MST X MST

Décio Luiz Gazzoni
(310ut97)

O Movimento dos Sem Terra finalmente encontrou um adversário à sua altura: o próprio Movimento dos Sem Terra. Como? Porque o "sucesso" lhe subiu a cabeça, e passou a colocar a colher no angu alheio, ou seja, auxiliar na criação e tentar transferir apoio ao Movimento dos Sem Teto. Vamos tentar explicar.

Pesquisas de institutos independentes de opinião pública tem indicado um forte suporte da opinião pública urbana a uma Reforma Agrária no Brasil. Na nossa opinião, este suporte efetivamente existe e se deve principalmente porque:

1. As próprias lideranças ruralistas tem se posicionado favoravelmente a que haja uma reforma agrária. A discordância tem se dado em como fazer a Reforma Agrária. Foi isto que os institutos de pesquisa captaram.        
         
  2. Para o público urbano, fazer reforma agrária é desapropriar terra de não mais que 1000 latifundiários, que no imaginário possuem um milhão de hectares cada um, que não são devidamente utilizados, e que não lhe farão falta.      
         
    3. A ninguém agrada ver o sofrimento alheio, e as imagens de acampamentos de sem terra, onde se vive desconfortavelmente à beira da estrada, foram devidamente explorados pela imprensa, o que levou a maioria silenciosa a apoiar uma forma de solução do problema, representada pela Reforma Agrária.    
         
      4. A propaganda da Reforma Agrária fala claramente que, após efetuada, aumenta a disponibilidade de alimentos, diminuindo seu preço, e a fome no Brasil. Quem não deseja que isto aconteça?  
         
        5. E, finalmente, porém creio que o mais importante, a desapropriação era do patrimônio alheio. Nem de perto a Reforma Agrária afetava o habitante do meio urbano, seus parentes, amigos, conhecidos, etc. Era um problema dos outros.

 

E foi aí que o Movimento dos Sem Terra cometeu seu grande erro. Baseado no levantamento da opinião pública que apoiava a Reforma Agrária, o MST passou a correr riscos cada vez maiores, anunciando ações cada vez mais ousadas, aumentando o número de invasões anunciadas. Governos estaduais, temerosos de confrontos e de "afrontar" a opinião pública, relutavam em cumprir ordens judiciais de reintegração de posse. Numa ação inteligente, a estratégia do MST foi ocupar ao máximo os espaços de mídia, para manter um discurso agressivo na mesma linha que tinha lhe garantido o suporte público. Foi com este mesmo suporte que se realizou a Marcha a Brasília, e baseado no mesmo fato a CONTAG transformou o gabinete do Ministro do Planejamento em curral. Começou a romper a linha do suporte incondicional, e provocar o questionamento. Afinal, podemos desafiar tão abertamente autoridades constituídas, pode-se ultrajar a dignidade dos cargos mais elevados da Nação? A maioria silenciosa é cumpridora da lei, gosta de paz e ordem!   E foi nesta linha de fronteira que o MST começou a declarar publicamente seu suporte ao Movimento dos Sem Teto, o que começou a aumentar o questionamento da maioria silenciosa, classe média ou remediada urbana. De repente, o coitado do migrante nordestino, que após quinze anos de trabalho sofrido em São Paulo, adquiriu sua casinha, passou a fantasiar que o seu patrimônio também estava sob perigo. O dono do pequeno comércio ganhou o direito de imaginar que se formariam diversos outros movimentos: os sem terreno urbano, os sem roupa, os sem saúde, os sem alimento, e se a coisa virasse baderna poderiam vir os sem bebida, sem conta bancária e sem uma série de outras coisas.   Não cabe aqui questionar se o temor pertence ou não ao terreno do imaginário. A maioria silenciosa sempre se moveu estimulada por informações parciais, pelo desinteresse e pela busca de uma solução rápida do problema, que aplacasse a consciência nacional. E passou a temer pelo seu patrimônio. De repente aquele bordão de "reforma agrária é boa com a terra dos outros" passou a fazer sentido. Ou seja, reforma agrária sim, reforma do patrimônio urbano não. Vieram as primeiras invasões realmente organizadas de conjuntos habitacionais e de terrenos urbanos. Não que elas não existissem anteriormente. A diferença é que passaram a ser organizadas, apoiadas publicamente pelo MST e usando o bem postado sistema de propaganda cuidadosamente elaborado pelo Movimento ao longo dos anos.

 

A gota d’água veio com a participação de um dirigente do MST no Fórum Nacional no Rio de Janeiro, em que teria incitado os sem teto a deixarem de ser sem teto e aos sem alimento a satisfazerem suas necessidades junto aos supermercados. Tudo isto sem pagar a conta!   Ninguém é favorável à indignidade humana, ninguém quer ver um legítimo trabalhador rural, vocacionado para as lides do campo, sem terra; ninguém quer ver um irmão brasileiro sem teto ou sem comida. Como ninguém quer ver alguém exposto às péssimas condições de saúde ou de falta de segurança. Porém, ninguém quer ser ameaçado nos seus direitos, no seu espaço e no seu patrimônio. Mesmo que esta ameaça seja fantasiosa. Assim, quando o presidente da República resolve dizer que basta de baderna, com certeza vai ter o apoio da mesma maioria silenciosa. E foi aí que errou o MST, e pode ser também o fim do suporte incondicional, porque a maioria silenciosa urbana pode se identificar com produtores rurais, imaginando que a mesma ameaça paira sobre quem adquiriu legitimamente seu patrimônio, com honestidade e com décadas de suor do seu rosto.

Patenteando a vida

Décio Luiz Gazzoni
(7nov97)

Durante as duas últimas décadas observou-se o embate de argumentos em torno da proteção intelectual da produção de novas variedades de plantas, as chamadas Leis de Proteção de Cultivares ou Lei de Proteção aos Direitos do Melhorista. Poderosos argumentos foram levantados de ambos os lados da contenda, porém o advento da globalização de mercados levou de roldão qualquer argumentação, e hoje a tese é aceita quase universalmente.    
     
  No entanto, os argumentos de ordem ética e moral são novamente levantados, e com maior intensidade, quando volta ao centro do debate uma questão científica similar: o patenteamento dos genes. As duas questões diferem em algumas nuances, o que torna o debate ainda mais acirrado.  
     
    Genes estão para os seres vivos como os bytes estão para um programa de computador, pois tratam-se de um código que executa uma determinada função. Os genes estão associados com a produção de proteínas, via de regra enzimas que executam uma função específica nos organismos vivos. Um gene tanto pode ser o responsável por uma doença no Homem, quanto pela resistência a bactérias num animal ou numa planta. A partir desta informação básica, que para um desavisado pode parecer ciência pura, giram cifras de bilhões de dólares, em especial nas áreas farmacêutica e agropecuária. E a luta ocorre porque as empresas buscam industrializar produtos que, em algum momento do processo envolvem genes, e exigem que estes genes sejam uma patente sua.
     
O argumento central de parte de quem defende o patenteamento é econômico e linear: sem um patenteamento, não há garantia de retorno do investimento de centenas de milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento. Sem esta garantia de retorno, desativam-se indústrias, empregos deixam de ser criados, riqueza deixa de ser gerada, soluções para doenças e pragas não sairão das pranchetas. Em suma, bloqueia-se o progresso da Humanidade.    
     
  Os argumentos contrários iniciam por uma questão ética: não se pode patentear a vida. Mais, não se pode patentear o que já existe. E prossegue por um argumento moral: não pode uma corporação arvorar-se em Criador do Universo, apropriando-se de sua obra num primeiro instante, modificando-a com o argumento de melhorá-la, no segundo instante.  
     
    Mais um round desta batalha ocorre na Europa, quando a questão é submetida ao Parlamento Europeu para uma decisão, que, uma vez aprovada, resultará na necessidade de harmonização da legislação dos quinze países componentes da União Européia. E os deputados do Parlamento terão que decidir pressionados por lobbies da atividade industrial de maior crescimento na Europa, que é a da biotecnologia.
     
Mas também terão uma forte pressão de outros grupos organizados, como parcela da comunidade acadêmica e grupos de ambientalistas. E também de organizações de consumidores e de supermercadistas, que não estão convencidos da inocuidade dos produtos derivados da biotecnologia. Um exemplo prático que ocorre neste momento é o deságio aplicado à soja norte-americana, suspeita de ser proveniente de sementes transformados por engenharia genética, para não serem afetadas por determinado herbicida.    
  Este é um aspecto pragmático da questão que interessa muito de perto ao setor produtivo e de agronegócios do Brasil, ou seja, até que ponto nossos negócios serão afetados se colocados sob suspeição de serem provenientes de sementes transformadas biotecnologicamente. Será conveniente aguardar que a batalha de argumentos se aproxime do desenlace, que os consumidores não mais mostrem desconfiança em relação aos possíveis efeitos colaterais de vegetais transformados, para que incorporemos ao nosso sistema produtivo este novo avanço. Caso contrário estaremos conquistando uma vitória de Pirro, ao sermos beneficiados na fase de produção por uma tecnologia diferenciada, e penalizados na fase de comercialização justamente pelo uso da mesma tecnologia.  
     

É possível uma globalização humanizada?

Décio Luiz Gazzoni

Parece que encontramos na globalização a mãe de todos os males. Aos poucos os brasileiros vão conhecendo os efeitos da globalização dos mercados. Existe o bônus, representado pelo acesso a automóveis importados, a inexistência de diferencial de tempo entre os lançamentos da indústria de informática nos países centrais e no Brasil. O fosso tecnológico diminuiu, as informações correm céleres e a notícia nos chega em tempo real. Os jovens de todas as partes do mundo ouvem as mesmas bandas de rock, vestem as mesmas T-shirts, tem os mesmos ídolos. A Internet se encarregou de aproximar as pessoas e quebrar barreiras antes impensadas, a integração dos sistemas de comunicação permitirá, brevemente, o acesso a um telefone celular mundial.   O preço da globalização.
Mas existe a face cruel, o ônus. A entronização da competitividade como passaporte para a globalização, está exigindo um redimensionamento das atividades econômicas. Ninguém pode antever onde desembocará o processo, quais serão as etapas a cumprir, por ser dinâmico. Cada avanço aponta novos caminhos, novas alternativas, novas necessidades e novos desafios. Sempre buscando aquele centavo a mais de competitividade, que nunca é atingido, porque a concorrência selvagem se encarrega de romper barreiras a cada dia. É nesta busca desenfreada de competitividade que encontramos os mortos e feridos de uma batalha que é tão inevitável quanto a morte, posto que ninguém, unilateralmente, conferiu tamanha importância à competitividade, a ponto de possuir poderes para questioná-la. Foi uma eleição do mercado, que estabeleceu regras para o novo ambiente, cujas alternativas são adaptar a elas, ou ficar à margem deste mercado.

 

Quais são as conseqüências funestas?
A Europa enfrenta os mais altos índices de desemprego de toda a História. De acordo com a OIT, existe mais de 1 bilhão de desempregados no mundo. Economias sólidas como a da Alemanha sofrem abalos pela falta de oportunidades de trabalho e renda. Os mesmos questionamentos levaram à derrubada do parlamento francês e sua substituição por outra linha política - que promete exatamente o que a derrotada havia prometido há quatro anos: pleno emprego. Na busca de recomposição econômica, os orçamentos ficaram pequenos para tantas demandas, obrigando a uma proposta de revisão do wellfare state, de enorme conteúdo de impopularidade. No bojo da proposta dos países da Europa, destacam-se as reformas previdenciárias, as alterações no sistema de atendimento médico e a eliminação dos subsídios agrícolas.
  Os efeitos no Brasil.
A imprensa noticia que o Banco do Brasil teria eliminado 40% de seu quadro de pessoal, a Votorantin despedido 20.000 empregados. Outros bancos sucumbiram na caminhada, incapazes de adaptar-se a um novo ambiente, onde prima a competitividade natural e não a fraude ou o escamoteamento inflacionário. Industriais e produtores queixam-se da feroz competição dos produtos importados, porém sabedores que não há mais espaço para protecionismos em um mundo globalizado.

 

Globalização X MST
Na área agrícola, percebe-se dois dos sub-produtos mais desumanos de um mercado globalizado: por um lado produtores tradicionais não conseguem se adaptar à competição selvagem, às demandas de elevada tecnologia, à necessidade de capital e de ampliação da extensão de terra, e são obrigados a abandonar a atividade. De outro o inchamento do Movimento dos Sem Terra. Não que todos os componentes ou militantes do MST sejam fruto do desemprego causado pelo enorme avanço tecnológico e pela inserção do Brasil na globalização de mercados. Muitos eram legítimos produtores rurais, apanhados na armadilha de juros elevados, da falta de seguro agrícola ou outra catástrofe. Porém, sem sombra de dúvida, na história pessoal de cada família acampada vamos encontrar em seu núcleo ou na tangência os temas de abertura de mercados, substituição tecnológica ou falta de escala, os quais tem em comum o desafio da competitividade para sua sobrevivência na atividade. Muitos militantes do MST tiveram origem no meio rural, porém, na busca de oportunidades melhores no meio urbano, encontraram as portas do mercado fechadas e trancadas. Hoje tentam o triste retorno às origens. Outros simplesmente buscam no campo sua última chance de inserção no mercado de trabalho.
  Os efeitos na agropecuária
Os agricultores europeus estão literalmente apavorados e desesperançados, assim como seus colegas japoneses. Falta à agropecuária destes países escala para auferir competitividade. A média da propriedade européia gira em torno de 5ha, insuficientes para gerar renda para uma pessoa, quanto mais para uma família. A cada ano que passa, cresce a média de idade do agricultor europeu ou japonês, pois a juventude rural busca suas oportunidades no meio urbano, e o pai de família é hoje um agricultor de tempo parcial, que possui outra fonte de renda urbana. Eles olham com inveja para o Brasil, onde vêem a grande vantagem comparativa da extensão territorial que nos permite conseguir propriedades com escala para produzir. Escala que foi atingida nos EUA porque, apesar do PIB agrícola americano representar quase a totalidade do PIB brasileiro, apenas 3% da população economicamente ativa daquele país se dedica exclusivamente à agricultura.

 

A perigosa equação
O êxodo rural não faz mais sentido, porque a necessidade de competitividade no meio urbano leva à evolução tecnológica, antagônica à plena ocupação da mão de obra. O desempregado inverte o fluxo, tentando oportunidades de trabalho no meio rural. A falta de escala leva à bancarrota pequenos agricultores, a complexidade dos mercados passa a exigir cada vez mais mão de obra especializada e preparada para, não apenas produzir com baixos custos, alta produtividade e elevada qualidade, mas também para comercializar seus produtos de maneira a auferir renda suficiente para continuar na atividade. Na busca de uma solução, cobra-se do governo medidas protecionistas que ele não pode mais tomar, porque assinou acordos internacionais que o impedem de conceder subsídios à qualquer atividade produtiva.
  Quo vadis?
Não será fácil encontrar a saída para esta equação perversa, que obriga o ser humano a entrar numa roda viva de competição cada vez mais selvagem, que vai deixando mortos, feridos e desempregados ao longo da caminhada, e onde a sociedade não dispõe de meios à altura para contrabalançar seus malefícios. Esperemos que, no avanço do processo de globalização, o frio mercado comece a respeitar os condicionantes sociais do crescimento econômico.

Commodities agrícolas: um balanço da produção e estoques

Décio Luiz Gazzoni

Com a safra de grãos americana chegando ao fim, é possível fazer um balanço da situação atual e arriscar alguns prognósticos sobre as perspectivas da safra de verão brasileira. Como regra geral, os últimos números divulgados pelo USDA tiveram o poder de derrubar as cotações. As dificuldades de colheita do trigo argentino e de plantio da safra de verão no Rio Grande do Sul, a possibilidade de parte dos salários de brasileiros serem deslocados de bens de maior valor para alimentos, por influência da alta de juros, contrabalançaram as cotações internas e influenciaram o mercado internacional.

Produção estável, estoque crescente.
O total de grãos considerados nobres no comércio internacional deve atingir 1.867 milhões de toneladas, valor igual ao do ano anterior. Os estoques devem crescer entre 1 e 2%, na estimativa dos analistas do USDA. No entanto, seria interessante reavaliar esta posição quando a poeira da atual crise financeira internacional assentar, pois haverá movimentos de importadores e exportadores, alterações espaciais de estoque, mudança de posição em função da elevação de juros em diversos países. O El Niño tem sua máxima atividade prevista para a passagem de ano, o que pode alterar as previsões efetuadas para o Hemisfério Sul.

Açúcar - Nosso principal problema ainda é o famigerado sistema de cotas, mas os subsídios europeus também continuam deturpando este mercado. A produção americana deve chegar a 7 milhões de toneladas (4 milhões de açúcar de beterraba), superior à última estimativa, o que deve esfriar os preços no próximo período.

Trigo - A produção mundial de trigo foi estimada para maior, rompendo o patamar de 600 milhões de toneladas. Como o consumo não cresceu na mesma proporção, eleva-se o estoque mundial para 128 milhões de toneladas, estimando-se o estoque final entre 17 e 18 milhões de toneladas, traçando um quadro de estabilidade ou de leve queda de preços.

Milho - Os EUA continuam produzindo altas safras de milho, estimando-se uma colheita de 237 milhões de toneladas, porém a nível mundial deverá haver uma redução de 3,5% na produção. Apesar da seca na China, a colheita deverá ser superior a 100 milhões de toneladas. No entanto, o mercado já havia se ajustado a estes valores e à redução superior a 20% no estoque de passagem. Os EUA deverão colocar quase 50 milhões de toneladas no mercado internacional, enquanto a China colocará quase 5% de sua produção neste mercado.

Soja - Continua sendo a vedete das commodities. Os EUA colhem uma safra recorde (74,5 milhões de ton), com embarques somando 26,6 milhões de ton, quase a previsão da produção brasileira (29 milhões de ton) ou o dobro da produção da Argentina. Apesar do aumento sensacional na produção mundial, estimado em 14% e atingindo 150 milhões de toneladas, a demanda super-aquecida deverá derrubar os estoques mundiais em mais de 30%, mantendo acesas as cotações do produto. Devido ao aumento no processamento, os estoques de óleo e farelo permanecerão estáveis. Bola preta para quem fez previsões pessimistas para a soja brasileira, em 1994. Aliás, neste 3 anos, de acordo com os agricultores, tem sido a soja a salvação da lavoura!

Arroz - Tanto a produção quanto os estoques mundias de arroz permanecem estáveis, com variações estimadas entre 1 e 2%. Com o mercado monótono e previsível, os preços devem permanecer estáveis.

Algodão - A produção mundial de algodão está estimada em 90 milhões de fardos, muito próximo do valor de 89 milhões da safra anterior. O consumo também permanece estável, fazendo com que os estoques se estabilizem no mesmo valor de 2,30 milhões de fardos. Preços ajustados, perspectiva de estabilidade.

-- B O X --

Importação de carne.

Em 1998, quem quiser exportar carne bovina (ou derivados) para a Europa, terá que se sujeitar às novas regras. Entre outras, será exigido um rótulo, identificando o país de origem do animal, o país onde foi feita a engorda e também as características fisiológicas do animal. O Dr. Ênio Marques, Secretário da SDA/MA reuniu-se com representantes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. A idéia é evitar problemas para a colocação da carne brasileira. Estuda-se um sistema de etiquetas, que identifique o nome do frigorífico exportador, o país de origem, data de abate, sexo e idade das reses.

Fazendeiro de emas?

É, o mercado já havia criado o fazendeiro de jacaré. Agora chegou a vez da avestruz e da ema. Carne de primeira, lembra o filé mignon, com demanda crescente no mercado internacional, vale US$20,00 ao quilo nos EUA. No Brasil, artigo de luxo, vale até R$60,00, quando é encontrada! Uma peça de couro pode valer US$600,00, a pluma chega a US$100,00 ao quilo. É uma boa aposta para o próximo milênio.

Leilão da Lagoa da Serra

Retirada do patrimônio do Bamerindus e em poder do Banco Central desde abril, a empresa de inseminação artificial com 25 anos de atuação no mercado, vai a leilão no próximo mês. Com faturamento previsto para o ano em US$11 milhões, fruto da venda de 1 milhão de doses de sêmen, deverá estar disponível para quem tiver um cheque estimado em R$5 milhões.

Beleza no campo

Primeiro foi o MST que colocou suas musas no ar. Agora o é o "MCT" (Mulheres com Terra) que contra-ataca. A principal entrevista da revista A Granja de Novembro é com Carmem Hauschildt, com Fazenda em Catanduvas e Laranjeiras do Sul. Loira e bonita, a artista plástica de 47 anos assumiu a administração das fazendas quando seu marido, engenheiro agrônomo, faleceu vítima de um ataque de enxame de abelhas. Para conferir.

A necessidade de uma agência de Comércio Exterior

Décio Luiz Gazzoni

Neste momento da História recente, em que um processo de globalização impõe a presença constante e crescente dos exportadores brasileiros no exterior, abrindo mercado para os produtos agropecuários nacionais, é fundamental buscar mecanismos de ampliação de nosso comércio exterior. Entre nossos concorrentes, os Estados Unidos e outros países do Primeiro Mundo, sempre se caracterizaram por proteger fortemente o seu agribusiness, através de subsídios admitidos ou implícitos, artificializando o comércio internacional de produtos agrícolas. Este protecionismo obrigou países como o Brasil a um esforço hercúleo para manter a competitividade. Com o advento da Organização Mundial do Comércio (OMC), os subsídios diretos ou indiretos estão fadados a desaparecer - ou a OMC é quem desaparecerá. Isto porque toda a consistência ideológica desse organismo se ampara na liberalização do comércio internacional. Entendemos que, em um ambiente despojado de subsídios, o Brasil passaria a ter uma forte vantagem competitiva original, onde residiria a princípio sua maior oportunidade.

Para onde irá o dinheiro dos subsídios agrícolas?
A retirada, mesmo gradual, de subsídios agrícolas não será tão simples. Os agricultores franceses deverão parar a Europa, como tem feito os motoristas de caminhão daquele país. O movimento que ora se engendra, e que os próximos anos se encarregarão de comprovar, sinaliza que os países protecionistas estão indicando, em seus planos pluri-anuais, que os recursos do Tesouro, hoje destinados aos subsídios, se encaminharão para três outros segmentos: fito e zoo sanidade, tecnologia agropecuária e promoção comercial. Desta maneira, ao invés de artificializar sua competitividade, utilizarão mecanismos que são aceitos pela OMC e pelos países que a compõem para atingir o mesmo fim.

A promoção comercial americana
Os EUA sempre apoiaram os negócios ultra-fronteiras de diversas formas, inclusive com pesados subsídios. Um de seus méritos foi a antevisão de que um dia o ambiente seria alterado, e criaram uma agência ligada ao Departamento de Agricultura (USDA) denominada Foreign Agricultural Service (FAS). Esta agência promove as exportações americanas suportando esforços cooperativos de desenvolvimento de mercados com a iniciativa privada; negocia a ampliação de acesso a mercados já abertos; trabalha, conjuntamente com parceiros privados, para denunciar e eliminar práticas desleais de comércio de outros países (deveria fazer primeiro a lição de casa!); apoia ações globais de desenvolvimento do comércio de produtos agrícolas; e mantém uma valiosa base de dados e de análise do mercado de commodities.

Uma política de sucesso
A imprensa noticiou que os EUA atingiram, o recorde de US$58 bilhões de dólares em exportações de produtos agropecuários, no ano fiscal que se encerra, comparativamente a US$54.1 e US$43.5 bilhões nos dois períodos anteriores. Um crescimento superior a 30% em dois anos. Orgulhosamente, o secretário de Agricultura infla o peito para afirmar que os EUA hoje exportam mais trigo que aço, mais carne que alumínio e mais frutas e hortaliças que navios, barcos e caminhões, conjuntamente. E lançou à sua agência de comércio exterior o desafio de exportar 50% mais até o ano 2000. Para o atingimento desta meta, recursos foram alocados para suportar os trabalhos do FAS. Sentado sobre este recorde, os americanos devem lançar um olhar de desdém para o grande irmão do sul, onde a sociedade brasileira imagina que elevado estágio de desenvolvimento não rima com apoio à agricultura!

E o apoio aos produtores brasileiros?
Não dispomos de qualquer tipo de subsídio à agricultura ou aos agronegócios há mais de uma década, as tarifas de importação de commodities agrícolas são as mais baixas de nossa economia. Neste aspecto chegamos ao Primeiro Mundo, antes do próprio Primeiro Mundo!. Mas, apesar do trabalho da Embrapa - hoje uma das mais respeitadas instituições de pesquisa agropecuária do mundo - o desafio tecnológico ainda exige mais atenção e aporte de condições por parte da sociedade. Na área de defesa agropecuária, um agressivo programa de reformas e modernização começa a tomar corpo, objetivando, no curto prazo, conferir competitividade aos produtos brasileiros pela via da agregação da qualidade. Em ambos os casos, a parceria com a iniciativa privada tem sido a mola propulsora para um novo tempo.

E o apoio ao comércio exterior?
Ações isoladas e tímidas, insuficientes e descoordenadas. Chegamos ao extremos de assinar acordos de comércio internacional em que os "comerciantes", ou seja, a iniciativa privada, não teve assento nas negociações. Não teve de parte da delegação brasileira, porque nossos concorrentes, de forma inteligente, usaram e abusaram da assessoria e da participação dos produtores e industriais. Que atue agressivamente, pro-ativamente, abrindo e consolidando mercados, municiando informações, estatísticas, tendências. Que antecipe as oportunidades para os produtores brasileiros. Mas que não cometa o erro histórico de ser apenas uma agência de governo. Neste final de milênio, a sociedade está entendendo que os melhores resultados provém do trabalho em equipe, e como tal uma agência desta ordem necessita ser permeada pela participação da iniciativa privada desde sua concepção, passando pela formulação de suas diretrizes e políticas, de seu planejamento estratégico, de suas metas e objetivos, de sua atuação, e, sem dúvida alguma, de seu financiamento.

O balanço do ano.

Décio Luiz Gazzoni

Numa economia globalizada, tudo o que acontece de importante em um país, passa a ter reflexos em outros países. O exemplo mais didático ocorreu com o terremoto que percorreu todas as Bolsas de Valores do Mundo, no final do mês de outubro e início de novembro. Para quem lida com os negócios agrícolas, é muito importante estar atento ao que acontece nos principais atores do mercado internacional, para antecipar as oportunidades e desviar-se das ameaças. É importante ter em conta que 1997 está sendo um ano particularmente abençoado. Dos 197 estados soberanos (dos quais 140 signatários da Organização Mundial do Comércio), nenhum estará em guerra aberta com outro, embora cerca de 30 conflitos internos, étnicos, tribais ou religiosos estejam em curso, sem ameaçar a estabilidade mundial.

Com este pano de fundo, a economia mundial deve crescer este ano cerca de 4%. Será uma das maiores incorporações de bens em todos os tempos, coexistindo com uma das menores taxas de crescimento populacional, resultando em aumento líquido da renda per cápita mundial. O que significa mais renda para aquisição de produtos agrícolas. Parte desta saúde financeira pode ser creditada ao atual ciclo de negócios dos EUA -motor da economia mundial - porém é inegável a influência da Organização Mundial do Comércio, na ampliação das oportunidades de negócios entre os países.

A política e os agronegócios
Neste contexto é essencial estar atento às principais eleições dos próximos 12 meses. Após quase 20 anos de domínio conservador, os trabalhistas assumiram o governo do Reino Unido. As razões da vitória trabalhista repousaram no desgaste de um período prolongado de governo e a necessidade de tentar outras alternativas. Porém, o pano de fundo da campanha eleitoral foi a União Européia, e os impactos financeiros e comerciais que trará. A Inglaterra foi o país que melhor se preparou para uma competição globalizada, enxugando a estrutura governamental, efetuando as reformas necessárias, e vitalizando o setor privado para a competição. Porém, todo o ajuste tem o custo da impopularidade, e Margaret Tatcher e John Major pagaram o preço eleitoral de sua política de inserção da Inglaterra na modernidade.

O impacto nos parceiros comerciais
Atravessando o canal, o presidente Jacques Chirac dissolveu o Parlamento e convocou eleições, aproveitando sua posição ainda boa junto ao eleitorado, tentando garantir uma base parlamentar que lhe permitisse efetuar (com atraso) as reformas que a Inglaterra já efetuou. Precisava mesmo, vez que a França é hoje, entre os países líderes da economia mundial, um dos mais atrasados nos ajustes que lhe confiram competitividade no novo ambiente. Chirac cometeu um êrro histórico, que lhe custou a maioria no Parlamento e a forçada convivência com um primeiro ministro que é seu adversário político. E Helmuth Kohl prepara-se para mais um ciclo de governo na Alemanha, que ainda se ressente do custo da absorção da Alemanha Oriental, falida econômica e tecnologicamente. Na vizinha Argentina, o presidente Menen apostou nos ótimos índices econômicos de seu governo e perdeu. Contra todas as expectativas, a derrota governista nas eleições parlamentares provoca uma parada respiratória para repensar o futuro das relações multilaterais daquele país.

A eleição brasileira
Assim como nós estamos de olho nas mudanças políticas em outros países, o mesmo se passa no exterior em relação a nós. Obviamente que, dependendo do programa de governo que os eleitores venham a aprovar nas urnas, altera-se o cenário comercial para os produtos agrícolas brasileiros. No entanto, o peso específico do Brasil ainda é pequeno neste contexto. Mais importante que a conjuntura imediata, é a disposição dos governos do Primeiro Mundo, de cumprir na prática o compromisso que assumiram em 1994 de, no médio prazo, eliminar os subsídios à produção agrícola. Da decisão destes governos, depende em grande parte o futuro dos agronegócios brasileiros.

BOX

Confraria do vinho

Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho tem agora uma Confraria do Vinho. Vai reunir conhecedores e apreciadores, para prestigiar a qualidade e a sofisticação do vinho nacional. Mais uma excelente iniciativa do Dr. Ormuz Freitas Rivaldo, ex-presidente da Embrapa.

Leilão da Lagoa da Serra

Retirada do patrimônio do Bamerindus e em poder do Banco Central desde abril, a empresa de inseminação artificial com 25 anos de atuação no mercado, vai a leilão no próximo mês. Com faturamento previsto para o ano em US$11 milhões, fruto da venda de 1 milhão de doses de sêmen, deverá estar disponível para quem tiver um cheque estimado em R$5 milhões.

Beleza no campo

Primeiro foi o MST que colocou suas musas no ar. Agora o é o "MCT" (Mulheres com Terra) que contra-ataca. A principal entrevista da revista A Granja de Novembro é com Carmem Hauschildt, com fazendas em Catanduvas e Laranjeiras do Sul. Loira e bonita, a artista plástica de 47 anos assumiu a administração das fazendas quando seu marido, engenheiro agrônomo, faleceu vítima de um ataque de enxame de abelhas. Para conferir.

Estoque de grãos em baixa

Com exceção do milho (5 milhões de toneladas), arroz, feijão, trigo e soja, ficarão zerados no primeiro trimestre do ano. O Brasil deverá ter os mais baixos estoques de grãos dos últimos anos no início da colheita da atual safra, em fevereiro. As importações brasileiras de arroz serão de 1,2 milhão de toneladas, e o feijão também será importado. Os estoques públicos de milho também deverão ser totalmente utilizados para complementar às necessidades de consumo no ano que vem, já que a primeira estimativa de safra da Conab previu uma redução de mais de 10% na produção do grão.

Irrigação com bambu

A irrigação é sempre um investimento pesado, especialmente por conta de tubulações e bombas, mas a Unesp desenvolveu um sistema em que as tubulações são substituídas por bambu. Isto reduz o investimento e facilita a manutenção: o material de reposição é colhido na própria fazenda! Os bambus fazem realmente o papel dos canos e tanto as conexões como os aspersores e a motobomba são os mesmos da irrigação convencional. A diferença é o tempo de duração do "encanamento", que é menor no caso do bambu.

 

O ajuste de preços no mercado globalizado

Décio Luiz Gazzoni

Queremos demonstrar que o produtor ou a organização de produtores que almeje preço competitivo deverá buscar um elevado status tecnológico e sanitário, complementado com capacitação em administração rural, para que as culturas e os rebanhos possam expressar sua máxima potencialidade genética, em decorrência atinjam a máxima eficiência econômica. Implementar medidas positivas para incrementar o comércio internacional. Este é o artigo primeiro da Convenção de criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Medidas positivas devem ser mensuráveis, por isso as barreiras fiscais e para-arancelárias estão sendo gradativamente reduzidas ou desativadas. Assim, vislumbra-se um incremento jamais experimentado anteriormente nas trocas comerciais. Prenuncia-se para os próximos anos uma ampliação das oportunidades comerciais, mas a competição pelos nichos de mercado mais disputados, ou seja, o dos países mais ricos, de maior renda e maior capacidade de consumo, deve tornar-se cada vez mais intensa.   A base da competitividade
Neste contexto, é importante circunscrever os principais fatores que conferirão competitividade a determinados países ou regiões, ao tempo em que confinarão à marginalidade do mercado aqueles que não se enquadrarem. Alguns destes requisitos são tão antigos quanto o próprio mercado, apenas assumindo novas feições ou proporções no novo ambiente, enquanto outros passam a assumir maior importância nos cenários que são traçados.
  Preço adequado
O preço sempre representou um diferencial competitivo nas relações comerciais. Na perspectiva de globalização de mercados, que extingue os conceitos de mercado interno e externo, Em um ambiente competitivo, projetando-se o infinito, a tendência é de permanente ajuste de preços em direção ao piso. O limite de deságio ou redução progressiva de preços é o custo de produção e a combinação produtividade/custo da unidade. Imaginando-se o futuro próximo como um ambiente de livre e alta competição, cria-se a dualidade entre apropriação de renda (expansão do lucro) buscada pelos atores do mercado, e a transferência de benefícios aos consumidores (redução de preços). A dinâmica do mercado será a responsável pelo equilíbrio entre estas tendências. O preço reduz-se até atingir o piso representado pelo custo de produção de uma parcela expressiva de produtores. A estes restam duas opções: ou reduzem seus custos ou são alijados do mercado. O novo ponto de equilíbrio é representado pelo patamar de custos ajustado, reiniciando-se o processo.

 

Reduzir o custo de produção
Cabe então analisar os dois aspectos envolvidos: Em relação ao custo de produção, a formação de preços é um processo complexo, condicionado por externalidades nem sempre ligadas diretamente ao produto ou à sua cadeia produtiva. Porém, os custos fixos e variáveis de produção podem ser administrados, dentro de determinados limites, pelo produtor ou por organizações de produtores. É fundamental o gerenciamento dos fatores de produção, em especial dos insumos técnicos, da mão de obra e dos recursos financeiros, como forma de racionalização de custos. Lançamos o alerta de que, atualmente, o insumo mais raro no ambiente agropecuário é o preparo gerencial dos produtores ou seus administradores. Paralelamente, a adequação tecnológica e o elevado status sanitário das culturas e dos rebanhos é condição fundamental para conferir competitividade.
  Aumentar a produtividade
De outra parte, a relação produtividade/custo unitário é uma das pilastras de preços competitivos. Deve-se atentar que, para cada cultura ou animal existe um determinado potencial genético de produtividade, que apenas se expressa em sua totalidade, se não existirem condicionalidades para a sua expressão. Entre estas restrições estão o clima, o solo (aspecto químico, físico e biológico) e a condição sanitária. Onde estão as oportunidades? Na expansão da potencialidade genética e na redução das restrições à sua expressão. O elevado patamar tecnológico (e sanitário) será o responsável pela geração da condição de competitividade. Porém, apenas o uso adequado de tecnologia, sob rigoroso controle técnico, permitirá que as tecnologias apresentem a sua máxima eficiência econômica na exploração agropecuária.

 

 

Qualidade e competitividade nos agronegócios

Décio Luiz Gazzoni

Época houve em que a decisão de compra era condicionada, quase exclusivamente, pelo critério do menor preço. A especificação técnica, e outros atributos de qualidade, é uma inserção relativamente recente nas decisões de consumo individuais ou corporativas. Sob a égide da globalização de mercados, a qualidade atinge seu patamar máximo como condicionante das decisões de negócios. Passa a ser o passaporte para a abertura dos mercados mais exigentes, e para a manutenção dos nichos de mercados mais disputados. Característica marcante nos mercados do Primeiro Mundo, em que o atributo qualidade já antecede o quesito preço na análise decisória dos compradores, seus reflexos positivos se fazem notar alhures, inclusive no mercado local do Brasil.

Melhorando a qualidade
O Brasil figura entre os países que maior esforço vem despendendo na perseguição de um padrão internacional de qualidade, vinculado às séries ISO 9000. Esta atitude vai permitir, no futuro próximo, um nivelamento com os demais países que já dispõem de um conceito de qualidade solidificado no mercado. Além da qualidade de apresentação, do design do produto, da embalagem e demais acessórios, os produtos agropecuários necessitam preencher outros quesitos como:

Qualidade visual. É a primeira sensação transmitida ao consumidor, através da cor, da forma, da textura externa e da ausência de defeitos agronômicos, representados por deformações provenientes de técnicas de cultivo ou criação inadequados, ou seqüelas que denunciem status zoo ou fitossanitário impróprio. Neste caso, embora sem a presença do agente causal, o produto pode apresentar manchas, cicatrizes, redução de tamanho ou outra alteração de forma, resultado da ação de pragas agrícolas ou pecuárias, que depreciam o produto. É bom lembrar que a primeira impressão é a que permanece;

Qualidade fisiológica Trata-se das sensações organolépticas de sabor ou perfume, ou da reação ao tato. Considera-se nesta categoria a sensação física provocada pela mastigação, o equilíbrio entre os componentes do sabor - incluso o after taste, que é a sensação que permanece na boca após a deglutição. A elevada qualidade fisiológica é responsabilidade primária dos institutos de pesquisa, que criam as novas cultivares e raças, adequadas à demanda dos consumidores. Compete ao produtor e ao processador a observância das condições para que o potencial genético seja expressado em toda a sua amplitude. Entre os constritores da expressão encontram-se a inadequação sanitária, que pode alterar profundamente os componentes de perfume, sabor, textura e forma, depreciando a qualidade do produto.

Qualidade sanitária. Os mercados mundiais tornaram-se muito exigentes em relação à qualidade sanitária dos produtos destinados à alimentação humana. Contaminantes biológicos e químicos, resultado de um baixo nível sanitário das culturas e criações, passam a ser limitantes à penetração nos mercados com níveis de informação e de exigência mais elevados. O mercado hoje entende que um elevado nível sanitário é um patrimônio nacional, um fator que agrega valor aos produtos no mercado internacional. Refugam-se as partidas que venham acompanhadas de contaminantes (pragas) que possam representar uma nova ameaça à sanidade do país importador. O mesmo tratamento é dispensado a uma praga que, embora presente no país importador, possa causar danos à qualidade do produto em análise.

Competitividade e qualidade
Tendo presente que esta é resultante de um elevado patamar tecnológico e sanitário da nossa agropecuária. Aos produtos de qualidade inferior estarão reservados os mercados marginais, instáveis, de baixo valor. E não é este o mercado que interessa ao produtor brasileiro.

É Natal também para os negócios

Décio Luiz Gazzoni

E a primeira lembrança que vem é a do peru, aquele que morre na véspera. A força dos negócios acaba por interferir até nas tradições: para dizer a verdade, quem mesmo que come peru no Natal? São aqueles irmãos em Cristo que gostam de preservar as tradições, e que tem uma predileção especial pela ave. Mas, cada vez mais o Natal vai perdendo aquela marca de tradição, em nome das necessidades da vida moderna. Sim, a ceia continua presente, graças a Deus. Se não for blasfêmia (perdão, Padre Giuseppe!), graças ao homem do campo também. Que tem carregado nas costas este país ao longo dos últimos anos, e que também garante a ceia mesmo nos lares menos abastados. Não dá para comprar peru? Vai frango, aquele do menos de um real por quilo. O paladar é mais apurado? Chester, madam, chester que dá um prato saboroso, melhor que o peru!   É o agricultor, garantindo o pão nosso de cada dia
Neste momento especial, em que os corações se abrem, em que se faz um balanço do ano que passou, em que temos que agradecer as graças recebidas, é importante não esquecer a tal de âncora verde. E agradecer aos homens (e mulheres) que suportaram o peso da âncora. Âncora verde, o que é isso, uma âncora cheia de limo de um barco abandonado? Não, é o agricultor brasileiro ajudando a garantir o sucesso do plano de estabilização econômica – o Plano Real - através da oferta de produtos a baixo custo. O tal do frango a menos de um real. Mas não só o frango, como outras carnes, o leite, os legumes, as verduras e os grãos. Em parte pela redução de custos e ampliação de produtividade, mas em grande parte forçado por um escancarramento da economia brasileira, mais especialmente dos produtos agropecuários. Pressionado pela concorrência externa, que aqui colocou produtos a baixo custo – muitas vezes fruto de pesados subsídios na origem, o agricultor não teve outra saída que não ser eficiente. Basta lembrar o leite europeu, que nos foi empurrado goela abaixo por US$900,00 a tonelada, quando o mercado internacional indicava US$2.000,00 ou mais.

 

A pressão da concorrência
O agricultor brasileiro chegou ao Primeiro Mundo antes dos agricultores do Primeiro Mundo. O tal do discurso da liberalização dos mercados, do fim dos subsídios e dos artificialismos, ainda não se transformou em realidade nos Estados Unidos ou na Europa. Hoje, o Brasil é o país de maior peso na produção agropecuária mundial que não dispõe de qualquer subsídio à agropecuária, implícito ou explícito. Também aqui se praticam as menores tarifas alfandegárias na importação de produtos derivados de animais ou vegetais, ou mesmo de produtos in natura. Negociou mal a abertura da economia, sem prever um período de transição e adaptação. O nosso agricultor reclama, e reclama forte do Mercosul. Sob sua ótica, as queixas são corretas: o Brasil não negociou a abertura dos portos, a redução das taxas alfandegárias. Não teve o vislumbre, por exemplo, da Argentina, que procurou garantir um período de adaptação ao novo ambiente.
  Um legítimo negócio privado
O Papai Noel do campo está sendo severo. Muito suor, muito trabalho para garantir a renda agrícola, em valores inferiores ao que foi obtido em épocas passadas. Novamente, fruto da necessidade de adaptação à competição. Parece que o agricultor brasileiro terá que aprender, a duras penas, que não lhe resta outro caminho que não o da alta eficiência, da produtividade, da qualidade, enfim da competitividade. E que, quanto menos governo, tanto melhor. A agricultura caminha para ser um negócio legitimamente privado. Onde houver necessidade de governo, que o seja em forma de parceria, de responsabilidades compartilhadas. Desta forma, será possível garantir o Feliz Natal, e também o Próspero Ano Novo não apenas desta geração, mas das próximas gerações de agropecuaristas.

Competitividade num mercado globalizado

Décio Luiz Gazzoni

Além do preço e da qualidade dos produtos agropecuários, que já discutimos, outros fatores contribuem para conferir competitividade na ferrenha disputa por um mercado globalizado. Entre eles deve-se considerar:

Proteção ambiental - Os movimentos ecológicos migraram do exotismo do discurso para a inserção na sociedade globalizada. Hoje é inquestionável a necessidade de um sistema de produção sustentável, para garantir a sobrevivência do negócio agrícola por diversas gerações. Observa-se um aumento no número de consumidores que exige que a produção agrícola seja efetuada com respeito à Natureza, indo ao limite do boicote aos produtos de países que não respeitem esta regra. Em contrapartida, dispõem-se a pagar um prêmio por produtos que estejam acordes com a filosofia conservacionista. Os grandes bancos internacionais somente liberam recursos para investimento na agropecuária mediante laudo favorável do impacto ambiental do projeto. A proteção ambiental rima par i pasu com um elevado status tecnológico e sanitário, voltados para uma produção agrícola sustentável.   Diversificação - O mercado mundial se encontra em uma fase claramente mutante, e nós queremos crer que esta será uma das características que marcarão o mercado nos anos próximos. Significa afirmar que os atores deste mercado devem estar permanentemente atentos à abertura de novas oportunidades comerciais, em função do surgimento de novas demandas, ou a alteração de alguma característica de um mercado tradicional, criando segmentação de consumidores que exigem características específicas de determinado produto. Duas exigências do momento ilustram essa condição: consumidores que se dispõem a pagar um prêmio por produtos agropecuários produzidos na ausência de agrotóxicos ou adubos químicos; e os chamados produtos "religiosos", em que os regulamentos da religião exigem que a produção, abate ou processo de transformação siga determinadas regras. Deste modo, diversificar significa não apenas buscar outras alternativas agropecuárias, como também novos sistemas de produção e transformação para atender a mercados específicos. É necessário Ter presente que, para o produtor inserir-se num mercado diversificado, há necessidade de utilização de alta tecnologia e a manutenção de um elevado padrão sanitário.

 

Garantia de entrega - Os negócios internacionais buscam sua rentabilidade em detalhes que passam imperceptíveis aos não iniciados. A redução dos prazos entre a aquisição do produto e sua colocação à disposição do consumidor final significam reduções de custo de armazenagem e de carregamento de estoques, e são medidas em dias ou até horas. Para tanto, o cumprimento do prazo avençado é fundamental. Porém, não é apenas no curto prazo que reside sua importância: os grandes importadores buscam fixar contratos de largo prazo, que podem inclusive ser repassados a terceiros, para garantir seu mercado tanto na ponta da compra quanto da venda. Se o vendedor não cumprir seu prazo ou seu volume, a cadeia de comércio fica prejudicada. Portanto, um vendedor que cumpra o prazo de entrega fixado sempre terá melhor inserção no mercado. O que permite o cumprimento destes prazos é a estabilidade da produção, fruto de uma alta condição tecnológica e de um elevado estado sanitário. Cumpridas estas condições, apenas fatores imponderáveis, como condições climáticas muito adversas afetarão sua previsão de produção.   Parcerias estratégicas - Preço, qualidade e demais componentes da competitividade são importantes, porém os grandes negócios são movidos por condições adequadas de financiamento, que permitam completar a cadeia de negócios e reutilizar os recursos para iniciar um novo ciclo. Este é inclusive um ponto de controvérsia entre os membros da OMC, pois diversos países concedem financiamentos com recursos públicos, com prazos e taxas que implicam na obtenção artificial de competitividade para quem não completou o ciclo de produção com esta característica.   Publicidade - Pouco adiantaria um país ou um estado ser competitivo, se não investir adequadamente na criação da imagem deste produto junto ao seu público consumidor. Não se trata apenas da publicidade do produto, mas de um trabalho permanente de abertura e consolidação de mercados, um legítimo processo permanente, de longo prazo. As questões de tecnologia e sanidade também permeiam a publicidade, pois a imagem que se pretende transferir necessita corresponder aos anseios do consumidor, para que se cumpram as metas de longo prazo. Não basta criar uma imagem, ou um impulso se consumo, é necessário conferir sustentabilidade, em especial através da qualidade, para fixar a imagem do produto.

A ALCA e os agronegócios: ameaça e oportunidade.

Décio Luiz Gazzoni

Os produtores e componentes do "agribusiness" brasileiro tem muito a ganhar, mas também muito a perder com a instauração da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Rememorando, há cerca de três anos, os presidentes dos países das Américas (à exceção de Cuba) reuniram-se em Miami para firmar as bases da ALCA. Em números, significa uma área correspondente a um terço do planeta e um sexto da sua população; representa mais de um terço do PIB mundial e mais de um quinto das trocas comerciais. Sem dúvida é tentador participar de um bloco com estas características. Aí está a grande oportunidade, ou seja, um amplo mercado para a colocação de produtos made in Brasil, em condições favorecidas em relação aos alienígenas ao bloco.   Onde está a ameaça para o Brasil?
A ALCA é um enorme desafio: cerca de 90% deste mercado é representado pelo atual NAFTA (EUA, Canadá e México), e dentro deste bloco, sem dúvida alguma a posição americana é hegemônica sob todos os aspectos de análise. Possui uma economia estruturada, hipercompetitiva, agressiva e capilarizada em todo o mundo. Os americanos possuem a capacidade de vislumbrar oportunidades de negócio nos locais e momentos mais díspares, porque se prepararam para tanto. E, lá os setores público e privado agem em estreita articulação na captação destas oportunidades, constituindo-se em legítimos parceiros comerciais.
  Analisando sob uma forma global, desde o ponto de vista brasileiro, necessitamos conferir competitividade aos nossos produtos para competirmos par i pasu com o grande irmão do Norte. Necessitamos atualização tecnológica, agregação de qualidade, organização das empresas, alta capacidade administrativa e negocial, qualificação de mão de obra, presença no mercado internacional, melhoria intrínseca e de design de nossos produtos, entre outras melhorias no setor privado. Precisamos também de adequação do parceiro governo, na busca de melhor adequação tributária, reforma do setor público, política de comércio exterior, manutenção da estabilidade econômica, planejamento de longo prazo; e de ações conjuntas como na área de infra-estrutura (energia, transporte, portos, aeroportos, estocagem), inovação científica e tecnológica, e formação e treinamento de mão de obra.

 

A oportunidade para os agronegócios
Visualizando a questão sob este ângulo dos agronegócios, a situação é um pouco mais confortável, posto que a agropecuária avançou alguns pontos na direção da globalização, que ainda precisam ser trilhados pelos demais setores da economia brasileira, como a eliminação de subsídios e a baixa carga fiscal na importação de produtos agropecuários. O que significa que, por este aspecto, os agronegócios estariam mais favorecidos que os demais setores. Ainda neste momento, a grande inovação em termos de parceria governo-iniciativa privada ocorre na área de sanidade agropecuária, quando Brasília formula uma política que acena claramente na direção de o governo tornar-se uma linha auxiliar na colocação de agro-produtos no exterior, chamando a iniciativa privada para participar da formulação, da gestão e da execução das políticas de sanidade; e na área de tecnologia agropecuária, onde a diretriz prioritária acena no sentido do atendimento da demanda captada junto ao setor primário, em substituição à oferta de tecnologia, ao tempo em que governo e iniciativa privada se associam na geração e difusão de tecnologia. Neste aspecto, os ideólogos da Reforma da Política da Defesa Agropecuária estão com o foco claramente voltado para 2005, data prevista para a entrada em vigor dos acordos da ALCA. No mesmo sentido, propugna-se que os empresários privados tenham assento paritário nas comissões de negociação dos acordos internacionais na área de agronegócios.
  A ameaça para os agronegócios
Porém a ameaça também está presente junto aos agronegócios. Ao tempo em que os EUA são o maior mercado consumidor (oportunidade para nós), é também o maior produtor agrícola do mundo (ameaça para nós). Particularmente, cremos firmemente que o Brasil pode ser altamente competitivo e levar vantagem no comércio bilateral de agronegócios. Porém, antes de aprofundar qualquer negociação multilateral em relação aos aspectos tributários, legais, aduaneiros, etc., todos os demais países devem exigir dos EUA o cumprimento prévio de dois compromissos já assumidos no âmbito da OMC: a eliminação dos subsídios e o fim das sobretaxas e das cotas importação. Será necessário também eliminar o conceito de "nação mais favorecida" e revogar a lei Helms Burton, que interfere perniciosamente no comércio internacional.
  Precisa uma "prova de amor" dos americanos
Extirpados estes artificialismos, será estabelecida a legítima verdade competitiva, e se tornarão claras as necessidades de negociação dos demais aspectos. Sem o pagamento adicional de US$454,00 por tonelada de suco de laranja, sem a cota que restringe a 10% do mercado americano nossa exportação de açúcar, sem as taxações do álcool, fumo e outros produtos agropecuários, podemos começar a negociar firmemente a integração regional, uma ótima oportunidade para todos. Mas que somente será ótima se os EUA derem uma clara "prova de amor" à integração, adotando liminarmente as medidas acima. Caso contrário, sempre ficará no ar a idéia de que a ALCA apenas esconde o desejo norte-americano de ampliar seu mercado exportador, sem oferecer a contrapartida de abertura de seu mercado interno. Esta é a razão pela qual o Brasil, o Mercosul, e os demais países devem insistir na eliminação dos protecionismos americanos, como condição sine qua non para avançar nas demais negociações.

A OMC e os hormônios de crescimento animal.

Décio Luiz Gazzoni

Aproxima-se do desenlace uma das disputas comercias mais renhidas da área de agronegócios, envolvendo mais de US$100 milhões ao ano: a proibição de importação de carne na Europa, proveniente de países que utilizam hormônios de crescimento em seus rebanhos. Desde o início desta década, a União Européia não permitia a importação de animais e de carne dos Estados Unidos, se criados com hormônios de crescimento. Tendo em vista que todos os países que reviram seu uso, concluíram pela inocuidade à saúde humana de seis hormônios comerciais, os EUA objetaram esta restrição. O Codex Alimentarius, organismo que estabelece padrões de segurança para alimentos, concluiu pela segurança de uso de cinco destes produtos. Três destes hormônios estão naturalmente presentes em todas as carnes – e em todas as pessoas. As pesquisas demonstraram que as doses aplicadas no gado geravam níveis hormonais nos seus organismos dentro dos limites normais. Os estudos mostraram também curiosidades como a equivalência de doses hormonais entre 80kg de carne, obtidas de um animal que recebeu hormônio, e um único ovo de galinha sem que à ave tivesse sido administrado o hormônio.   O processo de decisão da OMC
No âmbito da Organização Mundial do Comércio, o Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) busca definir o que são medidas objetivando a proteção da saúde humana, e quais se caracterizariam como meras barreiras comerciais. As dúvidas são dirimidas por um painel de especialistas, com diretrizes claras para o seu julgamento. As medidas tomadas devem ter respaldo científico, deve existir uma análise do risco que a ausência da medida representa para a vida ou a saúde humana, não deve caracterizar restrições comerciais superiores às necessárias para administrar o risco envolvido, e devem se pautar em parâmetros científicos internacionais.
  A solução do contencioso
O mesmo acordo encoraja a criação de painéis de solução de contenciosos, buscando auxílio de especialistas escolhidos pelo painel, em comum acordo com os contendores. Ao final, o painel sumaria sua opinião, baseada nas evidências científicas fornecidas. Durante o processo de solução da controvérsia, a União Européia argüiu que sua restrição ao uso de hormônios de crescimento se baseava em necessidade de proteção à saúde humana, ao passo que os EUA argumentaram tratar-se de mera barreira comercial destinada a proteger os produtores dos países da Comunidade, que não suportariam a competição da carne americana, ao tempo em que procuravam demonstrar que sua carne era tão segura à saúde humana quanto a produzida na Europa.

 

O poder da OMC
Anteriormente à criação da OMC, não havia a obrigatoriedade de os países (ou blocos de países), com divergências comerciais, aceitarem o arbítrio de um painel de especialistas. Atingido o impasse, os EUA impuseram aos países da UE uma sobretaxa em alguns produtos por eles exportados, como medida compensatória, baseados na legislação interna americana. Com o advento da OMC, e a instalação do painel, os EUA retiraram as sobretaxas, enquanto aguardavam uma decisão, à qual associou-se também o Canadá, com uma querela similar em relação à UE. Em meados de 1997, os governos interessados receberam um informe confidencial, com o relatório do painel de especialistas, que indicava não haver qualquer evidência científica de que a carne de animais que receberam hormônios de crescimento possa trazer riscos adicionais à saúde humana.
  O ganho americano
A decisão foi comemorada pela representante americana junto à OMC, Charlene Barkshefsky, que viu no episódio, além da abertura do mercado europeu à carne americana, a clara possibilidade de complexos assuntos comerciais, envolvendo elevadas cifras monetárias, serem adequadamente resolvidas pelos mecanismos criados com a OMC. Já o Secretário de Agricultura americano vibrou com as possibilidades comerciais da medida e exigiu dos países europeus o imediato banimento das restrições. Como parece que a Europa insistirá em manter a barreira supostamente sanitária, caberá aos EUA demonstrarem o quanto perdem, anualmente, com este protecionismo, e apresentar a conta à União Européia.
  O limiar de um novo tempo
Assim, parece que uma nova perspectiva se abre no disputado terreno do comércio internacional de carnes. Embora os EUA sejam os primeiros interessados, sem dúvida alguma o Brasil também será afetado por esta decisão. Num momento em que os principais estados produtores do país se encontram na reta final para receber seu certificado de zona livre de febre aftosa, carimbando o passaporte para a retomada das exportações aos países mais ricos do mundo, reabre-se a questão da proibição da utilização de hormônios de crescimento em nosso país. É importante que o assunto passe a ser debatido com racionalidade, de olhos postos no tripé da fundamentação científica, do interesse da saúde do consumidor e das oportunidades comerciais para o Brasil.

Será o fim do protecionismo?
Claro também fica a inutilidade de apelar-se para artificialismos a fim de neutralizar vantagens competitivas legítimas, ou direcionar o comércio internacional contra o fluxo dos ditames da OMC. Se esta organização enfrentou o desafio de arbitrar um conflito entre as duas mais importantes mega-potencias comerciais do mundo, está referendando sua capacidade e sua determinação de fazer valer as convenções assinadas, que orientam claramente para a liberação do comércio entre os países.

A quem interessam os clones?

Décio Luiz Gazzoni

Afinal, a quem interessa a produção de clones? Temos algum benefício social ou econômico? O artigo científico publicado no primeiro semestre deste ano, e fartamente explorado pela imprensa, na realidade não é um achado tirado da cartola de algum cientista louco. Antes disto, é o resultado da contínua colocação de degraus de conhecimento, na grande escalada tecnológica que o mundo vivencia. Sem qualquer demérito para o experimento dos pesquisadores do Reino Unido, as contribuições para o seu sucesso foram provenientes de diversas partes do Mundo, inclusive do Brasil.

Os clones brasileiros
Exato, aqui mesmo no Brasil, um experimento em tudo similar ao sucesso obtido com a ovelha Dolly estava em andamento no Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, abortado por problemas burocráticos, e, portanto, extra-ciência. Não fora a dificuldade de liberação de recursos do Governo Federal e poderia estar o Brasil na manchete da imprensa mundial, no centro da controvérsia sobre os clones. Recuperado do problema burocrático, o Cenargen envereda novamente pela trilha do domínio da técnica de clonagem animal, cujo bezerro deverá ser parido este ano. A Embrapa utiliza uma técnica com uma variante em relação aos pesquisadores britânicos, valendo-se de células embrionários ao invés de retirá-las da glândula mamária. Mas, pergunta o leigo – e pergunta o empresário rural – quais os benefícios decorrentes desta pesquisa?
  Para que servem os clones?
Liminarmente, é importante referir que a polêmica clonagem de seres humanos parece estar superada no momento, pois 191 nações soberanas (das 194 existentes no Mundo) referendaram o manifesto da Organização Mundial da Saúde que condena qualquer iniciativa neste sentido, e estão adaptando suas legislações para impedir o desenvolvimento destes experimentos. No campo da preservação, facilita-se a multiplicação de espécimes de raças ou espécies em extinção, como é o caso do boi crioulo lageano e da ovelha crioula, dos pagos do Sul; do cavalo selvagem do Norte do Brasil, ou de seu primo pantaneiro; o porco piau e outros animais domésticos. Porém, entre os animais selvagens, a técnica também se afigura como uma tábua de salvação para espécies como o lobo guará, a gralha azul, a siriema e outros, conforme citam entusiasticamente os pesquisadores do Cenargen.
  Ganhando dinheiro com clones
No campo econômico, a melhoria tecnológica será a grande beneficiada, pela constante elevação da produtividade e da qualidade dos rebanhos, em especial no tocante à ganho de peso, precocidade, produção de leite, couro e de peles. Na área ambiental, a melhoria de microrganismos para a degradação biológica de resíduos agrícolas ou industriais. Os cacauais da Bahia estão sendo salvos da "vassoura de bruxa" por enxertia com gemas de clones resistentes.

No limiar entre o campo econômico e a área de saúde situam-se os "implantes" de genes que codificam para alguma substância, como hormônios ou enzimas, que podem ser utilizados no tratamento de doenças congênitas ou adquiridas durante a vida. Descortina-se assim um novo campo de expansão tecnológica, que vai permitir um salto de patamar tecnológico, que, ao mesmo tempo também é um grande desafio, porque, em alguns anos, estabelecerá um novo conjunto de parâmetros para a manutenção da competitividade em um mercado globalizado, gerando a necessidade de permanente atualização de nosso produtor aos avanços da ciência.

ALCA X MERCOSUL

Décio Luiz Gazzoni

Precisamos resistir à tentação de cair neste falso dilema, como tenta nos vender o governo americano. A princípio não existe o conflito entre as duas organizações, desde que se entenda com clareza os objetivos de cada participante. Vamos a eles.

Fernando Collor, você lembra dele?
Uma das poucas heranças de boa memória do governo Collor é o entendimento de que o mundo passava por uma mudança importante, e que as raízes da globalização de mercados estavam sendo lançadas no início desta década. O balanço ainda é confuso, posto que se questiona a forma e a velocidade das mudanças implantadas, assim como o despreparo das equipes de negociação brasileira e as concessões sem exigência de contrapartidas. Faltou também à diplomacia brasileira vislumbrar a necessidade de incorporação da iniciativa privada às diferentes etapas de negociação. No entanto, a compreensão de que o mundo se organizava por blocos comerciais, e a necessidade de ser pró-ativo no processo, buscando um posicionamento favorável do ponto de vista geopolítico, representam o saldo positivo e inquestionável desta herança.
  Mercosul x Alca
Salvo desencontros eventuais, as negociações no âmbito do Mercosul tem sido justas e oferecido oportunidades eqüitativas à todas as partes. Porque a gritaria norte-americana contra os avanços do Mercosul e a estagnação nas negociações da ALCA? Porque os Estados Unidos tem mantido, tradicionalmente, uma postura agressiva na defesa unilateral de seus interesses, sem preocupar-se com o destino de seus parceiros. Qualquer semelhança com a Lei de Gerson não é mera coincidência. Este fato fica patente com a declaração de Jeffrey Lang, Sub-secretário de comércio americano de que "os pactos comerciais hoje existentes nas Américas não são suficientes, e devem ser vistos apenas como um alicerce para a ALCA". Absolutamente correto... pela ótica americana! Apesar de não incluir os EUA, este país foi um dos maiores beneficiados pelo acordo do Mercosul, aumentando suas exportações para este bloco em 178% nos últimos 6 anos. Apenas em 1996, o aumento das exportações dos EUA para o restante da América cresceu 14,5%, contra pouco mais de 6% do crescimento global dos negócios dos EUA com o resto do mundo.
  A postura americana
Ainda assim os americanos não estão contentes? Claro que não, pois Lang classifica "a América Latina como o mercado mais dinâmico do Mundo, para as exportações americanas", ou traduzindo em bom português, uma excelente oportunidade de venda de produtos americanos, desde que isto não signifique uma contrapartida equânime de exposição do mercado norte-americano aos produtores dos demais países. O exemplo utilizado pela mesma autoridade foi de que os EUA serão prejudicados pela Tarifa Externa Comum (TEC) que prevê nivelamento nas taxas arancelárias entre os países do Bloco. Por exemplo, a Argentina terá que aumentar as taxas de importação de produtos de informática, para nivelá-las às taxas brasileiras. Este fato é suficiente para provocar uma explosão de ira no grande irmão do Norte, pois pode representar uma redução da venda de produtos de informática para o Mercosul

 

O protecionismo americano
No entanto, os EUA são useiros e vezeiros em práticas comerciais protecionistas, impondo pesados prejuízos aos parceiros comerciais, para proteger sua produção interna, quando esta não é naturalmente competitiva. No caso dos produtos agropecuários esta posição tem sido evidente ao longo do tempo. Por esta razão, precisamos louvar o pragmatismo da diplomacia brasileira de manter extrema cautela nas negociações para a formação da ALCA, ao tempo em que imprime uma velocidade adequada ao Mercosul. Particularmente, entendemos que a ALCA será inevitável, e deverá ser uma realidade em 2005. No entanto, esta inevitabilidade não deve conduzir a concessões abusivas aos norte-americanos, que sempre buscam extrair o máximo de vantagem unilateral em uma negociação.
  Os EUA precisam um choque de liberalismo!
Continuamos a referendar a posição já expressa em outras oportunidades: Posto que o Brasil e os demais países do Mercosul não se utilizam destas práticas comerciais (até porque os EUA jamais aceitariam uma imposição unilateral desta ordem!), poderemos nos sentar e prosseguir com as negociações para a formação da ALCA. Que poderá até absorver o Mercosul, mas apenas quando ficar muito evidente para os atuais componentes desse bloco que os EUA aceitaram uma negociação justa e benéfica para todas as partes.

Agronegócios legais e ilegais

Décio Luiz Gazzoni

Os produtores rurais brasileiros tem seus problemas, motivo de constantes e justas reivindicações para garantir condições de produção. Durante o período de janeiro a março deste ano, na condição de consultor internacional do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estivemos elaborando o projeto de reforma e modernização do Ministério da Agricultura da Colombia. Esta rara oportunidade nos obrigou a conhecer de perto o setor agropecuário do vizinho país. A maioria das queixas dos produtores colombianos são em tudo semelhantes aos dos produtores brasileiros, no que tange às condições de financiamento da safra e da comercialização. No entanto, há alguns problemas, que - felizmente para o produtor brasileiro – são desconhecidos, como a concorrência com agronegócios ilegais, ou seja, o narcotráfico.

O custo da violência
Os colombianos não tem que se preocupar com MST e assemelhados, estes comportados e inofensivos movimentos brasileiros! Lá, a reforma agrária segue seu curso normal, até porque a oferta de terra chega a ser maior que a demanda! Os problemas locais para produzir são grandes, e não se resumem apenas à falta de escala para garantir a competitividade. A preocupação é de outra ordem: narcotráfico, quadrilhas de para-militares e a guerrilha. Os agricultores são chantageados (tem que pagar a "vacuna" – vacina, mal traduzindo, ou pedágio, em termos concretos), para não serem incomodados (embora haja denúncias que a moda está pegando por aqui também!). Proprietários são seqüestrados, administradores são ameaçados. Em região de produção de coca, nada de agropecuária legal. Milhares de unidades produtivas estão abandonadas. Verdadeiros focos de aftosa, ou de ferrugens e brocas. Cultivos deixados ao léu, cabeças de gado abandonadas no pasto. Alguns produtores optaram por uma nova tecnologia: compraram câmeras de vídeo e os empregados que permanecem na fazenda filmam a propriedade uma vez por semana, seguindo as determinações do proprietário. A fita lhe é remetida, e baseado no que vê toma as decisões, que comunica por rádio à fazenda. Pessoalmente, quase nunca comparece à sua propriedade!
  Convivendo com maconha, coca, papoula...
Cresce no seio da sociedade colombiana, e, pasmem os senhores!, no conservador setor agropecuário, a luta pela legalização das drogas, para que diminuam os impactos da concorrência desleal dos plantadores de drogas. Enquanto o mercado de flores, frutas e grãos possui regras claras e estabelecidas, o mercado de drogas segue um padrão próprio de elasticidade-preço, tornando sempre atraente o risco do plantio, e criando problemas para os produtores tradicionais. O drama do produtor e de toda a sociedade colombiana é o da dualidade. Para maior realismo, mantemos o espanhol castiço nesta análise do impacto das drogas sobre a sociedade produtiva, e a dualidade das duas faces de todas as questões envolvidas:

 

"...dualidad en las realidades: la supervivencia de muchos cultivadores sin oportunidades y la adicción de miles de personas; también dos libertades: la de la sociedad libre de drogas y la de quien sólo defiende el consumo como desarrollo de su personalidad; duplicidad en los ámbitos: nacional e internacional; dos mercados: oferta y demanda; doble el problema: economías ficticias por negocios rentables, versus corrupción y violencia; y como si fuera poco, una moral partida en dos, la práctica legalizadora y la dogmática prohibicionista. El problema de las drogas es serio desde toda perspectiva y más para Colombia, que sufre día a día el costo de erradicar , sustituir, incautar, juzgar e intentar sancionar y rehabilitar a los culpables, con disputa por alocación de los parcos recursos públicos. Frente a este dilema socioeconómico, médico y ético, gobierno, sociedad y comunidad internacional tendrán que dejar a un lado la simple retórica y encontrar soluciones concretas y efectivas, pues ¿como se podrá garantizar la producción agropecuaria en Colombia, frente a una competencia desleal como la que produce el narcotráfico?"   Um agricultor sufocado pela violência
A Colombia possui uma diversidade biológica invejável, condições agro-edafo-climáticas, que junto com a raça e o talento de seu povo, propiciam um potencial apreciável para a produção agropecuária. No entanto, esta se encontra sufocada pela violência. Um dos problemas sérios que lá enfrentamos foi a impossibilidade de conduzir campanhas de erradicação de pragas agrícolas, por diversas razões, mas a principal delas é emblemática: não há como colocar barreiras sanitárias no país, vez que sequer a própria polícia nacional consegue manter suas barreiras, frente a ação violenta e agressiva da guerrilha e dos para-militares, além dos narcotraficantes. O custo Brasil nos parece alto (e efetivamente o é!). Mas o custo Colombia é alto e irracional. O povo paga pelos desentendimentos políticos internos, que levaram à marginalidade uma parte dos dissidentes (guerrilha); pela demanda de drogas por parte dos países desenvolvidos (narcotráfico); e, paradoxalmente, pelo desmonte de parte do narcotráfico (cartel de Medellin), que deixou todo um exército de para-militares sem liderança, transformados em bandoleiros, criminosos comuns (!) que encarecem e desestimulam a produção. É bom estar de volta ao Brasil, com nossos velhos, bons e conhecidos problemas!

A re-orientação da política francesa e os agronegócios brasileiros

Décio Luiz Gazzoni

A vinculação entre diretrizes políticas e negócios comerciais está cada vez mais estreita. Examine-se os casos das eleições parlamentares inglesa e francesa. Embora o eleitorado tenha votado com muita similaridade ideológica, as conseqüências serão completamente diversas. No Reino Unido, a vitória da ‘esquerda’ e a ascensão de Tony Blair ao cargo de primeiro ministro não alterou a condução da política de integração à União Européia e o cumprimento dos compromissos firmados com a Organização Mundial do Comércio. A concessão de independência ao Banco da Inglaterra (o Banco Central inglês) indica a busca de uma solução para a moeda única européia, base da integração comercial e de serviços. Para o inglês comum, e em especial para os homens de negócios britânicos, não foram percebidas alterações na política governamental.

A herança do "tatcherismo"
O importante no caso da Inglaterra é que o "trabalho sujo" já havia sido feito pelos conservadores, efetuando as reformas de base, adequando as políticas fiscais, tributárias e previdenciárias, privatizando empresas governamentais, retomando um ciclo de crescimento da economia sem precedentes na década, e sem similar na União Européia, com um dos mais baixos índices de desemprego. Então, porque John Major perdeu a eleição, mesmo com todos os indicadores sócio econômicos a seu favor? Pelo desgaste do prolongado período de poder e pelas seqüelas deixadas pelas reformas.
  O desafio para a França
A França vive situação antípoda. Historicamente batalhando pela liderança política da UE com a Alemanha, não tem apresentado agressividade de iniciativas. e a vitória da ‘esquerda’ francesa acaba por reforçar o marco alemão como a grande moeda forte da Europa e a Alemanha como o país líder da transição para a integração. Jacques Chirac antecipou a convocação das eleições parlamentares, pensando em reforçar sua base no congresso a fim de enfrentar as reformas necessárias à integração comercial e econômica na Europa e no Mundo. Cometeu um enorme erro de avaliação, pois a vitória das ‘esquerdas’ coloca um grande ponto de interrogação sobre a capacidade da França de integrar-se ao mundo moderno.
  A busca do "pleno emprego"
O discurso de Lionel Jospin, líder francês, foi a antítese das propostas de Chirac, para atingir o mesmo objetivo. Atribuiu o elevado índice de desemprego da França ao processo de globalização; prometeu a manutenção do "welfare state" e defendeu o fim do processo de privatizações, acenando com a estatização de alguns setores. Ambos tinham um único ponto em comum: prometiam reduzir o desemprego. É nestes pontos que os agronegócios brasileiros podem ser fortemente afetados, como exposto:

1. Globalização. A entrada na contramão do processo de globalização, com a França adotando postura de retração comercial e aumento do protecionismo, fecha algumas portas importantes aos produtos brasileiros, sejam produtos primários ou transformados. Pode ocorrer a tentação de retomada do processo de substituição de importações, sem levar em consideração seu custo econômico, reduzindo algumas oportunidades essenciais para o Brasil.

2. Welfare state. Os orçamentos dos países europeus não suportam mais a manutenção dos subsídios aos três grandes sistemas: saúde, previdência e agricultura; por um lado porque as despesas vem crescendo exponencialmente, e por outro porque a pressão tributária atingiu o limite, e compromete a competitividade da economia e a popularidade dos políticos. Ultrapassá-la levaria às seguintes conseqüências:

a. O risco da sonegação passa a ser compensador, diminuindo a arrecadação total - efeito inverso ao pretendido;

b. A sociedade não suporta novas taxas e aumento de alíquotas

c. Recursos destinados a novos investimentos, expansão da economia e novos empreendimentos passam a ser direcionados para o custeio de atividades sem repercussão econômica direta.

A redução da atividade econômica reduz também o intercâmbio comercial e as oportunidades de negócios para o Brasil. A França é uma porta importante de entrada de produtos brasileiros na Europa, e a redução de suas compras obrigará o Brasil a ampliar sua participação em outros mercados, para a manutenção da escala de comércio continental.

3. Subsídios agrícolas. O ponto mais perigoso é o não cumprimento do compromisso de retirada gradual dos subsídios à agricultura. O discurso eleitoral apontou explicitamente este caminho, para garantir o voto das comunidades do interior, viciadas em subsídios. A França é o país europeu que mais fortemente subsidia sua agropecuária, gerando uma falsa competitividade de seus produtos. O descumprimento deste ponto fundamental do acordo comercial conduzirá, num primeiro instante, à denúncia da França e a sanções por parte da OMC. No entanto, a médio prazo, a necessidade de concessões por razões políticas, podem tornar letra morta o acordo duramente negociado durante sete anos na Rodada Uruguai do GATT, que previa uma agricultura mundial livre de subsídios no início do próximo milênio, abrindo oportunidades fantásticas para os países em desenvolvimento, distribuindo melhor a renda mundial, reduzindo as disparidades entre as Nações e promovendo mais justiça social.

Resta a esperança de que, lá como cá, Jospin tenha um programa para ganhar o governo e outro para tocar o governo!

Controle de pragas: novas tendências

Décio Luiz Gazzoni

Estamos retornando de Nashville (EUA), onde participamos da Reunião Anual da Sociedade Americana de Entomologia, a confraria dos cientistas que se dedicam a estudar os insetos e suas implicações na agropecuária, mas também na saúde pública, no meio urbano, os insetos úteis como as abelhas e o bicho da seda, entre outros ramos. Como tudo naquele país, a Sociedade é enorme: são cerca de 10.000 cientistas associados, dos quais um quarto participou da reunião anual. Para estar à altura da sociedade, o Hotel Opryland, onde realizou-se a convenção possui 3200 apartamentos (o maior hotel do Paraná dispõe de 400 apartamentos). Só de jardins internos (cobertos, em regime de estufa) são quase 4 hectares, o que representa uma boa renda para quem fornece todas as plantas e flores ao hotel, trocadas diariamente.   Biotecnologia
Está aí a palavra chave, que vem se consolidando de uns anos para cá. No caso do controle de insetos, as tendências para o próximo milênio passam necessariamente pelas provetas onde impera a biologia celular e a engenharia genética. A manipulação do código da vida, que está permitindo romper barreiras na criação de animais e na produção agrícola, também está trazendo sua contribuição para eliminar as restrições à expressão do potencial genético das culturas.
  Vírus, bactérias e fungos
Uma parcela razoável dos investimentos governamentais e privados dirige-se para a descoberta, a identificação, a seleção e o "engenheiramento" de microorganismos que possam ser utilizados para o controle de pragas agrícolas. É a forma de controle biológico que vai predominar no próximo milênio, e provavelmente na ordem do título: vírus, bactérias e fungos. Os fungos ainda sofrem algumas restrições de ordem ambiental, como sua dependência de uma faixa específica de temperatura e umidade. No entanto, os três grupos apresentam características comuns muito importantes: são específicos para uma ou poucas espécies de insetos, são fáceis de produzir em escala comercial, são fáceis de estocar e aplicar, e seu preço final tem sido compatível com as exigências de uma agricultura competitiva. O uso de predadores e parasitóides tem sido alvo de questionamento dos cientistas, que estão avaliando o seu impacto ecológico, em especial pela sua menor especificidade.

 

Variedades resistentes
Esta área está ganhando enorme impulso, movida por portentosos investimentos privados. Já se pode encontrar milho ou algodão resistentes a diversos insetos, em especial pela introdução do gene que codifica para a toxina da bactéria Bacillus thuringiensis. Porém, os cientistas estão buscando entender os mecanismos de resistência, e manipulando o código genético das plantas, transferindo genes entre espécies vegetais, para resistência a determinados insetos. As novas variedades e os microorganismos devem conter a demanda por inseticidas químicos no próximo milênio.
  Inseticidas químicos
Saem de cena aqueles venenos velhos conhecidos, que matavam tudo, de insetos a bois ou homens. A ordem agora é segurança e especificidade. As novas moléculas somente são comercializadas se demonstrada sua segurança aos demais seres vivos. Além de atender aqueles mesmos requisitos de se tratou acima para os micro-organismos.

O preço do descaso com a fitossanidade

Décio Luiz Gazzoni

Existem diversos exemplos de pesados ônus econômicos, sociais e ambientais devidos à desatenção com a questão fitossanitária. Negócios foram inviabilizados ou tiveram sua rentabilidade comprometida, empregos esfumaçaram-se e o ambiente foi agredido por falta de um tratamento adequado da questão sanitária. De todos os exemplos marcantes, vamos ficar com um dos mais recentes: a crise da cacauicultura da Bahia.

A decadência do cacau
O cacau foi introduzido no estado da Bahia há 250 anos, tendo sido a base da economia baiana nos últimos 150 anos. Em especial no período entre o final do século XIX e os anos 60, o cacau foi a grande fonte de riqueza e progresso do estado, muito especialmente do sul da Bahia, conforme imortalizado em prosa e verso, através de Jorge Amado e dos cancioneiros da Bahia. Os recursos tributários, e também a poupança privada, obtidos com as exportações do cacau – cujo preço alcançou US$4.500,00/tonelada – construíram cidades e forjaram sua infra-estrutura, como estradas, escolas, postos de saúde, hospitais, presídios e a estrutura de lazer e de turismo da região. O sistema de produção de cacau sempre foi um exemplo de conservação da Natureza, pela forma de integração da lavoura com a vegetação local, pelo sistema de conservação de solos, e pela não utilização de agrotóxicos. A região destacava-se da pobreza nordestina como um enclave de conforto e bem-estar, com progresso sustentado, com emprego quase pleno, e um forte intercâmbio cultural com a Europa.
  A chegada da vassoura de bruxa
A chegada do fungo Crinipellis perniciosa, causador da vassoura de bruxa, apanhou a todos de surpresa. O sistema quarentenário não estava à altura do desafio, não havia um sistema de vigilância para detecção precoce da ocorrência de novos episódios sanitários, não havia um sistema de emergência quarentenária para ação pró-ativa, tão logo fosse detectado o problema. Devassadas estas barreiras, o aparato tecnológico mostrou-se incapaz de responder de imediato com um sistema de produção alternativo, que permitisse a convivência com o novo problema, sem afetar a qualidade e a produtividade do cacau.

 

Perdendo 1 bilhão de dólares!
Esta seqüência de erros foi decorrente de desinvestimentos ocorridos tanto na área de pesquisa tecnológica, quanto de defesa agropecuária, ao longo da década anterior. A deterioração das condições para que as ações de defesa agropecuária tivessem a elevada efetividade requerida pela proteção do negócio agrícola, assim como a falta de investimentos e de diretrizes claras para a prevenção do problema, levou a um prejuízo equivalente a US$1 bilhão. Este valor representa a perda de 637.000 toneladas de cacau que deixaram de ser colhidas após a introdução da vassoura de bruxa. Dos 600.000 hectares plantados com cacau, 150.000 estão perdidos e 450.000 estão contaminados, levando ao desespero 12.000 produtores que devem aos bancos US$250.000,00. Não foram apenas os produtores que perderam: 250.000 pessoas que trabalhavam na lavoura cacaueira perderam o seu ganha-pão, e hoje perambulam pela região sul da Bahia à busca de alguma oportunidade de sobrevivência para si e para sua família.
  De exportador a importador
Uma região outrora progressista e de futuro previsível vive uma clara crise, com a decadência da cultura do cacau, chegando ao extremo de importar o produto. Tardiamente, busca-se o investimento em formas de controle e de convivência com o fungo causador da vassoura de bruxa, buscando a retomada do ciclo de progresso, a partir de um novo sistema de produção. Entretanto, caso as lideranças responsáveis houvessem atentado há duas décadas, para a necessidade de investimentos crescentes e constantes em tecnologia e sanidade agropecuária, com recursos inferiores a 1% dos prejuízos havidos até o momento, todo o impacto social, econômico e ecológico que se esparrama pelo sul da Bahia, teria sido evitado.

Reprodução Animal: o Futuro Chegou?

Décio Luiz Gazzoni

Em verdade, em verdade, ainda não chegou e talvez nunca chegue, no sentido de que os avanços científicos e tecnológicos rompem novas barreiras a cada ano, e de sã consciência ninguém pode afirmar que atingimos um patamar de difícil superação. Hoje não há mais condição econômica de prosseguir na atividade a menos que se mantenha um estágio mínimo de atualização tecnológica, pois a base da competitividade tem uma de suas pilastras na modernização tecnológica.

Os avanços da pecuária
 

Os avanços genéticos sempre estiveram de braços dados com a pecuária leiteira e de corte. Aliás, a genética aplicada, o melhoramento genético tiveram na exploração da bovinocultura um de seus mais importantes laboratórios a céu aberto. A diversidade genética do Bos taurus muito contribuiu para tanto, porém o entendimento de que a biodiversidade tinha um componente econômico importante foi a alavanca que permitiu colocar a ciência a serviço da produção de carne e de leite. Inicialmente, foram os trabalhos empíricos de adaptação do gado a micro-climas específicos, que levou à proliferação de raças na Europa, particularmente na Inglaterra.   Depois, houve o desafio de aclimatar a espécie a ambientes bem diferentes, em especial quando a pecuária avançou pelo Novo Mundo, incorporando áreas tropicais e subtropicais à produção. Neste aspecto, as raças zebuínas prestaram uma colaboração ímpar, permitindo a expansão dos rebanhos para áreas que não eram propícias às exigências das raças européias. No entanto a pecuária sempre buscou a sofisticação, utilizando o ferramental genético disponível, ou rompendo as fronteiras da ciência. Primeiro foram os cruzamentos industriais, buscando explorar ao máximo as potencialidades de cada raça, corrigindo defeitos adaptativos ou adequando a oferta às exigências qualitativas do mercado, sempre tendo em vista o aumento da rentabilidade econômica.

 

A inseminação artificial
A inseminação artificial foi o passo lógico na seqüência de busca de melhoria qualitativa e de aumento da rentabilidade, permitindo a expansão quase ilimitada dos rebanhos com base nas características dos melhores reprodutores, abrindo um portfólio de oportunidades aos criadores que desejassem melhorar continuamente seus rebanhos. Serviu também para eliminar barreiras geográficas, ao permitir o transporte do sêmen entre localidades distantes. Foram-se os tempos românticos em que o pião levava a vaquinha ao sítio do compadre para ser coberta pelo touro que havia sido escolhido por critérios empíricos, ou pior, por ser a única opção disponível.
  O futuro chegando
A necessidade de melhoria não tem limites. Seguiu-se a técnica de divisão de embriões, que permitia aproveitar duplamente as características do pai e da mãe, ampliando também as possibilidades de uso de matrizes superiores, na melhoria da qualidade dos rebanhos. Foi a ante-sala da clonagem, tema da moda até pouco tempo, por haver suscitado discussões éticas profundas e temores de distorção de seu uso, ao vislumbrar-se a possibilidade de utilização da técnica na reprodução humana. Entretanto, do ponto de vista da reprodução animal, abre perspectivas incríveis, ao permitir multiplicar assexuadamente, em número teoricamente ilimitado, matrizes e reprodutores de elevado ganho de peso ou produção de leite. Esta técnica, associada a modelos matemáticos de alta precisão, que permitam associar e interagir as diversas características do animal e do ambiente, e do mapeamento cromosômico, que reportam ao cientista exatamente qual a localização e qual a função de cada gene, abrem perspectivas que pertenciam ao imaginário da ficção científica até pouco tempo.

 

Clonagem de animais
Mas comentamos que a polêmica da clonagem está superada. Superada porque os cientistas romperam uma nova fronteira, que também contém possibilidades ilimitadas. Trata-se da clonagem associada ao "implante" de genes de outras espécies: ovelhas foram clonadas contendo genes de embriões humanos. Aparentemente uma fantasia de cientistas remunerados para brincar com equipamentos sofisticados e de alto custo. Na prática uma gama entusiasmante de novas possibilidades para a biotecnologia, em especial para a farmácia e a medicina. Além de carne e leite, além de ovos, os animais domésticos podem passar a produzir substâncias específicas, encontradas em outras espécies, em especial no Homem, com custo muito reduzido em relação à produção industrial, com melhor controle de qualidade e com menores riscos à Humanidade e ao ambiente. Pode significar a produção em larga escala de insulina, de hormônios de crescimento, de hormônios reprodutivos, ou de outras substâncias essenciais para o desenvolvimento normal do ser humano, e que, por problemas congênitos, encontram-se ausentes ou em baixas doses em determinados organismos. Será mais uma missão nobre de animais domésticos em prol do conforto da Humanidade, e, sem dúvida, um filão de oportunidades para os pecuaristas, que agora também podem ser criadores de hormônios!
  Ciência e competitividade
Não é apenas no melhoramento genético que a ciência vem contribuindo, mas também na saúde animal e na conversibilidade e qualidade dos alimentos. No entanto, conforme aumentam as perspectivas de melhoria genética, diminuem as constrições à expressão do potencial máximo dos rebanhos, melhorando sua qualidade e sua produtividade, permitindo colocar um animal para o abate precocemente e a um menor custo. Como tal, aumenta a oferta e a disponibilidade da carne e do leite junto aos consumidores. Pela inexorável lei do mercado, este fenômeno significa redução de preços, parcialmente compensada pelo aumento do consumo per capita decorrente do aumento da renda urbana, e da própria queda de preços dos produtos. Porém, este aumento não será suficiente para contrabalançar a tendência histórica de longo prazo, em que os avanços tecnológicos beneficiam num primeiro instante o produtor, mas no instante seguinte também o consumidor. Eis porque afirmávamos acima Os criadores que não atentarem para a modernização tecnológica e para a necessidade do mais elevado estado sanitário de suas criações são sérios candidatos a serem ex-pecuaristas no curto prazo.

O que nos espera em 1998

Décio Luiz Gazzoni

Comecemos pela conclusão: este ano será monótono e, provavelmente frustrante, a observar pelo ângulo dos cenários mais otimistas. O Brasil continuará deitado em berço esplêndido, sem conseguir transformar em realidade seu potencial de celeiro do mundo. Como contraste, podemos verificar que, exclusivamente a produção de soja americana se aproxima do volume global de grãos produzidos no Brasil.

Quanto vamos crescer?
Míseros e vergonhosos 2,5% sobre a safra de grãos anterior. Apenas 2 milhões de toneladas a mais! Se considerarmos apenas a perda na colheita com a mesma cultura de soja acima, chegaremos a conclusão que um melhor cuidado na colheita, armazenagem e transporte pode produzir este mesmo efeito. Muito pouco para um setor que responde por mais de 30 milhões de empregos e tem um PIB superior a US$300 bilhões. O acréscimo na produção será de aproximadamente 300 milhões de dólares, ou 0,1%.

Onde vamos crescer?
Aí está o segundo problema: a cultura da soja cresce 5 milhões de toneladas, para o recorde de 31 milhões, alavancada pelos altos preços do mercado internacional (onde andam os arautos do fim do ciclo da soja, que o previram em 1994? A soja tem sido a salvação do campo nos últimos 4 anos!). Porque o problema: porque os fatores exógenos tem mais importância que as motivações internas, o que significa que uma alteração da demanda, consequentemente do preço, pode rebaixar o patamar de produção da oleaginosa, e comprometer o crescimento futuro da agricultura. O algodão apresentou uma intenção de plantio superior a 90% em relação à última safra, porém sobre um patamar de produção muito baixo, o que relativiza seu crescimento. O setor sucro-alcooleiro esboça uma reação, assim como o mercado cafeeiro.

Onde estacionamos?
Em quase tudo. O milho vem encontrando preços desestimuladores, arroz e feijão crescem vegetativamente, cerca de 3% cada. Produtos pecuários e derivados continuam em crise, à espera de que o fundo do poço tenha sido atingido, sonhando com uma recuperação do setor de leite e derivados, e também a retomada da exportação de carne, a partir da melhoria do ambiente sanitário.

O balanço comercial
O setor deve manter um elevado superávit nas contas externas, contrabalançando o pesado déficit de outros setores da economia, situando-se entre 10 e 12 bilhões de dólares, a partir de exportações que devem se aproximar dos US$30 bilhões, dependendo das cotações externas das principais commodities. Este sim é um número que nos permite uma euforia moderada, pois o superavit comercial setorial cresceu quase 150% nesta década. Mas poderia ser muito maior!

O mercado interno
Não são esperadas grandes emoções no mercado local, pois o governo está com o olho posto nas variações de preço da cesta básica, sempre pronta a tirar do saco de maldades uma forma de contrabalançar eventuais aumentos de preço, em especial recorrendo a importações tópicas. As flutuações de preço devem ser meramente sazonais e a variação da cesta básica deve ficar abaixo do índice da inflação geral da economia.

A produtividade
A oferta de tecnologias adequadas e sua adoção pelo produtor rural foram os grandes responsáveis por manter o mercado abastecido, e assegurar o superávit comercial. A produtividade geral da agricultura cresceu mais de 25% na última década, pontuando o arroz com 70% e o algodão com 50%, seguindo-se feijão com 43% e milho com 34%. Também apresentaram crescimento positivo a soja com 23% e o trigo com 10%. Em algumas culturas estamos os aproximando dos tetos produtivos da média dos países mais adiantados, com custos competitivos.

Onde estamos falhando?
Basicamente na falta de agressividade comercial na abertura e consolidação de mercados nos produtos tradicionais, como grãos ou café, onde mais somos comprados do que vendemos. Na falta de condição sanitária para colocação de alguns produtos nos mercados mais exigentes, como é o caso da carne e de algumas frutas temperadas. Não exploramos a potencialidade das vantagens competitivas que temos em frutas tropicais, ainda um mercado marginal frente aos números que formam o mercado internacional e face à potencialidade brasileira. Hortaliças representam um mercado rico e disputado, do qual o Brasil não participa. As flores também se constituem em um mercado rico, que paga bem e pontualmente, do qual o Brasil é um número do final do quadro de estatísticas. Falta uma visão arrojada das oportunidades de mercado, um trabalho sério e ininterrupto nas áreas de tecnologia e sanidade, e o foco na parceria governo/iniciativa privada, buscando consolidar o país como um grande produtor agropecuário.

Música, Candomblé, Praia e...Negócios. Axé, Bahia!

Décio Luiz Gazzoni

Para os brasileiros em geral a década de oitenta foi a década perdida, a de noventa a da tentativa de adaptar-se a um novo ambiente. Seja o ambiente interno, da estabilização da moeda, seja o externo, da globalização de mercados. E uma máxima extremamente importante no mundo dos negócios é: quando muda o paradigma, tudo volta à estaca zero. Não interessa quão bom você era no paradigma anterior, importa o quanto se ajusta ao novo paradigma. Querem um exemplo baiano: o Banco Econômico era um dos maiores conglomerados financeiros do Brasil, quando as finanças nacionais eram desorganizadas e a inflação de três (ou mais) dígitos. Não sobreviveu a um ano de moeda estável, porque a maior parcela de seu "income" não era operacional, provinha das oportunidades escondidas nos desvios do caos econômico (sem trocadilho!).

A estabilidade política
Não cabe aqui analisar a conduta de Antonio Carlos Magalhães, ser pró ou contra ACM. O fato é que a Bahia goza de um tipo especial de estabilidade política, derivada da forte presença de ACM no cenário político estadual. A oposição é tímida, esfacelada e não consegue articular-se para ações organizadas. Nesta condição, quem dita as prioridades e diretrizes do estado é o senador baiano, que também se encarrega de garantir o cumprimento das grandes metas, e, sem dúvida alguma, inflar sempre mais sua onipresença. E lá senador ou deputado de qualquer partido jamais ousaria pensar em bloquear um recurso federal ou internacional destinado a investimento na Bahia.

A atração de investimentos
O governador Paulo Souto é um homem discreto, mas um técnico renomado e tem se revelado um negociante de mão cheia. Uma das diretrizes do grupo político dominante na Bahia é a modernização e o progresso econômico do Estado. Coube ao governador pilotar a nau que conduz a este porto. Neste front, já visitou quinze países da Europa e da Ásia, atraindo investimentos para o estado. Até pouco tempo o estado era sustentado exclusivamente pela renda agrícola. Veio a fase da transformação, da agroindústria e logo após do polo petroquímico. Agora a Bahia resolveu investir na indústria automobilística.

As novas indústrias
Ásia Motors, Dealin, Skoda, Hyundai, Malagutti e Poggio são alguns dos santos recém chegados ao terreiro baiano. Um grupo de respeito, mas o governo do estado também trouxe Azaléia, Kildare, Ramarim, Picadilly e Bibi, somente mencionando alguns pesos-pesados da indústria calçadista. E o turismo, o lazer, uma das vocações da Bahia? Na sua próxima viagem à Boa Terra, não deixe de visitar o Wet’n Wild, um dos parques temáticos, junto com o Paradise Park. São dezenas de milhões de dólares de novos investimentos.

Um arco de investimentos
Os negócios não param por aí. O atual governo atraiu grandes e médias indústrias para se estabelecerem na Bahia, como a Tramontina, a Schincariol, a Kaiser, a Ceval, a Latapack-Ball. Em Canaçari estabeleceu-se a multinacional Bayer, enquanto outra multinacional, a Dow Chemical expande-se a nível internacional, adivinhem por onde? Pela Bahia! Porque? Eis que de 94 plantas, instaladas em 30 países, a da Bahia está colocada em primeiro lugar no ranking da Dow Chemical, quando computada a relação custo/unidade de produção. Axé Bahia!

É a Bahia subindo no ranking da Federação.

Décio Luiz Gazzoni

A meta das lideranças políticas baianas é muito clara: abrir o terceiro milênio como o quarto estado no ranking econômico brasileiro, passando a perna no Paraná e no Rio Grande do Sul. Para tanto, o esforço na atração de investimentos tem sido ímpar, num momento em que todos os estados disputam os capitais produtivos disponíveis.

A contrapartida de infra-estrutura
Há uma guerra fiscal em curso, entre os estados brasileiros, para atrair novos investimentos. Mas esta é apenas uma das iscas que atrai um empresário. O restante da lição de casa é composto por comunicação, transporte, portos e aeroportos, estocagem e armazenagem, energia. Com recursos próprios, em especial provenientes da privatização de estatais, ou de outras fontes, a Bahia tem procurado antecipar-se ao reclamos dos empresários, oferecendo as condições apropriadas para que os investimentos que aportam no estado tenham condições de competitividade.

Agricultura em alta
A Bahia não esquece uma de suas vocações, a agropecuária. O reflorestamento é forte no litoral do estado , tanto no Norte quanto no Sul, trazendo junto as fábricas de papel e celulose. Os cerrados do Oeste prometem ser um celeiro tão produtivo quanto a fronteira de Mato Grosso, e é lá que se expande a soja e o milho, o algodão e o feijão. Em pleno sertão, 200mm de chuvas que podem acontecer ou não, brota um dos mais importantes pólos de fruticultura do país, no perímetro irrigado do médio São Francisco, rivalizando com o pólo de Valença, onde também se cultiva a seringueira. Somente a Maison Bernard está investindo mais de R$100 milhões para plantar uva e extrair aguardente, em pleno sertão. Peixe no semi-árido é negócio importante para Paulo Afonso. A cacauicultura, que parecia bananeira que já deu cacho, renasce das cinzas e promete retomar o ciclo de prosperidade interrompido pela vassoura de bruxa. Sem esquecer o café, novidade nos cerrados irrigados do Oeste baiano, onde alcança as maiores produtividades do país.

E pecuária também
São diversos pólos de pecuária, desde o litoral, em Itabuna, estendendo-se pela faixa central do estado, de Itapetinga no Sul até Feira de Santana, próximo a Salvador. Junto à pecuária instala-se a agroindústria, representada pelos frigoríficos. As bacias leiteiras também se multiplicam, com o leite e derivados arrancando o seu espaço. Cavalos de raça e a popularíssima cabra completam o cenário da pecuária.

A Defesa Agropecuária
O Governo baiano entendeu a importância da defesa agropecuária como parte da infra-estrutura que conferirá competitividade aos agronegócios baianos. Este colunista foi convidado pelo governo do estado para projetar um sistema de defesa agropecuária consentâneo com os desafios da competitividade do próximo milênio. Um agressivo projeto modernizador começará a ser implantado no decorrer deste ano, tendo como foco a saúde das culturas e dos rebanhos. Será suportado por recursos ordinários do governo do estado, transferências do governo federal e aportes da iniciativa privada. Recursos de financiamento internacional serão utilizados para antecipar o cronograma de investimentos, objetivando dotar o estado de um sistema de defesa agropecuária, que confira livre trânsito aos produtos baianos no mercado internacional.

Oportunidade
Agricultores e pecuaristas de diversos estados, em especial do Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, além de alguns paulistas tem se aproveitado das facilidades oferecidas e capturado boas oportunidades de negócios na Bahia. Para facilitar o contato com empresários da agropecuária, o Secretário da Agricultura do Estado, Dr. Pedro Barbosa, determinou que sua assessoria esteja sempre de prontidão, por fax ou telefone, para responder a todas as consultas de interessados em investir na Bahia.

Consumidores mais exigentes

Décio Luiz Gazzoni

Produzir num mercado globalizado está ficando cada vez mais complexo e mais sofisticado. A menos que o produtor queira se restringir a um mercado local e limitado, não basta apenas produzir: é preciso ser competitivo, em especial é preciso saber interpretar os anseios dos consumidores com respeito à qualidade. Não basta ser eficiente e eficaz, os dogmas das décadas anteriores: é preciso ser efetivo. O atendimento das demandas dos consumidores tem que chegar às raias da sofisticação: o consumidor tem que estar atendido, e muito satisfeito. Estes entes virtuais – os consumidores – estão constituindo associações, e com a força da união e da organização, passam a ter voz e vez no outro ente virtual – o mercado globalizado.

A preocupação dos consumidores
A federação das federações de consumidores é a Consumers International, com sede em Londres, na Inglaterra, a qual já tem mais de 200 associações filiadas, e que tem orientado as diferentes associações de consumidores para a defesa de seus interesses. Entre outras recomendações, está a de exigir um banco de dados global, para monitorar o comercio internacional de alimentos. O objetivo deste banco seria o de impedir que um produto rejeitado como inadequado em algum país seja desviado para outro.
  O medo da privatização
Universalmente, tem sido conveniado que os sistemas de inspeções de vegetais, animais e seus derivados seja uma atribuição original dos governos. Todos os países do mundo dispõem de um sistema de defesa e inspeção sanitária para a agropecuária, cujas ações são conduzidas pelos respectivos governos, e que são responsabilizados por terceiras partes em casos de desconformidades. Ou seja, uma partida de produtos agropecuários quando exportada, tem a chancela e a responsabilidade do governo do país de origem. Bem, eram todos os países, até que a Austrália decidiu inovar e propor a privatização do serviço de inspeção. A idéia não foi bem aceita pelos principais países do mundo, por conta dos convênios internacionais que exigem a intervenção governamental.

 

A ação da organização
O organismo internacional responsável pela inocuidade dos alimentos é o Codex Alimentarius. Foi justamente a este organismo que a Consumers International recorreu, temerosa de que inspeção privada possa ser menos rigorosa – e portanto apresentar mais riscos à saúde – que a conduzida pelos governos. Neste foro se dará uma das batalhas, onde argumentos serão desfiados para verificar se os denominados atributos inegociáveis (características dos alimentos que possam apresentar riscos à saúde dos consumidores) podem ser objeto de execução privada. A argumentação dos consumidores é a redução da confiança, pela necessidade constante de serem condenadas partidas de alimentos que não seguem as regras de segurança e inocuidade. Com o valor da mercadoria envolvido, diminui a confiança da sociedade de que estas partidas seriam realmente destruídas, e não enviadas a outros países, para reduzir o prejuízo. E, neste caso, alguém tem dúvida que as partidas rejeitadas viriam para o Terceiro Mundo?
  As resistências
Se por um lado a Austrália tenta reduzir custos governamentais ao delegar a execução da inspeção, por outro os países da União Européia e os Estados Unidos, entre outros, acham muito difícil e muito caro produzir e manter um banco de dados, que possa acompanhar o movimento de alimentos ao redor do mundo. Independente do desfecho desta batalha, o importante é a sinalização que está dada, de que cada vez mais os consumidores estão exigindo qualidade nos alimentos. E, sempre importante lembrar, qualidade também significa inocuidade biológica e química, ou seja, ausência de riscos para a saúde humana.

Um governo que, quanto mais cede, mais tem que ceder!

Décio Luiz Gazzoni

Este governo assentou 187.000 famílias em três anos. Segundo os órgãos oficiais, um recorde na história recente do país. Só em São Paulo, foram criados 48 assentamentos, atendendo 2.200 famílias, com 56.000ha, no tristemente famoso Pontal do Paranapanema. Ainda existem 16 acampamentos no Pontal, mas a soma de todos eles não alcança as 3.000 famílias que podem ser assentadas no curto prazo na região. Por mais que se arregimente, não há sem-terra suficiente para novos assentamentos, o que levou o líder José Rainha a anunciar sua mudança para o Nordeste, para organizar os companheiros de lá. E o seu pedaço de terra, recém conquistado? "Fica para os irmãos", diz o líder, com a maior cara de pau. Sem problema, o governo arruma outro, talvez lá no Nordeste.   Radicalização
Então está tudo bem? Não, a radicalização está começando a incomodar a sociedade. A estratégia de invasão de terras como forma de ocupar a mídia tem objetivos mais amplos que Reforma Agrária: também serve para a ala favorável ao MST ocupar espaço no PT, em contraposição às alas que não estão de acordo com os métodos do movimento. Desta forma, seria possível colocar na nominata do PT maior número de líderes de Sem-Terra, concorrendo nas próximas eleições. Na CONTAG, sai o tucano Francisco Urbano para a entrada do petista Manoel José dos Santos, que já assume verbalizando que "O MST faz menos, mas chama mais a atenção. A partir de agora vamos fazer mais invasões!". Porque o discurso? Porque no anonimato, a CONTAG vinha sendo muito mais efetiva que o MST, conseguindo assentar pacificamente muito mais famílias. Obviamente que discursos e ações deste tipo levam a reações. A reação do governo: "Enquanto durar o clima de violência, saem de cena o INCRA e o Ministério da Política Fundiária, entram a Polícia Federal e o Exército". Reação dos proprietários: formar milícias armadas para defender o seu patrimônio.

 

Com terra, mas com vontade de invadir
Esta estratégia de ocupar espaço na mídia, usando a reforma agrária como bandeira, mas sem se preocupar com resolver este problema, fica clara na denúncia do ministro Raul Jungmann, um insuspeito militante comunista: Dois militantes do MST assassinados recentemente no Sul do Pará, um ato deplorável por qualquer análise, possuíam não apenas terra da reforma agrária, mas também crédito governamental. Quase 50 líderes do MST já receberam o seu quinhão de terra, mas continuam invadindo novas áreas. Entre eles líderes de grande visibilidade, que deveriam tomar o cuidado para não serem flagrados no ato falho, como Gilmar Mauro e José Rainha Jr. Seria para conseguir mais um pedaço de terra? Se fosse verdade, seria uma pilantragem sem tamanho, e uma traição ao lema da justiça social, na redistribuição das terras do país. Se não for verdade, alguém engole que era apenas solidariedade? Cada entrevista na imprensa, cada menção em jornal, representa um determinado número de votos na eleição de novembro. Seria este o verdadeiro motivo?
  A culpa do governo
O currículo de assentamentos do atual governo federal é impecável. Triste é ver que, quanto mais pressionado mais cede. Quanto mais cede, mais tem que ceder. Mais estimula a violação da lei. Para evitar pressões indevidas, um decreto (junho de 1997) estabeleceu que áreas invadidas não poderiam ser desapropriadas. O MST pagou para ver. E ganhou! Cerca de 800 famílias invadiram uma propriedade de 600 hectares no interior de São Paulo (Promissão) e levaram a terra. Não apenas a terra. Depois das conflagrações armadas no sul do Pará, o governo anunciou que estavam suspensas as conversações, como forma de pressionar o MST a sentar-se à mesa sem violência. A determinação durou 24 horas, pois no dia seguinte dez deputados da bancada do PT foram ao Ministério, reverteram a determinação e saíram com os bolsos cheios de reivindicações atendidas. Em especial, ampliou-se o limite de crédito para os assentados, e a dotação global do Procera, o fundo de suporte ao crédito aos assentados. Não é questão de discutir se as reivindicações eram justas ou não, se deveriam ter sido concedidas ou não. O problema é de fundo Se acha que não vai agüentar o tranco, que não tem como bancar o jogo de pressões, que não anuncie aos quatro ventos que vai fazer exatamente o oposto do que fará daí a 24 horas. Porque o cidadão comum verá uma notícia pelos jornais, e a antítese dela pelo noticiário mais ágil das TVs, logo em seguida! E, sem autoridade, acaba estimulando não apenas o MST, mas qualquer outro grupo organizado, que queira violar a lei, pelo instrumento da pressão, com balbúrdia ao vivo e em cores, pelas redes de TVs.

O Conselho Estadual de Defesa Agropecuária.

Décio Luiz Gazzoni

No dia do trabalho, vamos falar de gente que trabalha, até de graça! Através do Decreto 3433 de 07/08/1997, foi criado o Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária – CONESA, composto por 27 importantes personalidades do setor agropecuário do Paraná, e presidido pelo Secretário da Agricultura. Investido de caráter consultivo, tem por finalidade apoiar o Sistema de Defesa Agropecuária do Estado, e coordenar as ações destinadas a melhorar e a preservar o padrão elevado de sanidade da agricultura e da pecuária do Estado do Paraná. O Sistema Estadual de Defesa Agropecuária é composto pelas entidades públicas e privadas que atuem ou tenham interface com a área de Defesa Agropecuária, no âmbito do Estado do Paraná, liderado pelo Departamento de Fiscalização da Secretaria da Agricultura. Os conselheiros não tem direito a qualquer remuneração.

Os objetivos do CONESA

Constituído para integrar as forças vivas da agropecuária paranaense no esforço de melhorar a qualidade sanitária das criações e rebanhos do Paraná, o CONESA visa:

a. discutir e propor as normas de Defesa Agropecuária no âmbito do Estado, respeitadas a Legislação Federal e Estadual, e os acordos internacionais firmados pelo Brasil;
b. propor o planejamento estratégico da Defesa Agropecuária e sua constante revisão e atualização, objetivando a busca permanente da competitividade da agropecuária paranaense;
c. analisar e opinar sobre o plano anual de trabalho do Sistema Estadual de Defesa Agropecuária e seu respectivo orçamento;
d. discutir e emitir parecer sobre a criação dos Conselhos Inter-municipais e/ou municipais;
e. implantar, coordenar, supervisionar, avaliar e integrar as ações dos Conselhos Inter-municipais e/ou municipais;
f. recomendar a realização de pesquisas e estudos sobre sanidade, qualidade e aspectos econômicos e sociais da produção agropecuária, articulando a definição do órgão executor e do seu financiamento;
g. supervisionar a execução das atividades e efetuar a avaliação e o controle das ações programadas;
h. prestar contas das suas atividades de Defesa Agropecuária à sociedade em geral e aos seus representantes em particular.

As metas a serem perseguidas
Com foco na competitividade dos agronegócios paranaenses no mercado globalizado, os integrantes do CONESA envidam esforços para:

a. propor um novo modelo de racionalização da ação e gestão do Estado sobre as cadeias agroprodutivas e seus agentes econômicos, sob o ponto de vista da Defesa Agropecuária, e em estreita parceria com os agentes privados;
b. acompanhar e avaliar em tempo real, as inovações, adequações, evoluções e demais mudanças que ocorrem continuamente em seu ambiente interno e externo, tanto a nível nacional quanto internacional;
c. acompanhar a execução das políticas públicas dos agronegócios e da segurança alimentar;
d. maximizar o uso dos recursos e das potencialidades dos órgãos públicos e privados do Estado do Paraná, para as atividades de Defesa Agropecuária;
e. propor a eliminação dos obstáculos públicos e privados que compõem o "custo Brasil" e o "custo Paraná";
f. identificar e orientar a conquista dos "nichos de oportunidade" do mercado interno ou externo;
g. acompanhar as tendências mundiais em relação às cadeias agroprodutivas, aos agro-alimentos e às oportunidades para a Defesa Agropecuária;
h. propor a organização de um processo decisório ágil, baseado em sistemas de informações gerenciais automatizado.

Um novo tempo
A busca de um foro adequado para tratar as questões relativas à defesa agropecuária é parte do esforço que as lideranças da agropecuária e o governo do Paraná encetam para inserir o estado no ambiente de alta competitividade do mercado globalizado. A visão de futuro e o foco na competitividade dos produtos paranaenses permitirá um novo ciclo de negócios para os nossos produtores.

Agrediu o ambiente, perdeu a terra!

Décio Luiz Gazzoni

O movimento ecológico, ou preservacionista, ou conservacionista, como queiram viveu diferentes etapas. Passou pela pré-história da fase romântica, forneceu pedestal para lideranças teatrais e escandalosas, atravessou uma fase de mau humor e denuncismo, serviu de escada para políticos ocuparem cargos. Mas, nunca deixou de ganhar novos espaços, tornando-se objetivo, ao tempo em que consolidava as conquistas anteriores. Hoje, o movimento ecológico internacional vive claramente uma fase de pragmatismo, ou seja, procura ampliar seu espaço dentro das próprias regras sociais estabelecidas, adaptando no que for necessário para atingir seus objetivos.

Até o capital é influenciado
Esta foi uma das conquistas mais marcantes: a subordinação dos projetos de financiamento das agências internacionais a uma análise de impacto ambiental das ações de implementação do projeto. Foi a chegada no templo sagrado do capitalismo, o condicionamento do fluxo de recursos ao compromisso de proteção ambiental. Às vezes o relatório demonstra a inocuidade do projeto, em outras oportunidades o relatório indica efeitos diretos ou colaterais que podem prejudicar o meio ambiente. Nestes casos, há necessidade de alterar o projeto, ou incluir no financiamento recursos específicos para evitar ou reduzir o impacto prognosticado. E, em casos mais radicais, os projetos são cancelados, pela impossibilidade de evitar danos ponderáveis ao ambiente.
  Tecnologia sustentável
A teoria da agricultura sustentável tem um de seus pilares justamente na necessidade de preservação do capital natureza, seja água, solo, ar, fauna ou flora. O tempo da agricultura itinerante, migratória ou de exploração, da busca de produção sem um balanço de custo/benefício favorável sob o ponto de vista ecológico, está definitivamente superado. A tecnologia nos sistemas de produção já passa a incorporar a preocupação com a conservação dos recursos naturais, não pela simples conservação, mas para conferir sustentabilidade espacial e temporal ao negócio agrícola. É a fase da auto-sustentabilidade.

 

O castigo
O governo brasileiro anuncia que a incidência em crimes ambientais passa a ser justificativa para desapropriação da terra. Na prática, o proprietário que desmatar área de preservação, ou que contaminar com agrotóxico um curso de água que atravessa sua fazenda, poderá ter sua fazenda desapropriada, mesmo que ela tenha sido considerada produtiva! Para mostrar que está falando sério, o governo vai mais longe: a indenização de propriedade desapropriada por crimes ambientais será desvantajosa, com avaliação mais rigorosa, pagamento com TDA de mais longo prazo, e com taxas nominais de juros inferiores.
  O prêmio
O governo busca evitar o recurso a estas medidas, consideradas como extremas. Como estímulo à conservação, as áreas de preservação permanente, como matas ciliares e as encostas inclinadas, passarão a ser consideradas como áreas produtivas, na avaliação da propriedade, o que não é pouca coisa. Pode ser a diferença entre manter a propriedade ou vê-la desapropriada.

 

  Assentamentos
O INCRA já havia constatado diversos crimes ambientais nos assentamentos de reforma agrária, em especial desmatamentos indevidos. O Instituto estuda punição para estes casos, que poderia considerar até a perda do direito ao título conferido. Para evitar devastação, será conferida prioridade para assentamentos em áreas abertas. No caso de áreas florestais, o assentamento será efetuado mediante projeto de exploração agro-florestal sustentado. Na linha da prevenção, o governo pensa em instituir programas de conscientização dos assentados, na área de educação ambiental, para eliminar ou reduzir o problema. Seria interessante que o INCRA também atentasse para o descaso com a questão sanitária nos assentamentos, conforme diversas denúncias publicadas pela imprensa, e que podem colocaar em risco importantes e custosos programas governamentais de melhoria da condição sanitária.
 

BOX

Quem ganha é o produtor
Por onde tem passado, Edson Mazzei Ponti tem deixado a marca de sua têmpera: inteligente, batalhador, criativo, revolucionário, empreendedor, persistente, entusiasmado. Estas são as qualidades do líder que por três anos assume o Sindicato Rural de Londrina. Uma liderança adequada para conduzir o setor no momento em que o mundo inteiro é virado de cabeça para baixo, em função da nova ordem internacional. O produtor de Londrina e região só tem a ganhar com Edson na cabeça do Sindicato.

Eliminando restrições fitossanitárias na exportação de frutas

Décio Luiz Gazzoni

Com a crescente liberalização do comércio internacional de produtos agropecuários, resultante dos acordos assinados no âmbito da Organização Mundial do Comércio, uma das poucas barreiras técnicas, não tarifária, aceita pelos países membros da OMC, é a restrição sanitária. Ou seja, os países importadores tem o direito de exigir o cumprimento de determinados requisitos e a observância de padrões mínimos de sanidade agropecuária. Foi mais além o acordo, ao estabelecer que falece ao país importador determinar a técnica para atingir-se estes padrões, cingindo-se à observância dos resultados.

Um mercado de bilhões de dólares
O comércio internacional do conjunto de horti-fruti-granjeiros e de flores responde pela maior parcela, em termos do valor das transações, do mercado internacional de produtos agropecuários. Superior, inclusive, ao valor das commodities mais conhecidas, como soja, milho, trigo e arroz, normalmente as vedetes do mercado, pelo elevado volume físico das transações envolvidas. Isoladamente, o comércio internacional de frutas movimenta, anualmente, cifras superiores a US$500 bilhões. Os maiores acionistas deste mercado são os países europeus (destaque para a Espanha, com quase U$5 bilhões em exportações) e os Estados Unidos (US$4.5 bilhões). Nossos vizinhos chilenos aproximam-se da marca de US$2 bilhões, enquanto o Brasil, maior produtor mundial de frutas (35 milhões de toneladas), mal consegue superar a cifra de US$500 milhões em exportações!
  O diferencial da qualidade
Tanto a Espanha, quanto o Chile, apesar da necessidade de superar poderosos obstáculos de solo e clima, conseguiram impor-se no mercado mundial seguindo a receita de garantia de qualidade, elevado status sanitário e agressividade no programa de exportações, fatores que o Brasil necessita agregar à sua diversidade de condições edafo-climáticas para, rapidamente, alçar-se a expoente no mercado internacional. Continuamos convictos de que o Brasil seria um líder inconteste na exportação de frutas tropicais, e um temido competidor no mercado de frutas temperadas. No entanto é necessário aprofundar a análise da questão fitossanitária.

 

Eliminando restrições sanitárias
Existem diversas restrições sanitárias ao comércio internacional de frutos. Uma das principais exigências é a comprovação da ausência de larvas de mosca das frutas, pelo perigo que esta praga representa para os pomares do país importador. As diferentes espécies de moscas tem larga amplitude de adaptação a condições de clima e de hospedeiros, garantindo o seu estabelecimento e sobrevivência nas mais variadas condições. Para a eliminação das larvas porventura existentes nas frutas, diversos métodos podem ser utilizados. Por exemplo, no caso das mangas produzidas no Brasil ou no Perú, tem sido utilizado o choque térmico através da permanência em água a 50o C, pelo período de uma hora. Bem aplicada, esta tecnologia elimina 100% das larvas, mas também se encarrega de reduzir a qualidade organoléptica do fruto. Passamos então a competir em desvantagem com os produtores de Homestead, no Sul da Flórida ou do México, que, por serem áreas livres de mosca de frutas, conseguem colocar o produto no cobiçado mercado norte americano sem o tratamento térmico, em melhores condições de palatabilidade.
  A radioatividade
A alternativa será o uso da radioatividade, mais especificamente dos raios gama, sobejamente estudados e demonstrada a sua inocuidade à saúde humana, a ponto de ser largamente utilizado na área médica como esterilizante. O seu custo de operação, considerando um irradiador de porte comercial, com depreciação em cinco anos, aproxima-se de U$1,00 por tonelada de frutos, o que é perfeitamente absorvível, e que eqüivale ao custo do tratamento térmico. Sua vantagem principal vai residir no fato de que não deixa resíduos ou seqüelas no produto tratado, mantendo inalterados o seu aroma e sabor. Talvez, no momento, nossos exportadores julguem não ter escala para absorver o investimento inicial de aproximadamente US$4 milhões na aquisição de um irradiador, porém esta é uma oportunidade que se abre, e que vai contribuir para a melhor aceitação dos produtos brasileiros no exterior. E a irradiação não necessita restringir-se a frutíferas, podendo ser aplicada a uma gama mais ampla de produtos agropecuários.
  Inseticidas banidos
Neste momento é importante ressaltar que o tão almejado mercado consumidor norte-americano vai aplicar uma nova restrição daqui a aproximadamente 1000 dias, com o banimento de diversos produtos químicos atualmente utilizados em tratamentos de fumigação, em especial o brometo de metila e a fosfina, de larga utilização em nosso país no tratamento de partidas para a exportação, ou suspeitas de contaminação por pragas indesejadas. Na esteira da restrição para os países do NAFTA, pode-se esperar o estudo de medidas semelhantes no âmbito da União Européia, que, juntas, representam três quartos do comércio internacional de produtos agropecuários. Não podemos nos dar ao luxo de aguardar a entrada em vigor da restrição norte-americana para correr, desesperadamente, em busca de alternativas, porque o hiato de tempo que transcorrerá poderá ser fatal para as nossas pretensões de amealhar uma parcela maior do mercado do primeiro mundo, vez que os concorrentes, provavelmente, estarão atentos para esta mudança. Está feito o alerta e está descortinada uma oportunidade ímpar para empresários de visão que desejem acompanhar as tendências modernas na área de fitossanidade, relacionada ao comércio internacional.

Agribusiness e emprego.

Décio Luiz Gazzoni

O desemprego, medido pela metodologia adotada no Brasil, está em franca ascensão, batendo em taxas superiores aos 7%, o que fez soar um estridente alarma no núcleo de poder, magnificado pela proximidade do período eleitoral. O governo busca se mexer, tentando encontrar uma saída para o que vem sendo considerado a praga do próximo milênio, por dez entre dez governantes do mundo. Existe uma saída mágica para este dilema?

Competitividade e crescimento
 Não há saída mágica. Trabalho é um fator de produção, emprego é o preenchimento desta necessidade. Produção só é possível se houver crescimento. O crescimento significa oferta, a qual somente será sustentável se houver competitividade para colocar a produção no respectivo mercado. Isto vale para qualquer setor produtivo. Na agropecuária não há como fugir desta equação. A diferença é que, em média, um emprego produzido neste setor, custa entre 10 e 30% de outros setores da economia, a maturação é mais rápida e o tempo de resposta mais curto. Não é mágica, incentivar a agropecuária pode ser o ponto de partida para um programa permanente e sustentável de administração da taxa de desemprego dentro de limites socialmente aceitáveis.
  Produção agropecuária
Temos insistido que na base da competitividade agropecuária se encontram a sanidade e a tecnologia, como componentes estruturais de longo prazo. Mas, os aspectos conjunturais podem ser limitantes para a expressão do potencial produtivo de um país ou de uma região, que no caso do Brasil patina no mesmo patamar de produção durante toda esta década. Não é mais possível o recurso a estímulos conhecidos, como os subsídios diretos ou indiretos à produção, e o protecionismo explícito à produção interna no mercado local. Estes instrumentos foram remetidos para a lata do lixo da História, pela Convenção de Marraqueche, que criou a OMC.
  O que é possível fazer
 Não há como ampliar a participação dos produtos brasileiros, sem o recurso à alteração de instrumentos de política monetária, como vem sendo reivindicados há muito tempo. A fase de estabilização da moeda, entendido como um processo finito para atingir uma meta, está se estendendo além do suportável pela economia. Já deveríamos haver ingressado na fase de moeda estável. Nesta condição, poderia ser revista a política cambial, a âncora da moeda, que apreciou o real no início do plano, mas que não readequou seu valor para evitar restrições à competitividade. Inicialmente, uma moeda apreciada, obriga a um esforço de adequação do processo de produção e comercialização, com ganhos de produtividade, para manter a competitividade setorial. Porém, ao atingir o teto de melhoria dos processos, a defasagem cambial pode significar um gargalo no processo de comercialização. A ponta visível do iceberg está no crônico déficit da balança comercial, que o país não consegue reverter. E a taxa de juros tem um forte componente na valorização do real.

 

 A lição de casa do governo 
Para que os agronegócios possam florescer, o governo precisa domar seu déficit público, que impõe pesados ônus à economia. Entre eles, uma taxa de juros asfixiante, que impede o crescimento do setor produtivo. Na linha de políticas de médio e longo prazo, é importante que o governo defina uma política agrícola coerente com os novos tempos, uma política industrial consentânea, e uma política de comércio exterior que aproveite as oportunidades e encare de frente os desafios de um mercado globalizado. Impossível? Então é só olhar como a Argentina triplicou sua produção agrícola nas duas últimas décadas, que inclui a famosa década perdida, e com as mesmas adversidades econômicas, sociais, ecológicas e políticas enfrentadas pelo Brasil.
  Resultado: emprego
 O resultado final destas ações será a retomada do crescimento agropecuário, e da agroindústria a ele vinculada. Apesar das necessidades de escala e de adequação dos fatores produtivos para a obtenção de um nível de competitividade que lhe permita abrir e consolidar mercados, o setor primário ainda é um dos que mais absorvem mão de obra, e, importante repetir, via de regra requerem um período de maturação mais curto que outros setores da economia. Vamos aguardar um efeito tango.

Custo Brasil: o que é isto? 

Décio Luiz Gazzoni

Custo Brasil é tudo aquilo que se paga para produzir (ou por produzir), e que não aumenta a produção ou a produtividade. Enquanto permanecíamos como economia trancafiada, com pouco intercâmbio com o exterior, a grita pelos gravames à produção e os entraves à produtividade provinham de poucos empresários que transacionavam no mercado internacional: quando colocado no mercado interno, o consumidor pagava o preço da ineficiência, não havia o risco da concorrência com o exterior. Esta grito pouco ecoava junto à população, enquanto o governo simplesmente desconhecia o problema. Reduzir o custo Brasil significa ganhar competitividade, ampliar oportunidades de empregos, de investimentos, de negócios. Significa poder exportar mais, para mercados mais exigentes. Significa reduzir a necessidade de importação. E, sobretudo, representa progresso, crescimento, emprêgos.    O peso da ineficiência
Permanecer à margem do comércio internacional, com protecionismos e artificialismos, significou uma anestesia, o mundo real era enxergado de forma enviesada. Fomos acumulando ineficiências e distorções, que representam um peso excessivo quando se pretende expor a economia brasileira ao mercado internacional. No bojo de cada distorção pode-se vislumbrar a ineficiência governamental ou a burrice corporativa, emperrando o avanço dos negócios. Uma parte do custo Brasil deriva das distorções tributárias, com excessivo número de impostos, taxas, contribuições e similares, com alíquotas desequilibradas, que atuam na contra-mão do processo de inteligência tributária. Onera-se em demasia os setores produtivos, a cesta básica, os alimentos, e em especial a exportação de produtos. A legislação trabalhista ficou anacrônica em relação ao mercado de trabalho e em comparação com os concorrentes internacionais, agravando o problema do desemprego. Nosso sistema de educação não foi preparado para a severa competição, deixando empregados e executivos em desvantagem na comparação com os concorrentes.
   Infra-estrutura deficiente
Nosso sistema de transportes, baseado em vias rodoviárias, é caro e ineficiente. Os custos portuários são altissimos, pela defasagem tecnológica e por interferência de um sistema sindical que impõe custos sem contra-prestação de serviços. O sistema de telecomunicações está ultrapassado, e o sistema energético à beira de um black-out. No conjunto, a combinação perversa de legislação anacrônica, infra-estrutura deficiente e ação corporativa, impõe custos que destroem a margem de competitivade da economia brasileira.

 

As mudanças necessárias
Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso apontou as reformas fiscal, tributária, administrativa e previdenciária como essenciais para o futuro do país, estava atacando parcela do custo Brasil. Ao acionar um programa de privatizações, estava liberando as amarras de outra parcela de gravame sobre o setor produtivo. Ainda há muito por andar, pois as reformas não saíram do papel, e, aparentemente, serão aprovadas com grande desfiguração, fruto da interferência de lobies interessados na manutenção do status quo, dos interesses pessoais, e sem visão de futuro. A privatização das rodovias é uma das iniciativas - embora tímida - que melhorará nossas rotas de transporte, embora a solução definitiva passe pelas vias hidrográficas e a malha ferroviária eficiente e ampliada. A privatização dos portos permitirá a modernização do processo de carga e descarga, e eliminará os perniciosos intermediários de mão de obra, que oneram o produto sem agregar-lhe valor.
 

Investimentos urgentes: a ação do governo
Os diversos níveis de governo tem se mostrado ávidos em tributar e ávaros em investir. A folha de pagamento tem sugado entre 70% (para os mais eficientes ) a mais de 100% da arrecadação tributária dos governos estaduais e municipais, deixando pouca ou nenhuma margem de recursos para investimentos. Apenas o processo de privatização permitirá a atualização da infra-estrutura necessária, em especial nos setores de transporte, de energia, de telecomunicações. Os governos, de sua parte, necessitam cumprir o mínimo que se espera, ou seja, educação e saúde adequadas, segurança física e patrimonial e um sistema previdenciário básico decente.

 

  Investimentos na Agropecuária
Os negócios agrícolas necessitam de algumas condições especiais. Em primeiro lugar, é necessário manter um sistema tecnológico em patamar igual ou superior ao existente nos países concorrentes; em segundo lugar, necessitamos de um sistema de defesa agropecuária que garanta a competitividade dos nossos produtos; em terceiro lugar, é necessário equacionar o financiamento da produção nos mesmos níveis dos concorrentes; precisamos de um sistema de comercialização que auxilie na colocação dos nossos produtos no mercado; é necessário ser agressivo na colocação dos produtos, e duro na mesa de negociações das regras internacionais; firme e decidido na aplicação das regras, em especial medidas compensatórias por deslealdades no comércio internacional; e, finalmente, necessita-se de uma Lei Agrícola moderna, completa, adequada e duradoura, que garanta a tranqüilidade dos investimentos para a produção agropecuária.

Um sistema rançoso, que emperra o progresso

Décio Luiz Gazzoni

Coincidiu estarmos em Brasília na quarta-feira negra (20 de maio). Com direito a cadeira cativa, no 8o. andar do Ministério da Agricultura, de frente para a Praça dos Três Poderes. Portanto, ninguém contou, nós vimos. Vimos cerca de 15.000 brasileiros reunindo-se em frente ao Congresso. E que, em determinado momento, alguns deles, uma minoria de não mais que 1%, ativistas claramente preparados, com pedras, paus e bombas (que não estão disponíveis no gramado da Esplanada), tentou invadir o Congresso, enfrentando a Polícia. Os conflitos que se seguiram foram notícia na TV e nos jornais. Permitimo-nos proceder à nossa análise: Buscava-se um palanque, armar um grande circo, para o comício do candidato presidencial Luiz Inácio "Lula" da Silva, atraindo a mídia de todo o país, e do exterior também, para tentar reverberar seu discurso de oposição. E, queira Deus que estejamos totalmente enganados, mas transpareceu a idéia de que também se buscava um "cadáver". Literalmente - um brasileiro sacrificado mesmo - ou imagens contundentes, de conflitos, dor e sofrimento, que possam ser explorados politicamente. Sequer o fato de a polícia ser comandada por um político do mesmo partido, o Governador Christovam Buarque, interferiu na decisão dos baderneiros.  

 Um sistema político atrasado
 O objetivo maior de todos os brasileiros, neste momento, deveria ser a busca do desenvolvimento, do progresso, de melhores condições de vida. Entretanto, nós, brasileiros, temos muito, mas muito mesmo a evoluir na nossa organização e na nossa operação política. O governo erra? Erra, e muito. Erra ao não cumprir sua obrigação constitucional e moral com os sistemas de saúde, segurança, educação, transporte de massa, que deveriam ser dignos da população. Erra ao não sentir o cheiro da fumaça de Rondonia, ou a sede do Nordeste. Erra - e muito - ao negociar sem assepsia com uma banda podre do Congresso Nacional, para aprovar as reformas constitucionais e tentar colocar o Brasil ombreado com as necessidades do mundo moderno. Mas erra, e muito, a oposição, que não tem propostas para resolver os problemas. Ao contrário: o taxista que nos levou do Ministério da Agricultura para a Embrapa havia transportado manifestantes para um restaurante caro da cidade - e os passageiros pediram recibo! Ora, sem terra, sem teto, sem emprego, sem comida, não pede recibo. Até porque não tem como pagar. A Folha de São Paulo fez uma ampla reportagem, mostrando como as entidades que organizaram a manifestação, contrataram estudantes para viajar a Brasília (Não sei o que vou fazer lá, respondeu um deles à reportagem. Acho que é turismo!), pagando suas diárias no caminho. Ora, sou sindicalizado, o sindicato recolhe uma parte da contribuição para a CUT, e nunca fui consultado ou autorizei a CUT a usar meu dinheiro para arrebanhar pessoas sem-juízo, a fim de montar um circo à base de baderna, para dar ressonância ao comício de um candidato político. Muito menos ao discurso e à ação de ‘quanto pior, melhor’.

 

Precisamos de sistemas modernos e inteligentes
 No entanto, outra central sindical resolveu encarar o problema brasileiro de frente, e está promovendo a reciclagem de seus associados, para que os excluídos do mercado de trabalho, por motivos diversos, e em especial pelo avanço tecnológico, possam ser recolocados em outras funções. No caso da agropecuária, porque os sindicatos não investem no SENAR, para retreinar e reciclar a mão de obra? Seja ela urbana ou rural, já que a maior parcela dos acampados do MST parece ser recrutada entre os desempregados na periferia urbana. Porque não prepará-los para a faina da agropecuária, onde as máquinas podem haver expulsado uma parcela dos trabalhadores rurais, porém o potencial da agropecuária pode reabrir um conjunto enorme de oportunidades de trabalho, em atividades que são demandadoras de mão de obra, em especial na pequena agroindústria? E até para operar as máquinas que expulsaram trabalhadores.
   Um sistema retrógrado e burro
Precisando gerar empregos, o dirigente do MST, João Pedro Stédile vai a Genebra, e verbaliza que o capital internacional deve se afastar do Brasil enquanto é tempo, porque quando Lula assumir o governo, serão alteradas todas as regras para movimentação de capitais. E aproveitou para dizer que, com Lula no poder, as invasões de terras serão ainda mais intensas. Este discurso soou como música. Música para outros países que necessitam de capitais, de empreendedores, para capitanear o progresso e a geração de empregos. Se o Brasil os expulsa, benvindos serão em outras plagas. Ou será que a proposta oposicionista não é tão burra quanto parece? Bem, neste caso há que tornar transparente qual é a proposta alternativa, que até o momento não foi divulgada. O fato é que, quando mais precisamos de união de esforços - mesmo com divergências no atacado - em torno de um objetivo comum de criar mais negócios, mais oportunidades e mais empregos, de ampliar o espaço ocupado pelos agronegócios, sempre existe um ranço do passado cravando uma âncora no lodaçal. Seu agronegócio é tão somente pescar nas águas turvas.

 

Flores: uma oportunidade de ouro

Décio Luiz Gazzoni

 Já comentamos nesta coluna, que o maior volume de dinheiro nos agronegócios mundiais circula no comércio de frutas, hortaliças e flores. Muito maior que as commodities tradicionais como trigo, soja ou arroz. E o mercado vem se mostrando francamente favorável para os floricultores nos últimos tempos. Ocorre que, nos países mais desenvolvidos, o aumento da renda per cápita, faz com que se destine uma parcela cada vez maior do income para o chamado consumo acessório ou luxuriante. E o charme das flores tem conquistado um número crescente de consumidores, o que causou um incremento espetacular no mercado, nos últimos anos.

Novas espécies
 A feira internacional de flores que se realizou no início do ano, em Bogotá (Colombia), trouxe diversas novidades. Em especial, mostrou duas tendências claras: primeiro, o aumento da pesquisa prospectiva na biodiversidade tropical, onde cada vez mais são descobertas novas plantas ornamentais exóticas. Em especial, as bromélias estão se transformando em um novo filé do mercado, pela diversidade de espécies, e pela aceitação cada vez maior pelos consumidores. Em segundo lugar, verifica-se um incremento da tradicional ciência do melhoramento genético vegetal, agora com o substancial auxílio da biotecnologia, o que tem aumentado a oferta de novas formas e cores de plantas.
  Onde está a oferta
 Diversos países do mundo produzem flores, a maioria para seu próprio consumo. No entanto para alguns países, flores constituem-se em uma pauta importante de exportações. A Holanda continua com o cetro de grande fornecedor mundial, em especial para a Europa e Estados Unidos, junto com outros países europeus. E a Colombia, fruto de um esforço conjunto do governo e da iniciativa privada, vem abrindo mercados com agressividade, constituindo-se atualmente no segundo maior exportador mundial, logo abaixo da Holanda. Aliás, entre os países que importam da Colômbia, encontra-se nada mais, nada menos que .... a própria Holanda!
  Os números do mercado 
O tamanho do mercado brasileiro (1997) foi de US$1,1 bilhão. Incipiente, para a potencialidade do país. Para efeito de comparação, apenas a região de Rio Negro, no alto dos Andes, próximo a Medellin, fatura US$500 milhões. No caso da Colômbia, são 420 micro-empresas, cultivando apenas 5.000 ha, oferecendo 80.000 empregos diretos e indiretos, que fizeram abocanhar 11% do mercado mundial – o primeiro produtor mundial de crisântemos - sendo 70% das exportações para os EUA. A floricultura ocupa o terceiro posto no ranking de exportações colombianas, abaixo de café e banana. No caso colombiano há um agravante, porque a segunda região produtora de flores do país, a de Rio Negro, está incrustada num altiplano, onde os narcotraficantes resolveram estabelecer as suas chácaras de lazer, o que elevou o preço do hectare para lunáticos US$100.000,00! Sim, cem mil dólares ao hectare! Claro que este é um preço nominal, porque negócios não acontecem já que não existe oferta (quem tem não vende).

 A rentabilidade
 O custo de produção não é baixo, o capital fixo investido também é alto, por conta das instalações como estufas e salas de preparação. O controle sanitário é crucial, tanto por conta do aspecto de apresentação, que pode depreciar o produto, quanto pelas restrições impostas pelo países importadores. No entanto o negócio é compensador, pode-se chegar a 35% de rendimento líquido anual sobre o capital investido. No caso de crisântemos, cada ramo vale US$1,00 no mercado internacional. Um único hectare da flor pode produzir mais de 40.000 ramos comercializáveis/ano.
  A demanda
 As estimativas são altamente positivas. O mercado internacional deve crescer no mínimo 20%. Prevê-se um consumo per capita de US$6,00 no Brasil, contra US$25 na vizinha Argentina, atingindo mais de US$150 nos nórdicos noruegueses, próximos dos valores dos românticos italianos e franceses. É um mercado em expansão, com colocação garantida, onde o Brasil tem possibilidades claras de quadruplicar ou quintuplicar sua oferta nos próximos anos, sem afetar as cotações do mercado. O cavalo está passando encilhado.

 

Bases de Dados da Pesquisa Agropecuária

Décio Luiz Gazzoni

A Embrapa está saindo novamente na frente, encurtando o caminho para o futuro, ao colocar à disposição dos agricultores e suas organizações todo o seu acervo documental com 231.810 referências (que aumenta a cada dia), abrangendo tanto a literatura adquirida quanto as teses e a produção científica dos pesquisadores da Embrapa, o Catálogo Coletivo de Periódicos com informações sobre 7.440 títulos e suas respectivas coleções, bem como um cadastro com endereços, serviços prestados e áreas de atuação de 120 instituições do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA, dentre elas as 76 Unidades da Embrapa, distribuídas no território nacional, englobando Centros Nacionais de Pesquisa, Unidades Centrais, Gerências do Serviço de Produção de Sementes Básicas e Serviço de Produção de Informação.

O que o agropecuarista encontra na Base de Dados

Praticamente tudo o que existe de tecnologia agropecuária disponível no Brasil e no Mundo, para pronta consulta. Este trabalho de folego somente foi possível ser colocado à disposição do público a partir do software AINFO, tecnologia de informação desenvolvida pela Embrapa Informática, que permite o gerenciamento, de forma integrada de base de dados documentais e processos bibliográficos. Se você opera no mundo dos agronegócios, não deixe de visitar a base da Embrapa: além de toda a literatura de que se falou acima, quem entrar na base também vai encontrar à sua disposição informação sobre:

AGROTEC - Região dos Tabuleiros Costeiros
Banco Ativo de Germoplasmas de Arroz e Feijão
Banco Ativo de Germoplasma de Feijão Caupi e Cultivares Recomendados
Base de Dados sobre o Algodão
Bovinos da Raça Canchim
Catálogo de Software Agropecuário
Coleção de Microorganismos Fixadores de Nitrogênio
Composição de Alimentos
Composição Química e Valores Energéticos de Alimentos para Suínos e Aves
Cultivares de Soja Recomendadas para o Brasil
Cultivares Recomendadas de Trigo
Custo de Produção e Análise de Rentabilidade de Frutas
Dados Agroclimatológicos da Estação Agroclimática de Pelotas - RS
Dados Meteorológicos da Estação Agroclimática do Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças
Dados Meteorológicos da Região Oeste do Brasil
Dados sobre Caprinos e Ovinos Tropicais
Esquema Conceitual do SIGSOLOS
Informações à Respeito das Culturas de Cupuaçu, Dendê, Guaraná, Seringueira e Mandioca
Monitoramento Orbital de Queimadas
Pesquisa em Andamento da Embrapa Acre
Pesquisa em Andamento da Embrapa Rondônia
Pesquisas Florestais em Andamento no Brasil
Produção e Comercialização Vitivinícola
Sementes de Fruteiras Tropicais da Amazônia
Tecnologias, Serviços e Produtos do Centro Nacional de Pesquisa da Agroindústria Nacional
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Instrumentação Agropecuária
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Bovino de Corte
Tecnologias, Serviços e Produtos sobre Bovinos de Leite
Tecnologias, Serviços e Produtos do Pantanal
Tecnologias e/ou Resultados de Pesquisa do Centro de Pesquisa de Pecuária dos Campos Sul Brasileiros
Tipificação dos Pequenos Produtores do Nordeste Brasileiro
Zoneamento Agroclimático de Milho

Embrapa lança arroz de sequeiro
Variedades do tipo agulhinha estão chamando a atenção dos produtores do Centro-Oeste. Depois da Caiapó, a Embrapa lança Primavera e Maravilha, duas variedades de terras altas, que apresentam alta produtividade, mesmo na ausência de irrigação. Somando-se às variedades lançadas para plantio em várzea, a Embrapa cumpre sua parcela na busca da auto-suficiência de arroz por parte do Brasil.

Globalizando os cérebros

Décio Luiz Gazzoni

O conceito de globalização ainda não está claro. Talvez seja necessário esgotar-se a geração que primeiro conviveu com ela, para que fique claro o que significou para a História Universal um movimento que ainda apresenta dificuldade de compreensão.

A importância da informação
O processo de globalização teve diversas causas, remotas e recentes. A queda dos regimes comunistas, o final da Guerra Fria, a necessidade de re-orientar a indústria da guerra foram algumas das pontas mais visíveis. O impulso e o suporte foi dado por um sistema de informação que se moderniza a cada minuto, e que não cansa de nos surpreender. Quando pensávamos que o telex aposentaria o telégrafo, chegou o fax e aposentou o telex. Aí vem um computador com scanner e fax, e uma plaquinha ligada num telefone, e o fax está superado. Chega o telefone celular como a última das modernidades, e já surge o telefone por satélite, que promete aposentar todo sistema telefônico conhecido. Sem falar na Internet, o paradigma da globalização, que radicaliza a democratização das informações. A colhedeira já vem com GPS que permite calcular com a exatidão do depois da vírgula a produtividade de cada metro quadrado.
  A importância dos cérebros
Mas informação não é uma utilidade de per se. Assim como o pneu de nada vale sem o carro, a informação somente é uma utilidade quando processada convenientemente por um cérebro humano. E este cérebro precisa estar preparado para identificar e selecionar a informação importante, efetuar o tratamento devido e saber utilizá-la em proveito de seu negócio. Até aí nada de novo, sempre agiu-se desta forma, mesmo que empiricamente. A diferença é que hoje, as informações surgem aos borbotões, e a capacidade e agilidade na sua identificação, seleção e no seu processamento farão toda a diferença na condução dos negócios.
  O diferencial do executivo da globalização
Nestes tempos de competição selvagem, a regra passa a ser crescer ou morrer. Crescer significa agredir novos mercados constantemente. Busca-se nos gerentes velhas e novas virtudes como a clareza na visão do negócio, entusiasmo com sua função, realismo e ação, agilidade, capacidade de assumir riscos e muita perseverança. Não se comenta falar inglês ou dominar informática, porque isto não é diferencial, é requisito básico. Não dominou o computador, terá reduzido seu acesso à informação. Não fala inglês, como vai negociar com os parceiros ou clientes do outro lado do mundo?

O cérebro globalizado
O diferencial está justamente na capacidade de adaptar-se rapidamente a novas situações. A era do especialista puro se esgotou. Não é mais possível "enrolar" ou tentar tirar leite da pedra. O mercado está saturado de "hard worker", ou carregador de pedra. O bom executivo possui a característica de reciclar-se rapidamente, e adaptar-se sem traumas a situações antípodas. Os mercados são mutantes, nunca se sabe de onde virão as oportunidades. Hoje é a Colômbia ou o México, amanhã a Arábia Saudita, Taiwan ou Tanzânia. Pronta resposta frente aos desafios, eis a chave. Por exemplo, quem esperava no início de 1998 que o mercado de carne de frango em Hong Kong iria se abrir, após a epidemia da gripe das aves? Na esteira da globalização de mercados, da queda das barreiras técnicas, da redução das tarifas alfandegárias, o comércio internacional vai ser incrementado a taxas nunca vistas anteriormente. Nem todos estarão capacitados a competir num ambiente tão feroz.
 

Governo, iniciativa privada, tanto faz
Quem dispuser de recursos humanos com "cérebro globalizado" vai estar mais perto de abocanhar as melhores oportunidades. No caso, tanto faz se estamos falando de governo, de núcleos estratégicos, geradores de políticas, diretrizes, normas, ou de institutos de tecnologia, da Academia. O profissional que fez sucesso no passado, não tem garantia nenhuma de mantê-lo no futuro. A máxima é: Quando muda o ambiente, tudo volta à estaca zero. É o momento de valorizar as características que permitem ampliar o espaço de visão e a capacidade de antecipar o futuro, percebendo precocemente tendências, e adequar o quadro das empresas ou do governo, para sobreviver no ambiente de alta competitividade que já vivenciamos, e que dominará o próximo milênio.

Senhor Governador, juntai-se a nós!

Décio Luiz Gazzoni

Durante uma década as principais nações do mundo discutiram as novas regras de comércio internacional, que redundou na assinatura do acordo de Marraqueche, o qual criou a Organização Mundial do Comércio. Muitas coisas mudaram a partir da criação da OMC, pelo compromisso dos países signatários em tomar atitudes positivas para incrementar o comércio internacional de produtos. O compromisso firmado por 200 países inclui a redução das tarifas de importação. Significa também a eliminação de barreiras burocráticas, cotas de importação, licenças prévias e importação, barreiras técnicas - que se limitavam a representar travas ao comércio, fórmulas que os governos encontravam para reduzir o volume de importações, eliminação de subsídios à produção, permissão para efetuar inspeções prévias ao embarque dos produtos.

A exigência que restou
No entanto, em um aspecto pontual, todos os países concordaram que não poderia ser efetuada qualquer concessão: a conformidade aos padrões de sanidade agropecuária. Mal comparando, poder-se-ia dizer que a sanidade agropecuária é a barreira que restou no comércio internacional. Mal comparando, porque não se pode utilizar a sanidade indiscriminadamente como barreira. Não se pode mais, arbitrária e unilateralmente impor condições sanitárias para importação. Toda e qualquer regra deve, objetivamente, servir para proteger o consumidor ou o espaço de produção agropecuária, devendo ser fundamentada cientificamente, e resistir à argumentação também científica dos parceiros comerciais que se sentirem prejudicados pela nova regra. É o que se denomina soberania condicionada: os países associados da OMC admitem exarar sua legislação sanitária ao abrigo dos padrões internacionais. Por esta razão, os sistemas de sanidade agropecuária passam a demandar melhores condições operacionais e técnicas para desempenhar suas funções.
  O Paraná precisa se adequar
Não há mais como "proteger" o mercado interno. Hoje existe um grande mercado mundial, e a questão não se resume a exportar ou não exportar, mas a ter competitividade para disputar o próprio mercado interno. A maior das regras sob o império da OMC é a seguinte: ou você se adequa e cresce, ou você desaparece. Você, no caso, pode ser um estado ou um país inteiro. Adequar significa dispor de um sistema de defesa agropecuária moderno, que atenda integralmente os compromissos assumidos pelo Brasil (o Paraná incluso neste Brasil), e que tenha condições de cumprir o que a sociedade exige: proteger a saúde do cidadão e o estado sanitário da agropecuária paranaense. Não atender a estas condições significa ser alijado da parte nobre do comércio de produtos agropecuários, aquela que é exigente na conformidade dos produtos, mas que compra sempre, paga bem e em dia. Para desempenhar esta tarefa que se afigura hercúlea, não é mais possível imaginar que um Departamento do serviço público do Paraná possa executá-la sozinha. É fundamental o desenvolvimento de parcerias entre os diferentes segmentos dos serviços públicos e a iniciativa privada. Neste aspecto, o Brasil vem efetuando um esforço ágil de ajuste, liderado pelo Ministério da Agricultura, que está sendo reformado por completo para atender as condições impostas pelo novo ambiente. A iniciativa privada, primeira beneficiária deste processo, está se aliando desde o primeiro instante neste esforço. Para auxiliar os estados a cumprirem sua parte, o Ministério da Agricultura está repassando recursos a fundo perdido para as Secretarias de Agricultura se adequarem às novas exigências.

Um exemplo concreto
A União Européia e outros países de Primeiro Mundo somente aceitam importar carne de países comprovadamente livres de febre aftosa. Estar livre desta doença significa ter abertas as portas do mercado mais rico do planeta, grande consumidor de carne, fiel a seus mercados, que paga o preço teto do mercado internacional, e que dispõe de recursos para pronto pagamento. O Paraná, através da Secretaria da Agricultura e da iniciativa privada vem se esmerando na erradicação desta doença dos rebanhos do estado, o que resultou em 37 meses sem um único foco de aftosa no estado. O órgão internacional certificador exige apenas 24 meses sem focos, mas impõe que seja demonstrada capacidade operacional de manter esta situação no longo prazo. É por isso que os representantes do agronegócio paranaense, que representam 36% do PIB do estado pedem:
  Senhor Governador, juntai-se a nós!
Falta pouco, muito pouco, para o Paraná ser declarado oficialmente área livre de aftosa. Uma auditoria do Ministério da Agricultura, já repetida pelo segundo ano insiste que o Paraná não dispõe de técnicos suficientes no campo para garantir a perenidade da área livre de aftosa. Repousa na mesa do Governador Jaime Lerner o decreto que nomeia 140 novos técnicos para a defesa agropecuária do Paraná, que resolverá este e inúmeros outros problemas sanitários do Estado, e que impedirá o ingresso de novas pragas no território do estado. É muito pouco o que falta, comparado ao investimento financeiro que o Governo Federal vem fazendo no Estado, ao esforço que a iniciativa privada se propõe a fazer (inclusive com aporte financeiro), para que possamos produzir mais, vender mais e a melhores preços, gerar mais renda e mais emprego no campo. Ah! sim, senhor Governador: os salários dos novos técnicos serão pagos com muita folga pelo retorno tributário que significará a expansão dos negócios no campo. Temos absoluta convicção que o dirigente maior não faltará ao Paraná neste momento.

A Biotecnologia chega às dietas

Décio Luiz Gazzoni

A doença nacional americana, e em outros países ricos, é a obesidade. Além do desconforto e do problema estético, a obesidade é um fator de risco, que associada a outras condições pode conduzir a sérios problemas de saúde, como diabetes ou ao temível infarto. Uma sociedade com alto poder aquisitivo, que já tem todas as suas necessidades atendidas, passa a consumir alimentos em quantidade que não necessita, e com desequilíbrio nos componentes da dieta. O que é um grande problema para os indivíduos afetados, a ponto de ser um sério problema de saúde pública, paradoxalmente, também é uma oportunidade de negócios.

A oportunidade para os agronegócios
O cidadão se vê pressionado entre a espada do risco de saúde e a parede da propaganda e da tentação de uma sociedade consumista, que incorporou o fast food como parte da rotina diária da produtividade no trabalho, que considera almoços e jantares como componentes da sua rotina de negócios, que descarrega suas ansiedades nas lanchonetes a bordo dos 737 e DC-10s. Se não é possível resolver o conflito existencial do indivíduo, porque não encontrar uma fórmula de convivência? Foi nesta senda que algumas empresas de biotecnologia apostaram, e encontraram verdadeiros filões de ouro maciço. Duas descobertas importantissimas estão chegando ao mercado agora, fazendo explodir os negocios. Parte-se da máxima antiga abusus non tollit usum, ou seja, o abuso que se pode fazer de uma coisa não nos deve levar a nos abstermos dela.
  É LDL Colesterol? Então não absorva!
Esta é a ordem dada ao organismo humano por uma substância orgânica identificada em algumas sementes. Extraída, testada e produzida em larga escala, a substância adicionada a margarinas, manteigas ou qualquer produto processado, de alto conteúdo lipídico, em especial contendo o famigerado colesterol, praticamente elimina o problema de absorção de colesterol. O segredo é simples: o mau colesterol se liga bioquimicamente à esta substância, formando um composto que não é absorvido pelo organismo humano no processo digestivo, sendo por ele eliminado. Como tal, retira do consumidor aquele peso enorme na consciência (bem, o da barriga também!) cada vez que põe mais maionese no cheesburguer. Um consumidor que dispõe de renda para pagar o preço da solução do conflito.

Pare de comer, você já atingiu o limite!
Outra mina de ouro: uma combinação de substâncias vegetais, um segredo guardado a 7 senhas (era guardado a 7 chaves até a descoberta do computador), quando adicionado a certos alimentos, induz o intestino delgado a produzir a substância que sinaliza ao cérebro que as necessidades alimentares estão supridas. Mais precisamente, você sentirá aquela sensação de saciedade antes do seu limite anterior, que o levava a consumir em excesso. Segundo os estudos realizados, em média o consumo de calorias se reduz em um terço. E a ingestão de gorduras, entre elas o colesterol, se reduz na mesma proporção.
  Quanto vale um negócio destes?
Um grupo econômico desconhecido, Raisio, com sede na Finlândia, faturou US$1 bilhão no ano passado, cerca de 72% a mais que há dois anos, com as vendas impulsionadas pelo inibidor da absorção de colesterol. Somente nos EUA são 90 milhões de consumidores de alta renda que tem problemas de colesterol, mas nenhum problema para pagar mais caro por um alimento que não agrave seu risco de saúde. Por esta razão, em dois anos as ações da Raisio valorizaram mais de 1000%, e agora a empresa negocia seu produto com gigantes como a Johnson & Johnson e a Unilever. Já a empresa sueca Scotia produz um iogurte que confere a sensação de saciedade muito antes que o indivíduo ultrapasse os limites desejáveis de ingestão de alimentos. Claro, este iogurte custa, no varejo 100% mais caro que os iogurtes comuns, embora o custo de produção seja similar. Para não ficar atrás no mundo dos negócios, a Scotia está acertando um contrato gigantesco com a Procter & Gamble. Tecnologias simples, que vão encontrar muito aceitação entre consumidores de renda média e alta, preocupados com sua saúde, ainda não tem representantes no mercado brasileiro. Com certeza será uma excelente oportunidade de investimento para quem trouxer o negócio para o Brasil, que tem condições de atuar em toda a cadeia produtiva, desde o plantio dos vegetais até colocar o produto na mesa do consumidor.

Parceria Universidade e iniciativa privada

Décio Luiz Gazzoni

O conceito de parceria perpassa o mundo globalizado. A necessidade de especialização teve como corolário a busca da parceria para o desenvolvimento de ações conjuntas, aproveitando os pontos fortes de cada parceiro, ou seja, cada qual entra na ação conjunta com aquilo que sabe fazer melhor, ou onde está sua maior possibilidade de contribuir para o alcance das metas. No caso da busca de novas alternativas para a produção agropecuária, esta é uma idéia relativamente antiga, mas que tem ganhado força nos últimos tempos. Qual é a lógica? Todo o desenvolvimento tecnológico deve contribuir para melhorar a rentabilidade e a competividadade do setor agropecuário, pelo aumento da produtividade e/ou da qualidade, ou pela redução de custos, ou, no melhor dos mundos, os três objetivos conjuntamente. Desenvolvimento tecnológico é a missão dos institutos de pesquisa, atingir maior rentabilidade e competitividade é a meta da iniciativa privada.

Porque queimar a palha?
Quem trabalha com cana de açúcar, ou vive numa região canavieira, conhece de perto o drama representado pelas queimadas nos canaviais. São perigosas, podem atingir áreas que não se pretendia queimar, poluem o ar, reduzem o teor de matéria orgânica nas lavouras, e afetam negativamente a biodiversidade local, em especial a fauna benéfica. Com o desequilíbrio biológico surgem mais problemas de pragas, e até da pombinha amargosa, que, por falta de predadores naturais, saem dos canaviais para se alimentar dos grãos recém plantados nas lavouras. Por que queimar? A queima tem dois objetivos: Reduzir o volume de palhada, que atrapalha o processo de corte, e reduz a produtividade, aumentando custos; e para eliminar ou afugentar animais perigosos, especialmente cobras peçonhentas, que se abrigam no canavial, reduzindo os acidentes com os cortadores de cana. Para diminuir as queimadas nas regiões canavieiras, pode-se efetuar a colheita mecanizada, com máquinas apropriadas para cortar cana crua.
  Colhendo cana sem queimar o canavial
Mas não basta querer não queimar a palha. É necessário dispor de um sistema de produção adequado para a mudança das operações da colheita. Por exemplo, a forma de plantio, em especial o espaçamento utilizado, deve ser adequado. Também é necessário prever o que fazer com o volume de palha produzido no momento da colheita. Mas não é só isto, necessita-se de variedades de cana que se adaptem a este sistema de produção, ou seja, que auxiliem na montagem de um sistema de produção que permita efetuar a colheita da cana, sem a necessidade de queimar o canavial.

A parceria
Buscar esta solução foi o objetivo principal do convênio entre a Universidade de São Carlos (que havia assumido a estação experimental da Planalsucar em Araras, fechada por uma das primeiras medidas provisórias do ex-presidente Fernando Collor), com a colaboração das Universidades Federal do Paraná e de Alagoas. Completou a parceria a iniciativa privada. As Universidades entraram com os bancos de germoplasma, seus laboratórios e pesquisadores capacitados. A iniciativa privada pagou a conta, aproximadamente US$800 mil por ano, durante 12 anos. Resultado: em 1998, após 12 anos de investigação, a iniciativa privada recebeu seis novas variedades de cana de açúcar. A novidade: quatro delas foram desenvolvidas para que possa ser efetuada a colheita sem a necessidade de queima da palhada.
  As vantagens da parceria
Em uma primeira análise, investir US$10 milhões no desenvolvimento de variedades de cana pode parecer caro. Não é, ao contrário, é um dos melhores negócios que uma organização de produtores pode efetuar. Antes deste lançamento, desde 1993 os produtores vinham recebendo, em média, uma nova variedade melhorada a cada ano, como fruto da parceria. Uma nova variedade somente é lançada no mercado, se ela for superior às melhores variedades comerciais já em cultivo. Ou produz mais, ou apresenta maior teor de açúcar, ou é mais resistente a pragas, ou, no caso, permite o uso de um novo sistema de produção. Das seis agora lançadas, duas são de maturação precoce e as demais de maturação média-tardia, com alta riqueza sacarina (teor de açúcar) e alta produtividade agrícola. Os cálculos efetuados pelos parceiros indicam que as novas variedades deverão significar um aumento médio de 25% da lavoura canavieira. As novas variedades ainda se destacam por terem resistência à maioria das doenças e pelo porte ereto com palhas pouco aderidas, características que favorecem a colheita mecanizada, sem queimadas. Somente neste ano, cerca de 100 mil hectares serão plantados com a nova variedade. Com o que, já na primeira colheita, os produtores serão ressarcidos do seu investimento nas universidades. E vão continuar investindo para, no futuro, colher não apenas cana mas um lucro maior.

Vinho brasileiro: pequena quantidade, mas alta qualidade

Décio Luiz Gazzoni

 

   Durante o ano passado, os vinhos produzidos no Brasil arrebanharam mais de uma centena de medalhas, em sete concursos internacionais de que participaram. Competindo com França, Alemanha e Itália, tradicionais produtores, ou os emergentes Estados Unidos e Austrália, o produto nacional tem se saído galhardamente em termos de qualidade. Desde que Noé aprontou aquele inesquecível escândalo erótico-bíblico, com frutos fermentados da parreira, o vinho tem acompanhado o Homem através dos séculos, e a busca do aprimoramento da qualidade tem sido uma marca constante durante todo este período, em que tem sido cantado como alimento do corpo e da alma.   O negócio brasileiro
Produz-se vinho no Brasil desde o Nordeste (Petrolina-Juazeiro), passando por São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Indubitavelmente, os vinhos de melhor qualidade são produzidos nas plagas gaúchas. A região de Bento Gonçalves, na Encosta da Serra gaúcha concentra a maior produção de uvas e vinhos, em especial os de alta qualidade, que também possui um polo em Livramento, na fronteira com o Uruguai. A produção global ultrapassa os 220 milhões de litros anuais, um incremento médio de 5% ao longo dos últimos anos. O valor comercializado é superior a US$500 milhões, sendo que a participação dos vinhos finos tem aumentado gradativamente ao longo dos últimos anos. Outras áreas do país estão em expansão, como é o caso do Norte do Paraná.
  O consumo nacional
O Brasil não figura entre os grandes produtores mundiais de vinho, como também não se firmou ainda como um grande consumidor. Nada como os vizinhos da Argentina, que ingerem 45 litros per cápita/ano. No momento, o consumo per cápita é de dois litros (quatro para os gaúchos, que ingerem oito no inverno), porém as pesquisas apontam o vinho como a bebida de maior crescimento em vendas nos supermercados, durante o ano de 1997. O crescimento do consumo obrigou a importação de 6,3 milhões de litros, para suprir a falta de oferta do produto nacional, e também para atender o gosto de connoisseurs, que possuem preferencias muito particulares em termos de procedência e safra.

 

A importação e exportação de vinho
A alíquota do imposto de importação de vinho, que era de 20%, foi elevada para 40%, a partir do segundo semestre de 1996. A alteração da alíquota foi a fórmula encontrada pelo governo brasileiro para equilibrar a euforia de importações em diversos setores, que se seguiu à implantação do plano Real. A redução do volume importado propiciou a oportunidade para os brasileiros descobrirem o aroma e o sabor próprios dos vinhos brasileiros, o mesmo que está arrebatando a premiação nos concursos internacionais. No entanto, sempre haverá um mercado para vinhos finos, destinados a consumidores requintados e exigentes. Infelizmente, também continuaremos a importar os famosos vinhos da garrafa azul, de qualidade inferior, disfarçada pela adição de altas quantidades de açúcar, e que ainda tem muitos adeptos no país. Por outro lado, o Brasil vem participando há tempo do mercado internacional, conseguindo colocações crescentes do produto, conforme sua qualidade vem sendo reconhecida.
  Verdades e mentiras sobre o vinho
O vinho sempre aguçou o imaginário popular. Ao lado de algumas verdades científicas, correm mitos próprios de um produto que atravessa gerações. Senão vejamos:
Bom é vinho velho: Como qualquer ser vivo, o vinho nasce, cresce e morre. Nunca caia na história do quanto mais velho melhor. Melhor é o vinho que está em seu clímax de qualidade, um equilíbrio perfeito entre seus componentes de cor, perfume, aroma e sabor. Que pode ser ou não muito velho!
Vinho com gosto de uva é o melhor: Gosto de uva tem que ter o suco de uva. Desconfie, e muito, de um vinho com gosto de uva. A partir da matéria prima, o bom vinho tem o dom de desenvolver personalidade própria, através dos processos de fermentação e envelhecimento. Vinho com gosto de uva denuncia um vinho pobre.
Vinho branco se bebe gelado, tinto à temperatura ambiente: Se for na França ou Alemanha, ótimo. Nos trópicos, precisamos das devidas adaptações. Vinho branco tem seu clímax de sabor a temperaturas mais baixas, ou seja, resfriado. Ressalta-se o sabor do vinho tinto em torno dos 20o. C. Se a temperatura ambiente for os 35o.C do nosso verão, não pense que está cometendo um pecado mortal ao resfriá-lo para sua temperatura adequada.
Vinho é bom em qualquer copo:
O vinho é uma mistura complexa de aromas, em especial de produtos voláteis, que sofrem influência do ambiente, inclusive da cor e da forma da taça. A conhecida taça em forma de tulipa tem a propriedade de concentrar os aromas para a detecção pelo olfato. Também é importante que a taça coloque o vinho no ponto adequado de detecção de sabores pela língua.

E agora, abra aquela garrafa de bom vinho brasileiro e, Saúde!

As reformas estruturais e os agronegócios

Décio Luiz Gazzoni

Leitores me escrevem perguntando onde está o paralelismo entre as reformas que o governo pretende implementar e os negócios do país, em especial os agronegócios. Para entender a relação é preciso primeiro discorrer sobre o histórico do Estado enquanto poder e sua relação com a sociedade. Em particular o Estado brasileiro, estruturado e operacionalizado sobre processos burocráticos, sem a profissionalização requerida em seus quadros, balançado ao sabor das necessidades políticas conjunturais. Assim, o centralismo, a burocracia, a rigidez administrativa, a falta de compromisso social, a ausência de uma visão do cidadão ou do cliente, o não reconhecimento de uma missão institucional geraram o estereotipo do Estado disfuncional, de baixa eficiência e mau prestador de serviços.

  O impacto das mudanças
O Estado não poderia deixar de sofrer o impacto das mudanças que levaram o mundo de roldão, sejam as políticas (a falência do modelo comunista e o fim da Guerra Fria), as sociais (a organização da sociedade para exercer seus direitos), ou as científicas (o avanço da informática ou da biotecnologia). Por exemplo, em menos de um século a expectativa de vida sofreu um salto ponderável, em função dos avanços nutricionais, de higiene, e da medicina. Como tal, todas premissas atuariais sobre as quais se baseavam os cálculos de financiamento da Previdência Social ruíram, e como resultado temos o caos que aí está instalado, e do qual não será possível sair sem uma reforma profunda.
  O salto tecnológico
Fundado no objetivo de conferir maior efetividade às empresas, a melhoria da competitividade e o desenvolvimento social e econômico, o avanço tecnológico mostra seu lado contraditório: acirramento da competição, fechamento de fábricas, aumento do desemprego, destruição de valores e crenças, fragmentação da sociedade. A sociedade se volta para o governo, na busca de um regulador das ações do mercado e de um anteparo para suas inseguranças. Crescimento econômico sim, porém com justiça social: Aí está o desafio de dez entre dez governos da face da terra. Quem sentiu cheiro de terceira via nesta afirmativa, está com o faro afinado!

 

A globalização de mercados
A transmutação de uma sociedade mais universal, derrubando ou alargando barreiras econômicas, sociais, políticas e culturais, trouxe novos fatores para o desenvolvimento das nações. Produz-se intensa mobilização no seio da sociedade, cujos países necessitam inserir-se no mercado globalizado, marcado por elevado poder aquisitivo e alta exigência. Este mercado é regido por regras rígidas e severas de conformidade, representando a única porta de acesso ao mesmo. Os governos assumem compromissos recíprocos - através de acordos multilaterais avalizados por entes internacionais - que se obrigam a internalizar em sua própria legislação. Às vezes o crescimento coletivo pode conduzir a conflitos e desajustes ao nível individual.
  A ação do poder público
É neste conflito que se situa o Estado. No caso do Brasil, os sucessivos governos se encarregaram de tornar o Estado partícipe da economia do país, através de dezenas de empreendimentos estatais. Com esta ação, foi relegada a um segundo plano a ação do Poder Público. Hoje o Estado precisa refluir para esta condição, o que busca através das reformas estruturais. A reforma fiscal busca adequar as colunas de receita e despesa do governo. Para que? Por múltiplos objetivos mas, in casu, interessa concentrar os recursos do Estado naquela que é a sua função básica: segurança, saúde, educação, saneamento, habitação. E atuar nos demais segmentos como regulador, normatizador e fiscalizador do mercado. A reforma administrativa objetiva tornar o Estado efetivo, atendendo anseios da sociedade, e bem aplicando os recursos de impostos. E a reforma do sistema previdenciário busca uma saída para um sistema que, quando foi concebido, existiam 12 trabalhadores ativos para sustentar um aposentado. Daqui a 50, sem reforma, poderá existir 12 aposentados para cada trabalhador ativo!
 

Reformas e agronegócios
Um governo que bem exerce o Poder Público sempre será um aliado do segmento produtivo (patrões e empregados), ao reduzir sua necessidade de financiamento, efetuando a aplicação correta dos recursos, e atentando para os reais anseios da sociedade. É exatamente neste ponto que os objetivos das reformas estruturais e dos agronegócios convergem: um Estado parceiro do produtor, que cumpra eficientemente sua missão, que não imponha barreiras burocráticas desnecessárias e que busque mecanismos para aumentar a competitividade dos produtos made in Brazil.

 

Organismos geneticamente modificados: o verso e o reverso.

Décio Luiz Gazzoni

A sensação de quem examina os agronegócios a partir do ponto de vista da biotecnologia é a de estar no olho do furacão: tudo parece calmo onde se pisa, mas há sempre o temor que basta um passo em falso e o mundo desabará. Nos momentos de revolução da humanidade, seja ela artística, cultural, científica, tecnológica, ou de domínio e poder, o sentimento de insegurança e as opiniões polêmicas e frontalmente antagônicas sempre constituíram o cardápio principal.

A visão do cientista
Por formação e vocação, o cientista quer desvendar o desconhecido. Não seria cientista se assim não agisse, transitando na fronteira da ciência. É um progressista por natureza, porém examinando com atenção as repercussões e os efeitos não desejados de um novo produto ou processo. A formação do conhecimento científico pressupõe justamente a agregação constante de novas informações que permitem um avanço na direção de um objetivo pré-determinado. Da informação gera uma aplicação em benefício da sociedade. É a motivação progressista que o leva a transformar o mundo pela via do avanço tecnológico. Produzir OGMs para o benefício da sociedade é uma das missões do cientista.
  A visão do empresário
Por formação e por vocação, o empresário busca as melhores oportunidades para a aplicação do seu capital, seja ele financeiro ou intelectual. A biotecnologia representa para o empresário um diferencial competitivo para melhor inserção no mercado, seja através de um microorganismo com melhor capacidade de fermentação, ou uma variedade mais produtiva. A utilização de variedades resistentes a herbicidas representa justamente uma destas oportunidades de produzir a mais baixo custo. É da índole do empresário não deixar escapar uma oportunidade de posicionar-se em melhores condições no mercado.
  A visão do governo
O governo tem o papel mais complexo neste processo, porque é uma de suas atribuições promover o avanço do conhecimento e a melhoria da condição tecnológica. Além disso, atua como parceiro do setor produtivo, busca o progresso, a melhoria da renda e da condição social do povo. Porém também é seu dever regular os atos sociais, como forma de garantia da sociedade. No caso específico da biotecnologia, uma das funções do governo é a constante preocupação com a saúde pública e o bem estar social, sem que essas ações signifiquem uma trava ao desenvolvimento científico e tecnológico, ou ao avanço dos agronegócios.

 

A visão do órgão de sanidade agropecuária
Agente do governo responsável por resguardar a saúde pública em função de produtos e processos utilizados na exploração agropecuária, os órgãos de defesa sanitária devem revestir-se de um caráter conservador e uma postura crítica em relação a efeitos colaterais e indesejados desses produtos e processos. Por esta razão, esses órgãos costumam dispor de uma legislação altamente restritiva em relação aos produtos potencialmente perigosos à saúde humana ou ao meio ambiente. No caso de OGMs, a sociedade espera que os órgãos de sanidade agropecuária atuem como guardiões da saúde pública.
  Regulação de OGMs no Paraná
Ao criar a Comissão Estadual Técnica de Biossegurança - CTEBio, com representantes de instituições públicas e privadas das áreas de agricultura, saúde, meio ambiente, ensino, pesquisa, assistência técnica e organizações não governamentais, o Secretário da Agricultura do Paraná criou um foro democrático para regular o tema. Foi além, ao levar em consideração o Regulamento 1813/97 da União Européia, que obriga a explicitar no rótulo dos produtos alimentícios, se forem fabricados a partir de soja ou milho geneticamente modificados. As exportações brasileiras para a União Européia perfazem 68% do total das exportações de soja (US$ 676 milhões/ano); 75% do total de farelo de soja (US$ 484 milhões/ano) e 60% das exportações agrícolas (US$ 21 bilhões/ano). Não podemos expor esse mercado, por eventuais e futuras restrições impostas pelos países importadores de grãos, seus produtos, sub-produtos, enzimas e produtos de origem animal, cujos animais tenham sido tratados com os referidos grãos (oriundos de OGM).
  Ao futuro, com segurança
As visões do processo e do rumo que o mesmo tomará dependem do papel que o ator desempenha na comunidade. No caso da revolução provocada pela biotecnologia, não haveria de ser diferente. O processo em si significa um "break through" científico comparável aos mais importantes já registrados na História da Humanidade. A humilde opinião desse escriba é a de que o mundo nunca mais será o mesmo, após o surgimento da biotecnologia, que será a mola propulsora do progresso nas ciências biológicas, e nas tecnologias que dela dependem. É louvável a posição serena dos técnicos da SEAB ao acompanhar de forma fundamentada os estudos científicos e a produção agropecuária no âmbito do estado do Paraná, buscando proteger a saúde pública e os agronegócios, ao tempo em que incentivam os estudos sobre avanços biotecnológicos e os eventuais efeitos colaterais que seus produtos ou processos possam causar.

 

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