos, é a obesidade. Além do desconforto e do problema
estético, a obesidade é um fator de risco, que associada a outras condições pode
conduzir a sérios problemas de saúde, como diabetes ou ao temível infarto. Uma
sociedade com alto poder aquisitivo, que já tem todas as suas necessidades
atendidas, passa a consumir alimentos em quantidade que não necessita, e com
desequilíbrio nos componentes da dieta. O que é um grande problema para os
indivíduos afetados, a ponto de ser um sério problema de saúde pública,
paradoxalmente, também é uma oportunidade de negócios.
A oportunidade para os agronegócios
O cidadão se vê pressionado entre a espada do
risco de saúde e a parede da propaganda e da tentação de uma sociedade
consumista, que incorporou o fast food como parte da rotina diária da
produtividade no trabalho, que considera almoços e jantares como componentes
da sua rotina de negócios, que descarrega suas ansiedades nas lanchonetes a
bordo dos 737 e DC-10s. Se não é possível resolver o conflito existencial do
indivíduo, porque não encontrar uma fórmula de convivência? Foi nesta senda
que algumas empresas de biotecnologia apostaram, e encontraram verdadeiros
filões de ouro maciço. Duas descobertas importantissimas estão chegando ao
mercado agora, fazendo explodir os negocios. Parte-se da máxima antiga
abusus non tollit usum, ou seja, o abuso que se pode fazer de uma coisa
não nos deve levar a nos abstermos dela. |
|
É LDL Colesterol? Então não absorva!
Esta é a ordem dada ao organismo humano por uma
substância orgânica identificada em algumas sementes. Extraída, testada e
produzida em larga escala, a substância adicionada a margarinas, manteigas
ou qualquer produto processado, de alto conteúdo lipídico, em especial
contendo o famigerado colesterol, praticamente elimina o problema de
absorção de colesterol. O segredo é simples: o mau colesterol se liga
bioquimicamente à esta substância, formando um composto que não é absorvido
pelo organismo humano no processo digestivo, sendo por ele eliminado. Como
tal, retira do consumidor aquele peso enorme na consciência (bem, o da
barriga também!) cada vez que põe mais maionese no cheesburguer. Um
consumidor que dispõe de renda para pagar o preço da solução do conflito. |
Pare de comer, você já atingiu o limite!
Outra mina de ouro: uma combinação de substâncias
vegetais, um segredo guardado a 7 senhas (era guardado a 7 chaves até a
descoberta do computador), quando adicionado a certos alimentos, induz o
intestino delgado a produzir a substância que sinaliza ao cérebro que as
necessidades alimentares estão supridas. Mais precisamente, você sentirá
aquela sensação de saciedade antes do seu limite anterior, que o levava a
consumir em excesso. Segundo os estudos realizados, em média o consumo de
calorias se reduz em um terço. E a ingestão de gorduras, entre elas o
colesterol, se reduz na mesma proporção. |
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Quanto vale um negócio destes?
Um grupo econômico desconhecido, Raisio, com sede
na Finlândia, faturou US$1 bilhão no ano passado, cerca de 72% a mais que há
dois anos, com as vendas impulsionadas pelo inibidor da absorção de
colesterol. Somente nos EUA são 90 milhões de consumidores de alta renda que
tem problemas de colesterol, mas nenhum problema para pagar mais caro por um
alimento que não agrave seu risco de saúde. Por esta razão, em dois anos as
ações da Raisio valorizaram mais de 1000%, e agora a empresa negocia seu
produto com gigantes como a Johnson & Johnson e a Unilever. Já a empresa
sueca Scotia produz um iogurte que confere a sensação de saciedade muito
antes que o indivíduo ultrapasse os limites desejáveis de ingestão de
alimentos. Claro, este iogurte custa, no varejo 100% mais caro que os
iogurtes comuns, embora o custo de produção seja similar. Para não ficar
atrás no mundo dos negócios, a Scotia está acertando um contrato gigantesco
com a Procter & Gamble. Tecnologias simples, que vão encontrar muito
aceitação entre consumidores de renda média e alta, preocupados com sua
saúde, ainda não tem representantes no mercado brasileiro. Com certeza será
uma excelente oportunidade de investimento para quem trouxer o negócio para
o Brasil, que tem condições de atuar em toda a cadeia produtiva, desde o
plantio dos vegetais até colocar o produto na mesa do consumidor. |

Parceria Universidade e iniciativa privada
Décio Luiz
Gazzoni
O conceito de parceria
perpassa o mundo globalizado. A necessidade de especialização teve como
corolário a busca da parceria para o desenvolvimento de ações conjuntas,
aproveitando os pontos fortes de cada parceiro, ou seja, cada qual entra na ação
conjunta com aquilo que sabe fazer melhor, ou onde está sua maior possibilidade
de contribuir para o alcance das metas. No caso da busca de novas alternativas
para a produção agropecuária, esta é uma idéia relativamente antiga, mas que tem
ganhado força nos últimos tempos. Qual é a lógica? Todo o desenvolvimento
tecnológico deve contribuir para melhorar a rentabilidade e a competividadade do
setor agropecuário, pelo aumento da produtividade e/ou da qualidade, ou pela
redução de custos, ou, no melhor dos mundos, os três objetivos conjuntamente.
Desenvolvimento tecnológico é a missão dos institutos de pesquisa, atingir maior
rentabilidade e competitividade é a meta da iniciativa privada.
Porque queimar a palha?
Quem trabalha com cana de açúcar, ou vive numa
região canavieira, conhece de perto o drama representado pelas queimadas nos
canaviais. São perigosas, podem atingir áreas que não se pretendia queimar,
poluem o ar, reduzem o teor de matéria orgânica nas lavouras, e afetam
negativamente a biodiversidade local, em especial a fauna benéfica. Com o
desequilíbrio biológico surgem mais problemas de pragas, e até da pombinha
amargosa, que, por falta de predadores naturais, saem dos canaviais para se
alimentar dos grãos recém plantados nas lavouras. Por que queimar? A queima tem
dois objetivos: Reduzir o volume de palhada, que atrapalha o processo de corte,
e reduz a produtividade, aumentando custos; e para eliminar ou afugentar animais
perigosos, especialmente cobras peçonhentas, que se abrigam no canavial,
reduzindo os acidentes com os cortadores de cana. Para diminuir as queimadas nas
regiões canavieiras, pode-se efetuar a colheita mecanizada, com máquinas
apropriadas para cortar cana crua. |
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Colhendo cana sem queimar o canavial
Mas não basta querer não queimar a palha. É
necessário dispor de um sistema de produção adequado para a mudança das
operações da colheita. Por exemplo, a forma de plantio, em especial o
espaçamento utilizado, deve ser adequado. Também é necessário prever o que fazer
com o volume de palha produzido no momento da colheita. Mas não é só isto,
necessita-se de variedades de cana que se adaptem a este sistema de produção, ou
seja, que auxiliem na montagem de um sistema de produção que permita efetuar a
colheita da cana, sem a necessidade de queimar o canavial. |
A parceria
Buscar esta solução foi o objetivo principal
do convênio entre a Universidade de São Carlos (que havia assumido a estação
experimental da Planalsucar em Araras, fechada por uma das primeiras medidas
provisórias do ex-presidente Fernando Collor), com a colaboração das
Universidades Federal do Paraná e de Alagoas. Completou a parceria a iniciativa
privada. As Universidades entraram com os bancos de germoplasma, seus
laboratórios e pesquisadores capacitados. A iniciativa privada pagou a conta,
aproximadamente US$800 mil por ano, durante 12 anos. Resultado: em 1998, após 12
anos de investigação, a iniciativa privada recebeu seis novas variedades de cana
de açúcar. A novidade: quatro delas foram desenvolvidas para que possa ser
efetuada a colheita sem a necessidade de queima da palhada. |
|
As vantagens da parceria
Em uma primeira análise, investir US$10
milhões no desenvolvimento de variedades de cana pode parecer caro. Não é, ao
contrário, é um dos melhores negócios que uma organização de produtores pode
efetuar. Antes deste lançamento, desde 1993 os produtores vinham recebendo, em
média, uma nova variedade melhorada a cada ano, como fruto da parceria. Uma nova
variedade somente é lançada no mercado, se ela for superior às melhores
variedades comerciais já em cultivo. Ou produz mais, ou apresenta maior teor de
açúcar, ou é mais resistente a pragas, ou, no caso, permite o uso de um novo
sistema de produção. Das seis agora lançadas, duas são de maturação precoce e as
demais de maturação média-tardia, com alta riqueza sacarina (teor de açúcar) e
alta produtividade agrícola. Os cálculos efetuados pelos parceiros indicam que
as novas variedades deverão significar um aumento médio de 25% da lavoura
canavieira. As novas variedades ainda se destacam por terem resistência à
maioria das doenças e pelo porte ereto com palhas pouco aderidas,
características que favorecem a colheita mecanizada, sem queimadas. Somente
neste ano, cerca de 100 mil hectares serão plantados com a nova variedade. Com o
que, já na primeira colheita, os produtores serão ressarcidos do seu
investimento nas universidades. E vão continuar investindo para, no futuro,
colher não apenas cana mas um lucro maior. |

Vinho brasileiro: pequena quantidade, mas alta qualidade
Décio Luiz
Gazzoni
Durante o ano passado, os vinhos produzidos no Brasil arrebanharam mais de
uma centena de medalhas, em sete concursos internacionais de que
participaram. Competindo com França, Alemanha e Itália, tradicionais
produtores, ou os emergentes Estados Unidos e Austrália, o produto nacional
tem se saído galhardamente em termos de qualidade. Desde que Noé aprontou
aquele inesquecível escândalo erótico-bíblico, com frutos fermentados da
parreira, o vinho tem acompanhado o Homem através dos séculos, e a busca do
aprimoramento da qualidade tem sido uma marca constante durante todo este
período, em que tem sido cantado como alimento do corpo e da alma. |
|
O negócio brasileiro
Produz-se vinho no Brasil desde o Nordeste (Petrolina-Juazeiro),
passando por São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Indubitavelmente, os vinhos de melhor qualidade são produzidos nas plagas
gaúchas. A região de Bento Gonçalves, na Encosta da Serra gaúcha concentra a
maior produção de uvas e vinhos, em especial os de alta qualidade, que também
possui um polo em Livramento, na fronteira com o Uruguai. A produção global
ultrapassa os 220 milhões de litros anuais, um incremento médio de 5% ao longo
dos últimos anos. O valor comercializado é superior a US$500 milhões, sendo que
a participação dos vinhos finos tem aumentado gradativamente ao longo dos
últimos anos. Outras áreas do país estão em expansão, como é o caso do Norte do
Paraná. |
|
O consumo nacional
O Brasil não figura entre os grandes
produtores mundiais de vinho, como também não se firmou ainda como um grande
consumidor. Nada como os vizinhos da Argentina, que ingerem 45 litros per cápita/ano.
No momento, o consumo per cápita é de dois litros (quatro para os gaúchos, que
ingerem oito no inverno), porém as pesquisas apontam o vinho como a bebida de
maior crescimento em vendas nos supermercados, durante o ano de 1997. O
crescimento do consumo obrigou a importação de 6,3 milhões de litros, para
suprir a falta de oferta do produto nacional, e também para atender o gosto de
connoisseurs, que possuem preferencias muito particulares em termos de
procedência e safra. |
A importação e exportação de vinho
A alíquota do imposto de importação de vinho,
que era de 20%, foi elevada para 40%, a partir do segundo semestre de 1996. A
alteração da alíquota foi a fórmula encontrada pelo governo brasileiro para
equilibrar a euforia de importações em diversos setores, que se seguiu à
implantação do plano Real. A redução do volume importado propiciou a
oportunidade para os brasileiros descobrirem o aroma e o sabor próprios dos
vinhos brasileiros, o mesmo que está arrebatando a premiação nos concursos
internacionais. No entanto, sempre haverá um mercado para vinhos finos,
destinados a consumidores requintados e exigentes. Infelizmente, também
continuaremos a importar os famosos vinhos da garrafa azul, de qualidade
inferior, disfarçada pela adição de altas quantidades de açúcar, e que ainda tem
muitos adeptos no país. Por outro lado, o Brasil vem participando há tempo do
mercado internacional, conseguindo colocações crescentes do produto, conforme
sua qualidade vem sendo reconhecida. |
|
Verdades e mentiras sobre o vinho
O vinho sempre aguçou o imaginário popular. Ao
lado de algumas verdades científicas, correm mitos próprios de um produto que
atravessa gerações. Senão vejamos:
Bom é vinho velho: Como qualquer ser vivo, o vinho nasce, cresce e morre.
Nunca caia na história do quanto mais velho melhor. Melhor é o vinho que está em
seu clímax de qualidade, um equilíbrio perfeito entre seus componentes de cor,
perfume, aroma e sabor. Que pode ser ou não muito velho!
Vinho com gosto de uva é o melhor: Gosto de uva tem que ter o suco de
uva. Desconfie, e muito, de um vinho com gosto de uva. A partir da matéria
prima, o bom vinho tem o dom de desenvolver personalidade própria, através dos
processos de fermentação e envelhecimento. Vinho com gosto de uva denuncia um
vinho pobre.
Vinho branco se bebe gelado, tinto à temperatura ambiente: Se for na
França ou Alemanha, ótimo. Nos trópicos, precisamos das devidas adaptações.
Vinho branco tem seu clímax de sabor a temperaturas mais baixas, ou seja,
resfriado. Ressalta-se o sabor do vinho tinto em torno dos 20o. C. Se
a temperatura ambiente for os 35o.C do nosso verão, não pense que
está cometendo um pecado mortal ao resfriá-lo para sua temperatura adequada.
Vinho é bom em qualquer copo: O vinho é uma mistura complexa de aromas, em
especial de produtos voláteis, que sofrem influência do ambiente, inclusive da
cor e da forma da taça. A conhecida taça em forma de tulipa tem a propriedade de
concentrar os aromas para a detecção pelo olfato. Também é importante que a taça
coloque o vinho no ponto adequado de detecção de sabores pela língua. |
E agora, abra aquela garrafa de
bom vinho brasileiro e, Saúde!

As
reformas estruturais e os agronegócios
Décio Luiz
Gazzoni
Leitores me escrevem
perguntando onde está o paralelismo entre as reformas que o governo pretende
implementar e os negócios do país, em especial os agronegócios. Para entender a
relação é preciso primeiro discorrer sobre o histórico do Estado enquanto poder
e sua relação com a sociedade. Em particular o Estado brasileiro, estruturado e
operacionalizado sobre processos burocráticos, sem a profissionalização
requerida em seus quadros, balançado ao sabor das necessidades políticas
conjunturais. Assim, o centralismo, a burocracia, a rigidez administrativa, a
falta de compromisso social, a ausência de uma visão do cidadão ou do cliente, o
não reconhecimento de uma missão institucional geraram o estereotipo do Estado
disfuncional, de baixa eficiência e mau prestador de serviços.
|
|
O impacto das mudanças
O Estado não poderia deixar de sofrer o
impacto das mudanças que levaram o mundo de roldão, sejam as políticas (a
falência do modelo comunista e o fim da Guerra Fria), as sociais (a organização
da sociedade para exercer seus direitos), ou as científicas (o avanço da
informática ou da biotecnologia). Por exemplo, em menos de um século a
expectativa de vida sofreu um salto ponderável, em função dos avanços
nutricionais, de higiene, e da medicina. Como tal, todas premissas atuariais
sobre as quais se baseavam os cálculos de financiamento da Previdência Social
ruíram, e como resultado temos o caos que aí está instalado, e do qual não será
possível sair sem uma reforma profunda. |
|
O salto tecnológico
Fundado no objetivo de conferir maior
efetividade às empresas, a melhoria da competitividade e o desenvolvimento
social e econômico, o avanço tecnológico mostra seu lado contraditório:
acirramento da competição, fechamento de fábricas, aumento do desemprego,
destruição de valores e crenças, fragmentação da sociedade. A sociedade se volta
para o governo, na busca de um regulador das ações do mercado e de um anteparo
para suas inseguranças. Crescimento econômico sim, porém com justiça social: Aí
está o desafio de dez entre dez governos da face da terra. Quem sentiu cheiro de
terceira via nesta afirmativa, está com o faro afinado! |
A globalização de mercados
A transmutação de uma sociedade mais
universal, derrubando ou alargando barreiras econômicas, sociais, políticas e
culturais, trouxe novos fatores para o desenvolvimento das nações. Produz-se
intensa mobilização no seio da sociedade, cujos países necessitam inserir-se no
mercado globalizado, marcado por elevado poder aquisitivo e alta exigência. Este
mercado é regido por regras rígidas e severas de conformidade, representando a
única porta de acesso ao mesmo. Os governos assumem compromissos recíprocos -
através de acordos multilaterais avalizados por entes internacionais - que se
obrigam a internalizar em sua própria legislação. Às vezes o crescimento
coletivo pode conduzir a conflitos e desajustes ao nível individual. |
|
A ação do poder público
É neste conflito que se situa o Estado. No
caso do Brasil, os sucessivos governos se encarregaram de tornar o Estado
partícipe da economia do país, através de dezenas de empreendimentos estatais.
Com esta ação, foi relegada a um segundo plano a ação do Poder Público. Hoje o
Estado precisa refluir para esta condição, o que busca através das reformas
estruturais. A reforma fiscal busca adequar as colunas de receita e despesa do
governo. Para que? Por múltiplos objetivos mas, in casu, interessa
concentrar os recursos do Estado naquela que é a sua função básica: segurança,
saúde, educação, saneamento, habitação. E atuar nos demais segmentos como
regulador, normatizador e fiscalizador do mercado. A reforma administrativa
objetiva tornar o Estado efetivo, atendendo anseios da sociedade, e bem
aplicando os recursos de impostos. E a reforma do sistema previdenciário busca
uma saída para um sistema que, quando foi concebido, existiam 12 trabalhadores
ativos para sustentar um aposentado. Daqui a 50, sem reforma, poderá existir 12
aposentados para cada trabalhador ativo! |
|
Reformas e agronegócios
Um governo que bem exerce o Poder Público
sempre será um aliado do segmento produtivo (patrões e empregados), ao reduzir
sua necessidade de financiamento, efetuando a aplicação correta dos recursos, e
atentando para os reais anseios da sociedade. É exatamente neste ponto que os
objetivos das reformas estruturais e dos agronegócios convergem: um Estado
parceiro do produtor, que cumpra eficientemente sua missão, que não imponha
barreiras burocráticas desnecessárias e que busque mecanismos para aumentar a
competitividade dos produtos made in Brazil.
|

Organismos geneticamente modificados: o verso e o reverso.
Décio Luiz
Gazzoni
A sensação de quem examina os
agronegócios a partir do ponto de vista da biotecnologia é a de estar no olho do
furacão: tudo parece calmo onde se pisa, mas há sempre o temor que basta um
passo em falso e o mundo desabará. Nos momentos de revolução da humanidade, seja
ela artística, cultural, científica, tecnológica, ou de domínio e poder, o
sentimento de insegurança e as opiniões polêmicas e frontalmente antagônicas
sempre constituíram o cardápio principal.
A visão do cientista
Por formação e vocação, o cientista quer
desvendar o desconhecido. Não seria cientista se assim não agisse, transitando
na fronteira da ciência. É um progressista por natureza, porém examinando com
atenção as repercussões e os efeitos não desejados de um novo produto ou
processo. A formação do conhecimento científico pressupõe justamente a agregação
constante de novas informações que permitem um avanço na direção de um objetivo
pré-determinado. Da informação gera uma aplicação em benefício da sociedade. É a
motivação progressista que o leva a transformar o mundo pela via do avanço
tecnológico. Produzir OGMs para o benefício da sociedade é uma das missões do
cientista. |
|
A visão do empresário
Por formação e por vocação, o empresário busca
as melhores oportunidades para a aplicação do seu capital, seja ele financeiro
ou intelectual. A biotecnologia representa para o empresário um diferencial
competitivo para melhor inserção no mercado, seja através de um microorganismo
com melhor capacidade de fermentação, ou uma variedade mais produtiva. A
utilização de variedades resistentes a herbicidas representa justamente uma
destas oportunidades de produzir a mais baixo custo. É da índole do empresário
não deixar escapar uma oportunidade de posicionar-se em melhores condições no
mercado. |
|
A visão do governo
O governo tem o papel mais complexo neste
processo, porque é uma de suas atribuições promover o avanço do conhecimento e a
melhoria da condição tecnológica. Além disso, atua como parceiro do setor
produtivo, busca o progresso, a melhoria da renda e da condição social do povo.
Porém também é seu dever regular os atos sociais, como forma de garantia da
sociedade. No caso específico da biotecnologia, uma das funções do governo é a
constante preocupação com a saúde pública e o bem estar social, sem que essas
ações signifiquem uma trava ao desenvolvimento científico e tecnológico, ou ao
avanço dos agronegócios. |
A visão do órgão de sanidade agropecuária
Agente do governo responsável por resguardar a
saúde pública em função de produtos e processos utilizados na exploração
agropecuária, os órgãos de defesa sanitária devem revestir-se de um caráter
conservador e uma postura crítica em relação a efeitos colaterais e indesejados
desses produtos e processos. Por esta razão, esses órgãos costumam dispor de uma
legislação altamente restritiva em relação aos produtos potencialmente perigosos
à saúde humana ou ao meio ambiente. No caso de OGMs, a sociedade espera que os
órgãos de sanidade agropecuária atuem como guardiões da saúde pública. |
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Regulação de OGMs no Paraná
Ao criar a Comissão Estadual Técnica de
Biossegurança - CTEBio, com representantes de instituições públicas e privadas
das áreas de agricultura, saúde, meio ambiente, ensino, pesquisa, assistência
técnica e organizações não governamentais, o Secretário da Agricultura do Paraná
criou um foro democrático para regular o tema. Foi além, ao levar em
consideração o Regulamento 1813/97 da União Européia, que obriga a explicitar no
rótulo dos produtos alimentícios, se forem fabricados a partir de soja ou milho
geneticamente modificados. As exportações brasileiras para a União Européia
perfazem 68% do total das exportações de soja (US$ 676 milhões/ano); 75% do
total de farelo de soja (US$ 484 milhões/ano) e 60% das exportações agrícolas
(US$ 21 bilhões/ano). Não podemos expor esse mercado, por eventuais e futuras
restrições impostas pelos países importadores de grãos, seus produtos,
sub-produtos, enzimas e produtos de origem animal, cujos animais tenham sido
tratados com os referidos grãos (oriundos de OGM). |
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Ao futuro, com segurança
As visões do processo e do rumo que o mesmo tomará
dependem do papel que o ator desempenha na comunidade. No caso da revolução
provocada pela biotecnologia, não haveria de ser diferente. O processo em si
significa um "break through" científico comparável aos mais importantes já
registrados na História da Humanidade. A humilde opinião desse escriba é a de
que o mundo nunca mais será o mesmo, após o surgimento da biotecnologia, que
será a mola propulsora do progresso nas ciências biológicas, e nas tecnologias
que dela dependem. É louvável a posição serena dos técnicos da SEAB ao
acompanhar de forma fundamentada os estudos científicos e a produção
agropecuária no âmbito do estado do Paraná, buscando proteger a saúde pública e
os agronegócios, ao tempo em que incentivam os estudos sobre avanços
biotecnológicos e os eventuais efeitos colaterais que seus produtos ou processos
possam causar. |

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